Samba rock: o que é, quem inventou e os 10 discos essenciais.

Samba rock: o que é, quem inventou e os 10 discos essenciais.

No embalo do mês do rock, a Strip Me traz o rock à brasileira por excelência. O samba-rock começou na década de 1950 e segue sendo uma das mais genuínas expressões artísticas do Brasil. Saiba tudo sobre este gênero aqui.

“Eu só boto bebop no meu samba quando o Tio Sam tocar um tamborim. Quando ele pegar no pandeiro e na zabumba, quando ele aprender que o samba não é rumba. Aí eu vou misturar Miami com Copacabana, chiclete eu misturo com banana e o meu samba vai ficar assim. Olha aí o samba-rock, meu irmão!” Ironicamente a primeira menção ao termo samba-rock se encontra nesta música de 1959, um dos grandes clássicos da música brasileira, interpretada pelo mestre Jackson do Pandeiro. E a ironia é que a canção é justamente um manifesto em prol da pureza do samba contra os estrangeirismos que invadiam o Brasil naquela época, exigindo que, se é pra rolar essa fusão, que seja feita igualmente. Nem mesmo ritmicamente a música remete ao gênero. Ainda assim, pode ser considerada um dos pontos de origem do samba-rock. Hoje a Strip Me dá uma geral no samba-rock, com suas origens, principais nomes e os 10 discos essenciais do gênero.

No passinho.

O samba-rock é um caso interessante, onde a dança veio antes que a música. Anos antes de Jorge Ben eternizar sua batida de violão inigualável no clássico Samba Esquema Novo, já rolavam em São Paulo grandes bailes, onde pessoas de classe média e classe baixa se divertiam e dançavam ao som dos grandes sucessos internacionais e brasileiros da época. Em meados dos anos 50 os melhores salões de baile da cidade de São Paulo eram animados por grandes orquestras e prevalecia um elitismo descarado, com segregação racial e tudo. Já os bailes frequentados pelas classes menos abastadas eram animados por grandes sistemas de som, onde rolavam os discos de sucesso do momento. Como era comum rolar um rock e depois um samba no som, o pessoal começou a misturar os passos de dança. Principalmente os negros que frequentavam esses bailes, começaram a desenvolver passos de twist e rock no ritmo do samba. E isso virou febre, essa nova dança acabou chegando no Rio de Janeiro e ganhou o nome de samba-rock.

Tudo Ben.

Se a gente quiser ser muito técnico e racional, podemos dizer que o samba-rock é um samba onde a acentuação rítmica é alterada, sendo o compasso do samba, que é binário (2/4), adaptado ao compasso quaternário (4/4) do rock. Além disso, é marcante o uso de guitarra, baixo e bateria, com o adicional de alguma percussão e naipe de metais. Mas como toda arte realmente expressiva e original, tudo aconteceu naturalmente, de maneira instintiva.

É senso comum que quem realmente inventou o samba-rock foi Jorge Ben Jor (à época conhecido apenas como Jorge Ben). O próprio já contou em entrevistas que, sendo um músico autodidata, acabou desenvolvendo uma batida de violão única ao tentar emular o violão bossanovista de João Gilberto. Isso fez com que ele tivesse uma batida de violão mais suingada e sincopada, que ficava entre a bossa nova e o rock. Apesar do disco de estreia de Jorge Ben, Samba Esquema Novo, ser um clássico absoluto, com músicas como Mais que Nada e Chove Chuva, seus 4 primeiros discos são discos mais convencionais, de samba e bossa nova. Foi em 1969, com o disco entitulado simplesmente Jorge Ben, que Jorge conscientemente começou a lapidar seu estilo, criando algo novo. Neste disco estão hits como País Tropical, Que Pena (Ela Não Gosta Mais de Mim), Charles Anjo 45, Take it Easy My Brother Charles e Cadê Tereza. E o samba-rock seria cristalizado definitivamente como gênero musical distinto no antológico disco de 1974 A Tábua de Esmeralda, onde Jorge Ben realmente alcança seu auge criativo.

10 discos essenciais do samba-rock.

