Dossiê STM: Red Hot Chilli Peppers 1999 – 2022

Dossiê STM: Red Hot Chilli Peppers 1999 – 2022

O pequeno Johnny nasceu no dia 5 de março de 1970 no Queens, em New York. Aos seis anos de idade, por influência do pai que tocava piano e da mãe que cantava no coral da igreja, ele começou a fazer aulas de guitarra. Aos nove anos já sabia tocar praticamente todas as músicas do Jimi Hendrix e e tinha como referência guitarristas como Jimmy Page e Frank Zappa. E, de fato, ele cresceu notadamente um guitarrista muito talentoso. Aos doze anos de idade, seus pais se separam e ele se muda com a mãe para a California. É quando monta uma banda aqui, outra ali e se envolve com a cena de Los Angeles, em especial os punks. Ainda adolescente, com 14 ou 15 anos, viu os Red Hot Chilli Peppers ao vivo e ficou encantado com a mistura de sons e ritmos. Passou a acompanhar a banda em tudo quanto é show e aprendeu a tocar todas as músicas dos seus primeiros 3 discos. Hillel Slovak se tornou um herói da guitarra pra ele. Por fim, uma das bandas que ele fez parte contava com D. H. Peligro na bateria. O lendário baterista da banda Dead Kennedys, numa tarde de 1988, poucos meses depois da morte de Slovak apresentou John ao baixista Flea. E o resto é história. 

Uma história caótica, diga-se, que já contamos na primeira parte deste post especial sobre os Red Hot Chilli Peppers. Partimos do início da banda e chegamos até as turnês conturbadas e incompletas de divulgação do disco One Hot Minute, que rendeu a Chad Smith uma fratura no punho e a Dave Navarro sua demissão por consumo excessivo de drogas. Com a tour cancelada e Navarro fora, Anthony Kiedis recaído no vício de heroína, decide se mudar para a Índia para se tratar e se livrar do vício. Enquanto isso, Flea permanece em Los Aneles e começa a pensar se a banda deve continuar existindo. Vale dizer aqui que o Flea, que com exceção da maconha, nunca se ligou em drogas como Kiedis, Slovak, Frusciante e Navarro, sempre se manteve firme, focado e dedicado à banda. Por isso mesmo, ele se deu conta que a banda não podia parar. E concluiu também que somente um homem seria capaz de acertar a mão no tempero dos Chilli Peppers e colocar a banda nos trilhos de novo: John Frusciante. 

Verdade seja dita, Flea e Frusciante tornaram-se amigos muito, mas muito próximos mesmo. Ao longo de todo o tempo em que Frusciante ficou fora dos Chilli Peppers, Flea acompanhava a vida do amigo, e por várias vezes o ajudou levando a hospitais e clínicas de reabilitação. Em 1998 o guitarrista estava no fundo do poço. Magérrimo, pele ressecada, sem dentes na boca… tudo por conta do abuso de heroína. Ele claramente não duraria mais um ano vivo se continuasse a se drogar. Flea o ajudou a encontrar um hospital que poderia lhe ajudar na recuperação tanto do vício, quanto de seu corpo. Parte da força de vontade de Frusciante vinha do fato de Flea afirmar que assim que ele se recuperasse, tinha seu lugar garantido como guitarrista dos Chilli Peppers, já que Navarro fora demitido. Na época, Frusciante chegou a espalhar uma história de que não tinha mais nenhuma guitarra, pois elas tinham sido consumidas em um incêndio em sua casa meses antes. Mentira admitida por ele próprio em 2002. As guitarras todas obviamente foram vendidas para que ele comprasse mais drogas. No fim do ano de 1998, Anthony Kiedis volta da Índia limpo, recuperado de seu vício e ajuda muito na recuperação de John, principalmente lhe presenteando com uma guitarra nova. 

