O samba é a voz do Brasil. Por isso, é fundamental que a gente o conheça muito bem. A Strip Me está aqui hoje para te contar 10 coisas que você precisa saber sobre o samba.
Falar sobre o samba, em especial sua origem e e fundamentos, parece uma tarefa simples, mas não é. Trata-se de uma música que faz parte da nossa identidade, quer você goste dele ou não. Certa vez, o músico César Camargo Mariano, um brilhante arranjador, também conhecido por ter sido casado com Elis Regina, disse numa conversa sobre música e mistura de elementos do jazz com o samba, que ele não era um jazzista, jamais poderia ser, mas usa elementos daquela linguagem para se expressar musicalmente. Uma declaração muito sensata. O jazz é uma música que surgiu das plantações de algodão no sul dos Estados Unidos, somente quem cresceu naquele contexto, ouvindo as histórias e sentindo as vibrações daqueles sons pode ser considerado um jazzista genuíno. E o mesmo acontece conosco, com o samba. Faz sentido que qualquer brasileiro, que tenha contato com sua história e se envolva com música brasileira, possa ser considerado um sambista. Mas, claro, uns sempre serão mais sambistas que outros.
O samba, e todas as suas variações ao longo da história, é uma das mais importantes manifestações artísticas do brasileiro, mas principalmente dos africanos escravizados, que aqui criaram raízes. Assim como o jazz nos Estados Unidos, o samba por aqui veio das cantigas e dos batuques dos negros em suas lamentações e também celebrações ritualísticas. Isso foi se misturando às músicas de origem européias e acabou no que conhecemos como o samba e o choro. Toda a trajetória do samba é uma história longa e interessantíssima. E a Strip Me, sempre afim de te contar boas histórias, hoje traz 10 fatos fundamentais sobre o samba, pra você poder batucar com propriedade na mesa do bar.
Origem.
A origem do samba é controversa, uns dizem que surgiu na Bahia, outros no Rio de Janeiro… mas seja onde for, o fato é que foi uma evolução das cantigas tradicionais africanas, misturadas às músicas populares européias. Mas podemos considerar, por ser algo documentado, que o samba nasceu na extinta Praça Onze, no Rio de Janeiro. A Praça Onze era uma praça no bairro Cidade Nova, no Rio de Janeiro, um pouco ao norte do centro histórico da cidade. Aquela região foi largamente habitada por negros, escravizados recém libertos, após a assinatura da Lei Áurea no fim do século dezenove. Particularmente, na casa de uma baiana bem sucedida, que morava de frente para a praça e era uma excelente cozinheira, alguns músicos se reuniam no início do século XX. Entre eles, Donga, João da Baiana, Sinhô e Pixinguinha. Também foi na Praça Onze que aconteceram as primeiras reuniões populares carnavalescas, que dariam origem às escolas de samba. Na década de 1940, o então presidente do Brasil, Getúlio Vargas mandou abrir uma vasta avenida que ligaria o centro à zona norte do Rio. Essa avenida, que acabou levando seu nome, inclusive, passou por cima da Praça Onze, deixando somente sua história de pé.
Primeiro registro.
Reza a lenda que o primeiro samba gravado foi composto justamente na casa da tal baiana, em frente a Praça Onze. Segundo contam os sambistas mais antigos, que viveram naquela época, a música Pelo Telefone surgiu de improviso numa roda de samba, na qual estavam presentes Donga, Sinhô, Pixinguinha, João da Baiana, Caninha e Lalau de Ouro em outubro de 1916. Porém, na hora de registrar a canção, Donga ficou com o crédito. Em novembro do mesmo ano, Donga deu entrada no Departamento de Direitos Autorais da Biblioteca Nacional a partitura do samba, partitura esta escrita por Pixinguinha. Donga gravou Pelo Telefone em 1917. Na época fez muito sucesso no carnaval, e depois foi amplamente revisitada décadas depois por artistas como Martinho da Vila.
Samba popular.
Até o início da década de 1930, o samba era música de gueto, coisa preto e pobre. As coisas começaram a mudar quando intérpretes das grandes rádios começaram a cantar alguns sambas. Além das rádios, o Brasil estava sendo governado por Getúlio Vargas, um ditador, mas também um astuto populista. Ele viu no samba uma maneira de se comunicar melhor com o povo, promoveu shows e elogiava alguns artistas. É verdade também que nessa época rolou uma tentativa de branquear o samba. Enquanto os grandes compositores como Donga e Pixinguinha não apareciam nunca como intérpretes, Francisco Alves e Lamartine Babo tinham alta circulação nos cartazes das principais rádios do país.