Jorge Ben (1969) A Tábua de Esmeralda (1974) África Brasil (1976)

Jorge Ben Jor estabeleceu os fundamentos do samba-rock nesses 3 discos. No disco de 1969 ainda encontramos muitos elementos, incluindo as bases rítmicas, mais voltadas para o samba, mas tanto na temática das letras quanto nos arranjos, dá pra sacar algo mais. São canções mais ensolaradas e empolgantes. N’A Tábua de Esmeralda Jorge Ben já consolidou uma cadência singular e arrebatadora. A real é que convencionou-se chamar o gênero de samba-rock, simplesmente por misturar a música brasileira com elementos da música negra norte americana, o rock aí incluso. Mas, além do rock, também o soul e o funk fazem parte dessa mistura. A Tábua de Esmeralda já abre com uma levada de violão irresistível, que nada mais é do que um samba funkeado. E o disco todo tem essa toada, com composições brilhantes. Em África Brasil Jorge Ben atinge um nível altíssimo de qualidade em suas canções. Um disco conceitual muito bem elaborado onde, através de canções como Ponta de Lança Africano, Taj Mahal, Xica da Silva, A História de Jorge, África Brasil (Zumbi), Jorge Ben se conecta seus ancestrais e conta a história dos negros no Brasil. É um disco irretocável.

Di Melo – Di Melo (1975) Cheio de Razão – Bebeto (1978) Branca Mete Bronca – Branca di Neve (1987)

Como já foi dito, o samba-rock também tem em seu DNA muito do soul e funk. E foram artistas mais ligados nesse tipo de som que embarcaram na onda do samba-rock, alguns com mais ênfase no groove, o que deu uma nova cara ao estilo. Por isso, o disco do pernambucano Di Melo figura entre os mais relevantes não só do samba-rock, mas da música popular brasileira dos anos 70. Com grandes canções, Di Melo mescla ritmos e estilos com naturalidade. O disco em questão, seu primeiro LP, ainda hoje é reverenciado pela sua inventividade, sendo sampleado por muitos DJs mundo afora. Já com o pé mais fincado no samba, Bebeto foi outro que entendeu bem a mensagem de Jorge Ben e conseguiu conceber um disco delicioso de se ouvir, cheio de suíngue e boas melodias. O percussionista Branca di Neve foi outro que soube como poucos compor grandes canções com muito sambalanço. Branca di Neve era paulista e fez parte do lendário grupo Os Originais do Samba, além de ter sido músico de apoio de artistas como Toquinho e Nara Leão. Depois de toda uma vida dedicada a tocar com outros artistas, somente no fim dos anos oitenta resolveu gravar suas próprias composições. Branca Mete Bronca é uma aula de samba-rock.

Por Pouco – Mundo Livre S/A (2000) Samba Esporte Fino – Seu Jorge (2001) Samba Rock – Trio Mocotó (2001)

A excelente banda Mundo Livre S/A tem sua existência completamente ligada ao movimento manguebeat e ao rock mais convencional. Ainda assim, em seu quarto disco de estúdio acabaram por cometer uma obra que reverencia e referencia o samba-rock e, em especial, Jorge Ben Jor. Com letras impactantes, as canções vão além do suíngue do samba-rock ao incorporar também elementos de hip hop e outros estilos. Uma obra prima que abre as portas do século XXI na música brasileira com muita classe. No ano seguinte Seu Jorge lança seu primeiro disco, uma obra arrebatadora. Puxado pelo hit Carolina, é um disco saborosíssimo, desses que não dá vontade de pular nenhuma faixa. Compositor de mão cheia, Seu Jorge usa o samba-rock, o soul e a gafieira pra enfileirar grandes canções, a maioria exaltando o Rio de Janeiro. No mesmo ano, o legendário Trio Mocotó retornou às atividades depois de um hiato de décadas. E aqui estamos falando de verdadeiros mestres do samba-rock, afinal o grupo foi a banda de apoio de Jorge Ben entre 1969 e 1971, para em seguida seguir carreira solo. O Trio Mocotó gravou com Jorge Ben os discos Jorge Ben (1969), Força Bruta (1970) e Negro é Lindo (1971). Em 1973 a banda lançou seu primeiro disco próprio, que teve boa repercussão na mídia, mas não vendeu muito e a banda se separou em seguida. Voltaram só em 2001 com um disco arrebatador e irresistível. Excelentes canções executadas com brilhantismo e uma produção moderna e vigorosa! Um disco fundamental.

Gil & Jorge – Gilberto Gil e Jorge Ben (1975)

Mais do que um disco essencial para entender o samba-rock, Gil & Jorge é um disco monumental da música brasileira, cuja história da concepção do álbum é das mais pitorescas. No início de 1975 calhou de vir passar uns dias de férias no Brasil ninguém menos que Eric Clapton. André Midani, diretor da gravadora Philips, ao saber da notícia, logo tratou de organizar uma festinha para o guitarrista inglês, contando com vários dos artistas brasileiros contratados da gravadora. Lá estavam Caetano Veloso, Rita Lee, Gilberto Gil e Jorge Ben, entre outros. Festa rolando, eis que pintam uns instrumentos e uma jam é iniciada. Em certo ponto, só estão Clapton, Gil e Jorge Ben, o primeiro com uma guitarra o os outros dois com violões, rolando altos improvisos. Mas logo Clapton desiste de tocar, um pouco incomodado. O fato é que os improvisos de Gil e Jorge, com ritmos cambaleantes e harmonias truncadas deram um nó na cabeça do guitarrista inglês. A dupla seguiu improvisando em cima de temas já existentes e também criando novos. No dia seguinte à festa, Midani reservou alguns horários num dos estúdios da gravadora e fez com que Gilberto Gil e Jorge Ben reproduzissem aquela jam com uma banda de apoio e que tudo fosse gravado. Assim surgiu o disco antológico Gil & Jorge. E, de fato, é um disco fenomenal.

