A grande questão do século XX: Beatles ou Stones?

A grande questão do século XX: Beatles ou Stones?

11 entre 10 pessoas que gostam de rock já foram questionados sobre quem é melhor: Beatles ou Rolling Stones, e pensaram bem antes de responder. Claro, porque não é uma pergunta fácil. Não é como perguntar quem é melhor Pelé ou Maradona, Madonna ou Lady Gaga, ou Pulp Fiction ou Cães de Aluguel, cujas respostas são todas óbvias. Beatles x Stones é uma questão tão complexa, que paira no ar há mais de meio século, e ninguém chegou a uma conclusão concreta e definitiva.

Claro que muita coisa já rolou, muita gente já disse muita coisa a respeito. Hoje sabemos que a rivalidade que diziam existir entre as bandas é balela. Eram todos amigos. E, é óbvio que, para manter os nomes de suas bandas em evidência na imprensa, não desmentiam e alimentavam essa lenda. Provavelmente tudo começou quando John Lennon declarou, em 1966, que tudo que os Beatles faziam, os Stones faziam igual 4 meses depois. Desde então, há referência dos Stones em capa de disco dos Beatles e vice versa, vira e mexe uma banda alfinetava a outra na imprensa. Mas no fim da noite, em Londres era comum ver Mick Jagger e Paul McCartney tomando uma cerveja juntos ou George Harrison e Brian Jones trocando figurinhas sobre instrumentos musicais.

Olha, a real é que se a gente parar pra pensar mesmo, tentar comparar as duas bandas e dizer qual é melhor, é uma parada muito descabida. Porque são bandas bem diferentes em vários aspectos, sem falar que uma delas encerrou atividades em 1970, e a outra continuou firme. Mas a gente naturalmente gosta de uma boa disputa. Além do mais, são duas bandas tão incríveis, que é uma delícia revisitar suas histórias, sucessos e lendas, ainda mais tendo como desculpa essa rivalidade. Então, vamos a alguns fatos.

Primeiro a gente tem que ter em mente que os Beatles vieram primeiro. E o sucesso dos Stones tem tudo a ver com o surgimento e ascensão dos cabeludinhos de Liverpool. Depois de uma temporada exaustiva tocando por 5 horas seguidas por noite nos inferninhos de Hamburgo, os Beatles acertaram a mão ao contratar Brian Epstein como seu empresário e, depois de serem rejeitados pela Decca, assinaram contrato com a EMI. Com o surgimento da beatlemania os diretores da Decca se arrependeram amargamente e, quando os Stones bateram na porta, eles não pensaram duas vezes e já assinaram um contrato. Depois do relativo sucesso do primeiro single da banda, Come On, um cover de Chuck Berry, os Stones precisavam de mais um novo sucesso. Na época, 1963, Beatles e Stones já se conheciam e Lennon e McCartney deram para os Stones a música I Wanna Be Your Man, que virou sucesso.

Dá pra afirmar sem medo que até 1964 os Beatles eram realmente superiores. Mas nessa época Keith Richards e Mick Jagger passam a compor com frequência, esbanjando talento. No disco 12 X 5 dá pra sacar isso em canções como Good Times Bad Times e Congratulations. Com os primeiros discos dos Stones pintando, já fica evidente uma grande diferença entre eles e os Beatles. Os Rolling Stones eram uma banda muito purista em relação ao blues. Enquanto os Beatles não tinham muitas amarras a nenhum gênero musical. Flertavam com boleros (chegando a fazer uma versão de Besame Mucho), standards do jazz norte americano, com a soul music, com o country… Neste aspecto, os Stones merecem mais aplausos, pois conseguiam ser criativos e apresentar canções de qualidade mesmo “presos” a um só gênero.

