10 curiosidades sobre a vida de Van Gogh.

10 curiosidades sobre a vida de Van Gogh.

Você conhece o mito, as lendas e, é claro, as obras, mas talvez saiba pouco sobre a vida de Vincent Van Gogh. A Strip Me está aqui pra te contar um pouco mais.

É uma triste verdade. Se tornou um clichê do mundo das artes, um artista ser reconhecido como gênio somente depois de morto. E um dos maiores representantes deste clichê é o pintor holandês Vincent Van Gogh. Na real, Van Gogh é quase uma caricatura, um amontoado de clichês, da persona de um artista. Absurdamente talentoso, visceral, mas inseguro, recluso, perturbado e desesperado por ter a aprovação de qualquer pessoa. Apesar de demonstrar aptidão para as artes desde criança, começou a pintar pra valer já durante a vida adulta, depois de ter passado por diferentes e mundanos empregos comuns. Se apaixonava e era rejeitado com frequência, o que contribuía para uma acentuada depressão. E, é claro, não pode faltar aquele ingrediente essencial aos grandes gênios: o abuso de álcool. Por consequência, uma morte prematura e trágica. Pronto, eis a receita de um típico artista genial.

Mas calma! É lógico que não é pra ninguém levar isso ao pé da letra. Você pode muito bem ser um gênio e ser abstêmio e com uma vida amorosa bem resolvida. E você sair por aí enchendo a cara e se sentindo injustiçado por ter sido o último a ser escolhido no futebol do fim de semana não faz de você um expoente de qualquer coisa. Isso estabelecido, podemos nos debruçar na vida e obra de Van Gogh e tirar dessa história toda algum aprendizado e inspiração. Afinal, nem tudo era talento, houve ali muito estudo e dedicação. A obra de Van Gogh é vasta e muito conhecida. Além disso, super acessível. Em São Paulo, por exemplo, vai estrear no dia 15 de setembro uma exposição imersiva incrível chamada Van Gogh Live 8K, no Shopping Lar Center, na Vila Guilherme. A exposição já passou pelo Rio de Janeiro, Fortaleza e Recife com muito sucesso. São mais de 250 obras expostas em ambientes com projetores de alta definição e com trilhas sonoras que vão de Bach a Pink Floyd. Bom, as obras você já conhece, agora a Strip Me te mostra um pouco mais sobre a vida deste grande artista.

Autorretrato com Orelha Cortada (1889)

1 Essa família é muito unida…

Van Gogh nasceu em 1853. Foi batizado como Vincent, nome de seu avô. E também o nome de seu irmão mais velho (que morreu logo após o parto) e de seu tio-avô. Ou seja, era um nome comum na família. Uma família de classe média alta e muito ligada ao mundo das artes. O pai de Van Gogh, Theodorus, era pastor protestante, assim como o vovô Vincent também era, e tinha cinco irmãos. Dos cinco, três eram marchands, ou seja, mercadores de obras de arte. Além disso, o tio-avô Vincent era escultor. Portanto se tratava de uma família muito religiosa e também intimamente ligada às artes.Após a morte prematura de seu irmão mais velho, Vincent Van Gogh se tornou o primogênito. Com o tempo, ele ganhou um casal de irmãos: Wil e Theo Van Gogh. Vincent e Theo logo se tornaram amigos inseparáveis. Durante a vida adulta, trocavam cartas com frequência. Muito do que sabemos sobre a vida do artista vem do conteúdo dessa intensa correspondência.

2 Não é fácil ser criança.

Van Gogh era uma criança séria e tímida. O fato de ele ter sido alfabetizado e tido aulas em casa até os dez anos de idade ajudou a moldar essa personalidade. Aos onze anos ele finalmente foi mandado para um colégio. Porém, era um internato. Lá ele se sentia mais do que deslocado, por não saber como socializar com outras crianças, se sentia também abandonado pela sua família. Mas foi na escola que ele começou a desenhar. Lá lecionava um professor excêntrico, que via como secundária a técnica e priorizava a captura das impressões das coisas, em especial a natureza e os objetos comuns, antevendo o que viria a ser o Expressionismo no século XX. Esse professor influenciou muito a maneira como Van Gogh viria a pensar e produzir sua arte. Entretanto, de maneira geral, foi uma infância e adolescência muito dura. Em uma de suas cartas a seu irmão anos depois, ele descreveu sua juventude como “austera, fria e estéril”.

