10 curiosidades sobre a maconha.

10 curiosidades sobre a maconha.

Como informação nunca é demais, a Strip Me traz 10 curiosidades sobre a maconha, para ajudar a dissipar a fumaça em torno do debate sobre a descriminalização da erva.

Ela tem muitos nomes. Ganja, fumo de Angola, pango, diamba, marijuana e até mesmo cigarrinho de artista. A boa e velha cannabis é conhecida da humanidade desde tempos imemoriais. E seu uso sempre foi muito diverso. Desde o consumo através do fumo, até a o uso de suas fibras para produzir tecidos e cordas. E, é claro, tem o seu uso medicinal, que tem sido cada vez mais explorado com sucesso. A maconha é mais que uma planta versátil e polivalente, é um ícone da cultura pop. E atualmente está na boca (!) de muitos políticos e da imprensa do Brasil.

O que está em discussão no STF (Supremo Tribunal Federal) atualmente avalia a constitucionalidade do artigo 28 da Lei de Drogas, de 2006, que considera crime “adquirir, guardar, ter em depósito, transportar ou trazer consigo, para consumo pessoal, drogas sem autorização ou em desacordo com determinação legal ou regulamentar”. O debate está em torno da quantidade que pode ser considerada para consumo ou tráfico. É um passo importante rumo à descriminalização da maconha no Brasil, como já acontece no nosso vizinho Uruguai. O assunto é deveras complexo e multifacetado. Para ajudar a expandir suas ideias e conhecer um pouco melhor o tema, a Strip Me apresenta 10 curiosidades sobre a maconha.

1 – Origem.

Muitos estudos foram feitos para saber, afinal de contas, de onde a cannabis é nativa. Depois de muito estudo, os cientistas chegaram à conclusão de que a planta é original da Ásia Central, especificamente do o Planalto do Tibete, próximo ao Lago Qinghai. Estima-se que ela está presente naquela região há cerca de 6 milhões de anos. E se expandiu para leste da China e para o norte e oeste, para Rússia e porções da Europa, há 1,2 milhão de anos. Isso quer dizer que as primeiras civilizações (sumérios e mesopotâmios)  possivelmente já tinham contato com a erva. Um dos primeiros registros documentais do uso da cannabis data de 2300 a.C. na China, falando sobre o seu uso em infusão na água, como um chá, e também o uso de suas fibras para tecido. Inclusive, tornou-se já nessa época, comum diferenciar a cannabis do cânhamo. A cannabis é a planta toda, com suas folhas finamente recortadas em segmentos lineares, suas flores com pêlos granulosos que, nas plantas femininas, produzem uma resina, cujas propriedades psicoativas funcionam como analgésico, anódino, antiespasmódico e calmante do sistema nervoso. Já o cânhamo refere-se somente ao caule da planta, que contém fibras de excelente qualidade, mas sem qualquer princípio psicoativo.

2 – A chegada da Maconha no Brasil.

Muito antes de aparecer nas praias do litoral brasileiro dentro de latas, a maconha chegou aqui… em 1500, é claro! O primeiro contato dos povos originários do Brasil com a cannabis se deu através do cânhamo. Isso porque não se conhecia no mundo fibra melhor e mais resistente do que o cânhamo para se produzir cordas e os tecidos que integravam as velas das naus portuguesas. Já a planta mesmo chegou por aqui por volta de 1549, com os escravizados da África. Os povos africanos já eram versados na arte do cultivo e consumo da cannabis, e muitos a tinham como uma erva sagrada. Tanto é que o nome maconha deriva da palavra africana ma’kaña, que significa erva sagrada! Os negros traziam as sementes de maconha costuradas em suas poucas vestes ou ainda costuradas em pequenas bonecas ritualísticas que eles traziam consigo. Já dizia Caminha que aqui plantando tudo dá, pois a maconha encontrou no Brasil solo fértil, e acabou caindo nas graças dos indígenas, que já tinham o hábito de fumar o tabaco, esta sim uma planta nativa da América. Assim, os índios passaram a utilizar também a maconha, além do tabaco, como fumo em suas cerimônias e pajelanças . Os primeiros negros a chegar no Brasil com sementes de maconha vinham de Angola. Por isso, logo se popularizou por aqui o termo fumo de Angola, para referir-se à cannabis.