Assim como o gênero musical segue firme e se renovando, o samba-rock enquanto dança também ainda resiste e é praticado em salões por todo o país. Definitivamente uma expressão cultural brasileira única, riquíssima e recheada de boas histórias. Um prato cheio para instigar e inspirar a Strip Me. Vem conferir a nossa coleção de camisetas de música e de brasilidades pra se conectar com esse sambalanço gostoso. Aproveita pra dar uma olhada nas coleções de camisetas de arte, cinema, cultura pop, bebidas, games e muito mais. No nosso site, além disso tudo, você também fica por dentro de todos os nossos lançamentos, que pintam por lá toda semana.

Vai fundo!

Para ouvir: Uma playlist cheia de suíngue com o que tem de melhor no samba-rock! Samba-rock top 10 tracks.

12 Filmes que contam a história do Rock! Parte 2

12 Filmes que contam a história do Rock! Parte 2

No mês do rock, a Strip Me apresenta 12 histórias de cinema, sobre alguns dos mais importantes artistas da música pop!

O Dia Mundial do Rock é mais brasileiro do que mundial. Basta você procurar mundo afora para ver quem realmente comemora essa data fora do Brasil. A história toda por trás disso é interessante. O dia 13 de julho de 1985 entrou para a história por conta do Live Aid, o grande festival que rolou simultaneamente nos Estados Unidos e Inglaterra e foi televisionado para o mundo todo. O evento reuniu gente como Paul McCartney, The Who, Queen e muitos outros. Aqui no Brasil o festival teve uma audiência enorme, já que o país ainda respirava a euforia do Rock In Rio, que aconteceu em janeiro daquele ano. Numa entrevista, falando sobre o Live Aid, Phil Collins, emocionado após ter participado do festival, declarou: “O dia 13 de julho deveria ser lembrado como o dia mundial do rock.” Pouca gente deu atenção a isso, exceto os jornalistas brasileiros. Desde então, rádios e publicações brasileiras dedicadas ao rock passaram a celebrar a data, e a moda pegou. E cá estamos. Celebrando o nosso brasileiríssimo Dia Mundial do Rock!

Para celebrar esse dia, selecionamos 12 filmes que ajudam a contar a história do rock n’ roll mundial e brasileiro. A lista foi dividida em duas partes. A primeira, publicada semana passada, você pode ler clicando aqui. E hoje apresentamos a parte 2, celebrando não só o dia 13, mas o mês de julho, que pode ser realmente considerado o mês do rock! Então já vai treinando o air guitar aí e confira a parte 2 da nossa lista de filmes sobre o rock n’ roll.

Last Days (2005)

Keyart for Last Days.

Incluir esse filme na lista é foi uma decisão difícil. Primeiro porque não é uma obra literalmente sobre um artista real, segundo porque é um filme muito mais introspectivo, pesado, sem praticamente nenhum apelo comercial. É o que a turma costuma chamar de filme cabeça, que pode ser um sinônimo de filme chato. O longa é escrito e dirigido por Gus Van Sant e foi inspirado nos últimos dias de vida de Kurt Cobain. Na verdade trata-se sim de um relato bem fiel do que foram os últimos dias de Cobain em sua casa, antes de se matar. Os nomes dos personagens foram alterados simplesmente porque não se chegou a um acordo entre o cineasta e a família de Cobain, com relação a diretos e tal. Apesar de não ser uma produção empolgante, cheia de música e personagens carismáticos, como estamos acostumados a ver na maioria das cinebiografias, Last Days é um filme muito bom, com uma fotografia cuidadosa, ótima atuação do protagonista Michael Pitt e que transmite com eficiência desoladora a angústia de alguém que não vê mais sentido na vida.

