O ano de 1998 foi prodigioso para o cinema. Muitos filmes marcantes foram lançados. Entre eles, vale destacar O Resgate do Soldado Ryan, O Show de Truman, Outra História Americana, O Grande Lebowski, A Vida é Bela, Quem Vai Ficar com Mary? E tantos outros. Mas teve um filme naquele ano que destoa de todos os outros. Por não ser um épico de guerra, ou um filme provocador contra a mídia, muito menos uma comédia romântica repleta de clichês ou um filme cult por excelência. Veja, nenhum desses filmes são ruins. Pelo contrário, são muito bons. Mas nenhum deles é tão bizarro e instigante quanto Jogos, Trapaças e Dois Canos Fumegantes. Um filme divertidíssimo e super violento do diretor Guy Ritchie, que mistura violência e humor negro tipicamente britânico. É neste filme que, em determinada cena, o personagem Barry The Baptiste, interpretado pelo ator Lenny McLean, resmunga ao criticar seus subordinados a frase “Fucking northern monkeys!”.
A expressão northern monkeys é usada há muito tempo na Inglaterra, de maneira depreciativa, claro, para designar os moradores do norte do país. O termo northern monkeys, macacos do norte, quer dizer algo como os idiotas do norte, os estúpidos do norte. Não por acaso, o norte da Inglaterra é famoso por ter um povo carrancudo, mas ao mesmo tempo muito bem humorado, o que faz com que tenham um humor encharcado de sarcasmo, nonsense e auto depreciação. Exemplo disso são os Beatles, vindos de Liverpool. George Harrison, típico inglês do norte, era maravilhosos em entrevistas. “George, como se chama esse corte de cabelo de vocês?” e ele responde: “Arthur.”, “George, você é o beatle que menos aparece sorrindo nas fotos. Por quê?” e ele responde “Porque meus lábios doem.”.
Liverpool é uma cidade litorânea, um dos portos mais importantes da Inglaterra. Se você dirigir na direção leste, 100 quilômetros pelo interior do país, você chega em Sheffield, uma das cidades mais importantes da revolução industrial. Além de sua importância histórica, a cidade é conhecida por ter entre seus moradores, ilustres estrelas do rock. São de lá o cantor Joe Cocker, o vocalista do Simply Red, Mick Hucknall e todos os integrantes da banda Def Leppard. E mais recentemente, a cidade revelou uma das bandas mais importantes dos últimos 20 anos na música pop, os Arctic Monkeys.
No natal de 2001, os amigos e vizinhos Alex Turner e Jamie Cook ganharam de seus respectivos familiares uma guitarra cada um. No ano seguinte, já estavam montando uma banda com a turma do colégio, os camaradas Glyn Jones no vocal, Andy Nicholson no baixo e Matt Helders na bateria. A banda se chamava Bang Bang e tocava covers de Led Zeppelin e outros clássicos, mas também eram ligadíssimos em Oasis, Strokes e Queens of the Stone Age. Glyn Jones não durou muito na banda, acabou cansando e saiu fora. A vaga de vocalista caiu no colo de Alex Turner, que era tímido e precisou aprender a lidar com isso para ser o frontman. Além disso, a saída de Glyn motivou a banda a mudar de nome e começar a escrever suas próprias canções.
A banda passou a se chamar Arctic Monkeys e a tocar em vários lugares do norte da Inglaterra. Em 2003 a banda distribuía para o público que frequentava seus shows alguns CDs com gravações demo de algumas de suas músicas. Como as cópias eram limitadas, quem ganhava o CD invariavelmente copiava para outros amigos e convertia as faixas para distribuir pela internet. E cada vez mais gente se interessava pela banda. Uma página no extinto Myspace chegou a ser criada com o nome e as músicas da banda, sem que nenhum dos integrantes tivessem alguma coisa a ver com aquilo. Literalmente, a banda viralizou. Em 2004, sem nenhuma gravação oficial, a banda já era muito popular no Reino Unido, se apresentou na rádio BBC e tocou em alguns dos principais festivais da Inglaterra, o Reading Festival e o Leeds.
