A Strip Me não tem medo da polêmica e, para homenagear Martin Scorsese, elencou entre os mais de 25 filmes do diretor, seus 10 melhores.
Imagine um menino que nasceu em New York na década de 1940, descendente de sicilianos, crescendo num bairro de imigrantes, onde a pobreza contrasta com alguns homens de ternos bem cortados tomando café na porta de alguns estabelecimentos, com cara de poucos amigos. O que se pode esperar do futuro desse menino? Ora, ser padre, é claro! Pois era o que queria ser quando adulto o adolescente Martin Scorsese, nascido no Queens em 1942. Porém, por ter uma saúde frágil, o jovem Scorsese quase não saía para a rua e faltava muito na escola. Para compensar, seus pais frequentemente o levavam para se distrair no cinema. Acontece que nos anos 50, quando Martin passava da infância para a adolescência ainda não tinha essa coisa de filmes para crianças. Então, com 12 para 13 anos, ele assistia filmes de Alfred Hitchcock e Ingmar Bergman. E tudo mudou.
Hoje Martin Scorsese é facilmente reconhecido como um dos maiores nomes do cinema de todos os tempos. E é curioso notar que tudo em sua vida pessoal colaborou para que ele fosse um cineasta tão autêntico, realista e de alto primor técnico. Ter crescido nos arredores de Little Italy, em New York, nos anos 50, sendo ele próprio descendente de sicilianos, lhe deu uma visão única da máfia em seu auge. Sua religiosidade fez com que o catolicismo e a cristandade estivessem sempre presente em sua obra, mas sob um viés questionador, provocador até, justamente por ele ter muitas vezes questionado a sua fé, depois que o cinema e a literatura, e consequentemente a reflexão sobre a religiosidade, se tornaram um hábito.
A obra de Scorsese é vasta e impressionante, tamanha a qualidade de praticamente todos os seus filmes. São 25 filmes entre 1968 e 2019, sendo que tem mais um a caminho, que será lançado ainda neste ano. E isso só ficção, sem falar nos documentários, que são 12 no total, e pelo menos 3 são realmente fabulosos. Além disso, a obra de Scorsese é marcada por parcerias longevas e de muito sucesso, em especial com o ator Robert De Niro, e atualmente com Leonardo Dicaprio. Há quem diga que a melhor forma de conhecer um artista é através de sua obra. Então, resolvemos selecionar os 10 filmes mais importantes da carreira do diretor. Não foi fácil escolher só 10 entre tantos filmes incríveis. Então, você confere a seguir os 10 melhores filmes de Martin Scorsese segundo a Strip Me.
10 – O Rei da Comédia (1982)
Um filme excelente, apesar de menosprezado. Mas é compreensível que assim seja. O Rei da Comédia foi o filme que sucedeu Touro Indomável. O filme é empolgante ao misturar comédia e drama para contar a história de um homem perturbado, que vive entre sua própria imaginação e a realidade, cujo desejo é ser um grande comediante. Para alcançar seu objetivo, ele vai até as últimas consequências para se apresentar no talk show mais famoso da TV, apresentado por um renomado comediante. Protagonizado por Robert De Niro e Jerry Lewis, O Rei da Comédia é um baita filme, que ganhou mais atenção do público recentemente. Afinal, claramente o elogiadíssimo filme Joker, lançado em 2019, é mais que uma clara homenagem, é praticamente um remake do filme de Scorsese.
9 – Vivendo no Limite (1999)
Mais um filme sensacional de Scorsese que é pouco conhecido. Também compreensível que assim seja. 1999 foi um ano abençoado para o cinema. No mesmo ano foram lançados Clube da Luta, De Olhos Bem Fechados, Garota Interrompida, Beleza Americana e A Espera de um Milagre. Porém, Vivendo no Limite não deixa nada a desejar a estes filmes. Scorsese traz a história de um motorista de ambulância workaholic, que começa a ver fantasmas dos pacientes que não conseguiu salvar e, ao invés de diminuir, aumenta sua entrega ao trabalho. O filme é alucinante, com uma fotografia e edição fantásticas, uma trilha sonora arrebatadora com The Clash, Van Morrison, Johnny Thunders, R.E.M. e The Who. Além disso, Scorsese consegue arrancar de Nicolas Cage, que sempre foi um ator mediano, uma atuação vigorosa.
8 – O Irlandês (2019)
É o filme mais recente de Scorsese e pode ser considerado um épico, não só por ser um filme longo (mais de 3 horas de duração). O irlandês conta a história que tem ligação direta com um dos casos mais impactantes da história recente dos Estados Unidos, e que continua ainda hoje sem uma conclusão, o caso da morte do líder sindical Jimmy Hoffa. Além de se embrenhar num tema tão espinhoso, o filme tem outros atrativos. Pra começo de conversa, reúne Al Pacino e Robert De Niro finalmente num filme decente e a altura da qualidade dos dois atores. É um filme brilhante, que tem diálogos excelentes, ótimas cenas de ação e uma história bem amarrada, que prende a atenção. Um filme com a cara (e a qualidade) de Scorsese.
