100 ANOS DA SAM-SP: PÉ NA PORTA!

100 ANOS DA SAM-SP: PÉ NA PORTA!

Na semana passada você leu aqui o rebuliço que era o começo do século XX em São Paulo. Conservadores fazendo críticas, os artistas de vanguarda achando tudo chatíssimo e querendo dar uma renovada no rolê todo, o mundo recém saído de uma guerra mundial, por aqui uma república dominada pela bancada ruralista, com políticas excludentes, que só favoreciam os ricos. São Paulo se desenvolvia rapidamente com o dinheiro do café, se tornou uma cidade iluminada com a chegada da energia elétrica, o que permitiu criar-se uma fauna noturna de intelectuais endinheirados que se reuniam em bares e cafés até altas horas da noite, conspirando contra o parnasianismo, o classicismo e a chatice em geral que imperava nas artes brasileiras. E foi o artigo de Monteiro Lobato, Paranoia ou Mistificação, publicado no Estado de S. Paulo em 1917 que desencadeou uma ação mais efetiva entre o grupo de amigos de Anita Malfatti, alvo de Lobato no artigo, que destilou todo o seu desprezo pelas obras da pintora, com forte influência do surrealismo e expressionismo. Foi então que, além de Anita Malfatti, Oswald de Andrade, Menotti del Picchia, Mário de Andrade, dentre outros artistas, passaram a se empenhar em produzir e divulgar uma arte mais contemporânea, provocadora e livre. Nesta época ainda não eram considerados modernistas, mas se auto intitulavam artistas futuristas! 

Mas demorou tanto tempo assim pra essa turma se organizar? O artigo de Monteiro Lobato foi publicado em 1917. Só 5 anos depois é que os modernistas conseguiram organizar um evento que os divulgasse amplamente? Demorou esse tempo todo sim. Mas, calma, porque muita coisa foi feita ao longo desse tempo. Um pouco antes ainda, Oswald de Andrade fez sua primeira viagem para a Europa. Voltou de Paris com o libertário texto Manifesto do Futurismo, do poeta italiano Filippo Tommaso Marinetti, embaixo do braço e disposto a implementar aquele mesmo senso de rebeldia, novidade, experimentalismo e liberdade no Brasil. No ano de 1918 ele se torna amigo muito próximo de Mário de Andrade, já que tinham em Anita Malfatti uma amiga em comum. Juntou-se á turma na mesma época o escritor Menotti del Picchia, o escultor Victor Brecheret, o pintor Di Cavalcanti e os escritores Guilherme de Almeida e Manuel Bandeira. Essa turma toda, entre 1917 e 1922 tiveram vários artigos publicados defendendo essa nova visão artística e exposições de telas e esculturas foram organizadas. 

O que viria a ser conhecido como movimento modernista tinha suas bases mais sólidas nas artes plásticas. As pinturas de Anita Malfatti, Di Cavalcanti, Portinari e as esculturas de Victor Brecheret, sempre que expostas causavam muitas críticas no meio artístico e jornalístico e muita pouca atenção do público em geral. Os escritores Mario de Andrade, Menotti del Picchia e Oswald de Andrade publicavam seus artigos em periódicos insistentemente, defendendo a vanguarda da arte trazidas por eles mesmos da Europa. Foi no final de 1921 que, durante um jantar, em companhia do jovem e riquíssimo cafeicultor Paulo Prado, tiveram a ideia de fazer uma semana toda dedicada à arte moderna, com exposições e apresentações de música e leitura de textos e poesias. Paulo Prado, que não era artista, se prontificou a pedir uma ajuda a alguns de seus amigos também cafeicultores e riquíssimos, para que pudessem alugar o imponente Teatro Municipal para abrigar o evento. Já naquela noite começaram a articular ideias, pensar em que artistas participariam e etc. 

Dois fatos são muito curiosos nisso tudo. O primeiro é que Anita Malfatti precisou ser convencida a participar expondo algumas de suas telas. Depois de tanta crítica ao longo do tempo, a pioneira do expressionismo no Brasil estava cansada daquilo e não queria se expor. Ela não vinha de uma família rica, como Oswald de Andrade por exemplo, e tentava se manter longe dos holofotes, ganhando dinheiro pintando telas sob encomenda, dando aulas de pintura e etc. Sentia que participar de um evento como aquele colocaria seu nome em todos os jornais com críticas ferozes, que poderiam prejudicar sua imagem e fazer com que ela perdesse alguns trabalhos. Coube a Mario de Andrade, amigo e confidente de Anita, a missão de convencê-la. Missão esta cumprida com louvor. Outra curiosidade inacreditável é que o primeiro nome mais cotado para presidir a Semana, que seria responsável por fazer o discurso de abertura e seria uma espécie de mestre de cerimônias, era ninguém menos que Monteiro Lobato! Sim, porque apesar de todos os pesares, Lobato era amigo da maioria dos escritores modernistas. E ter Lobato na linha de frente significaria muito diante do público e da crítica especializada. Mas ele declinou o convite sem nem pensar, pois jamais pactuaria com aquele tipo de arte ultrajante (segundo ele próprio). Por sorte, de última hora, chega ao Brasil o diplomata e escritor Graça Aranha, um dos nomes mais respeitados na época, um homem rico, encantador e muito talentoso, um brasileiro que residia já há muitos anos em Paris, mas sempre vinha visitar sua terra natal. Em contato com a cultura europeia de vanguarda, Graça Aranha, ao ser convidado para presidir a semana de arte moderna de São Paulo, adorou a ideia e aceitou no ato! 

Com Paulo Prado financiando o Teatro Municipal e Graça Aranha confirmado para presidir o evento, não tinha como dar errado! E não deu mesmo. A Semana de Arte Moderna de São Paulo aconteceu de 13 a 17 de fevereiro de 1922. A programação era a seguinte: O saguão do Teatro Municipal de São Paulo ficaria aberto diariamente para visitação de uma enorme exposição com obras dos artistas Emiliano Di Cavalcanti, Anita Malfatti, Zaina Aita, Ferrignac, Yan de Almeida Prado, John Graz, Vicente do Rego Monteiro, Antonio Paim Vieira, Victor Brecheret, Hildegardo Leão Velloso e Haarberg. Na noite do dia 13, uma segunda feira, a semana foi aberta com um discurso de Graça Aranha intitulado A emoção estética da arte moderna. Foi um discurso longo e bem monótono que rendeu nada mais do que aplausos protocolares. Em seguida sobe ao palco um conjunto de câmara que interpreta algumas composições de Heitor Villa-Lobos. Depois de um intervalo pro cafezinho e dar uma conferida nas obras expostas no saguão, o público retorna para que o poeta Ronald de Carvalho fizesse uma breve palestra falando sobre pintura e escultura moderna e declamando alguns versos de sua autoria. O público torceu o nariz, mas não fez muito alarde. Depois de algumas vaias, Ronald de Carvalho, espirituoso, respondeu ao público dando de ombros com indiferença: “Cada um fala com a voz que Deus lhe deu.”. A noite foi concluída com a apresentação do maestro Ernani Braga. 

A segunda noite de apresentações, na quarta-feira, dia 15 de fevereiro, não foi nada parecida com a estreia. Após a noite de segunda feira, os jornais fizeram duras críticas à exposição de obras de arte e às apresentações lítero-musicais pretensiosas. Farejando treta e algazarra, o público paulistano lotou o Municipal! Quem abre a noite é Menotti del Picchia com uma palestra sobre a literatura contemporânea. Ao exaltar uma literatura que foge dos padrões clássicos, del Picchia vai bem, mas recebe uma vaia enorme. Até que, no fim, ele anuncia que subirá ao palco Oswald de Andrade. O teatro vem abaixo, fazendo com que a vaia que del Picchia levou parecesse um abafado assobio. A vaia era descomunal. Oswald fica no palco parado por alguns minutos até que a vaia cesse. Finalmente em silêncio, ele começa a ler seu texto. E a vaia explode mais uma vez. Oswald declamou seu texto para ninguém, debaixo de vaias permanentes. Na sequência, Mario de Andrade sobe ao palco e a recepção é a mesma. Ele começa a ler com muita dificuldade. Em certo momento, ele para e espera que se faça silêncio. Quando todos param, ele diz: “Se for pra continuar assim, eu não continuo falando!” e uma gargalhada e um aplauso retumbante enchem o teatro. É feito um intervalo. Na volta das apresentações, a noite decorre com mais tranquilidade com uma apresentação de dança de Yvonne Daumerie e finalizando com um concerto de piano da pianista Guiomar Novaes, uma artista já consagrada e muito querida, a única a sair do palco sob aplausos satisfeitos. 

A noite de encerramento, na sexta-feira, dia 17 de fevereiro não foi tão movimentada. A atração principal era o compositor Heitor Villa-Lobos, que começava a ganhar notoriedade dentro e fora do Brasil. Apesar de sua formação erudita, era um músico contemporâneo, que começava a criar peças sinfônicas misturando elementos africanos e outras linguagens pouco convencionais. Entretanto, sua música era razoavelmente bem aceita. Por seu apelo popular, a noite de sexta feira foi toda dedicada à sua música, sem discursos e leituras e textos e poemas de escritores controversos, que poderiam gerar animosidade no público. Porém, o público lá estava para ver o circo pegar fogo. Quando Villa-Lobos sobe ao palco de fraque e calçando chinelos, o público desabou em vaias, acreditando ser aquela uma provocação a seja lá o que fosse. Porém, nada mais era do que uma unha encravada, ou algo parecido, que o impedia de calçar sapatos fechados. Mas com o tempo o público logo se acalmou e foi possível ouvir boa parte da apresentação de Villa-Lobos ao piano acompanhado de uma orquestra, que encerraria grandiosamente a Semana de Arte Moderna de São Paulo. 

Foi realmente um evento muito marcante e fundamental. Porém, o Brasil se daria conta disso só muito tempo depois. De imediato, a Semana de Arte Moderna causou muito falatório entre a sociedade paulistana, mas acabou dando origem a grandes obras e uma reestruturação enorme da arte no Brasil um bom tempo depois. Foi um verdadeiro pé na porta da arte moderna, que chegava pra ficar! E o que aconteceu nos meses e anos logo depois deste evento tão emblemático, você fica sabendo na semana que vem, no próximo texto deste mês, que é todo dedicado aos 100 anos da SAM-SP! Nesse meio tempo, você pode conferir as estampas especiais da Strip Me da Semana de Arte Moderna de 1922, sem falar de tantas outras estampas incríveis de arte, música, cinema, cultura pop e muito mais. Confere os lançamentos lá na nossa loja

Vai fundo! 

Para ouvir: A produção musical no início do século XX era bem limitada e essencialmente de música erudita, né. Então, ao longo desses 4 posts sobre os 100 anos da Semana de Arte Moderna, vamos caprichar numa playlist cheia de brasilidade, com o que rola de som enquanto os textos são produzidos. Uma playlist que vai crescendo a cada post, até chegar a ser um top 40 tracks! SAM-SP 1922 – Top 20 Tracks.  

Para assistir: Em 2002 a TV Cultura fez um ótimo documentário sobre a semana de Arte Moderna de 1922. Com vários depoimentos de gente que fez parte do movimento modernista, em gravações antigas, claro, é um doc que vale a pena demais ser visto! Tá completinho no Youtube.  