Os Comedores de Batata (1885)

3 Tava ruim, tava bom, agora parece que piorou.

Quando tinha 17 para 18 anos de idade, um de seus tios conseguiu um emprego para Van Gogh numa empresa que comerciava obras de arte e realizava exposições em várias cidades da Europa. De início, ele foi trabalhar na cidade de Haia, mas logo em seguida foi transferido para a filial de Londres. Tudo ia bem e Van Gogh estava feliz da vida. Ele já tinha um salário superior ao de seu pai e morava na principal cidade da Europa economicamente. Mas a alegria não durou muito. Depois de um ano em Londres, ele se apaixonou pela filha do homem que era o senhorio de onde ele morava. A menina não quis nada com ele. Rejeitado, ele entrou numa bad. Na mesma época começou a questionar os critérios da empresa onde trabalha e a maneira como comercializavam obras de arte. Em 1875 ele foi transferido para Paris, numa tentativa de fazer com que ele melhorasse seu humor. Não adiantou e ele acabou sendo demitido um ano depois.

4 Os testes da fé.

Ainda desiludido pela rejeição da filha do senhorio de Londres, Van Gogh se voltou para a religião. Após ser demitido, voltou para a Holanda, na casa de seus pais. Por lá só fazia ler a bíblia e tentava evangelizar pessoas que passavam pela rua. Em 1877, numa tentativa de dar um rumo na vida do filho e incentivar sua fé, os pais de Van Gogh o mandaram para passar uns tempos com o seu tio,  Johannes Stricker, um respeitado teólogo que vivia em Amsterdam. Seu tio o ajudava a estudar para que Van Gogh ingressasse na Universidade de Amsterdam, no curso de teologia. Mas ele não passou nos exames. Desiludido, abandonou a casa de seu tio e se mudou para Laeken, na Bélgica, para entrar numa escola missionária protestante. Porém, também era necessário passar por um exame para entrar naquela escola. E mais uma vez ele foi reprovado.

Os Girassóis (1889)

5 Colocar a mão no fogo por alguém.

Van Gogh volta para a casa de seus pais em 1881, na cidade de Etten, interior da Holanda. É nessa época que ele começa a se dedicar com algum afinco ao desenho e a pintura. Nesse meio tempo, se muda para Etten a jovem Kee Vos-Stricker. Ela era prima de Van Gogh, filha do tio teólogo Johannes. Kee acabara de ficar viúva e se mudou de Amsterdam em busca de novos ares. Van Gogh se encantou pela garota. Eles se tornaram amigos, faziam longas caminhadas conversando sobre a vida. E, é claro, ele se apaixonou por ela. Ao pedi-la em casamento, Van Gogh recebeu um sonoro “Não, nunca e jamais!” como resposta. Ela voltou para Amsterdam. Com a desculpa de tentar vender suas obras recentes, ele foi para Amsterdam atrás dela. Mas Kee não queria mais vê-lo de jeito nenhum. Ele insistia toda noite, batendo na casa da família, e o pai dela o mandava embora. Certa noite, Van Gogh colocou sua mão esquerda sobre uma lamparina e disse ao seu tio: “Ao menos deixem me vê-la pelo tempo que eu puder manter minha mão na chama.” Johannes correu e apagou o fogo. E disse que a vontade de Kee deveria ser respeitada. Além do mais, ele, Johannes, não aprovava tal união pelo simples fato de Van Gogh não ter nenhuma condição de se sustentar financeiramente.

6 Óleo sobre tela.

