As fitas da Bahia.

As fitas da Bahia.

O que seria do turismo sem a superstição? Afinal, não dá pra ir a Roma e não jogar uma moeda na Fontana de Trevi, ou ir a Verona e não colocar a mão no seio direito da estátua da Julieta, ou ir a Nuremberg e não dar três voltas em torno da Bela Fonte, ou ir a Paris e não colocar um cadeado na Pont des Arts. Isso sem falar de lugares místicos por si só, que garantem vida longa, sabedoria, prosperidade e etc só por visitá-los, como o Taj Mahal, o centro histórico de Santiago de Compostela, as pirâmides do Egito, Stonehenge, Bodh Gaya, Jerusalém, Machu Picchu e tantos outros. Claro que o Brasil não fica atrás e tem os seus pontos turísticos para supersticiosos e místicos. Alto Paraíso de Goiás está acima de uma rocha de quartzo de mais de 4 mil metros quadrados, por isso é considerado um lugar de boas vibrações. Em Gramado, no Rio Grande do Sul, você pode colocar um cadeado nas grades da Fonte do Amor Eterno e garantir a sua bem aventurança no amor. Mas não existe nada que simbolize melhor a cultura, a religiosidade e a superstição brasileira do que as inconfundíveis fitinhas de Nosso Senhor do Bonfim

As fitinhas de Nosso Senhor do Bonfim já extrapolaram as barreiras da religiosidade para se tornar ícone pop, um acessório que chegou a ser transformado em pulseira de ouro com brilhantes. Mas vamos com calma, porque vale a pena conhecer um pouco da origem dessas fitinhas tão emblemáticas. Para isso, precisamos nos lembrar que o Brasil ficou abandonado por quase quarenta anos após a chegada de Pedro Álvares Cabral por aqui. Somente em 1533 o rei português D. João III decide tomar posse das terras descobertas permanentemente através das capitanias hereditárias. Após muita confusão, violência e descaso para a instalação de tais capitanias, o rei decidiu instalar em seu novo território uma cidade que serviria de capital da colônia, com burocratas portugueses representando a coroa, para organizar melhor as coisas. Assim, em 1549 é fundada a cidade de Salvador, a primeira capital do Brasil. 

Dois séculos depois, Salvador já havia crescido muito. O nordeste brasileiro vivia o auge da produção de açúcar e todos os impostos coletados dos engenhos iam parar na capital, e nem todo esse dinheiro chegava em Portugal como deveria, se é que você me entende. O fato é que a cidade crescia, bem como o prestígio do Brasil em Portugal. Assim, em 1745 foram iniciadas as obras de uma grande igreja na península de Itapagipe, região nobre da cidade de Salvador. A construção da igreja justificava-se para abrigar as imagens do Senhor do Bonfim e de Nossa Senhora da Guia, vindas de Portugal. A Imagem de Nosso Senhor do Bonfim nada mais é que a representação de Jesus Cristo subindo aos céus. Já a Nossa Senhora da Guia é uma das muitas representações da Virgem Maria, esta, no caso, é considerada a protetora dos navegantes. A igreja ficou pronta em 1754 e logo se tornou a igreja mais importante da cidade. Acontece que nessa mesma época a descoberta do ouro na região e Vila Rica, Ouro Preto, Mariana e Diamantina fez com que Portugal, e o resto do mundo, voltasse suas atenções para o interior do Brasil. Para facilitar o transporte do ouro até o litoral, para ser enviado para Portugal, o reino acabou transferindo a capital do Brasil de Salvador para o Rio de Janeiro em 1763. Salvador entra então num período de estagnação econômica. 

Em 1809, pensando em arrecadar dinheiro para manutenção da paróquia, um dos fiéis teve a ideia de criar a Medida do Senhor do Bonfim. Era uma tira de tecido medindo exatamente 47 centímetros, a mesma medida do braço direito de Jesus na imagem do Senhor do Bonfim. Por isso, a faixa era chamada de Medida do Senhor o Bonfim. Era uma tira de cetim ou seda de 4 ou 5 centímetros de largura, com o nome da igreja bordado com fios de ouro e vendidos a altos preços, mas muito comprados pelos nobres da cidade. A faixa era usada pendurada no pescoço, presa na base de chapéus (no caso das mulheres) ou simplesmente exposta dentro de casa. A prática da venda da Medida do Bonfim durou até meados dos anos 1940. Depois ficou esquecida. Até ressurgir nos anos 60 totalmente repaginada. 

Na década de 1960 o turismo como negócio crescia muito, era uma novidade. Ao mesmo tempo, entre o fim dos anos 50 e início dos 60, o Brasil vivia um período raro de prosperidade e liberdade. Com isso, as religiões de origem africanas começam a se popularizar. O sincretismo da umbanda, que tem a representação de um santo católico para cada uma de suas entidades, fez com que a famosa Medida do Bonfim de antigamente, virasse uma fita, também com a medida de 47 centímetros, mas mais estreita, podendo ser amarrada no tornozelo ou no punho, e representando Oxalá, a mais importante divindade do candomblé, que tem na imagem do Senhor do Bonfim a sua representação. Outras fitas, desta vez coloridas, também passaram a ser comercializadas, cada cor representando uma entidade. O lance é que, ignorando a simbologia religiosa, os hippies baianos passaram a usar as tais fitinhas aos montes, pois eram coloridas e combinavam com o visual psicodélico, e a moda começou a se espalhar entre os jovens. Foi quando o setor de turismo da prefeitura viu o potencial daquelas fitinhas e entrou na jogada. 

Para impulsionar a visitação da igreja de Nosso Senhor do Bonfim, que sempre foi um dos lugares mais importantes de Salvador, a prefeitura passou incentivar a venda das tais fitinhas nos arredores da igreja, espalhando ainda que as fitinhas eram milagrosas, e se amarradas com três nós, cada nó representaria um desejo que a pessoa poderia fazer. Quando a fita arrebentasse naturalmente, com o passar do tempo, os desejos se realizariam. E a conversa funcionou bem demais. Não só os visitantes, como os próprios moradores de Salvador passaram a comprar as fitas e amarrar no braço, no tornozelo e também nas grades em volta da igreja. E normalmente, as pessoas compram as fitinhas de determinada cor, de acordo com o desejo a ser atendido. Por exemplo, a fitinha verde representa Oxóssi, a divindade da fartura e do sustento, para quem vai pedir prosperidade, amarelo é Oxum, divindade da fertilidade, para quem quer ter filhos, vermelho é Iansâ, divindade do amor e por aí vai. 

Até o fim dos anos 70 as fitinhas eram de algodão e eram produzidas em Salvador mesmo, por pequenas empresas de tecelagem. Mas nos anos 80 a coisa ficou séria, a demanda cresceu muito e as fitinhas, perderam um pouco do charme e da personalidade ao serem fabricadas numa grande fábrica em São Paulo e feitas de poliéster. Mas não pense que isso diminuiu o interesse das pessoas. Até hoje, quem vai a Salvador não sai de lá sem um pacote de fitinhas para distribuir para a família e amigos quando voltar pra casa, muito menos sem deixar uma fitinha amarrada na grade da igreja. Aliás, a grade repleta de fitinhas já virou imagem de cartão postal de Salvador. As fitinhas se tornaram tão pop que o designer baiano Carlos Rodeiro criou a Pulseira do Senhor do Bonfim, que tem versões em ouro puro e com detalhes em brilhantes, safiras, rubis e esmeraldas. E, sabe como é, do jeito que as coisas estão, não custa nada comprar uma fitinha dessa e mandar um pensamento positivo pro ar, ao amarrar um nózinho. 

As fitinhas de Nosso Senhor do Bonfim são um símbolo tão único do Brasil, cheio de simbologias diversas e positividade, que não poderia deixar de fazer parte do sincretismo antropofágico cultural da Strip Me! Afinal, somos brasileiros, mas também somos pop art! Então vem conferir nossas estampas cheias de brasilidade, além de camisetas de arte, música, cinema, cultura pop e muito mais. Fica ligado sempre na nossa loja pra não perder os lançamentos

Vai fundo! 

Para ouvir: Uma playlist com tudo que só a Bahia tem! Bahia top 10 tracks

Para assistir: Outra face inacreditável da cultura de Salvador é a música. No documentário Axé: Canto do Povo de um Lugar, lançado em 2016 e dirigido pelo Chico Kertész, dá pra ter uma ideia bem legal disso e conhecer a origem de um dos ritmos de maior sucesso no Brasil. Super recomendado e tem no catálogo da Netflix.

Deu Match! 8 encontros apaixonantes da Strip Me para o Dia dos Namorados.

Deu Match! 8 encontros apaixonantes da Strip Me para o Dia dos Namorados.

Junho é a época mais romântica do ano! Começa o friozinho, aquele clima gostoso pra ficar no sofá vendo um filminho debaixo do cobertor, ou pra sair pra tomar aquele vinho, ou quem sabe comer um fondue. E é claro que tudo isso fica muito mais gostoso quando você tem aquele alguém do lado. Pode ter sido na balada, tendo amigos em comum, ou até mesmo virtualmente em redes sociais e apps de relacionamento. O importante é que deu match!

E para mostrar que toda panela tem sua tampa, a Strip Me apresenta 8 exemplos de camisetas que são match perfeito. Se completam, harmonizam, são as duas metades da laranja.

Nightporu + América Latina

Começamos com os dois pés na nossa terra! De um lado o símbolo máximo da arte brasileira, nosso icônico Abaporu, de Tarsila do Amaral, minimalista, mas sofisticado e imponente. De outro lado uma declaração de amor à América Latina, com uma estampa delicada no lado esquerdo do peito, onde bate o coração. De quebra, a citação a uma das mais clássicas canções de Caetano Veloso, que deixa clara a força vibrante do nosso continente. Ambas as camisetas, numa pegada by night minimalista, formam um casal perfeito.

Magritte + Onda Retrô

Eis aqui um match inspirador! Um match de quem carrega a arte na alma e no coração. De um lado a obra clássica O Filho do Homem, de René Magritte, pintada em 1964, num recorte simples, que evidencia o tom provocador e iconográfico da obra. Do outro lado, uma reprodução, também em recorte, da mais famosa e celebrada xilogravura do mundo, A Grande Onda de Kanagawa, do genial artista japonês Katsushika Hokusai. Duas camisetas que carregam no coração dois dos maiores ícones da história da arte. O surrealismo de Magritte e a xilogravura delicada de Hokusai formam um casamento incomum, mas admirável de se ver!

