A calçada de Copacabana e a garota de Ipanema.

A calçada de Copacabana e a garota de Ipanema.

A Strip Me está sempre lançando novidades, com uma frequência invejável. Toda semana tem pelo menos uma ou duas camisetas novas, com estampas originalíssimas e de muito bom gosto. Toda estampa criada tem sua importância e alguma ligação com esse nosso universo de diversidade, cultura, barulho, diversão e arte. Um dos lançamentos mais recentes é a “Copacabana”, uma camiseta minimalista com estampa do icônico desenho do calçadão da praia mais famosa do Rio de Janeiro. Além de nos remeter ao verão, aos passeios à beira mar e à natureza, a praia de Copacabana carrega muito da história da cultura brasileira. Hoje Vamos falar sobre uma dessas histórias.

O calçadão de Copacabana foi construído em 1906, com 4,15 quilômetros de comprimento e abrange as praias do Leme e de Copacabana. O desenho de ondas foi inspirado no calçamento da Praça do Rocio, em Lisboa. Trata-se de uma das praças mais tradicionais do centro da capital portuguesa e o desenho das ondas claras e escuras representam o encontro das águas do rio Tejo com o Oceano Atlântico. Inicialmente, no calçadão carioca, o desenho das ondas ficava perpendicular ao calçamento. Só depois de uma reforma na década de 1970, que teve como arquiteto o legendário Burle Marx, que as ondas passaram a ser paralelas ao calçamento, como conhecemos atualmente. Todo o calçadão foi feito com pedras trazidas de Portugal, bem como a equipe que instalou e até hoje faz a manutenção do calçadão periodicamente é formada por trabalhadores portugueses especialistas nesse tipo de trabalho.

Por sua beleza natural e boa localização, a praia de Copacabana logo foi habitada por pessoas de posses ao longo do século XIX, quando a família real portuguesa veio para o Brasil e causou uma drástica urbanização na então capital do Brasil. Em 1923 foi inaugurado, entre mansões e palacetes à beira mar, o imponente hotel Copacabana Palace. O hotel de quartos luxuosos e um enorme cassino logo tornou-se ícone do Rio de Janeiro e abrigava as mais altas celebridades do Brasil e do Mundo. Em 1946 o jogo foi proibido no país e o cassino do hotel foi transformado em sala de shows e espetáculos. Desta forma o hotel, em especial suas áreas de convivência como o bar, o restaurante e a piscina, tornaram-se ponto de encontro de intelectuais e boêmios cariocas. Ainda hoje o Copacabana Palace hospeda os mais importantes artistas e políticos que visitam o Rio de janeiro. A longa lista de hóspedes ilustres conta com nomes como Walt Disney, Brigitte Bardot, Clark Gable, princesa Diana, Nelson Mandela, Paul McCartney, Barack Obama, Tom Cruise, Mick Jagger e muitos outros.

Foi em um prédio próximo ao Copacabana Palace, o Edifício Palácio Champs Élysées, na Avenida Atlântica, nº 2.856, em Copacabana, que nasceu o movimento musical brasileiro que ganharia o mundo: a bossa nova. O edifício era dividido em três blocos (Louvre, Trianon e Versalhes) com entradas independentes. O apartamento 303 do bloco Louvre pertenceu à família da cantora Nara Leão. Por volta de 1957 o apartamento reunia alguns amigos de Nara, como Roberto Menescal, Carlos Lyra, Sérgio Mendes e Ronaldo Bôscoli. Essa turma receberia mais tarde a adição de João Gilberto, vindo da Bahia. Todos eram muito jovens naquela época, por volta de 18, 19 anos. Foi através de João Gilberto que essa turma jovem se ligou a dois caras um pouco mais velhos, que foram fundamentais para a explosão da bossa nova: Tom Jobim e Vinícius de Moraes.

Em 1962 a bossa nova já tinha se popularizado. A canção Chega de Saudade, de João Gilberto, já era um grande sucesso, vendeu muitos discos e era a música símbolo da bossa nova. Mas no fim de junho daquele ano isso começava a mudar. Vinícius de Moraes e Tom Jobim se reuniam frequentemente num bar a um quarteirão da praia de Ipanema, vizinha de Copacabana, para tomar chopp durante a tarde. Sempre escolhiam uma mesa na calçada para observar o movimento. Toda semana viam uma garota passar por eles de maiô e sacola pendurada no braço indo para a praia. Uma garota deslumbrante, linda mesmo! Depois de tanto admirar aquela moça passando, resolveram escrever uma canção.

Nessa época Vinícius de Moraes estava escrevendo uma peça de teatro, uma comédia, chamada Blimp, e encomendou a Tom alguns temas musicais para serem utilizados na peça. O roteiro da peça era meio bobo, contava a história de um extraterrestre que caía por engano no Rio de Janeiro e se apaixonava por uma carioca. Para a peça, Tom Jobim compôs três melodias, que acabariam se tornando canções famosas. São elas Samba do Avião, Só Danço Samba e Garota de Ipanema. Por fim, a peça não saiu do papel. E quando veio a ideia da música sobre a moça da praia, Vinícius escolheu uma daquelas três canções que Tom tinha composto, e que estavam sem letra.

