10 filmes para se orgulhar do cinema brasileiro.

10 filmes para se orgulhar do cinema brasileiro.

Nos aproximando de mais uma edição do Oscar, onde o melhor filme norte americano acaba ganhando status de melhor do mundo, a Strip Me faz questão de lembrar que o cinema brasileiro também tem seu valor.

A arte é universal. Um paradoxo curioso, já que, quase sempre, o artista se expressa de acordo com a realidade onde vive. Antes de 1967 só os moradores de Liverpool sabiam que existia uma rua chamada Penny Lane. Mas desde que a canção com mesmo nome foi lançada no disco Magical Mistery Tour, o mundo inteiro conhece o lugar. Isso acontece em todas as expressões artísticas, não só na música. O cinema brasileiro é um excelente exemplo disso.

O cinema no Brasil tem uma trajetória interessante, com altos e baixos e produções irretocáveis e desprezíveis. Uma das críticas que sempre recai sobre o cinema nacional é ser muito regionalista. Ou é sertão nordestino ou é favela carioca. Ora, há de se considerar que, ainda que o Brasil seja imenso e diverso, esses dois panos de fundo representam bem a nossa realidade, e podem muito bem ser palco de grandes histórias. Mas, ainda bem, desde o fim dos anos 90 uma vertente de cineastas começou a diversificar pra valer, produzindo um cinema mais urbano e diverso. Para ter uma dimensão da alta qualidade do cinema brasileiro, a Strip Me elencou 10 filmes excelentes, que fazem a gente realmente ter orgulho de ser brasileiro! A lista está em ordem cronológica, pois a ideia não é dizer se um é melhor que o outro.

O Pagador de Promessas (1962)

É sempre meio complicado falar de filmes com mais de 50 anos. Por mais que sejam considerados brilhantes e revolucionários, estamos tão acostumados com o cinema moderno, tão dinâmico e de alta qualidade visual, que acabamos achando esses filmes antigos lentos, cansativos. Mas, a verdade é que O Pagador de Promessas é realmente um filme bom pra c@r#l%o! Não à toa é o único filme brasileiro até hoje que ganhou a Palma de Ouro, o prêmio máximo do tradicional Festival de Cannes. O filme foi escrito e dirigido pelo cineasta Anselmo Duarte, baseado na peça de teatro do dramaturgo Dias Gomes. É uma história envolvente e emocionante que desperta discussões relevantes até hoje sobre intolerância religiosa e sensacionalismo. Filme obrigatório para quem realmente se liga em cinema!

Deus e o Diabo na Terra do Sol (1964)

DEDE

Uma das revoluções culturais que mais marcaram o Brasil foi o Cinema Novo, que pretendia trazer uma linguagem mais realista ao cinema brasileiro, até então caracterizado por filmes musicais popularescos e épicos pretensiosos. Foi quando começou essa onda de retratar o sertão seco do nordeste e as desigualdades sociais. Glauber Rocha foi um cineasta genial, autor de grandes filmes como Terra em Transe, O Dragão da Maldade Contra o Santo Guerreiro e o Leão de Sete Cabeças. Mas foi em Deus e o Diabo na Terra do Sol que Glauber encontrou o equilíbrio entre seu texto contundente e cenas empolgantes. Isso faz de Deus e o Diabo na Terra do Sol a obra mais acessível do cineasta. Um filmaço!

O Bandido da Luz Vermelha (1968)

Rogério Sganzerla é considerado um dos mais inventivos cineastas brasileiros. O Bandido da Luz Vermelha comprova isso com propriedade. Foi o primeiro longa que Sganzerla escreveu e dirigiu, com apenas 22 anos de idade. Um filme que mistura realidade e ficção de maneira pungente e intensa. A história é inspirada em fatos reais, sobre um assaltante ousado e, de certa forma, carismático, que chamou a atenção da imprensa do Brasil inteiro. Um marco do cinema brasileiro!