Super Smile + Robot

Um match atemporal. Não que sejam muito distantes, talvez separados por apenas uma geração. De um lado a representação dos anos 90 sintetizada numa imagem, que mistura identidade visual da maior marca de video games com a mais revolucionária banda da época. Por si só, Nirvana e Nintendo já são um match inacreditável, visto que não só revolucionaram seus próprios segmentos, como influenciaram o comportamento de toda uma geração. De outro lado mais uma vez a representação perfeita da geração 2010, cuja vida real é frequentemente colocada à prova de maneira virtual, tendo como trilha sonora mais uma revolução musical. Não sei o que o dua Daft Punk poderia fazer para provar que não são robôs. Mas jogar video game online ouvindo uma mixtape de Nirvana e Daft Punk é um match divertidíssimo!

John Guitarra + Jam

Este sim, o match dos anos 90! De um lado a imagem distorcida, como deve ser, de um dos 5 melhores guitarristas da década de 90. John Frusciante é, indiscutivelmente, o som definitivo da guitarra dos Red Hot Chilli Peppers, e um dos mais talentosos músicos de sua geração. De outro lado, uma das imagens mais famosas de Eddie Vedder, o frontman da banda Pearl Jam. Um salto para a multidão após uma de suas famosas escaladas pelas estruturas dos palcos. Hoje, tanto Frusciante quanto Vedder já estão mais velhos, mas continuam fazendo música. E o ritmo incontrolável dos Chilli Peppers com as melodias inigualáveis do Pearl Jam formam um match irresistível. Procure ouvir a música Dirty Frank, onde as duas bandas tocam juntas, para conferir.

Come Together + Gimme Shelter

De acordo com o clichê, deveríamos dizer que aqui é o clássico caso de match de opostos que se atraem. Mas não tem match mais complementar e harmonioso do que Beatles e Rolling Stones! Ainda mais neste caso. Dois dos maiores hinos da história do rock n’ roll! Duas músicas lançadas em 1969. De um lado os Beatles apresentam uma alegoria psicodélica e um dos riffs de baixo mais famosos do mundo, conclamando a união. De outro lado um arranjo potente de guitarra e piano elétrico embalam as palavras contundentes de Jagger contra a guerra do Vietnã, implorando por abrigo. Duas músicas que se completam, uma pela união das pessoas e outra pelo fim de conflitos. Match irretocável.

Bateria + Baixo Vintage

Pra finalizar a onda musical, apresentamos um match mais contemporâneo, e tradicionalíssimo ao mesmo tempo. De um lado mãe de todos ritmos, a condutora irrepreensível e dona do tempo. Às vezes suave e discreta, às vezes infernal e exuberante. A bateria! Do outro lado, o pai das notas graves, o elo de ligação, aquele que segura a onda e mantém tudo sob controle quando todo mundo está pirando. O alquimista de ritmos e melodias. O baixo! Match mais que óbvio! Aquele casal que todo mundo sabe que sempre ficaria junto. Desde os primórdios do jazz baixo e bateria se completam, até atualmente, dando nome a uma das bases mais populares da música eletrônica, o drum n’ bass. Match batido, porém muito bem ritmado.

Friday + Sunday

O Match inevitável. De um lado aquele sextou insano, incontrolável! Ilustrado aqui de maneira primorosa com o frame de uma das cenas mais clássicas do cinema de Stanley Kubrick: Jack Nicholson arrebentando uma porta completamente transtornado no clássico O Iluminado. Do outro lado o desespero dominical, o sentimento amargo do dia que precede a infalível segunda feira. Tal desespero é ilustrado de forma brilhante através do frame da cena mais revisitada da história do cinema: a antológica cena da facada no chuveiro do indispensável filme Psicose, de Alfred Hitchcock. Não dá pra negar. Todo sextou tem dentro de si o angustiante desespero de domingo. E por isso mesmo, um nunca vai conseguir viver sem o outro. Match natural.

Cocada + Goiabada

Finalizamos nossa lista com um match doce e tropical. De um lado o ícone maior do verão, da praia, do clima tropicaliente: o côco. Porém, não in natura, mas transformado num doce riquíssimo, com uma textura única e um sabor equilibrado e delicado. De outro lado uma das frutas que melhor representa a América Latina. Originalmente encontrada entre o norte das matas da Colômbia até o sul do México, a goiaba caiu nas graças dos índios, que a plantaram por todo o território brasileiro, isso bem antes de europeu vir se meter a besta por essas bandas. Dela se faz um dos doces mais apreciados do Brasil, em especial no sudeste. Um doce cheio de personalidae, sabor forte, marcante e inigualável. Você pode pensar que o match ideal seria a goiabada com queijo. Mas nós estamos aqui para quebrar paradigmas e mostrar que no amor (e na gastronomia) tudo é possivel! Cocada com goiabada é um match surpreendente e delicioso!

Depois dessa lista, com tantos matchs diferentes, inusitados e certeiros, só nos resta te dizer uma coisa: De onde saíram estes, tem muitos outros mais! Na Strip Me você encontra uma diversidade inacreditável de estampas sobre arte, cinema música, cultura pop, comportamento e muito mais! Com certeza, match ali não vai faltar. Tanto para você presentear o seu match da vida, quanto para você usar e curtir a vida com estilo enquanto o seu match não chega. Visite a nossa loja e confira os nossos lançamentos.

Vai fundo!

Para ouvir: Uma playlist pra curtir o diados namorados, mas saindo um pouquinho das obviedades tipo Marvin Gaye e Barry White. Não que eles sejam ruim, são ótimos, mas é sempre legal dar uma variada e ouvir sons diferentes, né. Alt Love Top 10 Tracks

Para assistir: Essa dica é simples e direta. Ainda não fizeram um filme romântico tão divertido, emocionante, verdadeiro e descolado quanto o excelente 500 Days of Summer. Filme de 2009, dirigido por Marc Webb, protagonizado por Zooey Deschanel e Joseph-Gordon Levitt numa sintonia incrível, com um roteiro ótimo e uma trilha sonora maravilhosa. Um filmaço!

Seinfeld: O nada que deu certo.

Seinfeld: O nada que deu certo.

14 de maio de 1998, 9 horas da noite. As ruas e New York estão estranhamente menos habitadas do que o normal. Mesmo nas vias mais movimentadas como a Brodway e a 5th Avenue se via muito menos gente do que de costume. Em contra partida, alguns bares e pubs e estavam lotados, havia uma certa tensão no ar, e todos estavam de olho no relógio, esperando dar nove e meia da noite, e atentos à televisão que já estava ligada. Não se tratava da final do Super Bowl, o mais importante acontecimento esportivo dos Estados Unidos. Entretanto, o valor dos trinta segundos do comercial de TV a ser exibido no intervalo do programa que seria transmitido naquela noite passava um milhão de dólares, valor comercializado somente nos intervalos justamente do Super Bowl. Mas não se tratava de nenhum evento esportivo. O que todos esperavam naquela noite era ouvir aqueles slaps de baixo pela última vez e se despedir de Cosmo Kramer, Elaine Benes, George Costanza e Jerry Seinfeld. Às nove e meia da noite de 14 de maio de 1998 a rede de TV NBC transmitiu o último episódio a série Seinfeld, que estreara 9 anos antes, em julho de 1989. 

NY Empty Road – Photo by Julien R (Wikimedia)

O Stand Up Comedy é uma das mais sólidas e originais instituições norte americanas. É um gênero de humor que começou lá mesmo, nos Estados Unidos, e ninguém no mundo consegue fazê-lo melhor do que a elite de humoristas estadunidenses. Alguns estudiosos insistem em forçar uma barra dizendo que o Stand Up se originou na Idade Média, com os bobos da corte, por se tratar de um único homem fazendo graça para entreter pessoas. Pode até ser, mas ele se fazia valer de muitas outras técnicas, como a mímica, dança, imitações e cambalhotas, além de simplesmente contar piadas. Dá pra dizer com mais clareza que o Stand Up começou no fim do século XIX nos Estados Unidos, nas feiras de vaudeville, espécie de circo com diversas atrações artísticas. Entre os vários artistas, tinha o mestre de cerimônia, que precisava ser carismático e bom de improviso para entreter as pessoas entre um número e outro no palco. Alguns desses mestres de cerimônia passaram a ficar famosos por suas tiradas bem humoradas. Bob Hope foi um desses mestres de cerimônia. Foi o primeiro deles a ganhar espaço numa rádio, para apresentar seus textos de humor, em 1938. Inspirados por programas de rádio como o de Bob Hope, alguns artistas da comunidade judaica, que sempre soube rir de si mesma, do estado de New York começou a produzir textos e se apresentar fazendo monólogos em bares. Na década de 1950 surge Lenny Bruce para formatar de vez o Stand Up Comedy como o conhecemos hoje. Desde então é um gênero humorístico que faz parte do cotidiano e da cultura popular dos Estados Unidos. E foi nesse contexto que um tal Jerry Seinfeld começou a se destacar no início dos anos 1980. 

Jerry Seinfeld – 1990 – Photo by Castle Rock/West-Shapiro Corp.

Jerry Seinfeld é natural da cidade de New York e desde muito jovem se interessava por comédia. Não demorou até começar a escrever seus próprios textos e se apresentar nos comedy clubs da cidade. Em 1981 se apresentou no legendário programa de Johnny Carson, que raramente se manifestava positivamente quanto a novatos. Seinfeld foi um desses raros novatos que ganhou o sinal positivo de Carson, o que lhe rendeu notoriedade e muitos convites para aparecer na TV em outros programas do gênero, como o famoso Late Show com David Letterman. No mesmo ano ele chegou a fazer parte do elenco de uma sitcom chamada Benson. Mas ficou claro que Seinfeld não era um bom ator, e ele foi dispensado do papel em pouco tempo. Depois dessa experiência ruim, Jerry prometeu a si mesmo que não entraria mais nessa de fazer sitcoms. Promessa que seria quebrada em 1989 graças a uma oportunidade única dada pela NBC e um comediante neurastênico chamado Larry David.  