Simonal (2018)

Wilson Simonal foi um artista como poucos no Brasil. Misturou ritmos, praticamente criou um estilo novo, que viria a influenciar toda a música pop brasileira, do samba ao rock. Chegou a ser o artista mais bem pago do país, vendeu mais discos que Roberto Carlos e, quando estava no auge de sua carreira, levou um tombo do qual nunca mais se recuperaria. Foi acusado de colaborar com os militares e dedurar artistas considerados subversivos, durante a ditadura de 1964. Até hoje essa história é questionada. Leonardo Domingues escreveu e dirigiu Simonal, filme que retrata com muita beleza e fluidez a trajetória de Simonal ao estrelato, seu posicionamento contra o racismo e a controversa relação do cantor com a política. É um filme muito bem feito mesmo, com um roteiro muito bem elaborado, uma história interessantíssima e muita música boa.

The Doors (1991)

“Is everybody in? The ceremony is about to begin.”Sim, este é um dos filmes mais icônicos dos anos 90! Tudo convergiu para que este filme se tornasse um clássico imediato. A música dos Doors, a persona de Jim Morrison, que o ator Val Kilmer incorporou de maneira quase xamânica e a estética de videoclipe do diretor Oliver Stone. Se parar pra pensar, o roteiro em si não tem nada de novo. É a história de uma banda que começa por baixo, tem talento, consegue gravar um disco, faz sucesso, se perde em excessos… Mas Jim Morrison foi um artista único no rock. Mais poeta que músico, mais blues que rock, mais inconformismo que depravação, mais alucinógenos que insanidade. Oliver Stone arrebenta na direção deste filme, a edição e montagem são alucinantes, os diálogos são ótimos, a trilha sonora excelente… tudo funciona! Um filme para ver e rever!

Legalize Já – Amizade Nunca Morre (2017)

Skunk idealizou e ajudou a compor o material da banda Planet Hemp, mas não viveu para ver o seu sucesso e a polêmica que iria causar em todo o país. Entretanto, seu legado está presente e é reverenciado até hoje. Mas ele não fez isso sozinho. Ao seu lado estava seu grande amigo Marcelo D2. O filme Legalize Já retrata com propriedade o início da amizade entre Skunk e D2, a formação da banda Planet Hemp e o início do seu sucesso com o disco Usuário, lançado em 1995. Dirigido por Johnny Araújo e Gustavo Bonafé, e escrito por Felipe Braga, o longa tem uma cara de filme independente, uma fotografia ousada e muito bonita, além de ótimas atuações e uma ótima trilha sonora. Um filme para o qual se mantenha o respeito.

Bohemian Rhapsody (2018)

O diretor Bryan Singer ficou conhecido por conceber os melhores filmes da franquia X Men, além de ter dirigido o excelente Os Suspeitos, um filmaço de 1995 subestimado pela crítica. Mas foi em Bohemian Rhapsody que ele mostrou o grande diretor que é, ao retratar com tanta exuberância e cuidado a vida de Freddie Mercury e a obra do Queen. É verdade que o longa tem algumas falhas.  O roteiro de Anthony McCarten e Peter Morgantem tem alguns furos, além de alguns fatos sobre a banda serem omitidos e outros inventados, mas tudo em nome da boa e velha licença poética, que libera certos dribles na realidade para tornar a obra mais suculenta e apetitosa. O filme é vigoroso e vale a pena ser visto! Ah, sim! Há de se exaltar a brilhante atuação de Remi Malek como Freddie Mercury. O cara mandou bem demais! E a reprodução no filme da apresentação do Queen no Live Aid (olha o dia do rock aí!) é impecável!

Tim Maia (2014)

A história de Tim Maia chega a ser inacreditável! Dessas que quem ouve falar diz “Nossa, a vida desse cara dava um filme”. Pois é. Não bastou ser um dos maiores cantores do país, Tim Maia ainda teve uma vida intensa e cheia de momentos dignos de nota. A infância pobre no Rio de Janeiro. A banda promissora que foi desfeita depois de uma traição, a viagem aos Estados Unidos, a juventude transviada das drogas, a deportação e finalmente a ascensão na música. Mas não pára por aí, porque depois ainda vem a fase Racional, a criação de seu próprio selo, os shows que ele foi e os que ele não foi e a morte que quase aconteceu em cima do palco. Com uma história dessas, seria muito difícil sair um filme ruim. Ainda bem que Mauro Lima, que escreveu e dirigiu o filme, que foi inspirado no livro Vale Tudo, de Nelson Motta, soube aproveitar essa história e realizar um filmaço! Com uma direção fluída, ótima fotografia e atuações espetaculares. A trilha sonora, não precisamos nem dizer, é do c#r@l§! E se você está se perguntando o que o Tim Maia tem a ver com o rock, basta você saber que, além de ter feito uma música influente em todas as vertentes, estamos falando do cara que assumia bem humorado que, antes dos shows, praticava o triátlon, ou seja, mandava pra dentro whisky, maconha e cocaína. Se isso não é rock n’ roll, meu amigo…

