Mais que uma imagem e mil palavras sobre a fotografia

Mais que uma imagem e mil palavras sobre a fotografia

Apesar de não ser reconhecida como tal, a fotografia é uma expressão artística de igual grandeza às artes plásticas, a música, literatura e, principalmente, ao cinema, que sem a fotografia sequer existiria. Claro que não estou me referindo aqui àquela selfie tremida que você tirou bêbado na balada. Estamos falando da fotografia feita com apuro técnico e talento ao olhar para alguém ou alguma coisa e enxergar uma foto. Sim, esta é a síntese do conceito de arte: técnica + talento. Você pode conhecer todas as escalas musicais, tocar um instrumento com habilidade e rapidez, mas se não tiver o talento para exprimir as mais simples notas, você fará uma música correta, mas sem sentimento. Você pode ter a sensibilidade de imaginar belas harmonias em sua mente. Se você não tiver a técnica para aplica-las no instrumento, você vai acabar fazendo uma música pobre e mal executada. Mas se você tem técnica e talento juntos, você vai conceber verdadeiras obras de arte. O mesmo conceito vale para a fotografia, a pintura, o teatro…

Napalm Girl by Nick Ut (1972)

Prova disso é que algumas das fotografias mais belas e conhecidas do mundo são fotos jornalísticas. É o caso da icônica imagem da menina vietnamita correndo nua com uma nuvem de napalm atrás de si. Esta fotografia rendeu ao fotógrafo Nick Ut o Pulitzer de 1973. O fotógrafo Jeff Widener também capturou um momento histórico do século XX, na famosa foto O Rebelde Desconhecido, onde um homem se coloca frente a uma fileira de tanques de guerra na Praça Tiananmen, em Pequim, em 1989. Até mesmo as obras incomparáveis de Henri Cartier-Bresson e Sebastião Salgado podem ser consideradas foto-jornalismo, já que se dedicam a registrar o cotidiano sob um olhar mais sensível e poético.

Zo’e women in State of Para, Brazil by Sebastião Salgado (2009)

Mas nem tudo na fotografia são cenas de cunho social e político. Também temos grandes nomes que se dedicaram a às artes, cultura e celebridades. Fotógrafos que nada devem em técnica e talento aos citados acima. Estamos falando de nomes como Helmut Newton, Bob Gruen, David LaChapelle, Charles Peterson e Astrid Kirchherr. A maioria desses profissionais estiveram ligados a movimentos artísticos e trabalharam para a imprensa especializada, principalmente na música e moda. Eles também tem suas obras gravadas na história, como a foto de John Lennon de óculos escuros, usando uma camiseta escrito New York City e com os prédios de Manhattan ao fundo, feita por Bob Gruen, ou Salvador Dali deitado numa cama de hotel parisiense em 1973, fotografado por Helmut Newton.

Stage Dive at Nirvana’s Gig by Charles Peterson (1990)

Como já foi dito, o cinema não existiria sem a fotografia, já que um filme nada mais é que um monte de fotos em sequência. Por isso, a maioria dos grandes diretores tem ao seu lado grandes fotógrafos, formando parcerias de longa data. É o caso de Michael Chapman , diretor de fotografia de clássicos como Taxi Driver, Touro Indomável e tantos outros filmes de Martin Scorsese. Mas existe um caso muito curioso envolvendo essa relação entre diretor e fotógrafo de cinema: Seguindo o famoso ditado “se você quer uma coisa bem feita, faça você mesmo”, surgiu a parceria Peter Andrews-Steve Soderbergh. Acontece que Peter Andrews e Steve Soderbergh são a mesma pessoa! O Soderbergh passou a usar o pseudônimo Peter Andrews para assinar a direção de fotografia de seus filmes!

A verdade é que a fotografia é uma das expressões artísticas mais legais que existem! É a realidade exposta de maneira direta, mas marcante, imponente. Pode ser a realidade nua e crua, como uma exposição surreal da realidade, com contrastes, foco e enquadramentos explorados ao extremo! Imagens que nos transmitem e despertam os mais distintos sentimentos, como a hipnótica Menina Afegã, capa da revista National Geographic de 1985, clicada por Steve McCurry, o inacreditável monge budista em chamas fotografado por Malcolm Browne em 1963 ou o emocionante Le Baiser de l’Hôtel de ville (O Beijo Do Hotel de Ville), foto clássica de Robert Doisneau, tirada em 1950.

The Beatles in Hamburg by Astrid Kirchherr (1960)

Aliás, essa foto do beijo, do Doisneau, chega a dar saudade de quando a gente andava livre pela rua, se aglomerando, se abraçando e se beijando sem máscara. Imagina essa imagem hoje em dia, todo mundo com máscara. Daria até uma ótima estampa de camiseta, né…

Le Baiser de l’Hôtel de ville’ by Robert Doisneau (1950)

VAI FUNDO!

Para ouvir: Uma imagética e fulgurante playlist com 10 tracks que se entrelaçam e funcionam como trilha sonora para este fotogênico texto!

Para assistir: Um dos filmes mais clássicos da história do cinema e que tem a fotografia como ponto crucial de sua trama. Claro, é o excelente Janela Indiscreta (título original: Rear Window), filme do gênio Alfred Hitchcock lançado em 1954.

Para ler: Pessoalmente, eu considero o Henri Cartier-Bresson o maior fotógrafo que já pisou neste planetinha. Por isso, recomendo o ótimo livro Cartier-Bresson: Olhar do século, escrito pelo jornalista francês Pierre Assouline, lançado pela L&PM em 2012 e que traça com riqueza o perfil deste gênio.

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