Depois de 1966 os Beatles decidiram abandonar os palcos para ser uma banda exclusivamente de estúdio. Isso deu a eles ainda mais liberdade. Passaram a usar arranjos cada vez mais complexos, sobrepor instrumentos, vozes… afinal, não iriam precisar reproduzir nada daquilo num palco, que nos anos 60 não contava com tecnologia nenhuma. Sequer retorno a turma tinha direito. Mais uma vez as obras das duas bandas se mostram distantes e difíceis de se comparar, não por qualidade, mas por temática. Os Beatles apresentam em Revolver uma psicodelia ensolarada com Good Day, Sunshine e Doctor Robert, enquanto os Stones apostam em canções mais cruas, mas não menos inspiradas, como Paint it Black e Under My Thumb, do belíssimo disco Aftermath. São dois discos excelentes. Depois, em 1967, veio Sgt. Pepper’s… e a régua subiu ainda mais. Muita gente diz que os Stones fizeram o Their Satanic Majesties Request como uma resposta ao Sgt. Pepper’s…. Conversa fiada. Era simplesmente a manifestação da época. Em 1967 o flower power, a cultura oriental e etc estavam em alta. Todo mundo lançou discos nessa onda. E, com exceção da belíssima She’s a Rainbow, Her Satanic Majesties… é um disco bem fraquinho. Mas é bom lembrar que eles lançaram no mesmo ano os ótimos discos Flowers e Between the Buttons.

Em 1970 as duas bandas tinham amadurecido muito musicalmente. E mais uma vez se distanciado em termos de estética musical. Os Beatles, já em 1968, não funcionavam mais tão bem como conjunto. O Álbum Branco mostra bem isso. Tem grandes canções, mas fica evidente que não houve colaboração entre os músicos para compor e fica impresso o estilo de cada em suas composições. Em compensação, Beggars Banquet é um disco que apresenta uma banda em plena forma, coesa, encorpada e com excelentes composições. Ambas as bandas acompanham a tendência do rock, que se torna cada vez mais pesado. Orquestrações dão espaço a mais guitarras com efeitos fuzz e wah wah. Há muita controvérsia sobre a origem do nome Let It Bleed, disco lançado em dezembro de 1969.  Apesar de os Beatles lançarem o álbum Let It Be só em maio de 1970, a canção de mesmo nome já circulava em meados de 1969. Além do mais, os integrantes das duas bandas eram realmente amigos e sabiam dos planos uns dos outros. Por isso especula-se que o título Let It Bleed tenha sio uma brincadeira com o disco dos Beatles que seria lançado na sequência. Ah, sim. Além de tudo, existe o fato de que as bandas nunca lançavam seus discos ao mesmo tempo, sempre davam pelo menos dois ou três meses de intervalo, para não haver competição nas vendas.

Bom, depois de 1970 não faz mais sentido querer comparar as duas bandas, já que os Beatles se separaram, e não faz nenhum sentido querer comparar os discos solos de John Lennon, Paul McCartney e George Harrison com o Sticky Fingers, por exemplo. Todavia, é relevante ressaltar que os Stones lançaram seus discos mais consistentes e brilhantes ao longo da década de 1970. O que demonstra mais uma vez o amadurecimento da banda.

Desde o início as duas bandas tiveram trajetórias bem diferentes. É, no mínimo, injusto querer comparar as duas e vaticinar que uma é melhor que a outra. O que podemos dizer é que são duas bandas inacreditáveis, excelentes e geniais. Ambas indispensáveis para a evolução do rock n’ roll e da cultura pop. Tão essenciais que estampam camisetas nas mais variadas formas. Mas é claro, em nenhum outro lugar você encontra essas duas bandas retratadas de maneira tão deliciosa, original e charmosa como na Strip Me. Onde barulho, diversão e arte são antropofagicamente traduzidos em camisetas sensacionais! Vem conferir na nossa loja!

ps: Com o objetivo de manter a máxima imparcialidade, este texto foi escrito ao som dos discos Who’s Next, do The Who, e Face to Face, dos Kinks.

Vai fundo!

Para ouvir: É lógico, uma playlist caprichada com o que há de melhor entre Beatles e Stones. As faixas serão selecionadas de acordo com sua data de lançamento, pra rolar uma comparação legal entre as duas bandas. Então se liga na play Top 10 Tracks Beatles x Stones.

Para Assistir: Dois documentários essenciais para conhecer essas duas bandas: Let It Be, filme do diretor Michael Lindsay-Hogg, lançado em 1969 e Shine a Light, filme brilhante de Martin Scorsese, lançado em 2008, que acompanha a Bigger Bang Tour.

Para ler: The Beatles: A Biografia, de Bob Spitz, lançado em 2007 pela editora Lafonte é a mais completa e honesta obra literária sobre os Beatles. Livro indispensável. Do lado dos Stones, eu até poderia recomendar o livro do Christopher Sandford, mas acho muito mais válido e enriquecedor recomendar a estupenda autobiografia do Keith Richards, Vida, um livro saborosíssimo de se ler, lançado pela Editora Globo em 2010.

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