7 – Cabo do Medo (1991)
Um suspense como só Scorsese poderia fazer e só De Niro poderia protagonizar com tanta excelência! O roteiro é bem simples. Na verdade, o filme em si não é novidade, pois trata-se de um remake do filme de mesmo nome lançado em 1962 e protagonizado por Gregory Peck. Mas a versão de Scorsese é imbatível! A história gira em torno de um criminoso condenado que, ao sair da cadeia, passa a atormentar a família do promotor que o colocou na prisão. A entrega de De Niro ao personagem é assustadora. É um suspense de roer as unhas que vale ser visto e revisto! Além de tudo foi o filme que revelou ao mundo a jovem atriz Juliette Lewis.
6 – Os Infiltrados (2006)
Este foi o filme responsável pelo primeiro Oscar de Scorsese. Sim, Os Infiltrados é um ótimo filme. Mas não é pra Oscar. Ele concorreu com Babel, Pequena Miss Sunshine e Cartas de Iwo Jima, que são tão bons quanto, se não melhores. Mas é possível que a academia tenha dado o Oscar a Os Infiltrados em nome do conjunto da obra de Scorsese, que tem pelo menos um cinco filmes antes deste que mereciam, e muito, a estatueta. Tá, mas isso não diminui em nada o filme, que fique claro. Os Infiltrados é um filme de máfia como só Scorsese pode conceber, repleto de violência e com uma trama que privilegia seus personagens. Mais uma vez, Scorsese apresenta um filme empolgante, com uma trilha sonora excelente e ótimas atuações. Aliás, de novo Scorsese tira leite de pedra ao fazer um ator mediano apresentar uma atuação acima da média. O nome da vez é Mark Wahlberg.
5 – Casino (1995)
Entramos no Top 5! Começamos a pisar em solo sagrado, de filmes que realmente mudam a perspectiva das pessoas e revolucionam de alguma maneira o jeito de fazer cinema. Casino é um filme de Martin Scorsese por excelência. Tudo que faz de Scorsese um cineasta genial está lá. A escolha do elenco, que entrega atuações brilhantes, um roteiro denso e bem amarrado, cenas de violência explícita impressionantes, fotografia instigante, trilha sonora impecável e direção perfeita. A história se assemelha a do filme Bons Companheiros, pois conta a trajetória de um judeu associado à máfia que é designado para gerenciar um casino em Las Vegas. O filme é inspirado numa história real. Uma curiosidade aqui é que a trilha sonora, além de muito bem escolhida, tem um papel essencial no filme. Como a maior parte do filme acontece dentro de um casino, onde não se vê o mundo exterior e as roupas são sempre extravagantes e atemporais, é através das músicas que o passar dos anos é evidenciado. Enfim, um filme imperdível!
4 – O Lobo de Wall Street (2013)
O negócio de Scorsese é realmente contar histórias de personagens incríveis, carismáticos e que tem uma trajetória vertiginosa. Aqui a máfia dá lugar ao igualmente inescrupuloso e ganancioso mercado de ações e especulação monetária. Leonardo Dicaprio, numa atuação exuberante e irretocável, encarna um ousado homem de negócios que começou por baixo e cresceu rapidamente, entendo os meandros, pormenores e excessos do mercado financeiro. É um filme tão empolgante e divertido, que nem parece que tem 3 horas de duração. Além de tudo é um filme apresenta tamanho realismo que deixa uma pulga atrás da orelha: será que o alto escalão do mercado financeiro é desse jeito mesmo, ou isso é só uma caricatura?
3 – Touro Indomável (1980)
Após concluir Taxi Driver, seu primeiro filme realmente reconhecido pelo público e pela crítica, Martin Scorsese lançou um filme que foi um fracasso total. Esse fracasso fez com que ele quase desistisse do cinema e fosse trabalhar apenas como diretor de vídeo clipes. Foi Robert De Niro quem o incentivou a continuar. Na mesma época em que De Niro dava essa força, chega ás mãos de Scorsese o roteiro de Touro Indomável, a história do lutador de boxe Jake LaMotta, uma história real. O filme é de uma sensibilidade inacreditável. Carrega consigo uma carga imensa de brutalidade e drama, que fizeram com que LaMotta tivesse uma vida de glória nos ringues e desastrosa dentro de casa. O trabalho de De Niro aqui é soberbo, sua transformação física ao encarnar o protagonista em seu auge na juventude e decadente na velhice é impressionante. Touro Indomável é o segundo filme da carreira de Scorsese que deveria ter ganho o Oscar. Outra curiosidade é que o próprio LaMotta, quando assistiu ao filme chorou muito e, ao final, ele perguntou para a sua esposa se ele havia sido uma pessoa tão terrível como aparece no filme. Ela respondeu: “Você era bem pior”.