Central do Brasil (1998)

Central do Brasil marca o movimento conhecido como Cinema de Retomada, quando o cinema brasileiro começou a receber mais incentivo e, através de novos e criativos artistas, desenvolver filmes cada vez mais relevantes. Deste movimento, Walter Salles certamente é quem mais se destacou. Central do Brasil é um filme inspiradíssimo, com um roteiro incrível, atuações brilhantes e esteticamente irretocável. Chegou a ser indicado ao Oscar de Melhor Filme Estrangeiro e Fernanda Montenegro foi indicada a melhor atriz, a primeira atriz latino americana a receber tal indicação. Uma obra de arte de Walter Salles e um dos grandes filmes do cinema brasileiro.

O Auto da Compadecida (2000)

De toda a lista de filmes apresentada aqui, provavelmente apenas Cidade de Deus e Tropa de Elite possa se comparar a O Auto da Compadecida, no quesito popularidade. A maioria dos filmes aqui listados são mais artísticos e densos, características que nem sempre arrastam multidões às salas de cinema. Mas O Auto da Compadecida tem tudo que um blockbuster precisa: Um texto dinâmico, inteligente e muito engraçado, personagens carismáticos, atuações memoráveis e uma simples, mas bem contada, história. É um desses raros filmes cujas falas de personagens se tornam jargões populares no dia a dia. A união do texto exuberante de Ariano Suassuna e o talento e olhar contemporâneo de Guel Arraes fazem d’O Auto da Compadecida um dos filmes mais marcantes do cinema nacional.

Bicho de Sete Cabeças (2000)

Bicho de Sete Cabeças é um filme fundamental. Mais importante do que exaltar suas qualidades estéticas e de atuação (que são mesmo de altíssimo nível), é importante ressaltar seu valor social. Suas cenas de ação e o carisma de Rodrigo Santoro conquistaram os jovens, que levantaram duas discussões muito importantes: a relação da juventude com as drogas e a importância da luta do movimento antimanicomial. Sim, independente disso, é um filme incrível! Com certo exagero, ele chegou a ser comparado com o clássico Um Estranho no Ninho, do Milos Forman. É o tipo de filme que, além de entreter, traz consigo uma carga social inquestionável!

Abril Despedaçado (2001)

“O sangue tem o mesmo volume para todos. Você não tem o direito de tirar mais sangue do que o que foi tirado de você”. Essa é a frase que melhor define este filme emblemático e emocionante. Pra começar, vale lembrar que se trata de um roteiro adaptado de um livro chamada Prilli i Thyer, escrito pelo autor albanês Ismail Kadare. Livro, cujo título traduzido do albanês é exatamente Abril Despedaçado, narra uma história de vingança ambientada nas pradarias do leste europeu, que foi adaptada com perfeição para o árido sertão nordestino do começo do século XX. Além de um roteiro soberbo e fotografia encantadora, mais uma vez Rodrigo Santoro tem uma atuação invejável e o diretor Walter Salles se reafirma como um dos cineastas mais autênticos do Brasil. Filme imperdível!

Cidade de Deus (2002)

Se Central do Brasil marca a retomada do cinema brasileiro, Cidade de Deus marca sua consolidação. Cidade de Deus representa um cinema pungente, moderno, pop e com conteúdo! A cena inicial do filme, um plano sequência de uma galinha sendo perseguida, já dá o tom desse cinema dinâmico e vigoroso. O roteiro é excelente, uma história incrível, repleta de reviravoltas e personagens carismáticos, montagem e edição empolgantes! Enfim, tudo funciona! Fernando Meirelles, como diretor, fez um trabalho impecável! É o filme que finalmente dá ao cinema brasileiro uma identidade, juntando ação, comédia e dramas sociais. Receita que foi repetida com sucesso em Tropa de Elite. Mas enfim, Cidade de Deus é um filme imperdível!
ps: Que trilha sonora deliciosa!

Tropa de Elite (2007 – 2010)

Quando pensamos no Tropa de Elite, deveríamos, na real, pensar nos dois filmes juntos. O primeiro, de 2007, e o segundo, de 2010, como um filme só. Pois veja. O segundo filme tem um roteiro muito mais bem acabado e empolgante, com uma história mais complexa e instigante. Porém, ele só pode ser tão bem sucedido porque teve no primeiro filme uma brilhante apresentação profunda dos personagens e do funcionamento da polícia e do Bope no Rio de Janeiro. Em especial a construção do personagem Capitão Nascimento, e sua desconstrução no segundo filme, é de se aplaudir de pé! O cinema brasileiro definitivamente encontrou o equilíbrio perfeito entre realidade e ficção no cinema. Tropa de Elite joga isso na sua cara sem dó nem piedade.