3 – Cachimbo da Paz.

Alguns hábitos são comuns a povos que jamais poderiam se encontrar e trocar informações. Aparentemente, são hábitos intrínsecos na natureza humana. Assim, é comum perceber que em muitos povos e sociedades mundo afora, sempre existiram cerimônias ritualísticas, com objetivos como prosperidade, cura de enfermidades, celebração de nascimentos, casamentos, funerais e agradecimento aos deuses. Nessas cerimônias, é comum ter o consumo de alguma erva, sendo fumada. Antes dos europeus chegarem na América, os povos originários fumavam o tabaco. Mas a maconha foi muito bem recebida por eles, apesar de os índios nunca terem realmente se dado muito bem com os negros escravizados. Foi entre os índios da América do Norte que se relatou pela primeira vez o hábito de acordos de paz serem selados, entre duas tribos inimigas, fumando do mesmo cachimbo, surgindo o termo cachimbo da paz. O mesmo hábito acontecia entre as tribos brasileiras. No início, o fumo era só tabaco, mas depois da chegada dos angolanos, com certeza esse cachimbo passou produzir mais do que a paz, mas também uma leve maresia.

4 – Cânhamo e maconha.

Até o final do século XIX a maconha era um grande negócio para a maior parte dos países do mundo, inclusive o Brasil. Isso porque as fibras do cânhamo realmente são de excelente qualidade e produzem tecidos muito mais duráveis do que o algodão e cordas muito mais resistentes do que as feitas com sisal ou outros materiais. Portugal estabeleceu no Brasil em 1783 a Real Feitoria de Linho de Cânhamo, onde se plantava maconha em abundância para a extração da fibra de seu caule. Porém, já durante o reinado de Dom Pedro I, a produção de cânhamo foi deixada de lado e o consumo da cannabis foi proibido em 1830. Tempos depois, o Brasil proibiria não só o consumo, mas o plantio da maconha, independente de seu uso. Produtos como tecidos e cordas feitos de cânhamo também foram proibidos no país, e assim seguem até hoje. Algo inexplicável comercialmente, dados os baixos custos de produção e a qualidade das fibras do cânhamo.

5 – Os chás da rainha Carlota Joaquina.

A Carlota Joaquina é uma das personagens mais complexas, instigantes e polêmicas da história do Brasil. Primogênita do rei Carlos IV da Espanha, ela se casou ainda criança com Dom João, um dos filhos de D. Maria I, rainha de Portugal. Dom João não fora criado para reinar, pois não era o primogênito. Mas quis o destino que seu irmão mais velho morresse precocemente e sua mãe adoecesse, ficando conhecida como D. Maria, a Louca. Dom João e Carlota Joaquina tornaram-se rei e rainha de Portugal e acabaram sendo os primeiros monarcas a residir no Novo Mundo, na famosa vinda da família Real para o Brasil, fugindo de Napoleão Bonaparte. Carlota Joaquina era uma mulher amargurada, infeliz no casamento e com traços sérios de depressão. A vinda ao Brasil, de muitas formas, piorou a situação da monarca. Por outro lado, fez com que ela tomasse contato com a erva que mudaria sua vida para sempre. Diz-se que ela passava suas tardes no Rio de Janeiro na companhia de serviçais negros, que lhe preparavam chás de diamba, que a relaxavam e traziam paz, amenizando suas crises de depressão. Em seus últimos dias de vida, doente, em Portugal, ela dizia a um de seus criados: “Traga-me aquele pacotinho de flores de diamba do Amazonas, que já tanto me trouxe alívio.” Carlota Joaquina pode não ter levado a areia do Brasil em seus tamancos, mas certamente levou algumas plantinhas de recordação.