Nessa mesma época, entre 1881 e 1882, Van Gogh procurou seu primo mais velho, Anton Mauve, um pintor conceituado na Holanda na época. Foi com Mauve que Van Gogh tomou conhecimento das técnicas de pintura sobre tela, usando aquarela e tinta a óleo. Porém, a parceria durou pouco. Os dois se desentenderam por conta da teimosia de Van Gogh, que questionava algumas técnicas de Mauve. Entretanto, apesar da experiência e talento do primo mais velho, Van Gogh estava certo, pelo menos em um aspecto. Quando começou a trabalhar com a tinta a óleo, Van Gogh ficou encantado com a textura do produto e desenvolveu uma técnica que consistia em colocar bastante tinta sobre a tela e ir raspando com uma espátula, formando camadas e dando volume aos traços. Mauve não gostava muito do resultado. Achava grosseiro e um desperdício de tinta. E estava claramente equivocado.

Terraço do Café À Noite (1888)

7 Café com pão.

Depois dos desentendimentos com Mauve, Van Gogh estava decidido a investir na carreira de artista. Mudou-se para Nuenem, no sul do Holanda, uma região rural, muito tranquila, onde começou a trabalhar retratando compos de plantação e trabalhadores da lavoura. Eram obras sombrias, quase sem vida, sempre feita numa paleta de cores terrosas e escuras. Seu irmão, Theo, passou a bancar Van Gogh e tentava vender suas obras pela região, indo de Haia até Paris. Entretanto, estava na moda o impressionismo de Monet e Renoir, com muitas cores. Em novembro de 1885 Van Gogh se muda para a Antuérpia, vivendo uma vida miserável. O dinheiro que recebia de seu irmão, Van Gogh gastava essencialmente em materiais de pintura e vivia sob uma dieta diária de pão, café e tabaco. Por outro lado, na Antuérpia, uma cidade grande, com muitos museus, ele passou a se aprofundar nos estudos da teoria das cores, estudando as obras de Peter Paul Rubens, ampliando sua paleta para incluir carmim, azul-cobalto e verde-esmeralda. Van Gogh também se encantou nessa época pelas xilogravuras ukiyo-e japonesas, como a famosa Onda de Kanagawa, passando a acrescentar em suas pinturas elementos dessa estética.

8 A patota de Paris.

Agregando novas cores e técnicas, Van Gogh evoluiu muito e suas obras começaram a ser reconhecidas. Após uma bem sucedida exposição de algumas de suas obras em Haia, ele resolve se mudar para Paris com seu irmão Theo em 1886. Na capital francesa, Van Gogh conseguiu um espaço para trabalhar no ateliê de Fernand Cormon. Logo se enturmou com outros artistas, que se reuniam na loja de produtos para pintura de Julien Tanguy. Ali se reuniam Van Gogh,  Émile Bernard, Louis Anquetin, Henri de Toulouse-Lautrec, além, é claro, de Paul Gauguin, que se tornaria amigo muito próximo de Van Gogh. Paris consumiu muito de Van Gogh. O ambiente boêmio, os amigos artistas e sua intensidade natural fazia ele beber compulsivamente. Mesmo assim, foi uma fase muito produtiva. Ele morou em Paris de 1886 a 1888. Nesse período, produziu mais de 200 telas.

A Noite Estrelada (1889)

9 Tá tudo muito bom. Mas e a história da orelha?

A gente sabe que o principal motivo pelo qual você se dedicou a ler este texto é para saber um pouco mais sobre a famosa história de Van Gogh ter decepado sua orelha esquerda. Portanto, é chegada a hora. Van Gogh foi embora de Paris e se estabeleceu em Arles, cidade no litoral sul da França, banhada pelo Mediterrâneo. O clima litorâneo fez muito bem ao artista. Foi lá que ele concebeu algumas de suas obras mais famosas, como a A Cadeira de Van Gogh, Noite Estrelada Sobre o Ródano, Quarto em Arles e Natureza Morta: Vaso com Doze Girassóis. Foi então que o amigo Gauguin aceitou ir visitar-lo e passar uma temporada morando com Van Gogh. Nos primeiros dias, tudo bem. Mas a situação foi pesando à medida que os dois se tornavam mais íntimos. Van Gogh inseguro, querendo aprovação a todo momento e teimoso, enquanto Gauguin era arrogante e dominador. Pra piorar, seguem-se alguns dias de chuva ininterruptos, que os impedem de sair de casa. Até que, após uma discussão acalorada, Gauguin vai embora. Os dois discutem mais na rua, enquanto Gauguin ruma para um hotel. Segundo seu próprio relato ao irmão, Van Gogh volta para casa desesperado e ouvindo vozes. Impulsivamente corta a orelha esquerda e logo desmaia por conta do forte sangramento. Mas antes de perder os sentidos, enrolou a orelha num papel e enviou o pacote para Gabrielle Berlatier, criada de um bordel que ele frequentou com o amigo por aqueles dias. Ela foi até a polícia, que encontrou Van Gogh desmaiado em casa e o levou para o hospital. O caso foi considerado pelos médicos como um surto psicótico. Depois disso, Gauguin nunca mais falou com Van Gogh. Episódios como a mão na lamparina e esse da orelha, além dos excessos de álcool deixavam claro que Van Gogh precisava de cuidados psiquiátricos.