Para ler: Com certeza a obra mais emblemática da literatura modernista brasileira veio a ser publicada 6 anos depois da Semana de Arte Moderna. Claro, é o indispensável Macunaíma, de Mário de Andrade. Um livro delicioso, divertido e que diz muito, mas muito mesmo, sobre o Brasil de ontem, de hoje e de sempre. Leitura necessária! 

100 anos da SAM-SP: Origens

100 anos da SAM-SP: Origens

Nenhuma revolução é legítima se não passar pela arte! A gente não quer só comida, a gente quer comida, barulho diversão e arte! Nenhuma revolução é legítima se não tiver uma identidade própria muito clara! O orgulho de ser quem somos passa necessariamente pelo autoconhecimento. Nenhuma revolução é legítima se não causar consequências, se não deixar marcas permanentes! Portas da percepção abertas para tudo que é novo! Novas formas, novas cores. Novos Baianos. Deglutição tropical, antropofagia cultural. Nesta altura do campeonato, você já deve estar desconfiado, mas eu vou te confirmar. É fevereiro! E nós vamos passar todo o mês celebrando uma das mais legítimas revoluções brasileiras! A Semana de Arte Moderna de 1922, que neste mês completa 100 anos. Então se prepara! Porque vão ser quatro posts, cada um abordando um aspecto específico deste que foi, com absoluta certeza, o momento mais importante das artes no Brasil. 

É lógico que pra começar a gente precisa dar aquela geral na situação toda antes de a Semana de Arte Moderna ser idealizada e acontecer. E aqui é fundamental que a gente dê uma olhada no contexto histórico do Brasil até então. Era o começo do século XX e o Brasil tinha recentemente se tornado uma república, depois de um golpe militar todo esculhambado, mas que acabou depondo o imperador Dom Pedro II. No início da república, apesar de a cidade do Rio de Janeiro ser a capital do país, era São Paulo quem dava as cartas, pois a maior parte da renda do Brasil vinha do café, e os estados de São Paulo e Minas Gerais eram os maiores produtores dessa delícia. Você já ouviu falar na escola da república do café com leite, né? Pois então, é dessa época que estamos falando. À medida que os cafeicultores enriqueciam e acabavam por colocar quem bem entendiam nos cargos públicos, a cidade de São Paulo crescia, tornava-se cosmopolita, vibrante. E começam a pipocar pelos bares e cafés da cidade, que a partir de 1905 podiam ficar abertos até tarde da noite graças à instalação da energia elétrica, muitos intelectuais. 

Importante lembrar uma coisa aqui. As camadas sociais eram muito mais definidas no começo do século XX. Existiam os muito ricos, a classe média, que tinha uma vida confortável, e os muito pobres, essencialmente negros “livres” desde 1888, que viviam sem emprego em cortiços e barracos na periferia. Claro que já existia uma cultura popular entre os pobres, mas era tudo muito separado. Intelectuais e artistas reconhecidos eram todos de famílias ricas, jovens que estudaram na Europa e etc. As coisas só começariam a mudar e o popular se misturar com o erudito (leia-se o pobre com o rico) com a popularização do rádio, a partir da década de 1930. Isso posto, fica mais claro entender quem eram esses artistas e intelectuais que criariam o movimento modernista brasileiro e acabariam dando luz à Semana de Arte Moderna. 

Oswald de Andrade, Mário de Andrade, Menotti del Picchia, Victor Brecheret, Anita Malfatti, Sérgio Millet, Di Cavalcante e tantos outros eram todos artistas e intelectuais ricos, em contato com o que havia de mais atual nas artes da Europa. Eles começaram a se reunir e debater sobre o atraso do Brasil no aspecto cultural. Realmente, o Brasil, conservador que só ele desde sempre, tinha uma literatura baseada no parnasianismo (uma escola literária que preza pelo uso mais rebuscado da língua, poesias com rimas dentro da métrica… enfim, uma chatice!), a pintura classicista, que respeita formas, cores, sombras, luz, etc, e uma música erudita baseada nos compositores clássicos europeus. Deu pra sacar que era tudo importado, né? Não existia uma linguagem genuinamente brasileira. Vá lá que na literatura já rolava o movimento primitivista, ou seja, alguns autores que olhavam para dentro do Brasil para ambientar suas ideias. Seu maior nome foi Monteiro Lobato, com seu personagem clássico Jeca Tatu. Entretanto, a linguagem de obras como a de Lobato ainda eram rebuscadas na escrita, apesar de trazer elementos brasileiros. Mas até a turma que seria conhecida no futuro como modernista trazia seus conceitos de arte de vanguarda, como o cubismo, surrealismo e etc, da Europa. 

Além de tudo, 1922 é um ponto de intersecção fundamental entre a história política e artística, que gerou mudanças essenciais para a história do Brasil como conhecemos hoje. Como já foi dito aqui, no começo do século XX era São Paulo quem dava as cartas no país. À medida que o ano de 1922 se aproximava, era preparada uma infinidade de festividades Brasil afora, pois aquele seria o ano do primeiro centenário da independência do país. E existe um aspecto muito importante da história que precisa ficar claro pra todo mundo: A história é fabricada! Os fatos chegam até nós no colégio distorcidos, exagerados, com alguns lados ocultos. A independência do Brasil é um ótimo exemplo disso. Por muito tempo após o fatídico 7 de setembro, era considerada como a data oficial da independência o dia 12 de outubro de 1822, que foi quando aconteceu a solenidade de coroação de Dom Pedro I como imperador do Brasil. O revisionismo histórico impulsionado por Dom Pedro II e pelos militares positivistas, já quase no fim do império, motivou algumas mudanças, fazendo com que alguns momentos soassem mais heroicos do que realmente foram. Assim passou-se a considerar o 7 de setembro como data oficial, mas sem grande alarde. Após a proclamação da república e São Paulo tendo seus intelectuais e milionários mandando no país, um novo revisionismo histórico passou a acontecer, ainda mais com o centenário da independência se avizinhando. Até então, a história do Brasil era essencialmente contada tendo como cenário os estados do Rio de Janeiro, Minas Gerais, Bahia e Pernambuco. São Paulo, buscando algum protagonismo na história, deu ênfase na independência ter sido proclamada às margens do Rio Ipiranga e criou a imagem dos bandeirantes como grandes heróis desbravadores, que até então não tinham esse nome e eram apenas caçadores de pedras preciosas e exterminadores de indígenas, ou seja, nada mais que uma nota de rodapé nas páginas da história. 

Com a década de 1920 florescendo, o momento era de transformação, crescimento e busca por uma identidade própria, genuinamente brasileira. Os intelectuais e artistas mais ligados a vanguarda já davam seus primeiros passos e sofriam os ataques dos conservadores. Em 1913 o escultor Lasar Segall fez uma pequena exposição com obras claramente influenciadas pelo cubismo de Pablo Picasso e Georges Braque, que foi recebida com entusiasmo por Mário de Andrade e sua turma, mas recebeu críticas pesadas da imprensa e do público em geral. Em 1917 Anita Malfatti faz sua mais famosa exposição, com telas calcadas no surrealismo e modernismo. Monteiro Lobato escreve um artigo que ficou famoso, chamado Paranoia ou Mistificação. Neste artigo, uma crítica a exposição de Malfatti, Lobato destila todo o seu desprezo por uma pretensa arte, que não segue regras, que é provocadora e de qualidade questionável. Tal artigo foi publicado no jornal O Estado de S. Paulo e é considerado o marco zero do movimento modernista. Mário de Andrade, Oswald de Andrade, Anita Malfatti, Menotti del Picchia, eram todos amigos e passaram a se reunir com frequência para encontrar meios de responder artigos como aquele de Monteiro Lobato, além de divulgar e enaltecer uma arte mais moderna e repudiar as artes encharcadas de conservadorismo e padrões estéticos. 

Com todas essas cartas na mesa, o ano de 1922 nasce cheio de promessas de mudanças. E se você está achando estranho não ter lido até agora o nome do Tarsila do Amaral, ou sobre o Abaporu, sobre o Macunaíma e sobre o manifesto Pau Brasil e o manifesto Antropofágico, não se desespere! Ainda tem muita história pela frente! Nos próximos textos, vamos falar sobre como foi a Semana de Arte Moderna, as obras, os textos, as músicas que rolaram no evento, como foi a recepção do público e da crítica, depois vamos falar das consequências e das principais obras modernistas e também vamos falar sobre o impacto décadas depois e como toda essa aura seria recriada nas mãos dos tropicalistas. Mas hoje nós paramos por aqui, em janeiro de 1922, quando Mário de Andrade, em uma de suas mais célebres obras, Paulicéia Desvairada, vaticina logo no prefácio: “Está fundado o Desvairismo!” 

Enquanto você espera os próximos textos, dá uma olhada nas estampas novíssimas da Strip Me sobre a Semana de Arte Moderna de 1922, isso sem falar de tantas outras sobre arte, música, cinema, cultura pop e muito mais! Confere lá na nossa loja as novidades!  

Vai fundo! 

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Para assistir: Em 2002 a TV Cultura fez um ótimo documentário sobre a semana de Arte Moderna de 1922. Com vários depoimentos de gente que fez parte do movimento modernista, em gravações antigas, claro, é um doc que vale a pena demais ser visto! Tá completinho no Youtube

Para ler: Com certeza a obra mais emblemática da literatura modernista brasileira veio a ser publicada 6 anos depois da Semana de Arte Moderna. Claro, é o indispensável Macunaíma, de Mário de Andrade. Um livro delicioso, divertido e que diz muito, mas muito mesmo, sobre o Brasil de ontem, de hoje e de sempre. Leitura necessária! 

Big Brother is Watching You

Big Brother is Watching You

Telas! Telas por todos os lados! Todas as suas vontades, interesses, virtudes, defeitos, são revelados! Uma nova linguagem é criada para designar conceitos, novas palavras são incluídas no dicionário, enquanto outras caem em desuso. E, acima de tudo, sempre tem alguém assistindo você! Isso tudo pode ser aplicado às redes sociais, ao novo lifestyle mundial de estarmos sempre conectados, afinal tudo isso é uma realidade. Porém, essas ideias e noções de comportamento descrevem igualmente as características da sociedade criada pelo escritor George Orwell. E o espantoso é que ele escreveu tudo isso em 1948, quando ainda não existia sequer o conceito da internet. Orwell descreve uma sociedade futurista, em que a sociedade vive cercada de telas, e é controlada por elas. Controle este, manipulador e castrador, regido por um governo autoritário, misterioso e muito eficiente. Para George Orwell este futuro era o ano, para ele longínquo, de 1984, ano que também é o título do livro, que se tornou um clássico absoluto da literatura mundial e uma obra quase que premonitória do que seria o futuro da humanidade. Mais do que isso, este livro acabou inspirando um dos programas de TV mais revolucionários, polêmicos e rentáveis do mundo! 

Em 1997, na Alemanha, foi feito um experimento antropológico colocando algumas pessoas dentro de uma casa por alguns dias sem contato nenhum com o mundo exterior, sem televisão, sem telefone e etc, para ver como essas pessoas se comportariam em diferentes situações e tal. Um jovem holandês leu sobre esse experimento e imaginou que isso poderia render um programa de TV interessante. Ele estava começando uma produtora de audiovisual na época, e procurava ideias diferentes, inovadoras, para desenvolver. Seu nome era John De Mol, e sua produtora fora batizada Endemol. Essa ideia de confinar pessoas numa casa ficou fermentando na cabeça de John De Mol até 1999, quando ele conseguiu desenvolver a ideia e resolveu produzir um piloto. 