6 – Criminalização da Maconha.

Assim como no Brasil, em vários outros lugares do mundo, até o final do século XIX o consumo da maconha, principalmente para fins recreativos, era proibido, mas era tolerado. Mas, à medida que a revolução industrial avançava, as fronteiras do mundo ficavam mais acessíveis e o capitalismo prosperava, os governantes se viram no papel de impor certos limites. Na Europa o problema nem era a maconha, mas sim o ópio, uma planta psicoativa bem mais perigosa, que causa danos ao cérebro e oferece alto grau de dependência, e de onde se extrai a heroína. Em 1912 a Liga das Nações (a ONU da época) realizou em Haia a Convenção Internacional do Ópio, com diversas regras de restrição á produção e consumo da papoula. Os Estados Unidos, junto com a China e o Egito, propuseram ampliar essas restrições para o haxixe, e a coisa acabou indo pra maconha também. E o Brasil foi um dos mais atuantes países nessa conferência, apoiando a proibição e criminalização da maconha. Isso se intensificou no Brasil da década de 1930 com a ascensão de Vargas ao poder, quando a maconha realmente passou a ser tratada como droga e quem a consumisse era considerado criminoso.

Anúncio publicado num jornal do Rio de Janeiro em 1905.

7 – Rastafári e o ressurgimento da maconha.

O movimento Rastafári surgiu na Jamaica na década de 1930. O movimento Rasta é meio difícil de se explicar porque ele mistura religião e política. Basicamente, Rastafári combina o Cristianismo, o Judaísmo e uma consciência política pan-africana. Foi fundado por camponeses jamaicanos descendentes de africanos escravizados vindos da Etiópia, onde o imperador Haile Selassie I passa a ser reconhecido como a reencarnação ou a própria representação de Deus, ou seja, Jeová, e que os rastas abreviam para Jah. Entre seus costumes estão o vegetarianismo, desaprovação de modificações no corpo (tatuagens e etc) e o usa ritualístico da maconha como forma de se aproximar de Deus. O movimento Rastafári se popularizou rápido na Jamaica e muitos artistas se converteram a ele. No fim dos anos 1950, o ska, o rocksteady e o dub, gêneros musicais que precederam o reggae, começaram a extrapolar o território jamaicano e atingir alguns guetos do Reino Unido. Com a música, o Rastafári e a maconha foram de carona. Enquanto isso, outra revolução cultural dava as caras nos Estados Unidos tendo a cannabis como um de seus combustíveis.

8 – O Levante da Contra Cultura.

Enquanto os jamaicanos fumavam maconha para elevar seus espíritos, nos Estados Unidos dos anos 1940, a cannabis ganhava status ao ser consumida abertamente pelos mais importantes nomes do jazz como Charlie Parker e John Coltrane. Consequentemente, a erva se tornou um dos pilares da Geração Beat de Jack Kerouac e Allen Ginsberg. Foram eles, artistas intelectuais e, acima de tudo, brancos de classe média, que começaram a pressionar as autoridades pela descriminalização da maconha. Essa bandeira foi passada para os hippies alguns anos a frente. A luta pela descriminalização e legalização da maconha, ancorada em princípios como a liberdade e o fato de ser uma erva, ainda que psicoativa, que não causa grande dano ao corpo e tem baixa grau de dependência, segue firme até hoje e, em vários países do mundo, acabou vitoriosa. O próprio Estados Unidos, mesmo tendo uma sociedade altamente conservadora, já legalizou a erva em praticamente todos os seus estados. A mesma coisa aconteceu no nosso vizinho Uruguai e vários países da Europa. E esses movimentos, com o passar dos tempos, passaram a contar com pessoas que, não só queriam ser livres para fumar um baseadinho no fim de tarde, mas também entendiam a importância da cannabis para a medicina.