Californication – Red Hot Chilli Peppers (1999)

O ano de 1999 já começou com a notícia de que Frusciante estava oficialmente de volta à banda e que um novo disco estava sendo produzido. E que disco! Em junho daquele ano é lançado Californication. É o retorno retumbante e redentor dos Red Hot Chilli Peppers! Kiedis e Frusciante, livres das drogas, estão numa harmonia transcendental! Flea e Chad Smith afiadíssimos! Pelo menos metade do disco vira hit instantâneo nas rádios e na MTV! O disco vende milhões mundo afora e a banda faz uma turnê mundial avassaladora, que passa pelo Brasil em 2001. No ritmo alucinante da turnê novas canções vão sendo escritas. Mal acaba a turnê de Californication, já é lançado By The Way em 2002. Um disco inspirado, e bem mais introspectivo. Fica evidente a presença de Frusciante como principal compositor da banda, já que o disco traz músicas com ótimas melodias e arranjos, além de primar mais pelo rock n’ roll e baladas adocicadas, dando menos ênfase no funk espevitado que marcou o sucesso da banda nos anos 90. Ainda assim, o disco vendeu muito, colocou 3 músicas no topo das paradas de mais tocadas e culminou em mais uma tour mundial que durou até 2005 e rendeu mais alguns milhares de dólares para a banda. E o melhor de tudo: foram 2 álbuns com turnês gigantescas de imenso sucesso, e nenhum episódio sequer de problemas com drogas aconteceu com nenhum dos 4 integrantes da banda! 

By rhw Way – Red Hot Chilli Peppers (2002)

Em 2006 já se contavam 7 anos desde o retorno de John Frusciante para a banda, 7 anos da banda livre de qualquer problema com drogas e 6 anos de sucesso e muito dinheiro entrando. Pelo histórico da banda, já estava na hora de alguma coisa dar errado ou alguém pisar na bola. Pois dessa vez não foi assim. 2006 marcou o lançamento de Stadium Arcadium, nono disco da história da banda. Um disco duplo que, originalmente seria uma trilogia, mas acabou virando um disco duplo. E o disco foi super bem recebido pela crítica e vendeu muito! Dani California é um hit desses que já nascem prontos pra tocar no rádio! E foi essa música que catapultou as vendas do disco e chegou a render mais alguns Grammys para a banda. Vale lembrar que desde Blood Sugar Sex Magik a banda não largou o produtor Rick Rubin, que esteve por trás de todos os discos desde então. Em Stadium Arcadium dá pra notar que a banda está desenvolvendo com mais força sua personalidade mais madura, e a mão de Rick Rubin guiando a sonoridade da banda por tanto tempo só faz com que o disco soe ainda mais original. Claro que o disco rendeu mais uma tour mundial. Malandramente, John Frusciante convence a banda a incorporar mais um músico no palco. Entra em cena Josh Klinghoffer, um grande amigo de Frusciante, para tocar guitarra base, teclados e fazer backing vocals durante a tour de Stadium Arcadium. No fim do ano de 2007, já com Klinghoffer bem entrosado com a banda, John Frusciante chega para a turma e diz: “Gente, eu cansei. Quero fazer mais uns discos solo, parar de fazer esses shows enormes… e vai ficar tudo bem, porque o Josh está na banda e dá conta do recado. Eu confio nele. Então é isso. Estou saindo fora.”. E mais uma vez John Frusciante abandonou os Red Hot Chilli Peppers. 

Stadium Arcadium – Red Hot Chilli Peppers (2006)

Mas o que poderia ser o começo de uma crise acabou sendo um motivo pra todo mundo descansar um pouco. E a banda anuncia que vai parar por um tempo. Afinal, foram quase 10 anos ininterruptos compondo, gravando e fazendo shows. Anthony Kiedis acabara de ser pai e queria se dedicar ao bebê, Flea aproveitou para começar a escrever suas memórias e Chad Smith resolveu descansar carregando pedra, montando com Sammy Hagar, Joe Satriani e Michael Anthony a banda Chickenfoot e saindo por aí gravando disco e fazendo shows. Talvez só tenha ficado uma situação meio chata pro Josh Klinghoffer, que quando achou que ia emplacar o posto de guitarrista principal de uma das maiores bandas do mundo, levou um balde de água fria nas ideias. Mas não por muito tempo. Em 2010 já estava todo mundo afim de voltar a trabalhar. Em março entram em estúdio com Rick Rubin e de lá só saem no começo de 2011, com mais um disco embaixo do braço. Em agosto é lançado I’m With You, décimo disco da carreira da banda e primeiro com Josh na guitarra. O disco reforça a guinada no estilo da banda, mais rock e menos funk que começou em By The Way. É um disco interessante, com ótimas melodias e uma capa minimalista muito bonita. O disco, claro, vendeu bem, colocou The Adventures of Raindance Maggie no topo das paradas e ainda teve outros dois singles de destaque: Monarchy of Roses e Look Around. E tome tour até 2013! 