Nós aprendemos, de maneira bem didática, no filme Pulp Fiction o que é um piloto. Nas palavras de Jules Winnfield: “Sim, mas você está sabendo que existe uma invenção chamada televisão, e que nela são transmitidos programas de TV, certo? Então. A maneira como eles escolhem que programa vai ser transmitido é fazendo um programa e mostrando para as pessoas. Esse programa é chamado de piloto. Então eles mostram esse programa para produtores de TV e outras pessoas e, com base nisso, eles decidem se vão fazer mais programas. Alguns pilotos são escolhidos e se tornam programas de televisão. Alguns não dão em nada.”. Bom, o John De Mol fez um piloto. Alugou duas casas de veraneio no interior da Holanda, em uma delas fez todo um aparato de espelhos e encheu a casa de câmeras. Na casa vizinha, colocou os monitores, todo o equipamento de edição e alojou todo o staff de produção. Enquanto aconteciam as filmagens, logo nos primeiros dias, De Mol reparou que todas as pessoas da produção, do cozinheiro ao editor de vídeo, não desgrudavam dos monitores, acompanhando a vida das pessoas da casa ao lado. Ali ele soube que seria um sucesso. Inspirado pelo livro de George Orwell , vendo que todos na casa estavam sendo vigiados 24 horas, e recebiam ordens de uma voz anônima, De Mol batizou o seu programa de Big Brother. 

Naquele mundinho de 1984 do George Orwell as pessoas eram criadas desde muito novas a temer e respeitar o Big Brother, uma espécie de entidade que personificava o governo. O Big Brother era uma voz e um rosto em todas as telas, que dava ordens, instruía as pessoas e ditava o que era certo e errado. Era frequente ver nas telas e cartazes pela cidade o assustador lembrete: “The Big Brother is watching you”. Realmente, as pessoas tinham até mesmo dentro de suas casas várias telas, que não só transmitiam as imagens do Big Brother como funcionavam como câmeras. Qualquer atitude subversiva era prontamente vista e combatida. O protagonista da história, Winston, descobre um lugar em sua casa, onde era para ter um armário, em que nenhuma tela o vê. Ali ele começa a escrever seus pensamentos, algo totalmente proibido pelo governo. E esse é o começo da trama toda. 

Não poderia ter sido uma escolha melhor! John De Mol se fez valer de uma entidade da ficção que representa o fascismo, o autoritarismo, o cerceamento de liberdade, para batizar um programa de TV que, por mais que tenha esse viés de confinamento, várias regras e etc, se presta a mostrar pessoas discutindo, conversando abertamente, se adaptando a uma convivência e até mesmo transando livremente. Tudo isso mostrado em rede nacional, e ainda gerando muito dinheiro com publicidade. A primeira edição do Big Brother aconteceu em 1999 na Holanda e foi um sucesso avassalador. Gerou polêmica no mundo todo! O termo “reality show” não existia. A internet engatinhava na época, mas De Mol conseguiu que as câmeras transmitissem 24 horas por dia abertamente num site. O engraçado disso é que rolava uma edição forte para ser transmitido na TV em determinado horário, de forma resumida o que se passava na casa. Os técnicos e editores ficavam monitorando tudo. Quando começava alguma treta mais acalorada, ou algum casal se pegando, a transmissão da internet era cortada, para fazer com que as pessoas assistissem ao programa na televisão. Desde então, a coisa cresceu absurdamente e a Endemol começou a vender o formato, com o nome, e tudo, para emissoras de TV de vários países. 

Não é só o nome que foi tirado do livro de Orwell. Na história de 1984, se alguém era flagrado cometendo qualquer ato que fosse contra os mandamentos do governo, essa pessoa era presa e levada para o… confessionário! Era onde essa pessoa teria a oportunidade de se explicar antes de ser transferida para o Ministério do Amor, onde seria tratada carinhosamente com eletrochoques, lobotomia e toda a sorte de procedimentos que pudessem convencer a pessoa de que ela estava errada. Sim, convencer. O protagonista, Winston, em certo momento da história, acaba preso por ter pensamentos subversivos e contra o governo. Seu interlocutor, enquanto o tortura com choques, lhe mostra a mão com 4 dedos estendidos e o polegar escondido. Ele pergunta: “Quantos dedos você vê, Winston?” e ele responde: “4.”. “Errado São 5 dedos.” e dá-lhe choque. Depois de muita tortura e choques, Winston finalmente afirma que vê 5 dedos, mesmo sendo apenas 4 que são mostrados. O interlocutor então diz: “Não quero que minta para mim. Eu quero que você realmente acredite que está vendo 5 dedos” e continua as sessões de choque e tortura. Essa passagem do livro, inclusive, inspirou a ótima música 2+2=5, da banda Radiohead. Aliás, 1984 é uma obra amplamente influente em todos os meios artísticos. Se você achou que essa coisa toda de telas, estar sempre vigiado, controle de pensamento e liberdade é muito Black Mirror, você acertou. Os criadores já admitiram que a obra de Orwell sempre foi uma forte inspiração para a série. Sem falar que apesar de não ter criado o programa, os direitos de Black Mirror pertencem a que empresa? Acertou quem disse Endemol! 

É verdade! Depois de vender o formato do Big Brother para vários países mundo afora, a Endemol se especializou nisso, criar e comprar os direitos de programas de tv dos mais variados para vendê-los pelo mundo. Para se ter ideia, Masterchef, Extreme Makeover, A Fazenda, Masked Singer e muitos outros são programas criados e vendidos como franquias no mundo todo pela Endemol. Mas com certeza, o líder é o Big Brother! Aquele que começou tudo e abriu o caminho para um novo mundo: os reality shows! A vida como ela é, pessoas de verdade, tudo mostrado para você em quantas telas você quiser. Pode ser na tv, no tablet, no computador, no celular! E tudo na hora que você quiser! Sempre vai ter uma câmera à espreita de quem você queira assistir. Em seguida, você vai na sua rede social favorita e faz um vídeo comentando sobre o que você viu! Qual é a sua opinião? Sempre vai ter alguém querendo saber. Sempre vai ter alguém assistindo você! 

Semana passada estreou a 22ª edição do Big Brother Brasil. É um programa de sucesso indiscutível, mas que gera muita discussão pela qualidade do conteúdo apresentado. Certamente é uma discussão que tem seu valor. Mas o mais importante é que exista a liberdade de um programa como este ser exibido, a liberdade das pessoas de assistirem ou não, de opinarem a favor ou contra. Não menos importante é entender de onde saiu todo esse conceito de Big Brother, confessionário e etc. 1984 é um livro essencial para entender a sociedade moderna e os modelos de política e comportamento que moldaram a humanidade até hoje. Entendendo de onde a gente veio, fica mais fácil saber pra onde a gente vai. 

Agora pense você: Um programa de TV super polêmico, que gera discussões super interessantes sobre diversidade, posicionamentos, sexualidade, convivência, festas e ainda geram uma enxurrada de memes divertidíssimos, e um livro que influenciou de David Bowie a Mano Brown, de Stanley Kubrick às irmãs Wachowski, de Anthony BurgessChuck Palahniuk. É lógico que tudo isso faz parte do universo Strip Me! Então aproveita para dar uma espiadinha nas novas estampas da nossa loja

Vai fundo! 

Para ouvir: Como foi dito, o livro de George Orwell inspirou muita gente a compor canções que fazem referência ao livro 1984. Aqui você confere as mais legais. 1984 Top 10 Tracks

Para assistir: Claro que o livro 1984 já foi adaptado para o cinema. Mas não funcionou muito bem. O filme é cansativo. Mas tem muito filme bom que tem muita influência da obra maior de George Orwell. Um deles é o excelente O Show de Truman, dirigido pelo Peter Weir e lançado em 1998. Um filme divertido, emocionante e muito impactante. Recomendadíssimo! 

Para ler: Aí sim! Não tem como não recomendar a leitura de 1984, clássico de George Orwell lançado em 1948. A editora Companhia das Letras reeditou a obra recentemente, numa edição de luxo, com capa dura e vários apêndices com ensaios sobre a obra e as capas que o livro já teve em diversos países. Vale a pena conferir e é essencial que que seja lido! 

Meus caminhos tortos. Meu sangue latino.

Meus caminhos tortos.     Meu sangue latino.

Em 1976 o compositor cearense Belchior cantava que tinha 25 anos de sonho, de sangue e de América do Sul, e que, por força deste destino, um tango argentino lhe caía bem melhor que um blues. Na verdade, naquele ano Belchior já tinha 30 anos de idade. Mas consideramos que a canção em que consta essa frase, À Palo Seco, foi composta em 1971, mas só foi ser gravada em 1976, quando Alucinação, o primeiro disco do cantor, foi lançado. Neste mesmo disco, Belchior afirmava que era apenas um rapaz latino americano sem dinheiro no bolso, sem parentes importantes e vindo do interior. Chama muito a atenção que numa época em que a cultura norte americana inundava o Brasil com bandas de rock, filmes de Hollywood e a onda disco, que resultou até em novela (Dancin’ Days), Belchior procurava afirmar suas origens, como filho da América do Sul, se dizendo um rapaz latino americano e preferindo o tango ao blues como música de lamento. O que é mais louco nisso tudo é que, ainda hoje, nós, brasileiros, ainda somos muito mais influenciados culturalmente pelo que vem dos Estados Unidos e Europa e mal conhecemos a cultura dos nossos vizinhos. 

Mas a América do Sul é um lugar incrível! Vale a pena a gente se esforçar e procurar conhecer um pouco mais do que os nossos hermanos da Argentina, Uruguai, Paraguai, Equador, Peru, Colômbia, Bolívia, Venezuela, Suriname e Guianas tem a nos oferecer.  Música, gastronomia, arte, história, comportamento, paisagens…a diversidade é enorme. Vale a pena destacar uma diferença que, às vezes, gera confusão. Pode acontecer de alguém se referir à América do Sul como América Latina. Mas qual a diferença? A América Latina abrange a América do Sul, toda a América Central e o México, que faz parte da América do Norte. Ou seja, se refere a todos os países americanos de língua latina e colonização ibérica (espanhola e portuguesa). Não vamos entrar muito aqui em pormenores históricos, mas é legal deixar claro que a distância cultural do Brasil para com seus vizinhos é compreensível e vai muito além da barreira linguística. 