Larry David também é novaiorquino e conhecia Jerry Seinfeld do circuito de stand up da cidade. Larry também é comediante e nos 80 fez alguns bicos na TV. Chegou a trabalhar no inovador Saturday Night Live, mas não foi bem sucedido. Teve apenas uma esquete escrita por ele veiculada, e ainda assim, passou no fim do programa, depois da meia noite, e quase ninguém viu. Isso irritou muito David, que discutiu com a produção do programa e acabou sendo demitido. Porém, dias depois, ele voltou ao set do programa, como se nada tivesse acontecido. Ao ser questionado se não tinha sido demitido, ele disse que não, que tinha sido só um mal entendido. Claro que ele não continuou por lá. Mas essa história lhe renderia um dos episódios mais clássicos da série que ele viria a escrever com Jerry Seinfeld anos depois. Em 1989 a NBC viu potencial nos textos e no carisma de Seinfeld e lhe ofereceu a chance de criar uma série sua, como quisesse. Jerry gostava muito dos textos de Larry David e o convidou a escrever um piloto. Jerry sabia que não era bom ator, então decidiu que interpretaria ele mesmo. A ideia inicial era o programa ser uma espécie de mockumentário, uma câmera seguiria Jerry no seu dia a dia para ver como ele observava o cotidiano e criava suas piadas para seu show de stand up. No fim, o formato foi abandonado e decidiram retratar o dia a dia de Jerry convivendo com os seus amigos. 

Larry David & Jerry Seinfeld – Photo by hbo.com

Com o aval dos autores, passou a ser corriqueiro dizer que Seinfeld é uma série sobre nada. Mas isso não é verdade. Na real é justamente o contrário. É uma série sobre tudo! Mas antes de seguir em frente, precisamos dizer que Seinfeld foi uma série muito inovadora. Até 1989 todas as sitcoms seguiam um certo padrão. Giravam em torno de um núcleo familiar, tinham situações muito exageradas para render boas piadas e passavam longe de qualquer tema que pudesse gerar conflitos, como política, sexualidade, religião e etc. Faziam sucesso na época séries como Alf e Married… With Children (que acabou se tornando um clássico da TV, uma série realmente engraçada, protagonizada pelo inestimável personagem Al Bundy). Seinfeld veio com uma proposta totalmente diferente. Pra começar, não tinha família envolvida. Depois, Larry David disse que só escreveria a série se fosse seguido o lema: “Sem abraços, sem aprendizado”. Ou seja, não haveria finais edificantes onde os personagens erram, se redimem e aprendem alguma coisa no final. Os personagens foram criados para serem pessoas comuns, até mesmo com um caráter questionável em alguns momentos. E o mais importante de tudo: a série era simplesmente baseada nas observações e interpretações do cotidiano que Seinfeld e Larry David faziam sobre o dia a dia e escreviam para seus números de stand up. O texto do episódio piloto, por exemplo, nada mais é do que uma reflexão de homens solteiros, que moram sozinhos, sobre receber a visita de uma mulher em casa. E funciona demais! 

Além do mais, a série foi amadurecendo muito bem ao longo dos anos. Encontrando sua própria linguagem, se adaptando às mudanças culturais dos anos 90 e acabou influenciando praticamente todas as séries, sitcoms em especial, que vieram depois de 1991, quando Seinfeld realmente se tornou fenômeno de público e crítica.  O humor crítico e nonsense de Seinfeld é facilmente identificado como referência nos textos de séries como Mad About You, Friends e até mesmo no inusitado late night Space Ghost de Costa a Costa, sem falar na divertida série Lois & Clark, que além de contar com esse humor cotidiano do Seinfeld, vale ser mencionada, já que o Superman é o herói favorito de Jerry Seinfeld e é muito citado por ele. Referências à parte, Seinfeld trouxe novos ares para a televisão. Em especial aqui no Brasil Seinfeld foi essencial para criar a primeira geração de comediantes que iriam criar uma cena efervescente de stand up comedy no país, encabeçada por Marcelo Mansfield, Diogo Portugal, Rafinha Bastos e Márcio Ribeiro. 

Ainda que todas as informações citadas até agora neste texto já deem uma boa ideia de porquê o último episódio de Seinfeld causou tanta comoção, isso só pode ser realmente compreendido ao assistir a série. Normalmente quando vemos qualquer conteúdo, seja textos ou videos, falando sobre a série, é comum serem citados os inúmeros momentos memoráveis e os personagens marcantes. O livro sobre mesas de centro que vira uma mesa de centro, criado pelo Kramer, a loja de cupcakes da Elaine que só vende o topo do bolinho, George sendo demitido e voltando para trabalhar como se nada tivesse acontecido, tal qual o ocorrido com Larry David no SNL, Jerry indo para Florida comprar de volta o carro que ele deu para seu pai, o dono do restaurante paquistanês, o soup nazi, o Newman, o pai do George gritando “Serenity now!” (inclusive o pai do George é interpretado pelo pai do ator Ben Stiller)… e tantas outras situações. A secretária eletrônica do George com a música Believe it or Not, da série America’s Greatest Hero, Elaine namorando um cara desconfiada que ele é contra o aborto, Kramer usando manteiga como creme corporal, Jerry vestindo camisa de pirata na TV… é muita coisa! E tem o fato de, ao contrário do que acontecia nas sitcoms até então, eles não evitavam, e sabiam lidar muito bem, com assuntos polêmicos. O episódio mais marcante nesse aspecto é o que Jerry, George, Kramer e Elaine fazem uma aposta para ver quem consegue ficar sem se masturbar por mais tempo. É um roteiro genial de Larry David em que fica claro do que se trata a aposta sem que a palavra masturbação seja citada em momento algum do episódio. 

Seinfeld – Photo by sonypictures.com

Para completar, Jerry Seinfeld decidiu encerrar a série em 1998, na nona temporada, porque queria que o programa terminasse no auge. E realmente, no fim dos anos 90 era a sitcom mais assistida dos Estados Unidos, transmitida em canais de tv a cabo pro mundo todo. Jerry Seinfeld chegou a declarar que se espelhava nos Beatles, que estiveram juntos por 9 anos e se separaram no auge da banda. Claro que ele levou em conta os anos em que a banda lançou discos, entre 1961 e 1970, afinal eles já se apresentavam como The Beatles desde 1959. Enfim. Depois de 9 anos protagonizando a série de comédia mais influente e inovadora dos anos 90, Jerry Seinfeld voltou a investir no Stand Up com shows lotados e produziu uma web série muito interessante onde reúne suas três paixões: comédia, café e carros esportivos. Em Comedians In Cars Getting Coffee Jerry Seinfeld convida um comediante por episódio para tomar um café, sendo que ele vai até a casa do convidado com um carro escolhido especificamente para aquela pessoa, e dirige com o convidado até uma cafeteria. Em especial o episódio com o ator Michael Richards, que interpretava Kramer na série, é muito bacana! 

Comedians in Cars Getting Coffee – Photo by filmaffinity.com

Aqui na Strip Me a gente também adora dar boas risadas. Só por essa razão, já faria sentido a gente ter uma estampa fazendo referência à série Seinfeld. Mas, além disso, a gente também adora o fato de ser uma série inovadora, criativa, original e um verdadeiro ícone da década de 90. Então vem conferir todas as nossas estampas de séries e cinema, de música, cultura pop, arte e muito mais. E vale a pena ficar esperto sempre na seção de lançamentos na nossa loja

Vai fundo! 

Para ouvir: Ao invés de colocar aqui uma playlist, hoje vamos sugerir um episódio de podcast. O já tradicional e ótimo podcast Nerdcast, que trata sobre tudo que envolve cultura pop, fez um episódio bem completo e muito divertido de se ouvir sobre Seinfeld, sob o ponto de vista de fãs, incluindo um participante que mora nos Estados Unidos e estava lá na fatídica noite do último episódio da série. Vale a pena conferir! Nerdcast 212: Seninfeld – Tudo Sobre o Nada. 

Para assistir: Quem realmente gosta do humor de Seinfeld não pode perder a série que Larry Davi criou e protagoniza na HBO. Curb Your Enthusiasm é uma série brilhante. Nos mesmos moldes de Seinfeld, Larry interpreta ele mesmo, e a série mostra como é sua vida de típico novaiorquino neurótico, vivendo sem ter que muito o que fazer, já que ele vive confortavelmente com o dinheiro de royalties e direitos autorais da série Seinfeld até hoje. Vale a pena demais! É uma série ótima, com aquele humor que beira o constrangimento, na onda do The Office. 

16 Fatos Surreais sobre a vida de Salvador Dali.

16 Fatos Surreais sobre a vida de Salvador Dali.

Como diria Fausto Silva, mais do que nunca, tanto no pessoal quanto no profissional, ninguém neste mundo foi mais surreal que Salvador Dali. Não é à toa que numa troca de farpas entre ele e o poeta André Breton, Dali declarou: “A única diferença entre mim e os surrealistas é que eu SOU o surrealismo.”. Parece presunção ou prepotência. Mas, falando sério, não é exagero. Extrapolando sua obra, a vida pessoal de Salvador Dali foi uma loucura, repleta de fatos inusitados, quase inacreditáveis… uma vida surreal. Dali nasceu 118 anos atrás, no dia 11 de maio de 1904. Para celebrar o mês de seu nascimento, separamos 16 fatos e curiosidades, que retratam essa vida tão incomum e extraordinária que foi a de Salvador Dali. 

1 – O Bebê reencarnado. 

Salvador Dalí i Domènech nasceu no dia 12 de outubro de 1901. Por conta de uma doença grave chamada gastroenterite, o garoto morreu prematuramente aos 3 anos de idade, no dia 1 de agosto de 1903. Salvador Dalí i Cusí e Felipa Domenech Ferrés, os pais da criança, sofreram muito. Alguns meses depois, quando Felipa descobriu que estava grávida de novo, tanto ela quanto seu marido, Salvador, tiveram certeza que se tratava da reencarnação do pequeno Salvador que havia falecido. Tal era a certeza, que quando o bebê nasceu, um menino, foi batizado com o mesmo nome do pai e de seu falecido irmão. No dia 11 de maio de 1904, nasce Salvador Felip, Jacint Dali i Domènech. Os pais nunca esconderam de Dali que acreditavam na história da reencarnação. Isso fez com que ele próprio, desde sempre questionasse sua própria existência e personalidade. Não era surrealismo que você queria? Pois então… 

Portrait of my father – Salvador Dali (1920)

2 – Impressionismo precoce

Até os 6 anos de idade, Salvador Dali frequentou uma escola tradicional em Figueres, cidade em que nasceu, extremo nordeste da Espanha. Observando o desempenho de seu filho, o velho Salvador decide transferir o pequeno Salvador Dali para o Colégio Hispano-Francês da Imaculada Conceição, um colégio francês mais rigoroso, além de ser frequentado por filhos da alta classe social de Figueres. Foi nessa escola, logo que foi transferido aos 6 aos de idade, que Dali se encantou por pinturas impressionistas de Monet e Renoir, que despertaram nele o desejo de desenhar. E você? Com que idade conheceu e se encantou por um quadro do Monet ou do Renoir? 

