BAUHAUS

BAUHAUS

Existem alguns termos que nos soam muito contemporâneos. Funcionalidade, menos é mais, acessibilidade, dentre outras, são expressões muito atuais. Acontece que 100 anos atrás elas já eram largamente usadas. Não só usadas, mas aplicadas de fato. Por 14 anos essas palavrinhas, cheias de conceitos nortearam uma escola como nunca existiu antes. Uma escola agregadora, moderna e, claramente, muito a frente do seu tempo. Portanto, em prol da funcionalidade deste texto e tendo sempre em mente que menos é mais, vamos direto ao ponto.

Em alemão, haus significa casa e bauen significa construir. A união das duas palavras numa só, Bauhaus, significa obviamente casa da construção. Parece um slogan ruim para uma loja de materiais de construção, é verdade. Mas Bauhaus foi o nome dado a uma escola concebida por um arquiteto de muito talento chamado Walter Gropius. A ideia de Gropius era implementar uma escola que transformaria uma só pessoa em artista, construtor e artesão, ensinando desenho, design, arquitetura, tecelagem, metalurgia e marcenaria. Sob esta concepção, se democratiza o conhecimento e incentiva a criação de novas e acessíveis soluções para a vida urbana. O problema é que, não só Gropius concebia uma escola com conceitos de vanguarda, muito avançados para a realidade de seu tempo, como também o fazia numa época complicada da história ocidental, em especial onde ele vivia: a Alemanha.

Em junho de 1914 o arquiduque Francisco Ferdinando (ou Franz Ferdinand para os mais chegados), que era herdeiro do trono do reino da Áustria, foi assassinado. Tal crime acabou sendo oficialmente o pontapé inicial da Primeira Guerra Mundial. A guerra durou até 1918. Um dos oficiais alemães que participou do conflito foi justamente Walter Gropius. A guerra causou nele forte impacto. Ele começou a sonhar com o momento em que a humanidade domesticaria as máquinas em benefício do homem, e não para a sua morte. Com o fim da guerra, Gropius tinha claro em sua mente que precisava fazer parte de algo totalmente novo, que pudesse mudar as condições em que ele vivera antes e durante a guerra. Justamente nesta época, em 1919, ele foi convidado a assumir a direção da Escola de Artes Aplicadas de Weimar. Era a chance que ele precisava.

Weimar é uma cidade pequena no centro da Alemanha. No início do século XX, era muito provinciana, porém já era conhecida por conta de um de seus ilustres moradores: Goethe, o famoso poeta do século XVIII. Logo que Gropius assumiu a Escola de Artes Aplicadas, uma espécie de universidade pública especializada em engenharia, arquitetura e artes, logo tratou de rebatizá-la de Bauhaus, a casa da construção, incluir novos cursos e construir grandes oficinas com maquinário pesado. Seu projeto era ambicioso, mas teve apoio do governo, porque uma das promessas é que a escola criaria projetos e construiria casas planejadas, com custo muito baixo. Era o tipo de coisa que a Alemanha precisava com urgência depois de ser arrasada pelo Tratado de Versalhes no fim da guerra.

E assim foi. Bauhaus começou a todo vapor. Os alunos que se matriculavam, logo de início já tinham aulas básicas de desenho e, em seguida, de materiais e formas. Tudo era racional e muito objetivo. Os alunos não aprendiam logo no início do curso história da arte, por exemplo. Gropuis julgava que tudo deveria ser criado por princípios racionais e intuitivos e não por padrões herdados. Os alunos só iriam estudar diferentes movimentos artísticos no quarto ano de estudo, quando suas criações já estariam em desenvolvimento com personalidade própria. Depois das aulas de desenho básico, os alunos partiam para as oficinas, para colocar em prática as noções de proporções, dimensão e formas. Começavam desenvolvendo pequenos utensílios como canecas e luminárias. Tudo que poderia ser imediatamente produzido em larga escala. Assim, já ganhavam as noções de design. Pois tudo era feito sob a supervisão de um artista plástico e um artesão. A combinação da estética do artista com o conhecimento do artesão fazia com que os produtos criados fossem diferentes, bonitos, modernos, mas sempre funcionais. Já num nível mais avançado a promessa de se produzir casas foi cumprido. Várias casas em Weimar foram construídas com uma arquitetura moderna, limpa e harmônica. As casas eram erguidas com placas pré-fabricadas, armações de ferro e vidro. Tudo otimizando o tempo de construção e barateando os custos. As casas, bem mais baratas que as de alvenaria tradicional, vendiam muito bem, apesar da altíssima inflação e crise econômica que invadia a Alemanha, fazendo com que grupos políticos extremistas ganhassem as ruas. O ano era 1924 e o partido nazista, fundado em 1920, crescia a olhos vistos.