Acredite, a colonização espanhola foi muito mais violenta e usurpadora do que a nossa, que se deu através dos portugueses. Além disso, por toda a região dos Andes, estavam instalados povos mais organizados e civilizados que as tribos nômades e mais vulneráveis de índios que habitavam o território brasileiro. Portanto, houve muito mais confronto nas colônias espanholas, que acabaram por se tornar independentes muito antes que o Brasil. Além do mais, mesmo depois da independência brasileira, ainda ficamos praticamente 70 anos numa monarquia liderada por descendentes da família real portuguesa. É a mesma coisa de você sair da casa dos seus pais, mas ainda depender da mesada que eles te dão pra pagar as suas contas. Enfim. Foi só no início do século XX que o Brasil começa a encontrar sua própria identidade. Uma época em que as referências culturais vinham essencialmente da Europa (França e Inglaterra) e, em seguida, a massiva campanha dos Estados Unidos como grande potência mundial importando o seu american way of life

Dado este contexto, vamos ao que interessa. Pra começar, vamos falar rapidamente das Guianas. O território da Guiana e da Guiana Francesa foi originalmente colonizado por holandeses e em seguida por ingleses e franceses, que obviamente dividiram a área entre si. A parte dos ingleses se tornou independente, já a francesa até hoje é território francês. Não é uma colônia, mas sim um Departamento Regional Ultramarino Francês (que é um nome chique e moderno para… colônia). Já a Guiana, que era inglesa, hoje é independente e tem uma cultura interessantíssima baseada na mistura de povos africanos e hindus, além da influência inglesa. É um país de praias caribenhas, uma música que se assemelha muito ao reggae e ao calipso, cujo nome mais importante é o compositor Eddy Grant. Por ser um país pobre, não desenvolveu uma cultura forte de TV e cinema, mas revelou alguns ótimos escritores como Wilson Harris, Jan Carew e Denis Williams. O país também se destaca por suas belas praias banhadas pelo Mar do Caribe e sua culinária condimentada que mistura ingredientes nativos e indianos. O Suriname completa o rol dos países da América do Sul que não fazem parte da América Latina, pois tem colonização e cultura intimamente ligada à França, Inglaterra e Holanda. O Suriname foi colonizado por holandeses. Tornou-se independente, mas o holandês ainda é o idioma oficial do país. Por ser um país pequeno, subdesenvolvido e viver constantemente sob as rédeas de um governo ditatorial, tem uma cultura própria sem muita expressão. 

Seguindo pelo mapa, vizinho da Guiana, temos a Venezuela! Aí sim! Chegamos na latinidade! Basicamente conhecemos a Venezuela como um país confuso politicamente, rico em petróleo, com 7 vencedoras Miss Universo e com uma seleção de futebol de qualidade bem duvidosa. Tudo isso é verdade, mas tem muito mais. A começar por suas praias belíssimas, comparáveis às praias das ilhas de Curaçao e Aruba, que não pertencem ao território venezuelano, mas estão ali, bem pertinho. A música venezuelana mais tradicional tem influência espanhola e caribenha, mas o país conta com uma cena efervescente de bandas de rock e música eletrônica. Destaque para a ótima banda Caramelos de Cianuro com um power pop delicioso, Arca, uma cantora de música eletrônica super contemporânea e eclética e La Vida Bohème, banda de pós punk que já ganhou Grammy e tudo! O cinema venezuelano também é digno de nota. Apesar de ser essencialmente de cunho político e social, tem grandes talentos e obras excelentes. Os principais nomes são o diretor Jonathan Jakubowicz e a diretora Mariana Rondón, responsável pelo ótimo filme Postales de Leningrado. 

Apesar de distantes um do outro, Colômbia e Bolívia são dois países que comumente, e injustamente, são resumidos a uma única atividade: a produção de cocaína. Em especial a Colômbia, acabou recebendo este rótulo por conta de Pablo Escobar, o maior produtor e traficante de cocaína que já existiu. Sua história virou filme, série, livro e o escambau! Para nós brasileiros, apenas dois nomes são lembrados quando se trata de colombianos famosos: Pablo Escobar e o jogador de Futebol Valderramas, que ficou famoso nos anos 90 por seu talento com a bola e por sua cabeleira esfuziante. Mas a Colômbia também se destaca pelas belezas de seu litoral caribenho, em especial Cartagena e Barranquilla, pela cumbia, estilo musical envolvente que mistura ritmos caribenhos e espanhóis, pela produção de café de excelente qualidade e por ser a terra natal do gênio da literatura Gabriel Garcia Márquez. Já a Bolívia é marcada pela história e se mantém como patrimônio cultural dos povos pré-colombianos. Assim como o Peru, abriga vastas áreas de preservação arqueológica das civilizações Inca, Quíchua e Aimará. Mas também se destaca pela arquitetura barroca e pintura e escultura de influência classicista dos espanhóis colonizadores. Como curiosidade, a Bolívia e o Paraguai são os dois únicos países sul americanos que não tem saída para o mar. 

Equador, Peru e Paraguai formam um bloco de países muito parecidos. Por um lado, são países pouco desenvolvidos, com uma economia fraca e marcados por governos autoritários e corruptos. Por outro lado, carregam intactas e são orgulhosos de suas tradições. O Paraguai é famoso por aqui pelo comércio de produtos falsificados, uma marca de uma economia desesperada. Mas também carrega a cultura guarani de forma muito valorosa. A música também é muito forte no Paraguai, em especial a guarânia, uma música paraguaia que lembra uma valsa, é marcada por um violão rítmico e arpejos de harpa, e influenciou muito a música sertaneja feita no Brasil. Já o Peru, além de render muitas piadas, do tipo Cusco é uma cidade do Peru, é famoso pelo incrível parque histórico de Machu Picchu. É um país fundamental para entender as civilizações que viviam na América antes dos europeus chegarem, e também para visualizar a truculência dos europeus contra esses povos antigos. 

E por fim chegamos nos países com os quais temos maior afinidade. Talvez por serem um pouco mais desenvolvidos e abertos ao turismo, talvez por estarem mais próximos do sul e sudeste do Brasil, as regiões mais populosas e fortes economicamente do país, talvez por terem maior visibilidade mundo afora. Certamente por todas essas razões juntas e muitas outras, Argentina, Chile e Uruguai já são mais próximos de nós. Uruguai é famoso por seu futebol que une garra e violência, proporcionando um espetáculo sempre emocionante, também pelas belezas de Punta Del Este, sem falar no presidente da república mais fofo que o mundo já viu, o simpático velhinho Mujica. Não podemos nos esquecer dos excelentes vinhos uruguaios e da recente legalização da maconha, que tornou o país ainda mais atraente para quem se liga num turismo de cabeça feita. Já o Chile se tornou um destino turístico concorrido por conta e suas paisagens nevadas, os lagos naturais nas montanhas, as cidades charmosas e o excelente vinho. O Chile também abriga uma cena interessante de música contemporânea om bandas como Los Prisioneiros e Los Jaivas. E, claro, terra natal de Pablo Neruda. E finalmente a Argentina! Terra de Maradona, de Carlos Gardel e da Mafalda! Certamente o mais cosmopolita dos países sul americanos depois do Brasil. A Argentina é f*da! Tem o cinema brilhante de Juan José Campanella, Gustavo Taretto e Ricardo Darín! Tem a música pop sensacional da Soda Stereo e do Fito Paez, tem o rock n’ roll dos Los Rodríguez e Los Fabulosos Cadillacs, sem falar no Sui Generis, Pappo’s Blues e até o metal do Rata Blanca. Os vinhos de Mendoza, a gastronomia, a noite, os passeios incríveis de Buenos Aires! Ah, é… tem o Messi também. 

Como é que um continente tão plural, cheio de arte, misturando antigo e contemporâneo, com tanta música boa, lugares incríveis, personalidades emblemáticas e, principalmente tanta originalidade e personalidade, não seria uma inspiração e uma referência para a Strip Me? É claro que juntamos toda essa latinidade em estampas lindas e super modernas! Vem conferir essas e outras estampas na nossa loja

Vai fundo! 

Para ouvir: Aquela playlist caprichada só com músicas deliciosas de artistas sul americanos! America Del Sur Top 10 tracks

Para assistir: A Netflix produziu e lançou em 2020 um documentário dividido em 6 episódios chamado Quebra Tudo!: A História do Rock na América Latina. É um doc interessantíssimo e cheio de bandas incríveis que vão da Argentina até o México! Tudo que é rock n’ roll cantado em espanhol desde La Bamba até hoje em dia é contado lá! Vale a pena demais! Disponível no catálogo da Netflix. 

Pulp F*ckin’ Fiction!

Pulp F*ckin’ Fiction!

Logo de cara as pessoas não entenderam o Nirvana. O Nevermind foi lançado em setembro de 1991 e foi subindo aos poucos a lista de discos mais vendidos. Vendas estas impulsionadas pelo clipe de Smells Like Teen Spirit e tal. O disco foi um sucesso, Come As You Are nas rádios… Mas as pessoas realmente ainda não entendiam a banda. A compreensão mesmo da importância do Nirvana para a música e como o Nevermind foi um divisor de águas só veio alguns anos depois da morte do Kurt Cobain. Foi quando as pessoas puderam olhar com certa distância e ver toda a cena grunge, as bandas que vieram depois como o Silverchair e outras. A mesma coisa aconteceu com outro marco fundamental dos anos 90: o filme Pulp Fiction.

Hoje em dia Pulp Fiction é facilmente considerado um dos filmes mais importantes da história do cinema. É inovador, apesar de ser um retrato super fiel de seu tempo. Muita gente já conhece a história de Quentin Tarantino para chegar em Pulp Fiction. Mas vale a pena dar uma geral aqui. Tarantino tinha escrito os roteiros de Amor à Queima Roupa e Assassinos por Natureza, que foram vendidos e ganharam as salas de cinema pelas mãos de Tony Scott e Oliver Stone respectivamente. Com a grana desses filmes, ele pôde viabilizar Cães de Aluguel. O roteiro caiu nas graças de Harvey Keitel, ator já muito respeitado em Hollywood, que topou atuar no projeto e atraiu outros atores e a confiança dos estúdios. O filme é lançado em 1992 com ótima aceitação da crítica, mas sem grande sucesso de público. Neste ponto Tarantino consolida seu nome na indústria e parte para um projeto um pouco mais ousado.

A trajetória do Nirvana e do Quentin Tarantino são bem semelhantes nesta transição do início da carreira para uma explosão de popularidade. Ambos tiveram estreias promissoras, bem faladas, mas sem popularidade, o disco Bleach e o filme Cães de Aluguel. Trabalhos que deram estofo para que eles pudessem dar passos mais livres para criar sua grande obra. É até difícil dizer o que faz de Pulp Fiction um filme tão espetacular. Mas com certeza o roteiro é parte fundamental.

Ainda que o jovem Roger Avary seja creditado como co-autor do roteiro de Pulp Fiction, é evidente que Tarantino é quem comandava o show. Tarantino tem o talento de escrever diálogos simples, fluídos, interessantes e que, em poucos minutos, entregam uma profundidade inacreditável dos personagens. No brilhante diálogo entre Jules e Vincent no carro, na primeira cena após os créditos de abertura, você já entende que são dois caras que trabalham juntos, tem um grau de amizade, são bandidos, curtem drogas… é muita informação num diálogo simples sobre fast food na Europa. E este é só o começo. O roteiro todo é recheado desses diálogos. Além de tratar de histórias distintas, mas que se cruzam em algum momento, foi também o trabalho de edição e montagem que fez toda a diferença.

