É natural do ser humano ser questionador. Querer entender os porquês da vida fez com que a humanidade dominasse o fogo, usasse o poder das águas, gerando energia e desenvolvendo civilizações. Ainda hoje vivemos numa eterna busca de conhecimento, tentando entender o passado para trilhar os novos caminhos do futuro. Claro que toda essa gana de saber, essa curiosidade tão salutar não se volta apenas para temas antropológicos e sociais. É essa curiosidade que faz da imprensa britânica, por exemplo, uma das mais fofoqueiras do mundo. Aliás, dizem que é pra isso que a família real britânica existe, né… quem manda no país é o primeiro ministro e a família real alimenta os tabloides sensacionalistas que entretêm o povo.
Indo além, não é à toa que um dos gêneros literários mais consumidos no mundo é a biografia. Se o livro vem com o título “Fulano de Tal – Uma Biografia Não Autorizada”, aí que vende horrores mesmo! Artistas e celebridades em geral despertam muita curiosidade nas pessoas. E se naturalmente a gente já tem o hábito de querer saber sobre o que se passa na vida dos nossos familiares e amigos, claro que também vamos querer saber sobre a vida dos nossos ídolos e artistas favoritos. Em especial na música, isso sempre foi muito forte. Desde o final dos anos 1950, quando começam a surgir os primeiros ídolos teens (James Dean, Elvis Presley…), as bancas de jornais são inundadas por publicações especializadas em vida de artistas. De 1967 pra frente, com a música pop sendo levada mais a sério, algumas dessas publicações passam a ser realmente interessantes, indo além de qual o prato favorito ou se tal artista é casado, para falar sobre influências, analisar obras, enfim, mostrar o que realmente importa de um artista.
E assim chegamos nos documentários musicais! São filmes que contam a história de artistas, movimentos, épocas… tudo de forma muito atraente, com entrevistas de pessoas importantes e filmagens raras que ajudam a dissecar o tema abordado. Esses documentários servem tanto para deliciar aficionados como para introduzir o tema a curiosos. A música pop é uma parada bem complexa, se a gente parar pra pensar. E se cavoucar bastante, vamos acabar chegando no jazz. Tudo começou ali. Música com sensibilidade e energia para embalar ricos e pobres (no início, mais pobres do que ricos, diga-se). Um ótimo documentário que retrata isso é Miles Davis, Inventor do Cool. O filme conta a trajetória turbulenta do genial trompetista que mudou o mundo e revolucionou a música. Parece exagero, eu sei, mas basta assistir ao doc pra sacar a importância desse cara. Por falar em importância, outro documentário que envolve o mundo do jazz e o extrapola é Quincy, filme que retrata vida e obra de Quincy Jones. Quincy Jones este que não só foi um músico de jazz brilhante como trilhou uma exuberante carreira como produtor musical, tendo trabalhado com nomes como Michael Jackson, Frank Sinatra e Amy Winehouse. Outro doc imperdível é What Happened, Miss Simone. Um filme imperdível sobre uma das maiores representantes da música negra norte americana. Nina Simone era pianista e cantora que viveu uma vida turbulenta dividida entre a arte, o ativismo e uma vida pessoal complicada. E para a sua sorte, estes três documentários estão disponíveis na Netflix!
Claro que o bom e velho rock n’ roll não deixa a desejar neste quesito. Talvez o rock seja o gênero que mais rende documentários, tantos são as bandas e artistas fundamentais para a música e cultura pop. Já começo falando do momento mais importante e cultuado da história do rock e da contra-cultura: Woodstock. O festival que rolou em 1969 em uma fazendo próxima a New York e reuniu Jimi Hendrix, Janis Jopin, The Byrds, The Who, Joe Cocker, Santana, Crosby, Stills & Nash, Jefferson Airplane… enfim, a elite do rock sessentista. Os três dias de festival foram registrados em filme e renderam um documentário clássico e memorável dirigido por Michael Wadleigh e lançado em 1970. Além de registrar as apresentações mais marcantes do festival, conta com depoimentos e cenas de bastidores e capta a aura de paz, amor e brodagem que rolava por ali. Falando em captar auras, um documentário curto, mas bem interessante, que contém várias curiosidades, imagens raras e depoimentos, é Stones in Exile, que mostra o que rolava antes e durante as míticas gravações do álbum Exile on Main Street. Este doc traz imagens e depoimentos que chegam a ser perturbadores, nos fazendo pensar como diabos alguém conseguia viver sob aquelas condições, não só simplesmente viver, mas criar e trabalhar. E o resultado é um dos discos mais impactantes da história da música moderna. Pra fechar cito um dos documentários mais legais e empolgantes que vi nos últimos tempos: Punk. Este doc é uma minissérie dividia em 4 episódios que conta toda a história do punk rock, do início das bandas de Detroit (MC5, Stooges) até a explosão pop de Green Day e Offspring. Sob a produção de Iggy Pop, literalmente o pai da matéria, este doc traz depoimentos marcantes de todas gerações. Ramones, Bad Religion, Sex Pistols, Green Day, Nofx… tá todo mundo lá! O Woodstock não sei se é tão fácil de achar, mas vale procurar. Já o Stones in Exile está disponível na Amazon Prime e o Punk na Globoplay.
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O texto já está enorme e nós nem falamos nos filmes que são quase como documentários de tão fiés, didáticos e divertidos, como o The Doors, do Oliver Stone, Dirt!, que conta a história do Motley Crue, Walk the Line, cinebiografia incrível do Johnny Cash… e tem os ficcionais que são tão divertidos, como This is Spinal Tap, Rock Star, Still Crazy… É muita coisa boa! Quem sabe um dia a gente não volta a falar desse assunto. Por hora, ficamos por aqui. Essa é a deixa pra você ir fazer aquela pipoquinha e escolher um desses docs sensacionais pra curtir.
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Vai fundo!
Para ouvir: Claro que tem playlist com o que há de melhor nos docs citados acima. Vai lá conferir nosso top 10 tracks de grandes documentários.
Para assistir: Além dos já citados acima, vou te recomendar um documentário que não está disponível nas plataformas de streaming por aí, mas vale a pena procurar pela internet, seja pra baixar ou pra comprar o DVD. Hype! É um documentário lançado em 1996 que dá uma geral na cena grunge de Seattle que dominou o mundo no começo dos anos 90. Com uma pegada bem descontraída, muitas entrevistas legais, este doc é essencial pra quem gosta de rock!
Para ler: Já que citei as biografias no começo do texto, vou recomendar pra você a excelente autobiografia do João Gordo! Livin la Vida Tosca é um livro saborosíssimo de se ler. Apesar de todos os excessos, o João Gordo tem uma memória de elefante (desculpa o trocadilho…) e conta em detalhes toda a sua trajetória, influências, as pessoas que conheceu, shows, festas… está tudo lá de forma muito bem escrita, sob a supervisão do irrepreensível jornalista musical André Barcinski.