10 O disparo da morte.

Em 1889 Van Gogh foi internado num hospício em Santo Rémy. Foi lá que ele pintou o clássico A Noite Estrelada, uma visão noturna da janela de seu quarto no hospício. Em maio de 1890 recebeu alta. Mas estava muito debilitado, ainda sofrendo de uma depressão aguda. Se mudou para a bucólica cidade de Auvers-sur-Oise, próxima a Paris. Lá viveu solitário seus últimos dias. No dia 25 de junho de 1890 ele estava num campo de trigo próximo de onde morava, fazendo esboços para pintar a paisagem. Eis que ele tira do bolso do casaco um revólver e atira contra o próprio peito. O tiro não o matou de imediato, ele se levantou e caminhou até o hospital. Morreu aproximadamente 30 horas depois do disparo, no dia 27 de junho, por conta de uma hemorragia interna e falência dos órgãos. Van Gogh demorou para morrer. Mais ainda demorou para ele ser reconhecido. Somente dez anos depois, ele seria reverenciado como grande gênio e considerado o pai do movimento expressionista de Munch e Kandinsky.

Tá aí. Vida de artista não é nada fácil. É sofrida e cheia de perrengues, pra no fim ainda morrer sem ter seu valor reconhecido. Mas, como diz o ditado, antes tarde do que nunca. Então estamos aqui para celebrar a vida e obra de Vincent van Gogh, o colocando no lugar que merece: no panteão dos grandes gênios da pintura de todos os tempos. E a Strip Me tem várias camisetas incríveis homenageando este grande mestre nas coleções de camisetas de arte e cultura pop. Dá uma olhada na nossa loja para conferir estas e outras estampas, como as coleções de camisetas de cinema, música, games, vida digital, bebidas e muitas outras. No nosso site você também fica por dentro dos lançamentos, que pintam toda semana.

Vai fundo!

Para ouvir: Uma playlist derretendo de tanta psicodelia e músicas viajandonas, ideais para se ouvir enquanto aprecia algumas obras do Van Gogh. Para ver Van Gogh top 10 tracks.

Para assistir: Vale conferir o filme de 2018 At Eternity’s Gate, dirigido por Julian Schnabel e com Willen Dafoe no papel de Van Gogh mandando muito bem. Um filme muitíssimo bem dirigido, com uma plasticidade linda e excelentes atuações, além de um roteiro muito bem amarrado. Retrata o florescer do talento de Van Gogh, sua amizade com Gauguin e sua internação.

Para ler: Claro que a gente podia recomendar aqui alguma biografia e tal… Mas não resistimos a recomendar a leitura saborosíssima de um dos melhores escritores que o Brasil já teve! O gaúcho Moacyr Scliar foi um brilhante contista e um de seus livros mais célebres é a coletânea de contos A Orelha de Van Gogh, que é também o título de um dos contos do livro. No conto em questão um comerciante esperto afirma ter num pote a orelha cortada de Van Gogh. Olha, é leitura obrigatória e diversão garantida. Ah, sim, o livro foi lançado em 1989 e está em catálogo até hoje pela editora Companhia das Letras.

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