Landscape Near Figueres – Salvador Dali (1911)

3 – Estreia adolescente. 

Escolhemos elencar 16 fatos curiosos sobre Dali por causa deste aqui. Como os pais dele perceberam a aptidão do filho pela arte, sempre o incentivaram. Aos 16 anos ele já tinha tantos desenhos acumulados que seus pais organizaram uma exibição. Desta forma, Salvador Dali apresentou sua primeira exposição com tenros 16 anos de idade, expondo dezenas de desenhos feitos essencialmente com grafite e carvão. A exposição rolou no Teatro Municipal de Figueres, teatro este que Dali comprou nos anos 60, fez uma reforma enorme e que depois viria a se tornar o Teatro-Museo Gala Salvador Dali. 

4 – Transformação em Madri. 

Logo após sua primeira exposição em Figueres, Dali, mais uma vez incentivado por seus pais, se mudou para Madri para ingressar na escola de Belas Artes São Fernando, a mais conceituada do país. O pai de Dali sonhava que lá o jovem aprimoraria sua arte e se tornaria um bom e bem remunerado professor de desenho. Como sabemos hoje, o velho Salvador Dali errou feio, errou rude. O jovem Dali sem ambientou rapidamente e logo passou a chamar atenção entre os estudantes. Usava roupas excêntricas como calças curtas, tinha o cabelo comprido e ostentava um bigode um pouco volumoso e espetado para cima, imitando um de seus heróis, o pintor Diego Velázquez. Tal bigode era um rascunho do que viria a se tornar o icônico bigode fino e eriçado de Dali anos depois. 

Illumined Pleasures – Salvador Dali (1929)

5 – Percalços da vida acadêmica. 

Salvador Dali foi expulso da escola de Belas-Artes São Fernando duas vezes. A primeira foi em 1924 quando ele se juntou a alguns estudantes anarquistas e organizou piquetes e manifestações políticas dentro do centro acadêmico. Logo foi readmitido, mas sempre causando polêmica, em especial por se interessar por movimentos novos como o cubismo e dadaísmo, que não eram bem vistos pela ala mais conservadora dos professores. Por conta de sua insistência na pintura moderna e desprezo pelo clássico, acabou sendo expulso de novo. E dessa vez não quis voltar. Chegou a dizer para a diretoria da escola que a banca de professores não tinha competência suficiente para sequer avaliar sua obra, menos ainda compreendê-la. 

Still Life – Salvador Dali (1924)

6 – O Grande Encontro.

Claro que Dali admirava muito Pablo Picasso. Em 1924, após sua primeira expulsão da escola de Belas-Artes, Dali resolveu fazer sua primeira visita a Paris, que era onde tudo acontecia na época. Reza a lenda que o encontro de Dali e Picasso num café de Paris se deu no primeiro dia de Dali na cidade, e que as primeiras palavras que eles trocaram foram as seguintes: Dali disse a Picasso: “Fiz questão de vir conhecê-lo antes mesmo de visitar o Louvre.”. E Picasso respondeu: “Fez muito bem. Não tem muito o que se ver por lá.”. E é lógico que eles se tornaram amigos. 

7 – 1929

Enquanto investidores perdiam tudo e se jogavam do alto dos prédios de Manhattan, nos Estados Unidos em 1929, Paris fervilhava com artistas e intelectuais fazendo história. Naquele ano, depois de sua segunda expulsão da Escola de Belas-Artes de Madri, Salvador Dali decide se mudar de vez para Paris. Para lá também se mudam seus amigos de longa data, o escritor Federico Garcia Lorca e o cineasta Luis Buñuel. Eles se juntam a outros artistas, entre eles o poeta André Breton, e criam o surrealismo como movimento artístico, cujo manifesto é escrito por Breton. No mesmo ano Buñuel e Dali escrevem o roteiro do filme que melhor personifica o surrealismo: o filme Um Cão Andaluz. Ainda neste ano Dali pinta uma de suas obras mais célebres, O Grande Masturbador. 

The Great Masturbator – Salvador Dali (1929)

8 – Amor à primeira vista. 

Ainda no emblemático ano de 1929 o grupo de artistas surrealistas incorpora o casal Paul e Gala Éluard. Ele poeta, ela modelo, eram casados desde 1917. Em certa ocasião, o casal foi até o apartamento de Salvador Dali, pois queriam conhecê-lo. Dali e o casal se deram bem logo de cara. Bem até demais. Gala e Dali se encantaram um pelo outro. Logo começaram a se relacionar, ela se separa de Éluard e se casa com Dali em 1934. O nome verdadeiro de Gala era Elena Ivanovna Diakonova, ela era imigrante russa, tendo morado na Suíça e na França, e era 10 anos mais velha que Dali. Ela se tornou a musa inspiradora de Dali e eles nunca se separaram, até a morte dela em 1987. 

Galatea of the Spheres – Salvador Dali (1952)

9 – O Bigode. 

Salvador Dali deixou como sua marca registrada o fino e espevitado bigode. No início de sua carreira, quando frequentava a escola de Belas-Artes de Madri, tinha um bigode mais espesso, mas já com as pontas espetadas paa cima, inspirado no pintor Diego Velázquez. Tempos depois, foi refinando a ideia, até chegar ao model original que ficou conhecido no mundo todo. Em uma entrevista ele disse: “É a parte mais séria da minha personalidade. É um bigode húngaro muito simples. O Sr. Marcel Proust usou o mesmo tipo de pomada para esse bigode”. Em 1954 ele publicou um livro em parceria com o fotógrafo Philippe Halsman, com 28 fotos de seu bigode. O livro se chama Dali’s Mustache. Pra completar, em 2017 o corpo de Dali foi exumado, para que fosse realizado um teste de paternidade. E quem é que estava lá, intacto? Exatamente. O bigode!

10 – Pet friendly. 

A década de 1930 foi a década de ouro para Salvador ali. Foi quando ele concebeu as grandes obras que o consagraram como um artista único, revolucionário e genial. São dessa época A Persistência da Memória (1931), O Sono (1937), Metamorfose de Narciso (1937) e tantos outros. Dali ganhou muito dinheiro e passou a levar uma vida cada vez mais excêntrica. Ele adorava animais e tinha vários pets no quintal de casa, a maioria animais silvestres de lugares distantes. Entre eles destacam-se dois brasileríssimos: uma jaguatirica e um tamanduá bandeira. Inclusive há fotos de Dali passeando pelas ruas da cidade com o seu querido tamanduá na coleira. 

11 – Comida para os olhos. 

Um dos elementos mais comuns em toda a obra do Salvador Dali é o alimento. Virou e mexeu você encontra em suas obras imagens de ovo frito, pão, cálice de vinho, talheres e etc. Até mesmo a imagem mais emblemática de Dali, o relógio derretendo tem a ver com comida. Certa noite de verão de 1931 Dali estava morrendo de dor de cabeça, mal humorado. Estava tudo combinado com a turma de amigos surrealistas para eles irem ao cinema e depois jantar. Ele decidiu não ir. Gala acompanhou a turma, deixando Dali sozinho em casa. Era uma noite quente e Dali foi tomar alguma coisa na cozinha e observou uma fatia de queijo camembert derretida, escorrendo pela beirada da mesa. Veio a inspiração e ele desenhou o esboço de A Persistência da Memória

The Persistence of Memory – Salvador Dali (1931)

12 – Surrealismo Masterchef

Acredite. Salvador Dali tinha uma ligação tão forte com a comida, sabe-se lá o motivo, que na década de 1970 ele chegou a lançar um livro de receitas! Sim, um livro de culinária mesmo! É lógico que era a gastronomia nada ortodoxa de Salvador Dali, e as receitas eram de pratos meio esculhambados, com misturas improváveis de ingredientes. Mas é verdade! O livro foi lançado em 1973 e se chama Les Diners de Gala. O livro conta com as receitas e várias fotos das montagens dos pratos. Pelo que se diz a respeito das receitas contidas no livro, como chef certamente Dali seria considerado a vergonha da profissión. 

13 – Sonhando com Freud. 

Na década de 1930 Dali ficou fascinado pelas teorias de Sigmund Freud, em especial no que diziam respeito ao estado de consciência onírica, aquele estado de quase sonambulismo, sonhando acordado. Esses conceitos influenciaram muito Dali. Em 1938 Dali conheceu Freud em Londres. O encontro dos dois foi longo, Dali desenhou alguns retratos de Freud, enquanto o psicanalista o observava maravilhado, tendo declarado depois: “Eu nunca vi um exemplo mais completo de espanhol!”. Entre 1940 e 1948 Dali e Gala foram morar nos Estados Unidos, já que Paris estava sendo ocupada pelos alemães. Em 1945 Salvador Dali participou da montagem de uma sequência de um sonho para o filme Quando Fala o Coração, do Alfred Hitchcock

Sleep – Salvador Dali (1937)

14 – Minha casa minha vida

O projeto de vida de Dali sem dúvida foi o Teatro-Museum Salvador Dali. Originalmente o Teatro Municipal de Figueres, em sua terra natal, o local onde ele teve sua primeira exposição. Dali comprou o lugar e começou a reforma em 1960. Reformou, pintou, encheu de obras e outras quinquilharias e só concluiu pra valer o projeto em 1974. Apesar de não ser sua casa, foi lá onde ele morou em seus últimos anos de vida, doente e deprimido, sem conseguir aceitar a morte de Gala. 