Em 1992 Cameron Crowe lançou o filme Singles, todo baseado na cena musical de Seattle e que conta três histórias distintas que se cruzam em alguns momentos. O filme é bem divertido e tal, mas não é memorável. Quando Crowe viu Pulp Fiction em 1994, chegou a declarar que finalmente tinha entendido como montar e editar um filme com histórias paralelas, admitindo que seu flme era bem simplório neste aspecto. Cameron Crowe não deveria ser tão exigente consigo mesmo, porque aquela montagem e edição de Pulp Fiction nunca havia sido feita antes na história do cinema. Nunca ninguém subverteu e misturou a cronologia de uma trama daquele jeito. E funciona lindamente. Aliás, é um dos charmes do filme, essa cronologia zoneada, que impressiona muito quando se assiste pela primeira vez, mas não se torna cansativa quando se assiste de novo, e de novo, e de novo…

Além do mais, neste filme Tarantino nos entrega duas coisas impensáveis naquela primeira metade dos anos 90: John Travolta sendo levado a sério como ator e o ressurgimento da surf music. O elenco de Pulp Fiction é incrível porque Tarantino apostou alto. Trouxe um John Travolta desacreditado, vindo de comédias pequenas e meio rechonchudo, apostou em nomes muito pouco conhecidos como Uma Thurman e Samuel L. Jackson e se ancorou em dois grandes nomes com ótimos papéis, mas sem grande protagonismo, Harvey Keitel e Bruce Willis. Talvez o fato de que não exista um grande protagonista faz com que todas as atuações sejam irrepreensíveis. Já a trilha sonora, com o perdão do clichê, é um personagem a mais no filme. É uma trilha sonora tão fantástica e com uma conexão tão forte com as cenas, que não dá pra dissociar uma coisa da outra, ou dizer, “Ah, naquela cena, podia ter tocado tal música ao invés dessa.”. Assim como não dá pra imaginar outro ator interpretando o Jules, não dá pra imaginar outra música que não seja Girl, You’ll Be a Woman Soon na cena pré overdose da Mia.

Mas o fato é que Pulp Fiction não foi um sucesso arrasador de bilheteria quando foi lançado nos cinemas. Mas virou ítem cada vez mais concorrido nas vídeo locadoras com o passar dos anos (vídeo locadora era como se a Netflix tivesse uma loja física e você fosse lá pegar um filme emprestado, em VHS ou DVD e tivesse que devolver depois). Anos depois de seu lançamento, Pulp Fiction passou a ser visto como um divisor de águas. Antes dele, a violência não era tão explícita e os diálogos não eram tão casuais. De repente, ficou mais comum ver um filme como Clube da Luta e diálogos como “Com que celebridade morta você lutaria?” “Gandhi.” “Boa resposta.”. E se tornou mais raro ver personagens como Stallone Cobra dizendo “Você é a doença e eu sou a cura.” antes de disparar um tiro de escopeta.

Pra finalizar, podemos fechar o paralelo entre Quentin Tarantino e Nirvana. Para ambos, sua segunda obra foi a mais marcante e tida como sua obra máxima. Depois de Pulp Fiction, Tarantino tirou um pouco o pé do acelerador e pegou um roteiro pronto para somente dirigir, uma coisa menos autoral e mais leve. Veio Jackie Brown. Depois do Nevermind, o Nirvana também fez o mesmo e lançou Incesticide, um disco com sobras de estúdio, demos e covers. Em seguida, a banda ressurgiu com um disco forte para reafirmar sua posição de grande banda de rock. Foi lançado In Utero, que até poderia ter sido um disco duplo, pelo que dizem. Tarantino também resolveu reafirmar seu posto de diretor autoral cheio de referências com a saga Kill Bill. Depois do In Utero, o Nirvana acabou. Mesmo sem a morte de Cobain, a separação era inevitável. Era preciso se renovar. Assim como Tarantino. Depois de Kill Bill, Tarantino passou a vislumbrar novos ares e passou a produzir filmes considerados de época, numa clara guinada de renovação e renascimento de sua carreira.

Mas ainda é Pulp Fiction a obra mais importante de Tarantino. Um filme que representa uma renovação artística, uma ode a boa música, uma quebra de padrões estéticos e muita diversão! Certamente um dos filmes favoritos na Strip Me, uma fonte de inspiração e um ícone inconfundível da cultura pop.

Vai fundo!

Para ouvir: Claro, aquela seleção das melhores da trilha sonora do Pulp Fiction! Top 10 Tracks Pulp Fiction.

Para assistir: Imperdível o curta divertidíssimo Tarantino’s Mind. Curtametragem de 2006 dirigido por Bernardo Dutra e Manitou Felipe, com Selton Mello e Seu Jorge no melhor papel de suas vidas trocando ideia num bar sobre os filmes do Tarantino. Disponível completinho e free no Youtube.

O que esperar de 2022

O que esperar de 2022

Sim! Estamos oficialmente em 2022. Já passamos pelos festejos de despedida de 2021 e de saudação ao ano novo. Nos primeiros dias úteis do ano começamos a olhar para frente e imaginar o que vem por aí. Claro, nossa maior preocupação é com a saúde. Passamos pelos momentos mais sombrios e dolorosos da pandemia, vivenciamos a chegada das vacinas e o alívio de observar a queda vertiginosa de número de óbitos e internações. Mas também estamos diante de novas variantes do vírus e sabemos que, ainda que possamos flexibilizar um pouco as regras, a proteção, o cuidado e a vacinação ainda são essenciais. Tendo isso em mente, podemos respirar fundo se preparar para um ano que, com certeza será muito movimentado, cheio de momentos históricos importantes, eventos grandiosos e muita arte. 

Para começar, 2022 é um ano muito importante para a história do Brasil. No dia 7 de setembro vamos celebrar o bicentenário da Independência, um momento muito importante de reflexão política e social do país, ainda mais num ano de eleições presidenciais. Outro momento importantíssimo para a nossa história política e social foi a Revolta dos 18 do Forte, que foi o pontapé inicial no movimento tenentista e a luta pelo fim da República Velha. A Revolta dos 18 do Forte completa 100 anos no dia 5 de julho. Mas não só de eventos políticos se vive! Ainda mais pra nós, que gostamos de uma vida encharcada de diversão e arte! Neste ano vamos celebrar os 100 anos da Semana de Arte Moderna de São Paulo, A famosa Semana de Arte Moderna de 1922. Um momento mágico das artes no Brasil, quando os artistas conseguem condensar o naturalismo e as origens culturais brasileiras com o que havia de mais vanguarda na Europa. Uma verdadeira revolução nas artes plásticas, na literatura e na música. A Semana de Arte Moderna de 1922 aconteceu entre os dias 13 e 18 de fevereiro de 1922. E você pode ter certeza que a Strip Me não vai deixar esse momento tão importante da nossa arte passar batido. Vem coisa boa por aí! 

Este ano também será marcado por grandes eventos. Claro, contando com todos os protocolos de segurança, proteção e etc. Mas enfim, estão confirmados para este ano vários eventos esportivos e culturais. Entre eles o mais significativo certamente é a Copa do Mundo de futebol, que acontece no Qatar. Será uma Copa do Mundo bem diferente, a começar pela época do ano em que vai acontecer. Estamos acostumados a acompanhar a Copa em julho, no meio do ano. Pois desta vez o torneio vai rolar entre os dias 21 de novembro e 18 e dezembro. Isso porque o Qatar está localizado numa região do hemisfério norte em que o calor no verão, julho e agosto, no caso, é tão forte que torna impossível a prática de qualquer competição esportiva. Então teremos que aguardar até o fim do ano para acompanhar, não só os jogos, mas também a nossa gloriosa fábrica de memes e os comentaristas de Twitter que tão bem nos entretêm. 

Além da Copa do Mundo, também tem muito festival de música confirmado com grandes atrações. Começando pelo Coala Festival, já tradicional festival de música brasileira que rola em São Paulo. Agendado para os dias 17 e 18 de setembro, vai rolar no primeiro dia Alceu Valença e Gal Costa, com participação do Tim Bernardes, vocalista e principal compositor da banda O Terno. No dia seguinte as atrações principais serão a rainha da MPB Maria Bethânia, o excelente rapper Black Alien, que já fez parte do Planet Hemp, e também a cantora mineira Marina Sena. Mais voltado pro rock, e também já tradicionalíssimo, é o João Rock, que rola em Ribeirão Preto (SP). Famoso por reunir um número imenso de grandes personalidades em cada edição, este ano vai contar com Titãs, CPM 22, Humberto Gessinger, Planet Hemp, Emicida, Pitty, Gabriel o Pensador, Barão Vermelho, Erasmo Carlos e outros no dia 11 e junho. Antes, logo ali, em março, mais especificamente nos dias 25, 26 e 27, rola também o icônico Lollapalooza Brasil em São Paulo. É um dos maiores festivais do mundo e este ano traz gente como The Strokes, Doja Cat, Machine Gun Kelly, Miley Cyrus, Asap Rocky, Alok, Foo Fighters, Black Pumas, Emicida, Fresno, Detonautas e muitos outros. Claro que também precisamos falar do colossal Rock In Rio, uma verdadeira instituição da música no Brasil. O festival acontece do dia 2 ao dia 11 de setembro e traz Post Malone, Demi Lovato, Justin Bieber, Alok, Coldplay, Iron Maiden, Megadeth, Sepultura, Joss Stone, Avril Lavigne, Green Day e muito mais. Haja vacina, álcool gel e máscara pra tanta coisa! 

Ainda sobre eventos, vale ficar de olho nas programações do MASP e do MIS em São Paulo neste ano. O MASP vai trazer pelo menos três exposições de grandes metres da pintura contemporânea do Brasil: Alfredo Volpi, Abdias Nascimento e Luiz Zerbini. Já o MIS está com uma exposição interativa sobre a Rita Lee, que vai até o dia 20 de fevereiro e que está sendo muito elogiada. Além disso, o museu tem programada para este ano uma exposição do mestre Portinari. 

Ainda vivendo uma indefinição imensa entre a sala de cinema e o streaming, a indústria do cinema segue produzindo e promete grandes lançamentos para 2022. Não dá pra negar que dá um certo desânimo ao bater os olhos na lista de lançamentos do ano. Fica cada vez mais evidente que o cinema vem sofrendo uma crise criativa profunda. Praticamente todos os filmes anunciados não são roteiros originais, são filmes baseados em quadrinhos, remakes e continuações de filmes antigos. Filmes autorais, originais, infelizmente estão em falta. Vem aí Pânico 5, Missão Impossível 7, Jurassic World 3, Legalmente Loira 3, e até mesmo Top Gun: Maverick, uma inusitada continuação do clássico oitentista Top Gun: Ases Indomáveis. Além disso, tem os filmes de heróis dos quadrinhos, Batman, Doutor Estranho no Multiverso da Loucura, Thor: Love and Thunder e Pantera Negra: Wakanda para Sempre. Convenhamos que, apesar da falta de títulos originais, diversão não vai faltar nas telonas e nos streamings. 

No mundo da música, foi-se o tempo em que os fãs esperavam ansiosamente o lançamento de um novo disco. Hoje em dia, muita gente nem lança mais disco, preferindo lançar digitalmente nas plataformas de áudio e no Youtube uma ou duas músicas como single. Mas enfim, mesmo assim, ainda tem gente que curte, ainda que nos moldes digitais, produzir um álbum completo. E tem vários lançamentos esperados para 2022. Já estão garantidos lançamentos inéditos de Arctic Monkeys, Avenged Sevenfold, Tears for Fears, The Weeknd, Eddie Vedder, Jack White e Liam Gallagher. No Brasil os mais aguardados são os novos lançamentos de Anitta, Pitty, Planet Hemp e Otto. Sem música boa e fresquinha, esse ano a gente não fica! 

Enfim. Já deu pra sacar que 2022 é um ano que vem chegando com tudo! História, política, sociedade, saúde, esporte, música, cinema, artes plásticas… tem de tudo, bicho! Um ano pra gente pensar muito, agir ainda mais e também curtir muito, aproveitar a vida e se divertir! Tudo com muita responsabilidade, é claro! Que 2022 venha com muita saúde, barulho, diversão e arte

Vai fundo! 