Menção Honrosa

Ainda que o dia 13 de julho seja considerado o Dia Mundial do Rock mais aqui no Brasil mesmo, certamente, o mês de julho deve ser celebrado como o mês do rock n’ roll, independente disso. Em especial o dia 5 de julho é deveras significativo para a história do rock. Afinal, foi nesse dia que Elvis Presley, acompanhado de Scotty Moore e Bill Black gravou no estúdio da Sun Record a música That’s Alright Mama, a primeira gravação de Elvis, que se tornou popular e influenciou gerações a seguir. Por isso mesmo, não podemos deixar de citar o ótimo filme Elvis, escrito e dirigido por Baz Luhrmann, lançado em 2022. É um filme vigoroso e muito bem produzido, que conta toda a trajetória de Elvis. O longa conta com Tom Hanks, brilhante no papel de Coronel Tom Parker, e Austin Butler numa impressionante interpretação de Elvis. Não é só que o filme é bom, mas também a história de Elvis e sua música são inigualáveis. Não é à toa que ele ficou conhecido como o Rei do Rock, tendo influenciado todo mundo que veio depois dele. Inclusive os Beatles, cuja primeira apresentação nos Estados Unidos aconteceu no dia 5 de julho de 1964. É… talvez seja boa ideia a gente rever esse dia do rock no mês de julho.

Seja dia 5 ou dia 13, não importa! Porque todo dia é dia de rock! Pelo menos pra nós aqui da Strip Me! Por isso estamos sempre produzindo camisetas instigantes e provocadoras, além de super descoladas, claro! Entra na nossa loja pra conferir! Toda semana pintam novos lançamentos, e lá você encontra camisetas de música, cinema, arte, cultura pop e muito mais!

Vai fundo!

Para ouvir: Uma playlist caprichada com músicas dos artistas biografados nos filmes citados neste texto! Rock no Cinema (Parte 2) top 10 tracks.

Tim Maia – 10 curiosidades sobre o nosso eterno síndico.

Tim Maia – 10 curiosidades sobre o nosso eterno síndico.

Neste mês de setembro, se vivo, Tim Maia completaria 80 anos de idade. Quem o conheceu pessoalmente fica admirado por ele ter vivido até os 56. Quem apenas conhece as histórias de loucura e abusos, se espanta por ele não ter morrido aos 40. Mas quem conhece a obra de Tim Maia, quem se liga em música e sabe da importância dele para a música brasileira, sabe que o ideal é que ele continuasse vivo, e fazendo música, por pelo menos mais 80 anos para frente.

Sebastião Rodrigues Maia, o Tim Maia, foi um fenômeno na música brasileira. Uma mistura poderosa e nunca antes vista de fúria do rock n’ roll com a sensualidade da soul music, o ritmo irresistível do funk e a malandragem do samba. Com toda sua versatilidade, Tim Maia era um nervo exposto. Talento e sensibilidade incontroláveis que refletiam na compulsão insaciável por dinheiro, por comida e por toda e qualquer tipo de droga alucinógena. A única vez que ele achou ter encontrado algum equilíbrio e sentido na vida, acabou tão desiludido, que renunciou essa fase até seu último dia de vida, ainda que tenha sido muito prolífica musicalmente. Portanto, para conhecer um pouco melhor quem era esse maluco que acabou conhecido como o síndico do Brasil, e para entender sua importância, separamos 10 momentos marcantes da vida de Tim Maia. Confere aí!

The Sputniks

Tim Maia nasceu e cresceu no bairro da Tijuca, na cidade do Rio de Janeiro. Ainda garoto, ficou amigo de Erasmo Esteves. Tim ensinou Erasmo a tocar violão e os dois, com outros 3 amigos, montaram uma banda, inspirada nos filmes de Bill Halley and his Comets e de Elvis Presley. Era o fim dos anos 50 e o Brasil vivia uma efervescência na música jovem, graças a gente como Carlos Imperial e a turma da bossa-nova. A turma de garotos ligados á musica na Tijuca era grande, incluindo um rapaz de apelido Babulina, pois tocava sempre a canção de Ronnie Self, Bop-a-Lena, com um inglês sofrível, para dizer o mínimo. Mas com um ritmo impressionante na mão direita ao tocar violão. Mas na banda The Sputniks, um dos rapazes, não era da Tijuca, mas sim de Cachoeiro do Itapemirim, cidadezinha no estado de Espírito Santo. Ao se apresentar para um teste, para participar o programa de TV de Carlos Imperial, o tal garoto de Cachoeiro do Itapemirim, deu uma de traíra, deixou a banda de lado e foi se apresentar sozinho para Imperial. Tim Maia, na época conhecido como Tião Maia, ficou puto, rolou uma baita briga e a banda acabou. Foi cada um pra um lado. O garoto traíra era Roberto Carlos, que iniciou ali uma sólida carreira solo. Na onda de Roberto, Erasmo Esteves trocou seu nome para Erasmo Carlos, em homenagem ao seu amigo Roberto e ao produtor e apresentador Carlos Imperial, e também decolou como cantor. O tal Babulina, não era da banda, mas também acabaria fazendo muito sucesso, mas com seu próprio nome: Jorge Ben. Já o Tião Maia, ficou decepcionado e resolveu viajar pros Estados Unidos e mudar de vida.