Allegory of an American Christmas – Salvador Dali (1934)

15 – Multimídia

Sério. Salvador Dali fez de tudo. Além de artista plástico, foi escritor, roteirista, designer de joias, estilista, mesmo sem formação, se meteu a dar mil pitacos como se fosse arquiteto, tanto no Castelo de Pubol quanto no Teatro-Museum Salvador Dali, escreveu uma autobiografia e um livro de culinária… um cara incansável! E nunca parou de trabalhar e nem de inovar, sempre em contato com o que tinha de novidade. Em 1966 chegou a fazer uma participação num filme de Andy Warhol, quando visitou a Factory e elogiou o som da recém criada banda Velvet Underground. Teve uma vida longa e muito produtiva. Realmente, um artista como nunca se viu. 

16 – Deixando uma marca

A curiosidade mais inusitada deixamos para o final. Entre tantos trampos diferentes que exerceu na vida, um deles foi dar algumas ideias numa agência de publicidade em Barcelona. Em 1969 chegou um job na agência: criar uma logo para uma marca de doces que estava crescendo muito. E salvador Dali foi lá e criou essa logo. Uma logo que com certeza você já viu muito, e provavelmente já consumiu o produto também! Sabe aqueles saquinhos de doce de leite, brigadeiro e etc, que tem sempre nos caixas de supermercado, de loja de conveniência e botequins em geral? Então, a marca desses doces é a Chupa Chups, uma marca que está presente desde os anos 60 até hoje em mais de 150 países mundo afora. E a logo super simples e simpática da marca é uma criação de ninguém menos que Salvador Dali! 

O Dali está presente em várias estampas da Strip Me. E não é pra menos! Basta conferir sua obra e, de quebra, conhecer sua história pessoal maluquíssima! Não tem como ele não ser uma inspiração e uma referência para uma marca ligadíssima em arte, tendências, comportamento, diversidade e criatividade como a Strip Me! Então aproveita pra conferir todas as nossas estampas de arte, música, cinema, cultura pop e muito mais, além dos constantes lançamentos! Dá uma olhada na nossa loja

Meditative Rose – Salvador Dali (1958)

Vai fundo!

Para ouvir: Tão eclética e plural quanto a vida e obra de Salvador Dali, a música espanhola também é super diversa e interessante. Portanto, vamos dar uma geral no que há de mais legal na música da Espanha, do tradicional ao moderno. España Top 10 tracks!

Para assistir: Em 2008 foi lançado um filme bem interessante, bem como polêmico, chamado Little Ashes. Ele conta como começou a amizade entre Salvador ali, Federico Garcia Lorca e Luis Buñuel. A polêmica está no fato de o filme abordar a história com ênfase numa suposta atração sexual entre Dali e Lorca, teoria que já foi muito comentada, mas nunca realmente comprovada. De qualquer forma, o filme é bem legal. Dirigido pelo Paul Morrison e com roteiro de Philippa Goslett. Ah, sim. Quem interpreta o Dali neste filme é o atual Batman, Robert Pattinson.

50 Anos de Amor ao Exílio!

50 Anos de Amor ao Exílio!

Em 1971 o tema do filme Shaft, música escrita por Isaac Hayes, extrapolou o cinema e ganhou vários clubes e casas noturnas de New York frequentadas por um público bem miscigenado, entre brancos, negros, latinos, héteros e gays. Na mesma onda de Shaft, começaram a pintar várias músicas com um ritmo frenético, com arranjos de cordas, sintetizadores e linhas de baixo e bateria bem marcantes. Nascia a disco music. A aura desses clubes noturnos espalhados pela cidade de New York, do Harlem, passando pela Upper West Side até o Village e Soho, talvez sejam o retrato mais fiel do que foi a década de 1970. 

Em especial o ano de 1972 foi muito marcante, principalmente para a cultura norte americana, que já dominava o mundo todo. Nixon acabara de ser reeleito presidente dos Estados Unidos e prometia dar um fim à guerra do Vietnã, chegando a se encontrar com o Mao Tsé Tung na China para negociar um acordo de paz. Além disso Nixon também tinha a intenção de emplacar uma mega operação de combate às drogas nos Estados Unidos. O curioso disso é que tal combate dizia respeito especificamente ao LSD, a maconha e a heroína. A cocaína que esbranquiçava cada vez mais as mesas, balcões e pias de banheiro dos night clubs era solenemente ignorada, vista no começa da década de 70 como uma droga inofensiva e que simbolizava status social. Mas tudo isso entrou pelo canudinho… quer dizer, pelo cano em junho de 1972, quando veio à tona o escândalo de Watergate, que faria com que Nixon renunciasse ao cargo em 1974. 

The Nellcôte Session by Dominique Tarlé (1971)

Os jovens do começo dos anos 70 viviam a ressaca do movimento hippie, a desilusão da vida adulta, ter que trabalhar pra ganhar a vida. O rock n’ roll também, de certa forma amadurecia, ficava um pouco mais amargo depois das mortes de Hendrix, Joplin e Jim Morrison. A psicodelia do Grateful Dead saía de cena, substituído pelo peso sombrio do Black Sabbath . Em contra partida, os discursos libertários dos hippies acabaram por dar voz às mulheres, que passaram a dar mais as caras, sair para trabalhar e sair para se divertir, enfim buscar igualdade. Da mesma forma a comunidade gay também se organizou e se sentia mais livre para se impor, principalmente depois da rebelião de Stonewall em 1969. Da mesma forma os negros e hispânicos também começavam a sair dos guetos, até porque começaram a ter algum poder aquisitivo, o que lhes permitia sair para beber e dançar. Isso tudo só reforça essa pluralidade que começou a rolar nas casas noturnas de New York dos anos 70. 

1972 foi um ano de estabelecimento dessa nova cultura. Uma cultura de excessos, de diversidade, de engajamento político. E principalmente a música conseguiu traduzir tudo isso com muita precisão. Tanto é que neste ano alguns dos discos mais importantes da música pop de todos os tempos foram lançados. Let’s Stay Together (Al Green), Harvest (Neil Young), Eat a Peach (The Allman Brothers), Pink Moon (Nick Drake), Thick as a Brick (Jethro Tull), Slade Alive! (Slade), The Kink Kronikle (The Kinks), Machine Head (Deep Purple), Rio Grande Mud (ZZ Top), Mardi Gras (Creedence Clearwater Revival), Obscured by Cluds (Pink Floyd), Lou Reed (Lou Reed), The Rise and Fall of Ziggy Stardust and the Spiders from Mars (David Bowie), Roxy Music (Roxy Music), #1 Record (Big Star), School’s Out (Alice Cooper), Trilogy (Emerson, Lake & Palmer), Super Fly (Curtis Mayfield), All the Young Dudes (Mott the Hoople), Vol. 4 (Black Sabbath), Transformer (Lou Reed), Trouble Man (Marvin Gaye)… e muito mais! 

The Nellcôte Session by Dominique Tarlé (1971)

Convenhamos. Uma coisa é você lançar um disco de rock muito bom numa época em que o rock está em baixa e não tem muita gente no rádio tocando alguma coisa parecida com o que faz. Tipo o que aconteceu com o Nirvana ao lançar o Nevermind. Outra coisa é você lançar um disco de rock muito bom numa época em que o estilo está em alta e os principais nomes não só estão na ativa, mas estão em seu auge! Pois foi nesse contexto de efervescência, instabilidade e novidade que foi lançado o disco que, para muita gente, é o melhor disco de rock n’ roll de todos os tempos: Exile on Main Street, o décimo terceiro disco dos Rolling Stones. 

A história e a mística que permeiam este disco já são mais que conhecidas. Todo mundo sabe que depois de Sticky Fingers, os Stones estavam devendo mais dinheiro em impostos do que ganhavam. Resolveram se mudar para a França, Keith Richards arranjou uma mansão do século XIX caindo aos pedaços com um porão espaçoso, onde a banda resolveu montar um estúdio para gravar um disco novo. Neste processo, Richards acabou abrigando uma legião de junkies e vagabundos, já que ele próprio estava entregue ao vício de heroína. Tudo isso todo mundo já sabe. No entanto, não dá pra deixar passar batida a celebração dos 50 anos do Exile on Main Street. E nossa maneira de exaltar esse disco brilhante é justamente mostrando o contexto em que ele foi lançado e qual foi a recepção que ele recebeu na época. 

The Nellcôte Session by Dominique Tarlé (1971)

Já temos o contexto do mundo do showbiz em 1972, quando o Exile… foi lançado. Agora vamos dar uma geral na situação dos Stones pouco antes de irem para a França em 1971. Eles tinham acabado de lançar o Sticky Fingers, disco que fez grande sucesso e causou polêmica por conta de sua capa. Mas a verdade é que, há anos os Stones pareciam não ter sequer um minuto de paz, claro que muito por conta de suas próprias atitudes. Em 1968 Richards e Jagger foram presos por porte de drogas, em 1969 Richards começou a sair com a namorada de Brian Jones, então guitarrista da banda. Baita climão. Jones é expulso da banda por se drogar demais e é substituído por Mick Taylor. Meses depois de sua saída da banda, Brian Jones é encontrado morto na piscina de sua casa. Morte esta envolta em mistério e que abala muito a banda. Pra piorar, no fim do ano rola o incidente em Altamont, que pirou ainda mais os ânimos dos Stones. Em 1971, quando o Sticky Fingers foi lançado, eles se deram conta que o disco vendia muito bem, mas eles não ganhavam dinheiro algum. Foi quando se ligaram que estavam falidos por conta de contratos mal intencionados de seu ex empresário Allen klein. E se mudaram para a França para não perder o resto de bens que ainda possuíam. 

Os Stones ficaram literalmente isolados no sul da França entre 1971 e 1972. Estavam todos estressados e decepcionados. Claro, soma-se a isso uma dieta irresponsável de álcool e drogas das mais variadas e em quantidades perigosas, para dizer o mínimo. Desligados das tendências que rolavam no centro de Londres e de New York, os Stones se voltaram para as raízes do blues, do country e do gospel num disco introspectivo, confessional e caótico. A produção aparentemente desleixada, com a voz de Jagger soterrada por camadas de guitarras e naipes de metal, traz a claustrofobia de um porão embolorado e úmido de um casarão no meio do nada, mas ao mesmo tempo traz a espontaneidade de jam sessions de blues, como as que aconteciam em bares só para negros no meio do delta do Mississippi no começo do século XX. 