1 – Empate Técnico
Não dá pra dizer qual destes dois filmes é melhor. Além de serem filmes bem diferentes, os dois são irretocáveis e realmente geniais, cada um com suas particularidades. Portanto, os dois entram para a lista como número 1.
Taxi Driver (1976)
Martin Scorsese era o homem certo na hora certa para realizar Taxi Driver. Primeiro, ele conhece New York como ninguém. Segundo, não tem medo de explorar a violência e brutalidade, e o faz sem parecer forçado. Terceiro, ele tem ao seu lado Robert De Niro, um ator fenomenal. Taxi Driver é um retrato de seu tempo. Um Estados Unidos sem esperança e violento, amargurado com o fim da guerra do Vietnã, que gerou milhares de homens perturbados, veteranos de uma guerra que matou mulheres e crianças, que só sabiam matar e agora estavam sem emprego. Esse é o perfil Travis Bickle, personagem principal, interpretado por De Niro. O filme é um clássico absoluto, desses que tem cenas tão icônicas que são repetidas em inúmeros filmes depois dele (“You talkin’ to me?”). Era um filme pra levar o Oscar. E ele perdeu sabe pra quem? Para Rocky, sim o filme de Sylvester Stallone sobre o boxeador Rocky Balboa. E ele levou o Oscar porque, além de ser realmente um ótimo filme, mostra exatamente o mesmo Estados Unidos despedaçado, mas tem como protagonista um homem simples, do povo, que consegue vencer na vida. Afinal, um pouco de otimismo não faz mal a ninguém.
Bons Companheiros (1990)
Coppola que não nos ouça, mas foi Martin Scorsese quem realmente definiu os moldes de um bom filme de máfia. E Foi com este Bons Companheiros que o fez. Claro que a trilogia Poderoso Chefão é genial, mas traz uma visão limitada, romantizada e vista de cima para baixo do mundo da máfia. Já Scorsese traz um olhar mais realista, com uma visão mais ampla e menos glamourizada. Além disso é quase didático ao explicar através da vida de Henry, como funciona a hierarquia da máfia italiana. Primeira coisa a ser dita sobre este filme: de novo Scorsese arranca uma atuação brilhante de um ator medíocre, neste caso Ray Liotta, que interpreta com perfeição o protagonista Henry Hill, um rapaz que não pode ser efetivado na máfia por não ser de origem italiana, mas que é um gângster associado à máfia, com todos os seus privilégios, junto com seus amigos Jimmy Conway e Tommy (Robert De Niro e Joe Pesci). Mais uma vez Scorsese ajuda a mostrar a passagem do tempo através de uma trilha sonora excelente. Mais uma vez ele traz a violência crua e sem rodeios. Mais uma vez ele executa uma direção irretocável. Mais uma vez ele perde o Oscar. Desta vez, não tem muita explicação. O ganhador do Oscar naquele ano foi Dança com Lobos. Um ótimo filme, mas Bons Companheiros é melhor, mais completo, mais intenso. Bons Companheiros é o filme de máfia perfeito. É um filme que não dá pra cansar de rever. É uma obra prima, assim como Taxi Driver.
Menção honrosa
Precisamos falar, nem que seja por cima do trabalho de Scorsese como documentarista de música. Pelo menos 3 de seus documentários merecem ser mencionados: The Last Waltz, de 1978, que documenta o último show da banda The Band, famosa por acompanhar Bob Dylan, antes de sua separação. Além das músicas, é um filme emocionante, com alguns depoimentos e uma fotografia delicada. George Harrison: Living in the Material World, de 2011 é outro documentário brilhante, contando a vida do guitarrista dos Beatles sob um viés mais pessoal e humano. Repleto de imagens raras e depoimentos de amigos e familiares, é uma homenagem a altura do talento do inigualável beatle George. Por fim, Rolling Thunder Revue: A Bob Dylan Story, de 2019, é acachapante. O filme retrata a turnê de Bob Dylan de 1975 pelos Estados Unidos. Uma turnê insana que além de músicos, contava com vários amigos, entre eles o poeta beat Allen Ginsberg. O filme traz imagens memoráveis de shows e de backstage, além de vários depoimentos interessantíssimos.
Que homem é Martin Scorsese! Um cineasta desse gabarito não podia deixar de ser homenageado pela Strip Me, que claro, tem estampa incrível com referência a um de seus filmes. O cinema cru e revolucionário de Scorsese é uma inspiração e referência para a marca! Confere na nossa loja as camisetas de cinema, de música, arte, cultura pop e muito mais. Além disso, no nosso site você fica por dentro de todos os nossos lançamentos, que pintam toda semana!
Vai fundo!
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