Para ouvir: Uma playlist empolgante com músicas alto astral pra começar bem o ano! Top 10 tracks Up 2022

A Retrospectiva Strip Me 2021

A Retrospectiva Strip Me 2021

2021 não foi um ano fácil pra ninguém. Mas conseguimos passar por ele da melhor forma possível. Estamos aqui, na última semana do ano, justamente para dar uma olhadinha rápida pro passado, para em seguida olhar pra frente e vislumbrar tudo que virá de bom, e o que podemos fazer para isso acontecer. Ao longo dos altos e baixos deste ano a Strip Me se manteve firme e forte trabalhando, criando estampas únicas e super contemporâneas. Mas não só isso. Também criando novas formas de atender cada cliente de forma personalizada, disponibilizando novos produtos, fazendo com que a Strip Me seja cada vez mais completa, te ajudando a expressar sua personalidade, seu estilo de vida, com atitude, bom humor e responsabilidade. 

Um dos pontos altos de 2021 na Strip Me foi a coleção Tropics. Uma coleção que nasceu para botar pra fora as delícias de viver na América Latina, inspirada na exuberância e variedade inacreditável das plantas e flores e no calor da música brasileira. Além de contar com estampas incríveis, que continuam sendo criadas e aumentam a coleção frequentemente, a Strip Me conta com tecidos 100% orgânicos e materiais biodegradáveis na impressão das estampas. Graças a coleção Tropics, pudemos falar aqui neste blog sobre bossa nova, maracatu, samba rock… E não nos limitamos só na música não. Também falamos sobre o hábito super saudável de cultivar plantas em casa, falamos sobre responsabilidade ambiental e social e a importância de cada um fazer a sua parte. Quem diria que se inspirar na natureza e na cultura latino americanas daria tanto pano pra manga!? 

Outro destaque de 2021 foi a consolidação cada vez mais marcante de uma das coleções mais tradicionais da Strip Me: as camisetas de arte. Não é à toa que nosso lema é “Barulho, diversão e arte”. A arte está em tudo e é uma das fontes de inspiração mais ricas que se pode ter. Neste ano a coleção de arte cresceu exponencialmente reforçando nosso amor pela Pop Art e ao Surrealismo, mas também com inspiração em obras que vão do renascentismo ao modernismo. São estampas incríveis que permitiram que surgissem aqui posts sobre uma treta de titãs da renascença, o manifesto antropofágico e também conhecer um pouco melhor sobre o gênio Basquiat. Toda essa efervescência, essa busca das pessoas pela arte e o entusiasmo da Strip Me em manter a coleção de Arte sempre crescendo é facilmente explicável. Em um ano tão conturbado como 2021, tivemos a confirmação que só mesma a arte para nos dar algum sentido e alívio. 

Este foi um ano também de muita novidade. Se por um lado tivemos, com todo o atraso (e descaso) do mundo, o início da vacinação contra a Covid-19, que foi por si só uma novidade revigorante, por outro lado, tivemos que entender que o mundo não voltaria ao normal de uma hora pra outra. A pandemia ainda continua aí e os cuidados ainda devem ser tomados, ainda que agora, com duas doses e dose de reforço, já dá pra relaxar um pouquinho. Foi um ano em que tivemos que exercitar a versatilidade. Coincidentemente, a Strip Me também apareceu com algumas novidades bem interessantes em 2021. Uma delas foram os moletons. Sim, aquela peça de roupa que você usa no frio, que é mega confortável, mas te faz pensar um pouquinho antes de sair de casa vestindo. A Strip Me resolveu essa dúvida desenvolvendo um moleton de uma malha super confortável, que esquenta na medida certa, mas é leve e macio. Sem falar nas estampas, né? Todas as estampas que você já adora das camisetas também estão disponíveis para os moletons. Já deu pra sacar que com a Strip Me não em tempo ruim. 

2021 foi um ano de muita novidade na Strip Me. Na verdade é só o começo de uma fase de muitas novidades que estão por vir. Tudo porque rola um esforço, que tem dado super certo, de estreitar a relação com os nossos clientes e ouvir que eles tem a dizer, ideias de como podemos melhorar e fazer coisas diferentes, que tornam a Strip Me cada vez mais a sua cara. Uma dessas ideias é a de produzir camisetas personalizadas. Em 2021 o cliente da Strip Me pôde tomar as rédeas da criação. Além de ter a opção de escolher se quer determinada estampa em uma camiseta de cor diferente, também é possível enviar a sua própria arte, que a gente produz a camiseta com a mesma qualidade de impressão e nas camisetas de alto padrão que você já conhece. Opção que está disponível não só para as camisetas, mas também para os moletons e para a coleção STM Mini, as camisetas para crianças, mais uma novidade que pintou neste ano. 

Ufa! Quanta coisa! Agora calma, respira. Porque depois dessa olhadinha pra trás, tá na hora de olhar pra frente. De nossa parte, na Strip Me, estamos cheios de boas vibrações, energia e ideias que serão colocadas em prática! Ainda virão muitas novidades pela frente. Mas especificamente agora é hora de relaxar. Aproveitar esse período de transição, de passagem de ano, pra dar aquela boa refletida, se energizar, curtir com a família e os amigos, se divertir muito e espalhar bastante amor por aí. E pode contar com a Strip Me para encher 2022 de barulho, diversão e arte! 

Feliz Ano-Novo! 

Vai fundo! 
 
Para ouvir: Aquela playlist 2021 esperta pra você relembrar o que rolou de legal na música neste ano e se preparar pro ano que vem! Retrospectiva 2021 – Top 10 

Back To The Beatles

Back To The Beatles

De uns tempos pra cá inventaram um verbo interessante: Humanizar. Tal verbo é muito usado para descrever coisas que podem ser feitas de maneira mais artesanal, espontânea. Muitas vezes é usado de maneira exagerada, quase sem sentido. Fala-se por exemplo em humanizar partos. Praticamente um pleonasmo, humanizar o parto, subir pra cima… afinal o que pode ser mais humano do que o nascimento de um bebê? Enfim… Mas há de se admitir que é um verbo que pode ser bem utilizado, em especial quando uma personalidade torna-se tão grande no imaginário de outras pessoas, que passa a ser visto mais como uma entidade e menos como um ser humano, uma pessoa comum. 

No quesito entidade, dificilmente vamos encontrar um caso tão emblemático na história do mundo moderno como os Beatles. O grupo de Liverpool coleciona superlativos. A maior banda de rock, os maiores compositores da música pop, os melhores músicos, os discos mais perfeitos já lançados… a lista vai longe. Se eles são assim tão insuperáveis, pode até ser objeto de estudo e questionamento. Mas é inegável que os quatro Beatles foram responsáveis por uma verdadeira revolução cultural, lançaram muito material de altíssima qualidade musical e souberam vender muito bem seu peixe. Tanto é que John Lennon, Paul McCartney, George Harrison e Ringo Starr dispensam apresentações. São conhecidos até hoje, mesmo pelos mais jovens. Ainda mais agora. Afinal, foi lançado semana passada na plataforma de streaming Disney + o documentário Get Back, filme que retrata uma das últimas sessões de gravação dos Beatles juntos antes da separação definitiva da banda. 

A história toda é muito curiosa. Começou alguns anos atrás quando a Apple Corps. (empresa britânica criada pelos próprios Beatles. Não confundir com a empresa norte americana de Steve Jobs) estava pensando em fazer alguma atração que “reunisse os Beatles” usando hologramas. Ficaram sabendo que a empresa de Peter Jackson era a melhor nesse tipo de tecnologia e o convidou para uma reunião em Londres. Trataram do assunto e, no fim da reunião, Peter Jackson, que é fã dos Beatles, daqueles ardorosos, perguntou o que tinha sido feito de todos os rolos de filmes gravados ao longo do famoso Projeto Get Back que nunca saíra do papel.  Os executivos da Apple o levaram até uma sala e mostraram prateleiras e prateleiras de caixas com rolos de fita de vídeo e áudio daquelas sessões registradas no começo de 1969. Dias depois, o diretor de Senhor dos Anéis recebe um telefonema de um dos diretores da Apple dizendo “Olha, se você tiver interesse, pode dar uma olhada naquelas fitas e fazer um documentário.”. Era um sonho que se tornaria realidade para Peter Jackson e todos os fãs dos Beatles no mundo. 

O Projeto Get Back era uma empreitada multimídia em que os Beatles resolveram se meter sem planejamento nenhum. A ideia inicial era filmar os Beatles trabalhando em novas composições, que seriam apresentadas num show. Tudo isso filmado, se tornaria um especial de televisão, provavelmente um filme e também um novo disco. Mas tudo era bem abstrato. Não se sabia quais músicas seriam apresentadas, como seria o tal show, se seriam só músicas inéditas ou canções antigas da banda e de outros artistas, qual a duração do programa e TV, se realmente isso iria para as salas de cinema ou não… O fato é que no dia 2 de janeiro de 1969 a banda se reuniu com uma equipe de gravação nos estúdios Twickenham, em Londres para começar a trabalhar. Foi estabelecido um cronograma ali e a banda teria 3 semanas para compor e ensaiar, e na sequência fazer o tal show, que ainda não tinha local, data, horário, repertório… 

Parece meio caótico, e realmente era. Desde 1967, quando o empresário da banda, Brian Epstein, morreu, os quatro músicos passaram a bater cabeça para se organizar, colocar projetos em prática e manter a carreira da banda nos trilhos. Além do mais, os rapazes tornavam-se adultos, cada um com sua própria vida, relacionamentos amorosos e etc. Perdeu-se um pouco da coletividade.  Em certo momento no documentário George Martin comenta numa conversa sobre as dificuldades de George Harrison em impor suas canções que Paul e John não compunham mais juntos, mas ainda eram uma equipe. O álbum branco, de 1968, já demonstra bem as individualidades florescendo, não que isso seja cem por cento algo negativo. O que ficaria sendo conhecido no futuro, mas nunca visto até então, como Projeto Get Back capturou 60 horas de vídeo e mais de 120 horas de áudio da banda criando. Mas a banda já estava se esfarelando naquela época. John Lennon já tinha gravado seu primeiro disco solo, o experimental Two Virgins. Harrison também já falava muito sobre gravar suas canções por conta própria. E por fim, a banda ainda sofreria um racha irrecuperável em fevereiro daquele ano com a chegada de Allen Klein, notório empresário do meio musical e um canalha irremediável. Porém, um canalha carismático e convincente. Ele encantou John Lennon prometendo mundos e fundos e tecendo elogios exagerados à obra de Yoko Ono (o cara sabia onde estava pisando). Paul McCartney se recusou a ser empresariado por Klein. Foi a gota d’água que fez a banda romper definitivamente. Depois de muita discussão, em março de 1970 a banda anunciou o fim de suas atividades. Nesse meio tempo, o diretor Michael Lindsay Hogg, responsável pelas filmagens do Projeto Get Back, teve o aval para editar e lançar um filme nos cinemas para alavancar as vendas do disco Let It Be, com músicas escritas e gravadas naquelas mesmas sessões do Projeto Get Back, que foram entregues ao famoso produtor Phil Spector, que finalizou as faixas. Tudo isso lançado de maneira póstuma, já que a banda já estava oficialmente separada. Assim, em maio de 1970 foram lançados o disco e o filme Let it Be.