The Nellcôte Session by Dominique Tarlé (1971)

Quando foi lançado, no dia 12 de maio de 1972, pouca gente realmente entendeu o disco. Grande parte da crítica citava Exile on Main Street como o trabalho mais fraco dos Rolling Stones, um disco desconexo e mal gravado. Entretanto, houveram poucos críticos que enxergaram no disco a intensidade, o calor e a originalidade que aquelas canções transmitiam. Antes do álbum ser lançado, em março de 1972, Tumbling Dice fora lançada como single e estourou nas paradas de sucesso dos Estados Unidos e da Inglaterra, catapultando a venda do disco 2 meses depois. Por parte do público, o disco foi muito bem aceito e celebrado como um dos melhores discos dos Stones. Curioso que bastou virar a década para que a visão da crítica mudasse a respeito do Exile… a partir dos anos 80 ele passou a figurar em tudo quanto é lista de discos mais importantes do rock de todos os tempos, sempre bem rankeado. Mais do que o reconhecimento da crítica, os ecos de Exile on Main Street podem ser ouvidos em boa parte da produção musical desde o fim dos anos 70 até hoje. Em especial no som de bandas como MC5 e The Stooges, posteriormente Dinossaur Jr e The Black Crowes. E esses são só alguns exemplos. 

De 1972 até agora, muita coisa mudou. A era disco, o punk, new wave, grunge, nu metal… na real muita coisa muito boa foi produzida ao longo desses 50 anos. Mas não é exagero nenhum dizer que a essência mais pura e cristalina do rock n’ roll foi melhor traduzida em somente um disco. É compreensível que os próprios integrantes dos Rolling Stones alimentem os mitos e lendas sobre Nellcôte e aqueles meses de loucura e gravação, afinal de contas, isso ajuda muito a continuar vendendo discos. Mas o que importa é que nos foi entregue o melhor disco de rock n’ roll de todos os tempos, e isso não é mito nenhum. E todas as histórias de chapação, intrigas e ímpetos momentâneos de genialidade podem até tornar tudo mais interessante, mas mesmo se elas não existissem, se fosse um disco gravado num estúdio convencional, mas que trouxesse as mesmas canções, a mesma sonoridades, as mesmas sensações, ainda assim Exile on Main Street seria um disco indispensável para a música pop. 

The Nellcôte Session by Dominique Tarlé (1971)

São obras tão fortes, cheias de personalidade e recheadas de histórias como este disco que inspiram e instigam a Strip Me a sempre produzir estampas surpreendentes e descoladas exaltando a arte, a música, o cinema, enfim, a cultura pop. Então dá uma olhada na nossa loja pra conferir nossos lançamentos e também algumas estampas referentes aos Rolling Stones! It’s only barulho diversão e arte, but I like it! 

The Nellcôte Session by Dominique Tarlé (1971)

Vai fundo! 

Para ouvir: Olha, com certeza deve ser um pecado muito grave selecionar só 10 músicas de um disco tão bom quanto o Exile on Main Street. Então, hoje não tem playlist com top 10. A playlist de hoje é todo o disco Exile on Main Street

Para assistir: Impossível não recomendar o ótimo documentário Stones in Exile, lançado em 2010 e dirigido pelo Stephen Kijak! Um mergulho delicioso dentro das sessões de gravação do Exile on Main Street! 

Para ler: Uma das melhores autobiografias do mundo do rock já escritas com certeza é a de Keith Richards. Um livro enorme, mas delicioso, onde Richards conta toda sua história com bom humor, honestidade e uma fluência incrível. Leitura recomendadíssima! O livro se chama Vida, escrito pelo próprio Richards, saiu aqui no Brasil em 2010 pela Editora Globo. 

California: Não é à toa que a cultura pop esteja neste estado.

California: Não é à toa que a cultura pop esteja neste estado.

Em várias culturas, ao longo da história da humanidade, é muito comum aparecer sempre a busca por uma terra prometida, um lugar sagrado onde aquele povo vai encontrar paz e prosperidade. Canaã para os judeus, Meca para os muçulmanos, Jerusalém para os cristãos, Tenochtitlán para os Astecas… na ficção também não faltam exemplos, desde a Terra do Nunca de J. M. Barrie até a paradisíaca Shangri La, de James Hilton. Mas a verdade é que existe um lugar que chega muito perto de ser esse lugar mágico, onde as pessoas são felizes e tudo prospera. Onde a riqueza desde sempre floresceu e até hoje as pessoas continuam indo pra lá para realizarem seus sonhos. Bem-vindo à California

Tudo acontece na California. É o estado mais rico dos Estados Unidos, também o mais populoso. Lá encontram-se os polos de tecnologia e entretenimento mais importantes do mundo. Sem falar nos portos marítimos imensos e super modernos e bases militares importantíssimas. Além do mais a California é um lugar plural, onde a diversidade impera. É a região dos Estados Unidos que concentra o maior número de povos nativos, além de uma comunidade imensa de hispânicos e asiáticos. Também foi lá que despontaram as primeiras lideranças gays, que deram voz a comunidade homossexual. Também é um estado que respira cultura. É onde está Hollywood, a locomotiva da indústria mundial do cinema, e cidades como Los Angeles e San Francisco, que encabeçaram o verão do amor, em 1967, e revelaram incontáveis bandas e músicos. Isso sem falar nos esportes, outra marca registrada da California, onde o surf se popularizou pra valer e o skate foi criado. É muita coisa, né? Como pode? O que faz com que tanta coisa aconteça por lá? 

É uma história antiga.  Em 1543 os espanhóis já dominavam toda a América Central e o México. Passaram então a desbravar a costa do Oceano Pacífico. Quando chegaram na península hoje chamada Baja California, estado do México onde se encontra a famosa cidade de Tijuana, os espanhóis acreditavam tratar-se de uma ilha. Foi batizada California por causa de um livro que fazia sucesso na época, um romance chamado Sergas de Esplandián, do escritor Rodriguez Montalvo. A história do livro se passa numa ilha fictícia chamada California, onde viviam belas e poderosas amazonas. Porém, pelo difícil acesso ao Oceano Pacífico, a região permaneceu ignorada pelos espanhóis por praticamente duzentos anos. A região era habitada por várias tribos indígenas como os Yourok, Maidu, Pomo, Chumash, Miwoke e Mojave. À medida que os espanhóis iam colonizando o México, avançavam para o interior e para o oeste. Foi só por volta de 1700 que chegaram na região da Baja California e começaram, assim como aconteceu no Brasil com os portugueses, a instalar missões comandadas por jesuítas, com o intuito de catequizar os índios e, claro, os colocarem para trabalhar. Os espanhóis também estabeleceram logo dois lugares estratégicos para construir fortes para proteger a região. Assim nasceram os fortes de San Francisco ao norte e San Diego mais ao sul, e que hoje são cidades muito importantes. 

Bom, essa história de colonização, dominação de povos nativos, não é novidade pra ninguém, aconteceu igual em todo lugar. Claramente uma imensa parte dos índios da região foi dizimada principalmente por doenças como a gripe e a varíola, e também pela violência dos europeus. Em 1821 o México se torna independente da Espanha e seu território era imenso, incluindo praticamente todo o sudoeste dos Estados Unidos, os atuais estados do Texas, New Mexico, Arizona, Colorado, Utah, Nevada e California. Porém era um território ainda pouco povoado. Boa parte da região é de deserto, muito ruim para a agricultura, permitindo apenas que alguns fazendeiros dedicados a pecuária prosperassem. Mas a terra e o clima se mostraram favoráveis para o plantio de um produto que se tornaria ícone do México: a pimenta. Acontece que além do clima inóspito e da resistência ferrenha dos índios, os mexicanos não controlavam a entrada de fazendeiros ingleses e norte americanos que migravam da costa leste em busca de melhores terras. Esses fazendeiros foram tomando posse por conta própria de terras, principalmente na região da bacia do rio Colorado. Foi quando começou a treta entre México e Estados Unidos reivindicando aquelas terras para si. O governo dos Estados Unidos até reconhecia aquelas terras como território mexicano, mas o povo… 

Em 1836 o estado do Texas faz um levante e se proclama uma república independente do México. Rolam alguns conflitos e o governo norte americano acaba federalizando o Texas em 1845, o incorporando como um estado seu. Os mexicanos não gostam e é declara guerra. O conflito dura pouco mais de dois anos e os Estados Unidos saem vencedores. Em 1948 é assinado o Tratado de Guadalupe Hidalgo, que cede aos Estados Unidos 30% do seu território, e o mapa dos Estados Unidos se estabelece como conhecemos hoje. Mas não pense você que foi de graça. Em troca de toda essa terra, os Estados Unidos pagaram ao México 15 milhões e dólares, assumiram a dívida que os mexicanos tinham com a Inglaterra de 5 milhões de dólares e também concederam a cidadania norte americana a todos os mexicanos que vivam naquele território e desejassem permanecer por lá. Isso explica a quantidade e influência dos hispânicos na California até hoje. Mas o pessoal da California não tinha um minuto de paz naquela época. A guerra mal acabou em 1848 e logo foram descobertas na região da atual San Francisco algumas jazidas de ouro. Em um ano a população de San Francisco pulou de mil habitantes para 25 mil! Em 1849 a corrida do ouro na California foi avassaladora. O estado foi rapidamente povoado por aventureiros, comerciantes e todo o tipo de gente, principalmente imigrantes asiáticos que cruzavam o Oceano Pacífico em busca de oportunidades. Além disso, foi criada a ferrovia transcontinental, que liga a costa leste a costa oeste dos Estados Unidos. E você sabe que dinheiro chama dinheiro, né? O ouro fez o comércio prosperar, que fez com que as cidades se desenvolvessem, vieram as universidades, como a UCLA e Stanford. E era tanto nerd junto inventando coisas que a região ficou conhecida como Vale do Silício, já que o silício é usado em larga escala na produção de hardwares. 