Allen Ginsberg em protesto pela legalização da maconha na década de 1960.

9 – Maconha & Medicina.

Ciência é coisa séria. Não adianta a gente se apoiar apenas nos relatos  de diversos usos da cannabis ao longo de milênios em diferentes sociedades.  É preciso que estudos confiáveis e criteriosos sejam feitos para comprovar que a maconha é uma planta com reais propriedades medicinais. Bom, a real é que esses estudos já foram feitos, tem a aprovação da classe acadêmica e científica e realmente comprovam a eficiência da cannabis no tratamento de epilepsia, Parkinson, glaucoma, câncer, esclerose múltipla e outras doenças. Tendo isso em vista, no Brasil o plantio de maconha para pesquisas e preparo de medicamentos já é permitido, mas ainda não é praticado. Ainda falta uma regulamentação da Anvisa para que isso se concretize. Faltam regras que determinem como e onde o cultivo pode acontecer. Nesse sentido, estamos muito atrasados. Afinal, uma coisa é se embrenhar num longo debate cheio de variantes sobre a legalização de uma erva psicoativa para uso recreativo. Outra coisa é regulamentar e permitir que as pessoas tenham acesso a uma planta que é barata e pode proporcionar bem estar e saúde, como já acontece em vários lugares do mundo.

10 – A maconha é pop.

O conceito de cultura pop, este conjunto de ideias, perspectivas, atitudes e imagens que emergem das massas, influenciadas pela mídia e pelo entretenimento, nasceu no início do século XX com a expansão dos meios de comunicação (rádio e cinema, posteriormente a televisão). De lá pra cá, cresceu, se tornou cada vez mais plural e democrática, e cada vez mais atuante e influente. E se tem uma coisa que faz parte da cultura pop desde o início, sendo celebrada, referenciada e ás vezes até criticada é a maconha! O que não faltam são canções de jazz e bebop sobre a erva desde os anos 1920. Depois, ela seria celebrada pelos beats em prosa e verso, viraria símbolo de liberdade nas mãos dos hippies e até hoje é tema de filmes, canções e livros, além de estampar camisetas, quadros, posters e etc. De Ella Fitzgerald a Snoop Dogg, passando por Black Sabbath e Willie Nelson, o que não faltam são canções sobre maconha, por exemplo. Desde sempre a maconha é pop!

Pois é. Realmente o tema é vasto e complexo. Mas também é interessantíssimo e muito sedutor. E nós da Strip Me estamos sempre ligados, sempre valorizando a liberdade, a diversidade e o meio ambiente. Então, se você quer incorporar uma plantinha a mais na sua urban jungle, quem somos nós para questionar! Tendo responsabilidade e consciência, tudo vale a pena, se alma não é pequena. Portanto, é claro que você vai encontrar, entre as nossas coleções de música, cultura pop, cinema, arte, dentre outras, algumas referências sempre muito descolada e bem humoradas sobre a cannabis. Confere lá na nossa loja e aproveita pra ficar ligado nos lançamentos, que pintam lá toda semana.

Vai fundo!

Para ouvir: Uma playlist pra te deixar de cabeça feita, com o que há de melhor em canções sobre a maconha. Maconha top 10 tracks.

Para assistir: Não dá nem pra pensar em outro filme senão o clássico de 1978 Up In Smoke, que imortalizou a dupla Cheech & Chong. Tá certo, não é um roteiro brilhante, mas é bem divertido e tem uma ótima trilha sonora. Além disso, é um marco do seu tempo. Um filme que merece ser visto.

Para ler: Vale a pena ler o relato bem humorado e muito bem detalhado sobre o surreal verão de 987, quando o litoral brasileiro foi inundado por latas cheias de maconha. O livro O Verão da Lata, de Wilson Aquino, lançado pela editora Leya em 2012 é um livro desses que a gente lê rapidinho, avidamente, se divertindo e sem ver po tempo passar. Leitura recomendada!

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