O filme que acaba de sair, dirigido por Peter Jackson, fez mais do que recuperar horas e horas de vídeos dos Beatles em estúdio. Ele trouxe outra face de uma mesma realidade. O filme Let It Be, de Lindsay Hogg, lançado em 1970, é pesado, dá ênfase a uma banda em conflito, até mesmo as imagens, boa parte filmadas em Twickenham, são escuras. Não é para menos. Ao lançamento do filme a banda tinha acabado de se separar e era aquilo que se esperava ver na tela. Porque tudo estava acabado, the dream is over. E Lindsay Hogg cumpriu seu papel entregando exatamente isso. E essa foi a imagem que ficou na cabeça não só dos fãs, mas dos próprios integrantes da banda, sobre aquela época.  Até por isso mesmo, eles sempre evitaram falar sobre o Projeto Get Back. Muitos acreditavam que ele nunca veria a luz do dia. Porém, assim, como a fala de John Lennon sobre ser mais popular que Jesus Cristo, em 1965, gerou uma confusão danada por ter sido colocada fora de contexto, as discussões que aparecem no filme Let It Be também são editadas e, muitas vezes, colocadas fora de contexto. 

As quase 8 horas de filme, divididas em 3 capítulos, são incrivelmente leves! Mostram um grupo de amigos se divertindo enquanto trabalham. Peter Jackson foi brilhante na montagem e edição, colocando tudo em ordem cronológica, e prende a atenção do telespectador não só pela evidente força das canções que vão sendo construídas, mas também pela confusão e pela dúvida de onde tudo aquilo vai dar, já que os ensaios são recorrentemente interrompidos por diretores e produtores querendo saber sobre o show, onde vai ser, como vai acontecer… e os quatro músicos sem saber, pois sequer tem um repertório para apresentar. Vamos ficar espertos, porque é bem capaz que saia alguma indicação ao Oscar para a edição ou montagem ano que vem. 

Outro trunfo de Get Back é mostrar essas canções incríveis sendo criadas do nada. A própria canção Get Back surge diante das câmeras enquanto Paul conversa e faz um ritmo no baixo, tocando em lá maior. Chega a ser emocionante esses momentos. Naquelas sessões, além de as músicas presentes no disco Let It Be, várias outras canções são esboçadas, que entrariam no disco Abbey Road e nos discos solo de cada um deles como Another Day, de Paul McCartney, Gimme Some Truth e Jealous Guy de John Lennon e All Things Must Pass de George Harrison. Mas o que emociona de verdade e dá uma genuína alegria de ver, é a amizade existente entre os quatro. Sobram piadas, brincadeiras, sorrisos e sinais claros de brodagem ao longo das sessões. O que vai totalmente contra a visão amarga do filme de Linsay Hogg de 1970. Ainda bem. 

Pra finalizar, importante dizer que o tal show do fim das sessões de gravação é o icônico show em cima do prédio da Apple Corps durante o dia, no centro de Londres. Que os Beatles contaram com a participação inestimável e enriquecedora do tecladista Billy Preston. Que a Yoko Ono definitivamente não teve nada a ver com o fim da banda. Que além de absurdamente talentosos, ficou evidente que os Beatles eram realmente trabalhadores, pois em 1968 lançaram um disco duplo de músicas inéditas, em dezembro participaram da divulgação da animação Yellow Submarine, no dia 2 de janeiro, provavelmente ainda de ressaca da festa de ano novo, foram trabalhar, ficando o mês de janeiro todo naquelas gravações, e em fevereiro foram para os estúdios da EMI gravar o Abbey Road. Além de tudo os caras eram umas máquinas de compor boas canções, porque realmente, era um ritmo inacreditável de gravações. 

Voltando ao início do texto, provavelmente o maior êxito de Get Back é conseguir humanizar os Beatles. Peter Jackson nos coloca como um dos membros da equipe de filmagem e nos permite observar com uma clareza nunca antes vista como aqueles jovens trabalhavam, sobre o que eles conversavam, as ideias que tinham, o humor ácido e nonsense, as dúvidas, as inseguranças… e acima de tudo a amizade. Como eles, cada um a seu modo, apoiavam um ao outro. Emociona demais ver o abraço entre Paul, John e Ringo após uma jam session raivosa no episódio da saída de George.  A forma como John aconselha George para encontrar as palavras certas na letra de Something, George e Ringo criando Octopus’ Garden e, principalmente, a alegria dos 4 tocando juntos em cima daquele prédio. 

A obra dos Beatles como um todo e este filme do Peter Jackson só reforçam a relevância do grupo no mundo. Sua influência na música, no comportamento e na cultura pop é inegável. Não importa se eles são ou não são os melhores, os maiores ou os mais geniais. Importa que eles são simplesmente incríveis. Por isso mesmo, são inspiração e influência para a Strip Me criar camisetas de música, arte, cinema, cultura pop e muito mais com uma pegada contemporânea, inteligente, responsável e divertida! Afinal, é isso que a gente gosta: barulho, diversão e arte! Vem conferir na nossa loja os lançamentos mais recentes! 

Vai fundo! 

Para ouvir: Claro, uma playlist do que de melhor foi criado ao longo das sessões do Projeto Get Back. Top 10 tracks Back To The Beatles. Ah, e independente desta playlist, vale a pena ouvir o relançamento deste ano do disco Let It Be, recheado de faixas bônus no Spotify. 

Para assistir: Não tem como te recomendar outra coisa senão assistir ao Get Back na Disney +. 

Para ler: Altamente recomendável a leitura do ótimo livro A Batalha pela Alma dos Beatles, lançado em 2012 pela editora Nossa Cultura e escrito pelo jornalista inglês Peter Doggett. O livro fala justamente sobre o rompimento da banda e as batalhas judiciais e sentimentais pelo espólio da que seria considerada a maior banda de todos os tempos. Leitura deliciosa. 

A Anatomia de Basquiat.

A Anatomia de Basquiat.

Brooklin, New York. 1967. Era um dia quente de verão e algumas crianças brincavam em uma das ruas do bairro nova iorquino. Num descuido, um menino corre pela rua e não vê o carro que se aproxima. O garoto é violentamente atropelado. O impacto foi tão grande que ele teve muito mais que um braço quebrado. Internamente seu corpo sofreu lesões, incluindo uma muita grave no baço, que requereu uma cirurgia imediata. O pós operatório e a recuperação fizeram com o que o garoto ficasse preso a uma cama de hospital por semanas. Por acaso, a mãe pegou na recepção do hospital um livro de anatomia humana e deu para o menino, que se encantou com as formas, figuras e cores das ilustrações do corpo humano. Ele não largou mais o livro, que o influenciaria para o resto da vida. O nome do tal livro era Gray’s Anatomy.

Se você acha que este texto vai versar sobre alguma série de TV envolvendo médicos, cirurgias e sexo em salas de descanso de hospitais, errou feio, errou rude. Vamos sim falar deste jovem menino negro, com ascendência haitiana e porto riquenha, que cresceu nas ruas de New York, quase morreu atropelado, passou semanas numa cama de hospital com o tal livro, que realmente se chama Gray’s Anatomy, um livro real de medicina famoso. Já adolescente, os pais se divorciaram e ele se mudou para Porto Rico com o pai. Onde morou por dois anos. Em 1976, voltou a New York e começou a se interessar por arte. Com um amigo, passou a fazer grafites pelos muros da cidade, desenhos e frases de efeito, sempre assinados como “samo”.

Cabeza – Jean Michel Basquiat (1982)

Claro, estamos falando do inconfundível Jean Michel Basquiat. Um jovem inteligente, rebelde e inconformado. Largou a escola ainda muito jovem, por isso foi expulso de casa pelos pais. Passou a morar com um amigo chamado Al Diaz, com quem, além de fazer pichações, pintava camisetas e post cards para vender e levantar uma grana. Em especial os grafites começaram a dar o que falar pela cidade. A assinatura da dupla, “samo” derivava da expressão “same old shit”, que eles falavam com frequência abreviando para “same old”, que facilmente se tornou “samo”.

Em 1979 já era conhecido por sua arte, participava de programas de televisão e abandonava os muros para pintar telas. Ao mesmo tempo diversificava sua área de atuação e entrava na onda da emergente música de vanguarda que pintava em New York, que misturava o barulho e a atitude do punk com as viagens do jazz fusion e conceitos da arte concreta. A banda que mais se destacou desta cena foi a Sonic Youth alguns anos depois. Basquiat se juntou ao cineasta Michael Holman em 1979 para montar uma banda chamada… Gray! Sim, em homenagem àquele famoso livro, do qual ele nunca se esqueceu, e que sempre o inspirou a pintar. Mas a banda não vingou, apesar de se apresentar nos principais antros místicos de New York, tais quais CBGB’s, Max Kansas City e Mudd Club. Lugares frequentados não só por músicos e punks, mas também pela trupe de excentricidades de Andy Warhol.

Coroas (Peso Líquido) – Jean Michel Basquiat (1981)

Basquiat e Andy Warhol se conheceram em 1980 e não se desgrudaram mais. Fizeram vários trampos juntos e se tornaram amigos muito peculiares, pois nutriam uma curiosa competitividade. A convivência e a chancela de Warhol, que muito o elogiava para terceiros, fizeram de Basquiat um artista renomado em muito pouco tempo. Suas telas passaram a circular entre os marchands mais badalados dos Estados Unidos e da Europa ocidental. Sua obra era descrita como um primitivismo intelectualizado, onde Basquiat pegava a linguagem dos grafites das ruas e mesclava a recortes, frases desconexas e pinceladas desconcertantes. Curiosamente Basquiat era tão próximo de Warhol, mas passava longe de ser um representante da Pop Art. Sua arte flertava muito mais com o expressionismo e o surrealismo. Mas tudo com uma originalidade  inacreditável.

Se você já viu filmes ambientados em New York do fim dos anos 70, começo dos 80, sabe que aquilo era uma loucura desenfreada. O fim da Guerra do Vietnã, a invasão da cocaína e a desigualdade econômica que começava a pesar nos Estados Unidos resultou numa onda de hedonismo e auto destruição que varreu a juventude da época. Basquiat chegara ao topo como artista plástico. Um negro, filho de imigrantes latinos, ele era único naquele mundo. E muito jovem. Não é de se estranhar que ele tenha se deslumbrado com o status, com o assédio, com a grana… e se esbaldado nas festas regadas a muita droga. Diz-se que seu apetite para consumir drogas sintéticas era tão grande quanto seu talento para pintar.

Dispensador de Pez – Jean Michel Basquiat (1984)

Em 1982 Basquiat teve um breve romance como uma garota muito carismática e bonita, que tentava se dar bem como cantora. Sempre que Basquiat a apresentava para alguém, dizia “Essa é minha namorada, ela vai ser uma grande cantora logo logo.” O namoro não durou muito. Em 1983, quando ela conseguiu lançar seu primeiro disco, eles já não estavam juntos. Mas ele estava certo. O disco de estreia já trazia clássicos como Holiday e Lucky Star e elevaria Madonna ao posto de diva do pop. Nesse período, entre 1983 e 1985, foi a época de maior convivência entre Basquiat e Warhol. Basquiat crescia exponencialmente. Em especial sua exposição chamada Anatomy, olha o livro aí de novo, causou grande impacto no mundo das artes, e a exposição foi apresentada nos mais importantes museus e galerias do mundo.