O Vale do Silício compreende mais a região norte, de San Francisco e Palo Alto. Já a região sul da California, mais ensolarada e cheia de belezas naturais, se tornou o refúgio de muitos artistas e gente cheia de dinheiro querendo curtir a vida. Assim se estabeleceu na região de Los Angeles a indústria do entretenimento, juntando o útil ao agradável. Mas isso não foi assim mero acaso. A busca pelo oeste selvagem e caloroso não deixou de inspirar os norte-americanos, mesmo depois do fim da corrida do ouro. Toda uma cultura foi criada em cima daquilo. Muitos livros de ficção passaram a ser ambientados naquela região. Seres folclóricos como Billy The Kid e Jesse James ganharam notoriedade, surgindo o gênero western tanto para a literatura, quanto para o cinema, que engatinhava no início do século XX. Com outra perspectiva, a Geração Beat, em especial Jack Kerouac, idealizou a busca do oeste como algo existencial. Na carona dos Beats, os Hippies se estabeleceram na costa Oeste, inicialmente em San Francisco e depois em Los Angeles, onde a se materializou o slogan “Sexo, drogas e rock n’ roll”. 

As vastas planícies desérticas facilitaram a instalação de grandes estúdios para a produção de filmes. A proximidade de tais planícies com estúdios instalados a praias paradisíacas fez com que artistas e produtores se estabelecessem, alguns de maneira faraônica, na beira dessas praias. Mas não era simplesmente se mudar para LA para se dar bem na vida. Muita gente quebrou a cara. E, não só Los Angeles, várias cidades da California passaram a crescer muito e desordenadamente. Cidades grandes e desiguais geram jovens sem grana e muito insatisfeitos. Esses jovens sempre acabam dando um jeito de se divertir. Se eles moram longe das praias, resolvem surfar sobre rodas. Surge o skate, que vira mais que um esporte, se torna uma cultura. Na cola da cultura do skate vem o hardcore, que acaba meio que reinventando o punk. E essa mistura toda acaba resultando num estado tão diverso e afeito a liberdade, que foi um dos primeiros do país a legalizar a maconha

A California é realmente um lugar inacreditável. Junta tudo! Belezas naturais e tecnologia, cultura pop e tradições indígenas, tacos mexicanos vendidos nas ruas de LA com vinhos requintados do Napa Valley, desertos escaldantes ao sul e montanhas nevadas ao norte. É uma terra encantada num amontoado irresistível de cultura pop. De tão irresistível, a California está super bem representada nas estampas da Strip Me, nas camisetas de cinema, música e cultura pop. Vem conferir na nossa loja, sempre tem lançamentos novos chegando! 

Vai fundo! 

Para ouvir: A California é uma terra tão amada que o que não falta é música sobre ela! Então aqui você tem uma playlist 100% California! California top 10 tracks

Para assistir: Vale muito a pena conferir o divertido Lords of Dogtown, filme baseado em fatos reais, que conta a história dos Z-Boys, turma dos anos 70 que revolucionou o skate. Um retrato bem legal da juventude e da cidade de Los Angeles naquela época. O filme é dirigido pela talentosa Catherine Hardwick, foi lançado em 2005 e tem uma trilha sonora muito boa Iggy Pop, Bowie, T-Rex e Ted Nugent. 

De Repente 30… anos depois: 10 coisas dos anos 90 que estão de volta.

De Repente 30… anos depois: 10 coisas dos anos 90 que estão de volta.

Moda. Uma daquelas palavrinhas que tem três significados bem distintos, mas nem tanto. Moda é como chamamos o mundo de roupas, calçados e acessórios como brincos e colares, chapéus e etc. Mas moda também é como nos referimos a um estilo, uma maneira específica de comportamento, visual e etc. Um desfile de moda, junta os dois significados da palavra, já que se trata de um desfile de roupas e também é uma maneira de mostrar o estilo da pessoa que criou aquelas peças que estão sendo apresentadas. Mas a moda tem outro significado interessante. Ela pode representar a atualidade. Dizer que tal coisa está fora de moda, significa que é uma coisa fora do tempo atual, ultrapassada, antiga. E são essas três leituras da palavra moda que tornam tudo mais interessante. Porque este texto vai te mostrar que a moda dos anos 90 está super na moda, inclusive extrapolando o mundo da moda. 

Calma, vamos, usando um termo super na moda, ressignificar essa última frase: o estilo dos anos 90 está super atual em 2022, inclusive extrapolando o mundo do vestuário. É verdade. Os anos 90 voltaram com tudo. Óbvio que isso fica mais evidente no circuito fashion. São as estampas xadrez, jaquetas jeans, calças jogger, macacão (ou jardineira), coturnos, gargantilhas e tantos outros itens. Mas a coisa vai muito além! Estamos falando de vitrolas no formato de maletas, para tocar discos de vinil, vendendo feito água, gente pirando ao jogar Super Mario, gente chorando pra ir no show da Sandy & Júnior, Mobilete voltando a ser fabricada e até mesmo o Palmeiras com um time forte ganhando vários campeonatos (menos aquele lá, né…). E nós estamos aqui para comprovar que os anos 90 estão com tudo em pleno 2022. Então apaga esse cigarro que você roubou do seu pai, coloca Smells Like Teen Spirit pra tocar, amarra essa bandana direito na cabeça e vem com a gente conferir as 10 coisas dos anos 90 que estão super na moda hoje em dia! 

10 – Brinco de Cruz 

Nos anos 90 eles eram sinal de rebeldia juvenil tanto para meninos e meninas. Figuravam nas orelhas de todo mundo, de George Michael a Mr. T, de Sarah Jessica Parker a Courtney Love. Hoje voltam à moda repaginados. Além de aparecerem nas versões clássicas, dourado e prateado, também vem com a opção de cores metalizadas super diferentes. Além disso, tem a vantagem de combinar com tudo e ser unissex. Se antes era sinal de rebeldia, hoje chega a dar um ar clássico ao look. 

9 – Pochete 

Eterna polêmica. Já nos anos 90 a pochete tinha muitos desafetos. Não é de se estranhar, convenhamos. Apesar de sua indiscutível praticidade, é uma parada difícil de gostar esteticamente. É um cinto com uma bolsa acoplada, um negócio esquisito. Acontece que essa é a impressão de só uma parte das pessoas. E a moda, aquela das vitrines fashion, conseguiu inserir a pochete em looks descolados e ela tá aí, firme e forte em pleno 2022, e não dá sinais de desaparecer tão cedo. É, parece que a pochete colocou seus detratores no bolso e fechou o zíper. 

8 – Chinelos slide 

Para quem se liga em comunicação e publicidade, esse chinelo é um verdadeiro ícone. É o tipo de produto que ficou mais conhecido pelo nome de uma marca, do que pelo próprio nome. Se você fala chinelo tipo slide, pouca gente sabe o que é, mas se disser chinelo tipo Rider, todo mundo sabe. A campanha publicitária “Rider dá férias para os seus pés” fez um sucesso inacreditável nos anos noventa, com comerciais de TV lindos embalados por músicas de Tim Maia, Paralamas do Sucesso e Lulu Santos. Depois que a Grendene, fabricante do Rider, encerrou sua parceria com a W/Brasil (atual WMcCann) o Rider ficou meio esquecido nos anos 2000. Mas agora volta como opção vintage e confortável para jovens que sequer eram nascidos quando o Brasil inteiro queria dar férias para os seus pés. 

7 – Nike Air Max 90 

Ainda falando de calçados, outro marco dos anos 90 foi o revolucionário Nike Air Max 90. Um tênis criado pensando no conforto e bom desempenho de atletas. Ele foi projetado com uma sola um pouco mais espessa, com uma câmara de ar no meio, que proporciona uma pisada mais firme, mas amortecendo o impacto. Acontece que além desse conforto tanta para quem faz caminhadas, quanto quem corre, o Nike Air Max 90 tem um design super bonito, combinando duas ou três cores. Nos anos 90 virou queridinho da moda streetwear. Mas no século XXI perdeu espaço para tênis mais espalhafatosos, com cores berrantes. Porém, você sabe que a Nike não é boba. Já de olho nessa onda nostálgica dos anos 90, que começou faz alguns anos, aproveitou que em 2020 o Nike Air Max 90 completava 30 anos de sua criação, e o relançou fazendo estardalhaço na imprensa. E todo mundo amou. Resultado: Tá aí o Nike Air Max 90 mais vivo do nunca. 

6 – Relógio Casio Digital 

A Casio é uma empresa de eletrônicos japonesa, dessas que servem de inspiração para todo empreendedor. Começou no Japão devastado no fim da década de 1940 e hoje se mantém como uma das mais fortes do segmento. Nos anos 90 a marca era conhecida aqui no Brasil por dois produtos: Um era o teclado, que vinha com um banco de centenas de timbres e emuladores de sons e dezenas de ritmos. O outro era o relógio digital. O relógio logo se tornou uma febre entre adolescentes, pois eram relógios baratos e o visor digital tornava muito mais fácil identificar a hora do que o visor de ponteiros. Talvez tenha sido a nostalgia que fez com que eles voltassem à moda de alguns anos pra cá. O fato é que a Casio não perdeu tempo e relançou vários modelos de seus clássicos relógios, incluindo uma linha feminina vintage com pulseiras douradas e rose gold muito bonitas, que venderam horrores! 

5 – Patinete 

O jovem recém formado, que vive numa grande cidade e usa um patinete motorizado para se locomover pra lá e pra cá, talvez nem imagine que tal veículo há muito tempo faz sucesso, mas até então entre crianças e adolescentes. Dizem que o patinete foi inventado no começo do século XX como um brinquedo mesmo, feito com pedaços de caixas de madeira e rodinhas de ferro, algo bem semelhante ao que vemos no primeiro filme De Volta Para o Futuro, em que Marty McFly arranca a parte de cima, transformando o brinquedo num skate e o usa para fugir do Biff e sua gangue. Uma cena deveras antológica. Nos anos 90 o patinete não só ainda fazia sucesso, como teve a sua versão motorizada, que ficou conhecida como walk machine. Mas era um brinquedo caro, e que não durou muito no mercado. E de uns tempos pra cá, a turma vem pensando mais sobre a emissão de gás carbônico e queima desenfreada de combustível a base de petróleo. Ainda bem. Assim, nas grandes cidades, começou a pintar o esquema de aluguel de bicicletas e também de patinetes elétricos, que facilitou demais a locomoção das pessoas, sem precisar usar carros, motos ou lotar trens e ônibus. Uma moda realmente útil e, por que não dizer, lúdica também. 