Revolução de 1930.
Calma. Não estamos aqui pra falar de política. Estamos aqui pra falar da verdadeira revolução de 1930! Até porque aquela que a gente estuda nos livros de história do colégio não foi revolução, foi golpe de estado. Mas isso não vem ao caso. O fato é que em 1930, um jovem compositor do bairro de Vila Isabel, no Rio de Janeiro, começou a compor umas músicas que mudariam o jeito de se fazer samba e colocaria o gênero no gosto popular de vez. Noel Rosa só tinha vinte anos de idade em 1930, ano que ele compôs Com que Roupa, Feitiço da Vila e Palpite Infeliz. Além de músico inventivo, Noel era um excelente letrista, usando o cotidiano e o bom humor. Seus sambas inspiraram muitos sambistas que surgiam na época, principalmente aqueles que vinham dos morros e bairros mais pobres, e que se identificavam com aquela linguagem simples. Além dos já citados, também é de Noel Rosa clássicos como Gago Apaixonado, Fita Amarela e Conversa de Botequim. O sambista revolucionou o samba, mas não viveu suficiente para viver suas glórias. Ele faleceu aos 26 anos de idade, em 1936, vítima da tuberculose.
Samba consolidado.
Entre as décadas de 1940 e 1950 o samba se estabeleceu como grande expressão popular. Bairros e comunidades se organizavam para criar escolas de samba, e cada uma tinha um grupo de compositores. Neste contexto surgem nomes como Cartola, Nelson Sargento, Nelson do Cavaquinho, Zé Keti, Lupicínio Rodrigues, Élton Medeiros e Adoniran Barbosa. Porém, esses sambistas todos acabam vivendo quase no anonimato, pois eram compositores, mas suas músicas ficavam conhecidas nas vozes de intérpretes como Orlando Silva e Nelson Gonçalves. Ainda assim, esse foi um período importantíssimo, de consolidação do samba. Estava tudo pronto para que mais uma revolução acontecesse.
Velho samba e bossa nova.
Considerado o inventor da bossa nova, com sua batida característica ao violão e o jeito de cantar baixinho, João Gilberto certa vez explicou que sempre quis aprender a tocar samba no violão, mas achava muito difícil. Foi então que escolheu, entre os diferentes acompanhamentos rítmicos, a levada do tamborim para executar na mão direita, enquanto, na mão esquerda, misturava acordes do samba com harmonias truncadas de jazz que ele também adorava. Pronto, surgiu a bossa nova! E não dá pra dizer que a bossa nova não é samba, porque é sim! Mas também é algo mais. É um samba sofisticado, contemporâneo. Tanto é que logo ganhou o mundo. Mas era coisa de jovem universitário, de classe média alta. No meio daquela playboyzada toda, foi uma garotinha tímida que se ligou que o samba de verdade não estava nas praias do Leblon, mas nos morros do centro da cidade.
Resgatando o samba.
Foi Nara Leão que se desgarrou do grupo e foi procurar os velhos sambistas. Em seu primeiro disco, ela não quis gravar as bossas de seus amigos, como Menescal e Carlos Lyra. Preferiu subir o morro e procurar os sambas de Cartola e Zé Kéti. Foi quando esses compositores começaram a ganhar notoriedade e reconhecimento. A turma da bossa nova era formadora de opinião e logo esses sambistas, que ali pelos anos 60, comecinho dos 70, até já estavam com certa idade, mas conseguiram usufruir dessa popularidade tardia. Foi quando, por exemplo, Cartola promovia grandes encontros em seu bar, o Zicartola, onde jovens compositores como Paulinho da Viola e Chico Buarque deram seus primeiros acordes. Depois de Nara Leão, outro nome fundamental para o samba foi João Carlos Botezelli, mais conhecido como Pelão. Pelão foi um produtor musical dos bons. Fã de boa música, quando ele viu Nara Leão e tantos outros jovens gravando os velhos mestres do samba, se perguntou por que diabos ninguém pensou em fazer com que eles próprios gravassem suas canções. Pelão foi responsável pelos discos clássicos de Adoniran Barbosa, Cartola e Nelson Cavaquinho interpretando seus próprios sambas, todos com mais de sessenta e tantos anos, com a voz cansada, mas com uma emoção incomparável!