Nessa época Bauhaus já contava com um corpo docente invejável e produzia o que havia de mais moderno em móveis e utensílios domésticos e sua arquitetura se desenvolvia e forma brilhante. Além de Gropius, lecionavam, e davam workshops e mentorias na Bauhaus o pintor alemão Lyonel Feininger, o escultor Gerhard Marcks, o pintor, escultor e designer alemão Oskar Schlemmer, que dirigiu a oficina de teatro, os pintores suíços Johannes Itten e Paul Klee, e o pintor russo Wassily Kandinsky, além do holandês Theo van Doesburg, arquiteto, artista plástico e um dos fundadores do movimento De Stijl, que exaltava o movimento modernista, criava novos paradigmas para a arte abstrata e posteriormente daria nome ao melhor disco da banda White Stripes. Apesar de exercer influência direta na arquitetura e no design, Bauhaus também foi muito importante para a arte na Alemanha, pois reunia artistas, ministrava simpósios e debates, rolavam exposições e a criação sem limites era incentivada. Era um momento de efervescência na Alemanha culturalmente. Em paralelo com a vanguarda de Bauhaus, se desenvolvia o expressionismo no cinema alemão, que praticamente inventou os filmes de terror através de clássicos como O Gabinete do Dr. Caligari, de 1920 e Nosferatu, de 1922. Toda essa aura de arte e vanguarda da Bauhaus começou a incomodar os provincianos e conservadores moradores da pequena Weimar. Em 1924 o partido nazista, que começou no sul da Alemanha, em Munique, já espalhava seus ideais conservadores por toda a Alemanha. Em 1925 tornou-se inevitável que a Bauhaus fosse transferida para uma cidade maior. Gropius então projetou um belíssimo prédio para abrigar todas as oficinas, laboratórios, salas de aula, além de contar com um auditório, refeitório e etc, na cidade de Dessau, ao norte da Alemanha.

A Bauhaus se muda então para Dessau em 1925. Mas começa a sofrer cada vez mais perseguições. O fato de Kandinsky ser russo e da grande maioria dos artistas vinculados a escola serem entusiastas do comunismo não ajudava em nada. O contexto geral também era preocupante. Em 1929 a Alemanha tinha 40% de sua população sem emprego e a inflação atingia a estratosfera. O partido nazista, já muito popular, começou a apontar o dedo para supostos culpados, os dois principais alvos eram comunistas e judeus. A maioria dos nomes mais importantes da escola, pouco a pouco, foi abandonando seus postos e fugindo do país. Em 1932, numa tentativa de se realinhar e continuar em atividade, a Bauhaus mais uma vez mudou de cidade, se instalando na capital Berlim. Mas já era tarde demais. Em 1933 Hitler assume o poder na Alemanha. Bauhaus é fechada e Walter Gropius se muda para os Estados Unidos antes que acabasse preso.

A Bauhaus como espaço físico acabou em 1933. Mas continua vivíssima como escola e movimento artístico. Bauhaus é um dos pilares mais consistentes do design no mundo, uma corrente ativa na arquitetura e uma referência inequívoca para as artes. Para ter uma dimensão, basta olhar para Brasília. Os arquitetos Lúcio Costa e Oscar Niemeyer foram diretamente influenciados pela arquitetura desenvolvida na Bauhaus e conceberam a capital do Brasil com prédios super modernos, esteticamente lindos e totalmente funcionais em suas linhas retas e espaços amplos. Enquanto isso, Walter Gropius deu sequência ao seu legado pessoal como arquiteto lecionando em Harvard e erguendo edifícios monumentais, principalmente em Chicago, New York, Pittsburg e Boston, onde morreu.

É tanta informação e tamanha a importância da escola, que acabamos nem mencionando que, além de tudo, Bauhaus também acabou se tornando o nome de uma banda de pós punk da Inglaterra. Claro que a banda foi batizada cm este nome em homenagem à escola alemã. Nada mais justo. A Strip Me, que sempre teve em alta conta camisetas de design, camisetas de arte e camisetas minimalistas, também não poderia deixar de homenagear a escola de Bauhaus, seja publicando este texto, como também lançando estampas super especiais inspiradas neste revolucionário movimento artístico alemão. E assim como a Bauhaus, a Strip Me sempre continua indo além, então você também encontra camisetas de música, cinema, cultura pop, comportamento e muito mais! Confere lá na nossa loja e fica esperto pra estar sempre por dentro dos novos lançamentos!

Vai fundo!

Para ouvir: Claro! Uma playlist selecionando as melhores canções desta que é uma banda excelente e tem uma personalidade e sonoridade tão marcantes quanto o movimento artístico que lhes dá o nome. Top 10 tracks Bauhaus!

Para assistir: Vale a pena assistir o documentário feito para a TV britânica Bauhaus: A Face do Século XX, dirigido por Julia Cave e escrito por Frank Whitford, veiculado na TV em 1994. É um documentário curto, mas muito bem montado, com depoimentos e muitas imagens. Vale a pena conferir. Tem completo e legendado no Youtube. Link aqui.

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