Estados Unidos

A decisão de Tim Maia de ir para os Estados Unidos surgiu quando ele estava muito desapontado com a música e soube que a arquidiocese do Rio de Janeiro estava levando alguns seminaristas para estudar nos Estados Unidos. Tim Maia, que não era nada católico, deu um jeito de entrar nessa turma, arranjou dinheiro e um contato de uma amiga da tia da vizinha da mãe dele que poderia recebê-lo lá. Assim, ele foi para New York. Ao chegar, sem falar uma palavra em inglês, acabou sendo recebido pela família que havia sido indicada a ele, ainda que essa família nunca tivesse sido avisada de sua chegada. Ele ficou com essa família por 2 meses, depois se mudou para um apartamento com alguns amigos e não parou mais. Morou em vários lugares, quando não tinha onde morar, dormia nos metrôs, vivia de bicos, aprendeu a falar inglês, mas, acima de tudo, teve contato e assimilou a música negra que explodia na época através da Motown e da Stax. Tim Maia ficou nos Estados Unidos por 4 anos, até que foi preso por roubar gasolina e por porte de drogas. Foi deportado e voltou para o Brasil.

Guia turístico preso

Quando voltou, em 1963, a Jovem Guarda já estava acontecendo. Roberto e Erasmo mandavam ver na TV e faziam muito sucesso. Tim Maia desembarcou no Rio de Janeiro sem eira nem beira. Sem trabalho, acabou praticando alguns furtos com um amigo da Tijuca. Até que surgiu uma oportunidade de trabalho: Guia turístico. Graças aos 4 anos nos Estados Unidos, Tim voltou para o Brasil falando inglês fluente, sem sotaque e ainda falando gírias. Os turistas adoravam. Só que quando ele começou a engrenar no trampo de guia turístico, foi ajudar um amigo a roubar umas cadeiras do jardim de uma casa e acabou preso. Na cadeia, como se não bastasse estar encarcerado, ele lê num jornal que Roberto Carlos acabara de comprar seu oitavo carro, um carro de luxo, zero quilômetro. Foi um alivio quando, dois meses depois de ser preso Tim soube que seria solto antes do final de sua sentença. Acontece que um grupo de 40 professores da Universidade de Wiscosin, estava a passeio no Rio de Janeiro, e faziam questão de ter como guia turístico e famoso Tim Maia, que lhes fora muito bem recomendado. Como a sentença já estava para acabar mesmo, a polícia o liberou para o trabalho. Mas assim que foi solto, a primeira coisa que Tim Maia fez foi ir atrás de Roberto Carlos.

Não Vou Ficar

Foi através da esposa de Roberto Carlos, Nice, que Tim Maia finalmente conseguiu falar com a grande estrela da Jovem Guarda. Tim Maia estava atrás de um trabalho, talvez como músico. Mas, durante a conversa, Roberto disse que precisava renovar seu repertório e estava muito interessado na onda de música negra que começava a dar as caras por aqui através de Wilson Simonal e Toni Tornado. Tim Maia então sacou da manga uma música cheia de suingue para Roberto gravar. Não Vou Ficar foi lançada no disco Roberto Carlos de 1969 e foi sucesso absoluto. Tim Maia ganhou algum dinheiro com os direitos da música e teve as portas abertas no mundo das gravadoras. Ele não perdeu tempo e, já em 1970, lançou seu primeiro disco. Um petardo cheio de suingue com clássicos com Coronel Antonio Bento, Cristina, Azul da Cor do Mar e Primavera. O disco foi lançado pela gravadora Polydor, por indicação da banda Os Mutantes, amigos de Tim.