Samba regional.
A tendência é que a gente identifique o samba como uma manifestação tipicamente carioca. De fato, grande parte dos grandes expoentes do samba são do Rio de Janeiro. Mas o samba é brasileiro, e se manifesta em diferentes regiões do país, e cada região tem um tempero, uma peculiaridade. Para começar, podemos citar um dos maiores gênios do samba: Lupicínio Rodrigues. Nascido e criado em Porto Alegre, Rio Grande do Sul. Entre milongas e bugios, Lupicínio encontrou no samba a maneira de expressar seus amores e desilusões. Além de ter sido o criador do termo “dor de cotovelo”, ele compôs clássicos como Felicidade e Nervos de Aço. Já o paulistaníssimo Adoniran Barbosa criou um samba cosmopolita, urbano e até mesmo poliglota, versando em italiano e paulistanês. Já com influências das religiões de matrizes africanas e seus afoxés, a Bahia também sempre foi um expoente de bom samba, tendo como seu maior nome o inigualável Dorival Caymmi. Enfim, samba tem no Brasil inteiro, com diferente sotaques, mas sempre com muita qualidade.
Samba 90.
Apesar de não serem tão numerosos até os anos 70, grupos de samba sempre existiram. Desde O Bando da Lua, conjunto que acompanhava Carmem Miranda, até Os Originais do Samba, passando pelos Demônios da Garoa. Mas a partir dos anos 70 e 80 o sucesso do Trio Mocotó e do grupo Fundo de Quintal inspirou muitos jovens a formarem seus próprios grupos e também atiçou o faro das gravadoras. Nos anos 80 grupos como Raça Negra e Exaltasamba já davam suas primeira batucadas. E a coisa estourou mesmo nos anos 90, com uma enxurrada de grupos como Só pra Contrariar, Negritude Jr. Soweto, Art Popular e tantos outros. Fenômeno que ficou conhecido como pagode anos 90, e que faz sucesso até hoje. Não se trata exatamente de uma reinvenção do samba, mas sim uma modernização, dando ao gênero um verniz mais pop.
Samba de hoje.
Em 1975 Alcione já pedia pra não deixar o samba morrer. Até hoje seu pedido está sendo cumprido com êxito. A cada geração que surge, o samba é revisitado e repensado, se adaptando a novas linguagens e tecnologias, mas sem deixar o tradicionalismo pra trás. Enquanto nomes como Xande de Pilares e Mumuzinho levam adiante o samba de raiz, caras como Criolo e Marcelo D2 colocam o samba num caldeirão de rap, hip hop, soul e funk para trazer à tona grandes obras. Em especial Marcelo D2 tem se mostrado um verdadeiro alquimista do samba. Em 2003 lançou o irretocável disco À Procura da Batida Perfeita, e desde então vem lançando trabalhos muito inspirados. Seu último disco, lançado em 2023, chamado Iboru é um disco de samba como há muito tempo não se via, uma mistura fina de tradição e contemporaneidade. O samba ainda vive, e não dá sinais de cansaço.
O samba é coisa nossa, é suco de Brasil, é música da nossa essência! E a Strip Me, que não é ruim da cabeça e nem doente do pé, ajuda no batuque e engrossa o coro de lerê lererê. Só no sapatinho, vamos fazendo várias camisetas, uma mais linda que a outra, inspiradas e referenciando o samba! Vem conferir no nosso site! São camisetas de música, cultura pop, arte, cinema, bebidas, brasilidades e muito mais! Na nossa loja você também fica sempre por dentro dos nossos lançamentos, que pintam toda semana!
Vai fundo!
Para ouvir: Claro, uma playlist no capricho com o melhor so samba de todos os tempos! Samba no pé top 10 Tracks.
Para assistir: Imperdível o documentário O Samba, lançado em 2015 e dirigido por Georges Gachot. O filme tem Martinho da Vila como protagonista. Ele conta histórias do samba e de sua própria carreira, enquanto apresenta ao expectador o bairro de Vila Isabel, terra de Noel Rosa e do próprio Martinho, além de mostrar bastidores da escola de samba da comunidade, por vários anos vencedora do carnaval carioca.