Uma história de amor, luta e orgulho.

Uma história de amor, luta e orgulho.

Imagine viver sob os preceitos de democracia dos gregos, sob a crença plural e mística os babilônicos. Que bom seria! Uma sociedade onde todo mundo se aceita como é e tem voz na sociedade, onde não há pudores e o sexo não é visto como algo sujo, mas sim como algo sagrado e libertador. Uma sociedade onde ninguém se importa com quem você mantém relações sexuais, porque tudo é aceito. Um conceito que séculos depois seria entendido como libertinagem. Mas que, na real, nada mais é do que liberdade. A verdade é uma só. Se formos buscar na história o começo de tudo, dá pra dizer que foi com a queda de Babilônia em 539 a.C. e a disseminação dos conceitos do judaísmo e depois, e principalmente, do cristianismo mundo afora dali em diante.

A homossexualidade é tão antiga quanto a humanidade e era aceita e praticada em diversas civilizações. Há registros dessa prática em povos que viveram no ano 1.200 a.C. Entre gregos e egípcios, civilizações que modernizaram muito a maneira de se organizar e viver em sociedade, a homossexualidade era algo comum. E, de cara, já dá pra evidenciar aqui a palavra diversidade, afinal além de tudo esses povos eram politeístas. Parece besteira, mas a maneira como a religiosidade era encarada por esses povos diz muito sobre a sua sociedade. Além do mais, não dá pra negar que a religião sempre moldou  a política e os poderes ao longo da civilização humana. À partir do momento em que só uma divindade era aceita, e todas as outras deveriam ser combatidas, fica claro que aceitar as diferenças deixou de ser uma opção. Assim, o sexo que era considerado algo sagrado e bom, passou a ser um ato sujo e de afronta a deus, a não ser que fosse praticado sob as normas, somente para reprodução. Ou seja, a homossexualidade estava fora de questão.

Parada Gay de Boise, Idaho, US 2016 – Photo by Adam Eschbach

A violência contra homossexuais vem de longe.  E, justiça seja feita, não era exclusiva da cultura judaico-cristã. No oriente também não era bem aceito. No século XIII, o império mongol de Gengis Khan punia a sodomia com a morte, por exemplo. Mas o bicho pegou mesmo no fim da Idade Média, quando a igreja católica dominava o ocidente e a implacável Inquisição se espalhava pela Europa. Mesmo depois do Iluminismo, da Revolução Francesa e de alguns avanços no campo social e filosófico, homossexuais ainda eram perseguidos com violência. No século XIX o gênio Oscar Wilde foi condenado a trabalhos forçados na Inglaterra por se relacionar com um rapaz. No século seguinte, o nazismo também perseguiu e matou milhares de homossexuais homens e mulheres. É como se a violência e perseguição contra os homossexuais fosse institucionalizada ao longo da história da humanidade, e assim continuou. Ainda nos anos 1960, apenas 50 anos atrás, a homossexualidade era  ilegal em todos os estados dos Estados Unidos! Aqui no Brasil não era diferente, apenas não estava explicitamente escrito no papel. Mas onde há violência, há resistência. E foi justamente nos Estados Unidos que essa resistência conseguiu se organizar e espalhar pelo mundo essa força.

Os atores Michael Cashman e Ian McKellen numa manifestação contra a censura em Londres, UK, 1988. – Photo by The Guardian Archives

O dia 28 de junho de 1969 entrou para a história como a Rebelião de Stonewall. Stonewall Inn era um bar onde se reuniam homossexuais da região do Greenwich Village, em New York. Bares como o Stonewall eram considerados pontos de prostituição e de muitas outras atividades ilegais. Em New York muitos deles eram gerenciados pela Cosa Nostra, a máfia italiana. Por isso, a polícia tinha motivos de sobra para dar batidas, muitas vezes com muita violência, nesses bares. Mas naquele 28 de junho, as coisas saíram de controle em Stonewall e os frequentadores do bar enfrentaram a polícia. Depois disso, dois grupos foram criados e  deram voz ao movimento LGBT: o Gay Liberation Front (GLF) e o Gay Activists Alliance (GAA). Ainda que contassem com mulheres lésbicas, esses grupos eram essencialmente masculinos. Os movimentos feministas que surgiam paralelamente acabaram dando voz também às lésbicas, ajudando a reforçar as lutas LGBT. Os ideais e o senso de organização desses grupos chegou ao Brasil no início dos anos 1970, em plena ditadura militar. Estes grupos passaram a agir produzindo publicações independentes que eram distribuídas ao público. Eram jornais pequenos como o Lampião da Esquina e o ChanaconChana.

O legendário Stonewall Inn em 1969 – Photo by Diana Davies
Manifestação da Gay Liberation Front na Times Square, NY, 1970. Photo by Diana Davies

Os anos 1980 chegavam com tudo, os grupos cada vez mais organizados começavam a ganhar voz perante a sociedade e tudo parecia melhorar. Mas aí pintou a AIDS. Além de matar muita gente entre a comunidade gay, a epidemia do HIV manchou os movimentos, que tiveram que se reposicionar, inclusive politicamente, diante de uma sociedade, que os acusava de serem portadores da doença, que era chamada por muitos de câncer gay. Ainda hoje em dia a comunidade homossexual ainda sofre com esse estigma, uma marca injusta e vil que vem sendo combatida desde então.

Parada Gay Londres, UK, 2018 – Photo by Steve Eason

Foi por conta da rebelião de Stonewall que o dia 28 de junho ficou marcado como o Dia Mundial do Orgulho Gay. Ao longo do mês de junho acontecem manifestações e passeatas em várias cidades mundo afora. Aqui no Brasil a Parada Gay na avenida Paulista, em São Paulo, já se tornou um dos eventos mais aguardados do ano e entrou no calendário anual da cidade. Com jeitão de festa, com muitas cores, música e alegria, a Parada Gay vem mostrar todo ano que a diversidade e o respeito andam lado a lado. Assim como movimentos antirracistas e feministas, o movimento LGBTi+ luta por uma condição muito básica: igualdade. Os gays em geral não querem impor suas escolhas a ninguém, só querem ser vistos e tratados pela sociedade como cidadãos comuns, que trabalham e pagam impostos como qualquer homem ou mulher heterossexual.  

Parada Gay Los Angeles, US, 2014. – Photo by Richard Vogel

A Strip Me é uma marca que apoia, defende, e divulga a diversidade e a liberdade de escolha. Por isso, neste mês de junho, o mês do orgulho LGBTI+ e da diversidade, este blog terá seus posts dedicados totalmente à comunidade gay. Então se prepara que ainda vem muito conteúdo interessante e divertido por aqui, com muito orgulho e muito amor!

Parada Gay na avenida Paulista, São Paulo, 2018. Photo by Paola Quintana Vera

Vai fundo!

Para ouvir: Uma playlist especial com canções que falam sobre direitos iguais com foco na comunidade gay. Tá em arraso! – Top 10 tracks LGBTI+ Equal Rights.

Para Assistir: Um filme excelente que mostra a trajetória do primeiro político eleito homossexual assumido nos Estados Unidos. Milk – A Voz da Igualdade foi lançado em 2008, dirigido pelo Gus Van Sant e com o Sean Penn no papel principal. Filmaço!

Para ler: Um livro excelente para entender o movimento gay no Brasil, de forma leve e muito interessante. Devassos No Paraíso: A Homossexualidade No Brasil, Da Colônia À Atualidade foi escrito pelo jornalista escritor, dramaturgo e cineasta João Silvério Trevisan e traz um texto delicioso de se ler, concebido sobre uma pesquisa profunda. Super recomendado.

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