Baurete e Garrastazu

Tim Maia era famoso por criar apelidos e inventar gírias. Ao fazer um show em 1970 na cidade de Bauru, interior de São Paulo, o cantor falou, entre uma música e outra: “Será que alguém aí na plateia não tem um… um… um baurete?” Enquanto falava, ele fazia o indefectível gesto de “soltar pipa”. Um hippie que assistia ao show jogou um baseado no palco para a alegria de Tim, que passou a usar a gíria para maconha. Além da música, um dos pontos em comum entre Tim Maia e os Mutantes, era o apreço por fumar bauretes, tanto que a gíria acabou no título de um dos discos dos Mutantes. Outra gíria que Tim criou foi garrastazu. Se fazendo valer do nome do meio do então presidente do Brasil, o general Emílio Garrastazu Médici, o mais truculento dos presidentes durante a ditadura de 1964, Tim Maia chamava de garrastazu um esconderijo propício para fumar um baurete sem ser incomodado. Certa feita, Tim Maia e os Mutantes estavam no prédio da gravadora Polydor e resolveram fumar um pra relaxar. Tim Maia então diz que descobriu um garrastazu perfeito para queimar um baurete dentro da gravadora, uma salinha fechada, onde fica uma máquina grande e que ninguém fica lá dentro. Pois lá foram eles e mandaram ver nas baforadas. O que eles não sabiam é que o garrastazu em questão era a central do ar condicionado do prédio. De repente, as salas de todos os diretores e funcionários da gravadora foram tomadas por um forte e inexplicável cheiro de maconha.

Universo em Desencanto

Em 1974 Tim Maia já era considerado um dos artistas mais brilhantes da música brasileira. E já corria a notícia que ele estava com sua banda afiadíssima, com material instrumental pronto para um novo disco arrasador. Certo dia, Tim vai na casa de um amigo, fica sozinho na sala por alguns minutos e pega um livro pra folhear, que estava ali jogado. Ele lê frases como “Nós somos originários de um planeta distante e perfeito e estamos na Terra exilados… A única salvação é a imunização racional, que se conquista lendo o livro e seguindo seus ensinamentos. Só assim podemos nos purificar e ser resgatados pelos discos voadores de volta a nosso planeta de origem superior: o Racional Superior”. Tim Maia pirou na ideia, pediu o livro emprestado, o leu de cabo a rabo numa tacada só e logo já estava se enturmando com o pessoal da seita da Cultura Racional. Parou de beber, fumar e usar qualquer tipo de droga, só vestia roupa branca e obrigou todos os músicos da sua banda a, não só se vestir de branco e pintar seus instrumentos de branco, como também os proibiu de beber, fumar e se drogar durante ensaios, gravações e shows. Curiosamente, foi quando Tim Maia produziu seu material mais sofisticado e criativo musicalmente. Mas só musicalmente, porque nas letras… a ladainha o Universo em Desencanto domina a temática dos dois discos lançados nessa época.

Independente na cadeia

Quando Tim Maia fechou as 9 canções do que seria o disco Tim Maia Racional Vol. 1 e as apresentou na gravadora, de cara foi esculachado. Não sem um pouco de razão, os diretores diziam que era suicídio comercial lançar um disco que, musicalmente até que era bom, mas com letras tão estranhas sobre uma seita bizarra. Tim Maia então resolveu se virar. E virou um os primeiros artistas independentes do Brasil. Comprou da gravadora as masters das músicas e criou um selo para lançar o disco pro conta própria. Assim surgiu a Seroma Discos, as primeiras sílabas de seu nome, Sebastião Rodrigues Maia. A Seroma Discos acabou lançando dois discos desta fase, Tim Maia Raciona Vol. 1, de 1974 e Tim Maia Racional Vol. 2, de 1975. Com essa temática toda, os discos não venderam bem, e menos ainda era fácil conseguir vender o show com aquelas músicas, e se negando a tocar sucessos antigos. Eis que surge um convite inusitado. Entro da seita, havia um diretor de um presídio no interior do Rio de Janeiro. Ele convidou Tim Maia a tocar lá para os presos, tal Johnny Cash fizera em 1968. Por incrível que pareça, o show no presídio foi um sucesso, os presos piraram nas músicas e aplaudiram de pé, fazendo com que Tim Maia se acabasse em lágrimas em cima do palco.

Imunização Racional

Talvez não seja à toa que o livro da cultura racional se chame O Universo em Desencanto. Porque quando a pessoa se dá conta da patacoada e enganação que é aquilo tudo, o sentimento deve ser esse mesmo, de desencanto. Numa noite, no fim de 1975, ele flagrou o grão-mestre e líder da cultura racional flertando com algumas garotas, e ele pregava dentre tantas outras privações, o jejum sexual. Tim Maia, que já estava sem dinheiro, fazendo poucos shows e, claro, morrendo de vontade de tomar uns tragos e comer um bife mal passado, se sentiu enganado e mandou tudo às favas. Saiu pela rua gritando que o mestre da cultura racional era um pilantra e mandou um dos músicos da sua banda ir comprar carne, carvão, cerveja, maconha e cocaína. Os músicos respiraram aliviados. Tim Maia estava de volta.

