It’s Alive!

It’s Alive!

Quem curte música e costuma ir em shows com certeza vai se identificar com este relato. Eu, Paulo, além de redator, com quase 40 anos de idade, sou músico de fim de semana, costumo tocar com a minha banda por aí e tal, já vivi muita coisa. E posso te afirmar sem medo de errar que uma das experiências mais marcantes da minha vida relacionada á música, foi o primeiro show da banda Pearl Jam no Brasil, em dezembro de 2005. No fim de 2020 este evento completo 15 anos. É um tempo considerável, mas olhando friamente, só uma ou outra coisa mudou drasticamente. Pra começar, meu ingresso foi comprado pessoalmente na bilheteria do estádio do Pacaembu. Já rolavam vendas online, mas tinha várias restrições, não era toda bandeira de cartão de crédito que era aceita e cartão de crédito era a única forma de pagamento aceita online. Outra diferença gritante é que não tinha ninguém, fosse na fila durante o dia, fosse durante o show, com celular na mão, tirando selfie, conferindo redes sociais e etc. Os telefones celulares já eram populares na época, mas não eram smartphones, não tinham internet, câmera e etc.

Pearl Jam, Brasil 2005 – Photo by: Getty Image

9 anos depois a experiência já foi outra quando resolvi assistir o Soundgarden no Lollapalooza de 2014, também em São Paulo. Comprei meu ingresso pela internet, na compra do ingresso também já comprei uma vaga de estacionamento, não tinha filas pra entrar no espaço (tudo bem que cheguei lá os shows do dia já tinham começado) e tava todo mundo com celular na mão postando selfies, filmando os shows e etc. E o show do Soundgarden foi arrasador, um dos melhores que já presenciei.

Soundgarden Lollapalooza 2014 – Photo by: Buda Mendes

E agora cá estamos, em 2020. Uma pandemia acabou com a alegria de quem curte  se enfiar no meio de uma multidão para ficar cara a cara com um artista ou uma banda, pirar com as músicas, cantar junto, pular e, eventualmente, até abraçar desconhecidos em frenesi ao cantar aquele refrão. Ainda que apareça a tão esperada vacina, será que daqui pra frente tais eventos vão voltar a ser como eram?

Photo by: Shutterstock

No dia 11 de agosto deste ano, no Virgin Money Arena Unit, em Newcastle, Inglaterra, Sam Fender fez um show para 2.500 pessoas divididas em 500 plataformas separadas por dois metros de distância. Tudo foi pensado para evitar aglomerações. Você compra seu ingresso pela internet, junto já compra seu pacote de comida e bebida que desejar, que será entregue em sua plataforma antes do show começar, o estacionamento e a entrada na arena para acessar as plataformas também foram pensado para que não hajam filas ou aglomerações e haviam em todas as plataformas, bem como nas dezenas de banheiros tubos de álcool em gel. O preço do ingresso? 32,50 libras (cerca de 230 reais) por pessoa, com mais uma taxa de 20 libras (cerca 141 reais) por plataforma. Cada plataforma suporta 5 pessoas confortavelmente e a taxa da plataforma é individual, e não por grupo de 5.

Photo by: The Belfast Telegraph Archive

Outra tendência são os shows no estilo drive in. Ou seja, você vê o show de dentro do seu carro. Aqui no Brasil já rolaram alguns shows assim. Aparentemente teve aceitação, mas eu acredito que a turma só comprou a briga porque é o que tem pra hoje, o famoso melhor que nada, não tem tu, vai tu mesmo. Porque ir pra uma arena ficar olhando pro palco de dentro do carro, o som que você ouve não é o som direto do palco, com energia. O som do palco é transmitido por bleutooth e você vai ouvir pelo sistema de som do seu carro. Não tem PAs, som alto, adrenalina. Enfim, um puta negócio sem graça. Melhor pegar na internet um show gravado em HD da sua banda favorita, se esparramar no sofá e assistir na televisão.

Photo By: Lukas Kabon/Anadolu Agency

Da virada do século XXI pra cá, nós vivemos uma evolução em termos de entretenimento, shows e grandes festivais. Muita coisa mudou desde o Woodstock de 1969. Nos festivais de hoje a música não é mais a protagonista, é uma das diversas atrações oferecidas entre espaços temáticos de meditação, rodas gigantes, espaços de gastronomia, lojinhas de moda, badulaques e discos, palestras … enfim. São eventos desenvolvidos para proporcionar experiências de vida, interação humana, transcendência, diversão, conscientização.

Sunset during Coachella 2014 – Photo by: Alan Paone.

O futuro dos shows e grandes festivais é incerto. Vamos torcer para que eles possam renascer e continuar nos proporcionando momentos inesquecíveis, como foram para mim aquele Pearl Jam em 2005 e o Soundgarden em 2014.

Photo by: Andrew Southam

VAI FUNDO!

Para ouvir: Selecionamos em uma playlist caprichada com 10 tracks ao vivo de arrebentar!

Para assistir: Para entender como tudo começou, vale muito a pena ver o documentário Woodstock – 3 Dias de Paz, Amor  e Música. Lançado em 1970 e dirigido por Michael Wadleigh, este filme mostra toda a organização do festival e as principais apresentações dos 3 dias de shows, entre eles The Who, Joe Cocker, Janis Joplin, Jimi Hendrix

Para ler: Apesar de não ter sido lançado no Brasil, vou recomendar um livro muito bom. All Access: The Rock Photography Of Ken Regan. Ken Regan fotografou boa parte dos grandes nomes do rock n’ roll no palco. De Bob Dylan a Madonna. São fotos incríveis com ótimos comentários do autor. Não é um livro fácil de achar, mas vale a pena procurar.

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