Caveira – Jean Michel Basquiat (1981)

Em 1987 Andy Warhol morre aos 59 anos. Basquiat ficou abaladíssimo. Já estava afundado no consumo cavalar de cocaína e heroína, e sua produtividade entrou em decadência. Começou a receber muitas críticas negativas da imprensa especializada e retrucava ferozmente se apoiando no racismo como justificativa para tais críticas. Sendo o único artista negro de destaque, é certo que ele sofreu muito racismo ao longo de sua carreira, mas naquele momento, realmente suas obras começavam a perder a alma, além de ele produzir cada vez menos, e passar cada vez mais tempo entorpecido. Até que no dia 12 de agosto de 1988 o que parecia inevitável se concretizou. Vivendo sozinho em seu apartamento, ele errou a mão e teve uma overdose de speedball, mistura de cocaína com heroína. Foi mais um grande artista que morreu aos 27 anos de idade.

Cavalgando com a Morte – Jean Michel Basquiat (1988)

Além de ser uma personalidade incrível, com uma história de vida fascinante, Basquiat tem uma importância brutal para a história da arte moderna. O fato de ser um artista negro, filho de imigrantes latinos, pobre, que pichava muros, é muito revelador e o torna único por ter conseguido chegar onde chegou. Mas o mais importante mesmo é que sua obra, a força e genialidade de tudo que ele produziu, se sobrepõe às condições sociais e pessoais. Basquiat é primeiramente lembrado pela sua obra, e depois por ser um artista negro e etc.

Como não amar um artista multimídia, que veio das ruas, que se envolvia com música e cinema, era contestador, libertário e jovem? A obra de Basquiat emana barulho, diversão e arte. Por isso mesmo é fonte direta de inspiração e admiração na Strip Me. Vem conhecer as nossas camisetas com estampas de arte, além de muitos outros lançamentos na nossa loja!   

Pássaro no Dinheiro – Jean Michel Basquiat (1981)

Vai fundo!

Para ouvir: Uma playlist especial com o que rolava de mais legal na época em que Basquiat produzia em NY. Top 10 Tracks NY 1978 – 1988.

Para assistir: Em 1996 saiu a cinebiografia de Basquiat. O filme dirigido por Julian Schnabel chamado Basquiat – Traços de uma Vida, é um filme bem legal e mostra a vida do pintor em NY, seu envolvimento com Warhol e toda a sua vida caótica. Vale a pena conferir. Ah, sim. E quem interpreta o Warhol neste filme é ninguém nenos que David Bowie!

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Tudo indica que os jogos são tão antigos quanto a humanidade. Quando os primeiros seres humanos começaram a se organizar em sociedade, deixando de ser grupos de nômades que se limitavam a caçar e comer o que encontravam, e passaram a se estabelecer em um determinado local, plantar e realizar outras tarefas, com certeza ali já tinha alguém tirando no palitinho pra ver quem ia construir  uma cabana ou lavar os potes sujos de comida. Certamente já tinha também uns dois ou três que apostavam alguma coisa quando um homem saía pra caçar algum bicho feroz: “Aposto duas pedras e uma ponta de flecha que ele não volta vivo.”. “Eu aposto as pedras, a lança e mais esse punhado de trigo que ele volta. Eu já vi ele caçando um búfalo sem lança nem nada uma vez.”. Mas enfim, claro que a gente não vai tão longe e contar a história dos jogos na humanidade. Vamos dar um salto temporal considerável e chegar em 1970.

A década de 70 foi onde tudo começou para quem se liga em vídeo games. Nessa época, pra jogar um jogo eletrônico, você tinha que sair de casa com algumas moedas, e as opções eram poucas. Tinha que entrar num bar pra jogar essencialmente pinball e um ou outro jogo de computador como o clássico Space Invaders. Eram máquinas do tamanho de uma geladeira, com uma tela e alguns botões, onde você inseria uma moeda e tentava se manter o maior tempo possível jogando sem “morrer” e ter que inserir uma nova moeda. Além do mais, alguns desses jogos arquivavam as pontuações mais altas e o jogador podia inserir seu nome. O que fomentava uma certa competitividade entre os frequentadores do local.  Tais aparelhos são conhecidos como arcade. Inicialmente eles ficavam em bares e lanchonetes, mas depois se popularizaram tanto que passaram a coexistir em salas com vários arcades, eram os fliperamas.

Anos antes, no fim dos anos 60, um estudante de engenharia elétrica da Universidade de Utah, nos cafundós dos Estados Unidos, chamado Nolan Bushnell começou a trabalhar em parques de diversão para levantar um dinheirinho. Ele gerenciava algumas máquinas de pinball e começou a ter ideias. Juntou com um camarada e montou uma empresa de tecnologia chamada Syzygy, que fazia manutenção nas máquinas de pinball, mas tinha como objetivo maior criar novos jogos. Em 1971 eles criaram o jogo Computer Space, que se tornou um dos primeiros arcades da história. E era uma parada revolucionária pelo simples fato de que eles usaram peças usadas de outros aparelhos e conseguiram realizar funções que antes só rodavam em computadores grandes em um aparelho pequeno e mais barato, usando circuitos de uma televisão velha.

O jogo não era grande coisa se a gente olhar hoje em dia, mas para época foi incrível. Fez um sucesso enorme. No ano seguinte a empresa começou a trabalhar num novo projeto. Mas antes de seguir em frente teve o bom senso de trocar de nome. Deixaram de lado o nome horroroso Syzygy para passar a se chamar Atari! O tal projeto novo se tornou mais um hit. Era basicamente uma partida de tênis vista de cima, com um quadrado branco sendo a bola e duas retas brancas como raquetes, que se movem para cima e para baixo. O nome do jogo era Pong. Arcades de Pong foram espalhados por vários pontos dos Estados Unidos e renderam uma boa grana. Jogar em arcade era muito divertido, mas tinha um problema sério: a hora de parar. Caso você não tivesse pais controladores que exigissem que você estivesse em casa antes do anoitecer, você corria o risco de o dono do bar desligar a máquina e te mandar embora para ele poder fechar o estabelecimento. Em 1975 a Atari conseguiu resolver esse grande problema criando um aparelho que você conectava na televisão de sua casa e podia jogar o Pong. O console foi lançado no natal daquele ano e vendeu duas vezes mais do que o esperado pela empresa.

A Atari começou então a desenvolver novos jogos que viravam arcades e também consoles pra se jogar em casa. Um desses jogos era o Breakout e foi desenvolvido por um hippie meio sujo, que vivia fumando um cigarrinho de artista, chamado Steve Jobs. Mas Bushnell tinha um sonho maior, e muito caro. Desenvolver um só console que pudesse rodar vários jogos diferentes, como uma vitrola que toca vários discos. Ainda que os negócios fossem bem, a Atari não lucrava tanto a ponto de bancar um projeto desse porte. Eis que a gigante Warner, que já se tornava um grande conglomerado multimídia se interessou pela empresa e a comprou. Agora sim, Bushnell poderia realizar seu sonho. Em 1977 é lançado o Atari Video Computer System, Atari VCS. Pouco Tempo depois ele foi rebatizado com o nome pelo qual ficou realmente conhecido, o Atari 2600.

O Atari era realmente um aparelho impressionante. Era um hardware simplíssimo, com apenas 128 bytes. É isso aí, bytes! Não é nem megabyte e nem gigabyte! É só bytes mesmo! Pra você ter ideia, hoje em dia tem celular por aí que pode chegar a 1 terabyte de memória! Enfim, acompanhava o console dois joysticks e um jogo, além de terem disponíveis para compra separadamente 8 cartuchos de jogos. Foi uma revolução e uma festa. Festa esta que durou pouco. Até então, a equipe da empresa era super bem entrosada, e era um bando de malucos que trabalhava de bermuda e andavam descalços pelo escritório, além de fumar maconha livremente e fazer festas homéricas quando metas de vendas de novos jogos eram batidas. Mas a Warner começou a cortar as asinhas dessa turma. Insatisfeito, Nolan Bushnell resolveu abandonar o barco em 1978. Se desligou da Atari para realizar outro de seus planos mirabolantes: uma rede de lanchonete chamada Chuck E. Cheese’s

Em 1979 outros funcionários da Atari, David Crane, Larry Kaplan, Bob Whitehead e Alan Miller, deixam a empresa para fundar a sua própria, a Activision. Primeira desenvolvedora de jogos para consoles que se tem notícia. Eles começaram desenvolvendo jogos para o Atari 2600, mas logo passaram a produzir também para outros consoles como o Odissey e o Coleco Vision.  É da Activision clássicos como Pitfall, River Raid e Enduro. Mas o fato é que à partir daí, a coisa começou a ficar feia pra Atari. Uma sucessão de erros fez com que a empresa começasse um declínio inimaginável. Além de querer lançar cada vez mais jogos, sem se preocupar tanto com a qualidade e a concorrência crescente de consoles de outras marcas que começavam a desnortear a Atari, a empresa já tinha perdido praticamente todas as pessoas responsáveis pelos grandes jogos e pelo próprio console Atari. Pra piorar, a Warner, através da Atari, se meteu a querer desenvolver computadores para competir com a IBM. Não tinha como dar certo.

O curioso é que quando as coisas começaram a andar mal nos Estados Unidos, o Brasil começava a tomar conhecimento do Atari e a molecada pirou forte. O Atari chegou oficialmente por aqui em 1983. Antes disso, algumas poucas pessoas tinham acesso ao console através de comissários e aeromoças que viajavam para o exterior, turistas que traziam na mala… enfim, não era nada fácil. Mas quem descolava um virava rei. E o Brasil funciona de um jeito diferente, né. Pois teve uma empresa de São Paulo que pegou um Atari, desmontou, entendeu como funcionava e… pirateou! Sim! Meses antes do Atari chegar ao Brasil, você podia encontrar nas lojas o Dactari! Claro, não funcionava tão bem e tal. Mas quebrava um galho. Porém, na mesma época, a Philips do Brasil comprou os direitos do Odissey e passou a comercializá-lo no Brasil. Na sequência veio o Atari e foi uma verdadeira loucura. O que mais chamou a atenção no lançamento do Atari no Brasil no fim do ano de 1983 foi a campanha publicitária genial criada na DPZ pelos publicitários Francisco Petit, Washington Olivetto, Paulo Ghirotti e Gabriel Zellmeister. Nas peças o Atari era vendido como “O Inimigo”, com títulos como “O inimigo número 1 da solidão” e “O melhor inimigo do homem”.

A história do Atari e dos vídeo games que vieram depois dele, como o Nintendo, o Master System e o Mega Drive, é incrível e repleta de detalhes espinhosos. Uma verdadeira odisseia até chegarmos aos dias de hoje, com games incrivelmente realistas, com roteiros cinematográficos, e também com os jogos online. Uma história que a gente vai contando aos poucos, saboreando cada momento. Afinal, esses jogos clássicos extrapolaram o mundo dos games e viraram ícones pop de toda uma geração. Inovar, romper barreiras, criar livremente, se divertir e, ainda por cima, virar ícone da cultura pop. Tá na cara que a Strip Me ia chegar chegando com uma coleção de estampas sobre games! Confere lá na nossa loja essas estampas e vários outros lançamentos!

Vai fundo:

Para ouvir: Uma playlist no capricho com músicas sobre vídeo games. Top 10 tracks Video Game!

Para assistir: Tem um documentário interessantíssimo sobre a chegada dos consoles de vídeo game no Brasil chamado 1983 – O Ano dos Videogames no Brasil. O filme é dirigido por Artur Palma e Marcus Chiado Garrett e foi lançado em 2017. Além de muitos depoimentos, o filme conta com várias imagens bem legais da época do lançamento desses games aqui no Brasil. Vale a pena demais assistir. Tem completinho no Youtube, só clicar aqui.

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