O Síndico

Com o passar dos anos, Tim Maia ficou muito conhecido por seu comportamento errático, ausência em shows já marcados e o abuso de drogas, coisa que ele nunca estimulou, mas também nunca negou que fazia. Apesar disso, entre o fim dos anos 70 e começo dos 90, Tim Maia produziu muito, e com muita qualidade. Entre 1976 e 1990 Tim Maia gravou mais de 14 discos. Mas claro, sua fama de doidão acabou sendo proporcional a sua obra musical.  E essa fama acabou inspirando seu velho amigo da Tijuca a compor uma das músicas mais famosas e emblemáticas dos anos 90 no Brasil. Numa festa de fim de ano da agência de publicidade W/Brasil, Jorge Ben Jor e Washington Olivetto batiam um papo animado sobre a vida entre muitas doses de uísque. Eis que Jorge Ben fala pra Olivetto que sua vida andava tão destrambelhada, que se ela fosse um prédio, o síndico seria Tim Maia. Olivetto gostou tanto da frase que disse que ela tinha que virar música. E virou mesmo. Jorge Ben juntou várias falas e acontecimentos daquela noite com Washington Olivetto e escreveu o clássico W/Brasil (Chama o Síndico), imortalizando Tim Maia como síndico do Brasil. O que é, convenhamos, nada mais justo, afinal num país tão maluco quanto este, não poderíamos ter um síndico mais adequado.

Cantar até morrer

Tim Maia dizia em tom de piada que, antes de seus shows fazia o “triathlon”, que consistia em tomar uísque, cheirar cocaína e fumar um baseado na sequência. Além do consumo em doses cavalares de álcool e drogas, Tim Maia comia muito. Em 1996, por conta da diabetes e obesidade, teve um princípio de gangrena de Fournier, uma infecção aguda na região genital, e precisou ser operado. Ainda assim, não mudou seus hábitos. No dia 8 de março de 1998 ele faria um show grandioso no Teatro Municipal de Niterói, que seria transmitido pelo canal de tv a cabo Multishow e seria registrado em vídeo para ser lançado posteriormente. Tim Maia já não vinha se sentindo bem. Naquela noite, entrou no palco vagaroso, com a respiração forte e suando muito. Começou a cantar a primeira música, Não Quero Dinheiro (Só Quero Amar). Mas não passou do primeiro verso. Fez um gesto para a plateia, como quem diz, “espera aí, que eu volto.” E saiu do palco. No camarim teve um colapso e foi direto para o hospital de Niterói. Ficou internado até o dia 15 de março, quando faleceu por falência múltipla dos órgãos e infecção generalizada. A morte de Tim Maia acabou ficando marcada. O cantor que se notabilizou por não aparecer para fazer seus shows, acabou morrendo por insistir em comparecer e cantar naquela noite.

Tim Maia foi um artista indescritível. Músico virtuoso, com um ouvido apurado, sabia reconhecer uma canção de sucesso e conseguia interpretá-la com perfeição. Além de todo esse poder artístico, ainda traz consigo uma história de vida riquíssima, cheia de episódios curiosíssimos, engraçados, emocionantes e intensos. Um artista com tanta vida também encanta todo mundo aqui na Strip Me. Dentre nossas camisetas de música, você encontra algumas com referências incríveis ao Tim Maia. Além disso, você ainda pode conferir nossas camisetas de arte, cinema, cultura pop, comportamento e muito mais. É só ficar ligado na nossa loja e ficar por dentro dos últimos lançamentos!

Vai fundo!

Para ouvir: Uma playlist com o  crème de la crème da obra do Tim Maia. Som pra ninguém botar defeito. Tim Maia Top 10 tracks.

Pra assistir: O filme Tim Maia, escrito e dirigido pelo Mauro Lima é muito bom. Inspirado no livro Vale Tudo, do Nelson Motta, o filme retrata vários desses momentos inacreditáveis, que só o Tim Maia poderia protagonizar. O filme foi lançado em 2014. Ao procurar para assistir, fuja da minissérie da Globo, que recortou em episódios curtos, e acabou cortando algumas cenas importantes.

Para ler: Claro que o livro é sempre muito melhor que o filme. Vale Tudo, a biografia de Tim Maia escrita pelo Nelson Motta e lançada em 2007 pela editora Objetiva é um livro delicioso! Riquíssimo em detalhes, o livro conta toda a trajetória pessoal e profissional de Tim Maia. O livro virou best seller, e não foi à toa. É excelente!

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