Pouca gente sabe, mas inicialmente Vinícius escreveu uma letra bem diferente para a música, bem mais introspectiva. Dizia assim: “Vinha cansado de tudo, de tantos caminhos. Tão sem poesia, tão sem passarinhos. Com medo da vida, com medo do amor. Quando, na tarde vazia, tão linda no espaço, eu vi a menina que vinha num passo cheio de balanço a caminho do mar.” Pega o começo da música e canta essa parte por cima, que você vai ver que dá certinho. Mas acontece que o Tom Jobim não gostou muito, ele queria uma letra mais ensolarada, mais leve. Vinícius então volta pra casa e escreve os versos que mudariam a música brasileira: “Olha que coisa mais linda, mais cheia de graça…”. Tal a grandeza da música, Garota de Ipanema foi apresentada ao público pela primeira vez num show que foi gravado e saiu em disco. Foi um show no restaurante Au Bon Gourmet, em Copacabana, que contava com Tom Jobim, Vinícius de Moraes e João Gilberto, acompanhados pelo conjunto Os Cariocas. Para apresentar a nova canção Tom, Vinícius e João Gilberto fizeram uma deliciosa introdução. Sobre uma delicada melodia ao piano, João Gilberto começava cantando: “Tom, e se você fizesse agora uma canção que possa nos dizer, contar o que é o amor?”. Tom Jobim respondia: “Olha, Joãozinho, eu não saberia sem Vinícius pra fazer a poesia.”. E Vinícius retrucava: “Para essa canção se realizar, quem dera o João para cantar.”. E João Gilberto: “Ah, mas quem sou eu? Eu sou mais vocês. Melhor se nós cantássemos os três.”. E entra a imbatível introdução de Garota de Ipanema.

Garota de Ipanema teve sua primeira versão em estúdio gravada por Pery Ribeiro em 1963, no disco Pery é Todo Bossa. Outras gravações vieram na sequência, com destaque para as versões instrumentais do Tamba Trio e do próprio Tom Jobim, que após perceber o sucesso dos shows de bossa nova realizados no Carnegie Hall, em New York, lançou a faixa com o título em inglês, The Girl from Ipanema. Em 1964 o saxofonista de jazz Stan Getz se junta a João Gilberto para gravar um disco antológico, que escancara as portas do mundo para a bossa nova. É deste disco, Getz/Gilberto, a versão mais famosa da canção, cantada em inglês pela então esposa de João Gilberto, Astrud Gilberto. Em 1967, se ainda havia no mundo alguém que não conhecia The Girl from Ipanema, acabaria conhecendo de qualquer maneira. Pois a música entra no disco Francis Albert Sinatra & Antonio Carlos Jobim. Sim, Sinatra se apaixona pela bossa nova e grava um disco inteiro com Tom Jobim. A história deste disco, por si só, merece um texto inteiro. Para se ter ideia, Sinatra telefonou dos Estados Unidos para a casa de Tom, que não estava. Sinatra insistiu tanto em falar com Tom Jobim que fez com que a telefonista o procurasse, fazendo ligações para vários lugares. O encontrou, claro, no mesmo bar em que a ideia de Garota de Ipanema surgiu. O garçom foi até a mesa de Tom e disse ”Olha, tem um gringo no telefone querendo falar com o senhor, não estou entendo nada.”. Era Frank Sinatra.

Garota de Ipanema fez com que a bossa nova se tornasse um dos estilos musicais mais populares em todo o mundo durante os anos 60 e 70, levando consigo o nome do Brasil. Garota de Ipanema é a segunda música mais regravada do mundo, com mais de 250 versões! Ela só perde para Yesterday, dos Beatles. E quando essa constatação foi divulgada, foram perguntar ao Tom Jobim o que ele achava disso. E ele falou: “Olha, pra mim está ótimo. Afinal estou em segundo lugar, mas a música que está em primeiro lugar é dos Bestles, e os Beatles são em 4, né? Eu sou um só.”.

É por histórias tão ricas e interessantes como essas que a Strip Me se dedica a lançar estampas tão incríveis, como essa, inspirada no calçadão de Copacabana, também na bossa nova e na cultura brasileira de maneira geral. E não só isso, mas muito mais. São camisetas de arte, música, cinema, cultura pop e muito mais. Na nossa loja você fica por dentro de todos os lançamentos e promoções. Confere lá!

Vai fundo!

Para ouvir: Se Garota de Ipanema é a segunda música mais gravada do mundo, com certeza dá pra fazer uma bela playlist com as 10 melhores versões. Ouça e escolha a sua favorita entre versões de Frank Sinatra, Ella Fitzgerald, Amy Winehouse, Tim Maia, entre outros. Garota de Ipanema Top 10 tracks.

Para assistir: Claro que na onda do sucesso mundial de Garota de Ipanema, foi feito um filme com o mesmo nome e com a bossa nova como trilha sonora. O roteiro em si é fraco, mais uma desculpa para que várias canções sejam tocadas, funcionando como um compilado de videoclipes. O filme Garota De Ipanema foi lançado em 1967 e dirigido pelo Leon Hirszman. O roteiro foi escrito por várias pessoas em parceria, entre eles Vinícius de Moraes e Glauber Rocha. No elenco, boa parte da turma da bossa nova e da MPB aparecem, de Tom Jobim a Chico Buarque. Vale a pena ver como curiosidade e pela boa música. Tem inteiro no Youtube.

Para ler: Olha, a gente poderia aqui recomendar livros e mais livros que se prestam a dissecar a bossa nova. Mas, ao invés disso, recomendamos um dos melhores livros do Vinícius de Moraes. Livro este que, por se tratar de uma compilação de crônicas e poemas, tem muita bossa ali, já que as crônicas geniais de Vinícius tinham um ritmo delicioso e os poemas a beleza deslumbrante, como a de algumas praias cariocas. O livro Para Viver um Grande Amor foi lançado originalmente em 1972 e está disponível atualmente numa bela edição pela Companhia das Letras.

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