Em 2005 lançam o EP Five Minutes with Arctic Monkeys, com apenas 1500 cópias em CD e 2000 em vinil de 7 polegadas, além de estar disponível no iTunes Music Store. Com esse EP, assinam com a gravadora independe Domino, que lança o single I Bet You Look Good on the Dancefloor. O single foi pras cabeças e a banda apareceu na capa da tradicionalíssima revista New Music Express, a NME. Nessa altura do campeonato, não só o single, mas as faixas dos EPs e das demos antigas circulavam loucamente pela internet. E isso não impediu que o lançamento do primeiro disco da banda fosse um estouro. Whatever People Say I Am, That’s What I’m Not saiu em 2006 e vendeu mais de 300 mil cópias em uma semana, um recorde no Reino Unido até então.
Tá, mas o que essa banda tem de mais pra ser tão celebrada? Pra começar, Alex Turner é um compositor muito criativo. A banda tem uma sonoridade atemporal, suja, mas atraente. A postura “Foda-se o que você pensa de mim” da banda, herdada dos Oasis, uma de suas maiores influências, fica evidente na sonoridade e no jeito de cantar de Turner. A sobreposição de guitarras remete aos Strokes com arranjos simples, mas truncados e surpreendentes. E aqui estamos falando só sobre o primeiro disco da banda, ainda hoje um dos mais influentes do século XXI. E o lance é que só melhorou depois disso.
Em 2007 lançaram o segundo disco, Favourite Worst Nightmare, que também vendeu muito! Em seguida, a banda se junta a um dos seus heróis para lançar Humbug em 2009, que teve a produção de Josh Homme, do Queens of the Stone Age. O quarto disco, Suck It and See, de 2011, manteve o alto nível de canções. Mas nada comparado ao salto que a banda daria a seguir. Em 2013 lançam o antológico AM, disco irretocável e considerado por muitos a obra prima dos Monkeys. Além da pegada suja e direta, a banda incorporou uma sonoridade mais soturna, um quê de David Bowie, um som que deixa a dúvida entre o vintage e o moderno. Sem falar nas composições excelentes. Imagina as expectativas depois de um disco desse! Pois eles conseguiram, se não se superar, manter o mesmo altíssimo nível de AM com o disco Tranquility Base Hotel & Casino, lançado em 2018. Atualmente a banda lançou 2 singles, Body Paint e There’d Better Be a Mirrorball e tem seu sétimo disco programado para sr lançado no dia 21 de outubro deste ano. Aguardemos.
Legal demais conhecer a história a banda, seus influências, seus discos… muito bom. Mas tem aquela curiosidade que não quer calar. De onde esses caras tiraram esse nome maluco, Arctic Monkeys? A verdade é que ninguém sabe ao certo. A própria banda se recusa a responder essa pergunta, as poucas vezes que falou a respeito, foram dadas respostas controversas, cada hora um conta uma história diferente. Mas tem uma teoria que, por ser tão simples e sem graça, merece ser citada, e justifica o, aparentemente deslocado, primeiro parágrafo deste texto. O filme do Guy Ritchie, Jogos, Trapaças e Dois Canos Fumegantes, contém um dos poucos registros diretos do uso da expressão Northern Monkeys. Ninguém se espantaria que alguns moleques do norte da Inglaterra pegassem essa expressão e, com o seu humor auto depreciativo, tentasse exagerá-la ao máximo. Ora, qual é o ponto mais ao norte do planeta? Exatamente. O Ártico.
Só mesmo a Strip Me para te contar a história de uma das bandas mais legais dos últimos tempos e, de quebra, te dar uma teoria absurda, mas coerente, sobre o nome da banda, pra você poder contar na mesa do bar pros seus amigos! E, vamos falar sério, não tem como não amar os Arctic Monkeys, uma banda do c@r#l%o! E é lógico que ela está bem representada com pelo menos duas estampas excelentes na Strip Me! E não é só camiseta de música não! Também tem de cinema, arte, cultura pop e muito mais. Na nossa loja você encontra essas e outras estampas e fica por dentro de todos os nossos lançamentos!
Vai fundo!
Para ouvir: Uma playlist caprichada, a dificílima tarefa de selecionar 10 das melhores faixas dos Arctic Monkeys! Arctic Monkeys Top 10 tracks.
Para assistir: Pra quem ainda não viu, tem que ver. E pra quem já viu, vale a pena demais rever! Jogos, Trapaças e Dois Canos Fumegantes, filme de 1998 do Guy Ritchie é uma pérola escondida do cinema cult que merece ser lembrada! Um filmaço!