Bacurau (2019)

Bacurau é um dos melhores filmes de 2019. Não só no cinema brasileiro, mas no mundo. E olha que estamos falando de um ano em que foram lançados Era uma Vez em Hollywood, Joker, O Irlandês e Parasita! Bacurau reafirma a excelência do cinema brasileiro, que consegue ser inventivo e empolgante, e, ao mesmo tempo, manter suas raízes, sem parecer datado. O roteiro é impecável e a estética do filme é impressionante, de uma qualidade poucas vezes vistas por aqui. O filme foi escrito e dirigido a quatro mãos, pela dupla Kleber Mendonça Filho e Juliano Dornelles, que fizeram um trabalho extraordinário! Se em seu enredo, Bacurau aponta para um futuro distópico, na vida real ele aponta para um futuro prodigioso e sem limites para o cinema brasileiro!

Menção Honrosa.

Realmente o cinema brasileiro tem muitos filmes incríveis, de altíssimo nível, que muitas vezes desafiam a própria realidade. Afinal, o Brasil é um país complicado economicamente, e as produções artísticas sempre são as primeiras a perder incentivo e suporte financeiro, sem falar os períodos que passamos sob forte censura. Por exemplo. É praticamente impensável que durante uma ditadura militar fosse concebido no Brasil um filme de terror de tamanho impacto, que acabaria influenciando cineastas do gênero no mundo todo! Em 1967 José Mojica Marins, o legendário Zé do Caixão, lança o inacreditável filme Esta Noite Encarnarei em Teu Cadáver, uma obra avassaladora! Por falar em ditadura, vale também citar o excelente O Que É Isso Companheiro? Filme de Bruno Barreto lançado em 1997 que retrata com sensibilidade esse período sombrio da nossa história. Em 2002 O Invasor, de Beto Brant, vem mostrar que nós também sabemos produzir thrillers psicológicos de primeira e, de quebra, revelou o Paulo Miklos como um baita ator. Hector Babenco concebeu em 2003 uma obra de arte chamada Carandiru, um filme denso e revelador, baseado no relato fraterno do doutor Drauzio Varella. Por fim, para mostrar a diversidade do nosso cinema, podemos citar o ótimo Cinema, Aspirinas e Urubus, um road movie irresistível do cineasta Marcelo Gomes, lançado em 2005. Apesar da pouca repercussão pelo público, foi muito elogiado pela crítica e é, de fato, um filme que merece ser visto.

E olha, ainda faltou um monte de filme ser citado! O Cheiro do Ralo, O Céu de Suely, Pixote, Colegas, 2 Coelhos, Vidas Secas, Eles Não Usam Black-Tie, Madame Satã, Macunaíma, Durval Discos, Amarelo Manga, Saneamento Básico… é muita coisa boa! O cinema é uma arte universal, mas com esse nosso jeitinho brasileiro, ganha um borogodó a mais. E de borogodó e brasilidade a Strip Me manja! Por isso, estamos aqui celebrando a sétima arte, à nossa moda. Dá uma chegadinha na nossa loja para conhecer a coleção de camisetas de cinema, e aproveita pra conferir as coleções de música, cultura pop, arte e muito mais. No nosso site você também fica por dentro de todos os nossos lançamentos, que pintam toda semana.

Vai fundo!

Para ouvir: A maioria dos filmes listados neste post tem trilhas sonoras instrumentais, incidentais e tal… Mas Cidade de Deus tem uma trilha sonora de canções maravilhosa, daquelas coletâneas de músicas dos anos 70 imbatíveis! Então a playlist hoje é por conta da trilha sonora do filme Cidade de Deus. Cidade de Deus top 10 tracks.

Para ler: Recomendadíssima a excelente biografia do José Mojica Marins, o Zé do Caixão. Maldito! A biografia de Zé do Caixão é um livro escrito pelo André Barcinski e saiu numa edição super caprichada, em capa dura e tudo, pela Darkside Books, é claro. Um livro essencial para amantes do cinema.

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