I’m With You – Red Hot Chilli Peppers (2011)

Em setembro de 2013 a banda encerrou a tour do disco I’m With You e anunciou que iria tirar alguns meses de férias. Na metade do ano de 2014, após se apresentar no emblemático intervalo do Super Bowl, anunciam que vão entrar em estúdio para começar um novo álbum. A surpresa vem em novembro do mesmo ano, quando Anthony Kiedis afirma numa entrevista que o disco novo não será produzido por Rick Rubin. Somente em janeiro de 2015 foi anunciado que o produtor do disco seria Danger Mouse, deixando claro que a banda estava buscando novos ares. O novo disco estava previsto para sair no segundo semestre de 2015. Mas em fevereiro Flea quebrou o braço esquiando. As gravações atrasaram pelo menos três meses. Por fim, The Getaway acabou sendo lançado somente em junho 2016. O disco vai bem de vendas, não emplaca nenhuma música no topo das paradas, mas tem pelo menos dois hits em potencial: Dark Necessities e Go Robot. E mais uma tour gigantesca, que dura até outubro de 2017. Em 2018 a banda anuncia que vai descansar por alguns meses e depois voltar para o estúdio. 

The Getaway – Red Hot Chilli Peppers (2016)

Desde o lançamento de Californication em 1999 já se passam quase 20 anos. A banda bem estruturada, sem problemas com drogas, enfileirando sucessos e bons discos… agora sim, já estava na hora de alguma coisa dar errada. Em 2018 incêndios imensos arrasaram boa parte das florestas e áreas verdes da California. O estúdio onde a banda começaria a gravar era numa área repleta de árvores e acabou sendo atingido por um desses incêndios. Tudo se atrasou para o começo das gravações. Nesse meio tempo, Flea finalmente lança seu livro de memórias, que vinha escrevendo há anos. E também nessa época, Flea e Frusciante passam a ser vistos juntos com mais frequência do que o habitual. Em 2019, a banda faz alguns shows esporádicos. Em 5 de dezembro de 2019 o perfil oficial da banda no Instagram anuncia que Josh Klinghoffer estava fora da banda, e que em seu lugar estava de volta o queridão John Frusciante! A surpresa foi geral. Inclusive para Klinghoffer. Aparentemente não houve nenhum desentendimento. Frusciante simplesmente disse que estava disponível e a banda o quis de volta. Nem tem muito como a gente culpar os caras, né… Em 2020, você deve saber, rolou uma certa pandemia que fez o mundo parar por praticamente dois anos. Mas os Chilli Peppers continuaram trabalhando. Com Frusciante de volta, a banda acabou concordando em também voltar a trabalhar com Rick Rubin. O time estava completo no estúdio mais uma vez. E finalmente, em abril de 2022 é lançado o disco Unlimited Love, décimo segundo da carreira da banda. Mais um disco de boas surpresas, com o novo som dos Chilli Peppers muito bem definido. E pelo jeito a história vai se repetir. Virão shows e mais shows, e, provavelmente mais discos no futuro. Afinal, se tem uma coisa que a gente aprendeu com essa história toda é que nada e nem ninguém é capaz de parar os Red Hot Chilli Peppers. 

Unlimited Love – Red Hot Chilli Peppers (2022)

Ainda bem! Quem sabe, daqui um tempo a gente não volta aqui para contar mais sobre mais 10, 20 anos da banda. Por enquanto, essa é a história dos Red Hot Chilli Peppers, dividida em 2 posts. Uma história interessantíssima e deliciosa de se ouvir através dos doze discos de estúdio. Uma banda tão importante, influente e inspiradora certamente tem seu lugar garantido na mente e no coração de todo mundo aqui na Strip Me, sem falar, é claro, de algumas estampas exclusivas sobre os Chilli Peppers. Mas não é só isso. Na Strip Me você encontra camisetas de música, cinema, arte, cultura pop e muito mais. Entra na nossa loja pra dar uma olhada e visite sempre o site para conferir os lançamentos.  

Vai fundo! 

Para ouvir: Uma playlist com o que há de melhor nos 6 últimos discos dos Red Hot Chilli Peppers, mas claro, sempre dando aquele desvio das obviedades e grandes hits. RHCP 1999 – 2022 top 10 tracks

Para ler: Altamente recomendável a autobiografia do baixista Flea. O livro se chama Acid for Children, foi lançado no Brasil pela editora Belas Letras em 2020. Se o que você já leu até agora neste texto já é impressionante, imagina tudo isso contado sob o ponto de vista do próprio Flea, que foi quem mais segurou ondas no mundo do rock! Imperdível! 

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