4 – Celular de Flip e outros pré-smartphones 

Um dos sinais de que você virou um adulto é quando começa a admitir que seus pais tem razão sobre uma porção de coisas que você não concordava antes. Se o seu pai e/ou a sua mãe são daquelas pessoas de meia idade que não se adaptaram aos smartphones e continuam com aquele Nokia velho e indestrutível, talvez seja a hora de você dar razão a eles nisso também. De 2016 pra cá, só nos Estados Unidos, foram adquiridos mais de 30 milhões de aparelhos antigos. Isso porque foi em 2016 que a famosa editora da revista Vogue, Anna Wintour, foi fotografada com um celular de flip antigo. Depois disso, a Adele apareceu no clipe de Hello com um celular do tipo Star Tac. Em seguida, celebridades começaram a aparecer com aparelhinhos desse naipe em todo o canto, como por exemplo Rihanna, Scarlet Johansson e até o nosso querido Iggy Pop. E é uma tendência que segue firme e forte. Quem abraça os celulares antigos justifica a escolha dizendo se sentirem mais livres, sem tanta distração de apps dos mais variados, sem falar na segurança de não ter um aparelho conectado à nuvem sujeito a invasões e hackers e etc. Olha, até que dá pra entender. Mas o duro é a gente se adaptar de novo com SMS, sem poder enviar stickers ou gifs com memes engraçados. 

3 – Nintendo Nes e outros consoles 

Inquestionável que os jogos recentes do Playstation e companhia são incríveis com gráficos ultra reais, roteiros complexos e cativantes e jogabilidade imersiva. Mas acontece que a turma na faixa dos trinta e poucos, quarenta anos, começou a sentir aquela saudade apertada de jogar um joguinho despretensioso, colorido e com uma musiquinha em midi embalando a brincadeira. Assim, jogos como Super Mario, Sonic, Pac Man, Final Fantasy e outros começaram a aparecer em formato de app para celular e computador. Sem perder tempo, a Nintendo já lançou o Nintendo Nes Classic Edition com vários jogos na memória. O console vendeu milhões logo de cara. E recentemente a molecada de 18, 20 anos, também tem aderido ao formato, talvez influenciados por pais, tios e irmãos mais velhos. O fato é que o filão de consoles e arcades de video games dos anos 80 e 90 vem passando de fase sem dificuldade, cada vez mais longe do game over. 

2 – Fitas K7 

Talvez a volta mais difícil de entender seja a da fita K7. Vá lá, ela tem seu charme esteticamente. Mas é uma mídia trabalhosa e que não tem no mercado tantos aparelhos toca fita assim. A fita sempre foi a segunda opção. Quando o vinil estava muito caro, ou se comprava a fita original, que era mais barata que o disco, ou então, comprava-se uma fita virgem, ainda mais barata, e pegava o disco almejado emprestado de algum amigo e gravava na fita. Sem falar na possibilidade de fazer suas próprias compilações, as mixtapes. Provavelmente, o que fez com que as fitas voltassem com tanta força tenha sido um misto de nostalgia e curiosidade. O jovem que se liga em música e não pegou o tempo das fitas hoje vê com interesse essa mídia e tenta reviver um pouco aqueles tempos de que seu pai, tio ou irmão mais velho tanto fala. Sem falar na chance de poder comprovar na prática a história que dá pra voltar a fita usando uma caneta Bic

1 – Vinil 

Aí sim. É o rei da nostalgia, né. Na real, o vinil nunca saiu muito da moda. Teve momentos de baixa, é verdade, mas sempre manteve aqueles fiéis seguidores, mesmo no fim dos anos 90, começo dos 2000. Época sombria em que o mercado da música digital engatinhava e o CD, que já tinha atingido seu ápice, começava uma descida vertiginosa e irrefreável rumo a obsolescência. Tempo em que a maioria das pessoas se desfazia de suas coleções de vinil nos sebos para adquirir CDs de suas bandas favoritas. Mas já em meados da década de 2000 o vinil começa a aparecer quase como um artigo de fetiche entre músicos e admiradores de música. A internet impulsionou a venda de discos raros até chegar ao ponto em que se tornou cool ter uma vitrolinha e uma coleçãozinha de discos de vinil. A verdade é que o vinil agrada todo mundo. Agrada o cara chato, metido a entendido de música e agrada o jovem descolado com a sua vitrola em formato de maleta que coloca o um disco do Tom Zé pra rolar e posta nos stories do Instagram com um filtro de imagem envelhecida. Seja no Spotify ou na vitrolinha, o importante é ouvir música boa. 

Sejamos francos. A década de 60 começou a porr@ toda, a década de 70 intensificou e deu brilho, a década de 80 exagerou, levando tudo a limites extremos. Coube à década de 90 chutar muitas bundas e recomeçar algumas coisas. Pode não ter sido a década mais inventiva, mas criou muita coisa boa. Além do mais é a década em que boa parte da equipe da Strip Me cresceu, e de onde tirou suas primeiras referências para criar um mundo de barulho, diversão e arte através de camisetas incríveis! São camisetas de música, cinema, arte, cultura pop, tudo indo muito além dos anos 90. Para sacar isso, basta conferir os lançamentos na nossa loja

Vai fundo! 

Para ouvir: Uma playlist caprichada com canções inesquecíveis dos anos 90! 90’s Unforgetable Hits top 10 tracks

Para assistir: Para um retrato divertido e levemente exagerado do que era a juventude os anos 90, basta assistir ao filme Singles – Vida de Solteiro, escrito e dirigido pelo Cameron Crowe. Filme todo ambientado em Seattle, contando com algumas das principais bandas do grunge. Não e um filme maravilhoso, mas é bem divertido e agradável de se ver. 

Para ler: O livro Viva la Vida Tosca, a autobiografia do João Gordo, co-escrita pelo André Barcinsky, é um livro delicioso de se ler, com vários causos interessantes sobre quase nenhum sexo, mas muitas drogas e rock n’ roll. E boa parte do livro é um baita retrato dos anos 90 no Brasil, com os causos do Gordo excursionando com os Ratos de Porão e trampando na MTV Brasil. O livro saiu pela editora Darkside com um tratamento gráfico excelente. Leitura mega recomendada. 

De Dudeísmo a Red Hot Chilli Peppers – 10 Curiosidades sobre The Big Lebowski 

De Dudeísmo a Red Hot Chilli Peppers –              10 Curiosidades sobre The Big Lebowski 

Pode ter certeza. Ninguém em Hollywood faz filmes como os Irmãos Coen. Mas calma. Isso não quer dizer que eles façam os filmes mais incríveis, que sejam melhores que gente como Martin Scorsese ou Quentin Tarantino. Não é isso. Ninguém em Hollywood faz filmes como os Irmãos Coen, porque eles conseguiram desde muito cedo desenvolver uma linguagem tão original, que não se parece com nada que foi feito antes deles. É a mesma coisa de querer comparar uma banda tipo Morphine com alguma outra. Não é uma banda genial, mas não tem nada muito parecido com o som que o trio fazia. 

A originalidade já começa pelo fato de que os dois irmãos, Ethan e Joel Coen, se revezam nos créditos de seus filmes. Em um filme um aparece como diretor e o outro como roteirista, no próximo eles trocam, e assim vai. Ou seja, a gente nunca sabe quem faz o quê. O mais certo é que eles trabalham realmente em dupla tanto escrevendo como dirigindo. Nessa pegada, eles construíram uma filmografia vigorosa, com filmes marcados por um humor peculiar, uma fotografia sempre muito bem executada, seguindo mais os padrões do cinema europeu, e personagens inusitados extremamente bem construídos. Um dos primeiros filmes da dupla, Arizona Nunca Mais, de 1987, é prova disso. O protagonista interpretado brilhantemente pelo Nicolas Cage é encantador e canastrão ao mesmo tempo! Mas é claro que, em se tratando de personagem marcante, não dá pra não pensar no the one and only The Dude! 

The Big Lebowski é o oitavo filme da carreira dos irmãos Coen. Diferente de Arizona Nunca Mais e Fargo, a princípio The Big Lebowski não fez tanto sucesso de público e nem de crítica. Teve uma recepção morna. Talvez porque o ano em que ele foi lançado, 1998, estivesse já recheado de grandes filmes, muitos deles mais densos e sérios. Pra você ter ideia, são de 1998 O Homem da Máscara de Ferro, O Resgate do Soldado Ryan, O Show de Truman, Medo e Delírio em Las Vegas, Patch Adams, Além da Linha Vermelha, A Outra História Americana e muitos outros. Mas O Grande Lebowski é o tipo de filme que envelheceu bem, foi sendo redescoberto com o passar dos anos. Sem falar que, mesmo não tendo a profundidade e a produção nababesca dos filmes aqui citados, O Grande Lebowski é sim um ótimo filme e não deixa nada a desejar aos lançamentos daquele ano. 

Basicamente, Jeff Lebowski é um cidadão bem característico da costa oeste norte americana do início dos anos 90. Um cara pacato, sem posses, de poucos, mas bons amigos, que aprecia uma vida tranquila, fumar maconha e jogar boliche. Ah, sim, ele também prefere ser chamado de The Dude. Acontece que essa vida tranquila do Dude vai ser interrompida por uma dívida milionária, um tapete cheio de xixi, um outro Jeff Lebowski, um sequestro destrambelhado e uma banda de eletro rock decadente. Simplesmente, são elementos que formam uma receita imbatível para um filme maravilhoso. Então selecionamos 10 curiosidades sobre este filme tão querido, que com certeza vão fazer com que, quem ainda não viu queira muito ver, e quem já viu, queira muito rever. 

1 – Inspiração num livro

O enredo do filme foi inspirado no clássico livro O Sono Eterno, uma das obras primas da literatura noir, escrito por Raymond Chandler. O livro narra a história de um detetive particular que é procurado por um velho milionário para investigar o sequestro de sua jovem esposa. Os Irmãos Coen já declaram que o livro foi uma inspiração para a trama, mas não para a construção dos personagens. 

2 – Atores e personagens

Apenas quatro personagens do filme foram escritos especificamente para serem interpretados por determinados atores. São eles: Jeff “The Dude” Lebowski, o cowboy que narra o início da história, Walter Sobchak e Donny. Os Irmãos Coen já revelaram que o filme não teria saído se Jeff Bridges não topasse interpretar The Dude. O personagem foi todo escrito pensando no jeito de falar e na aparência de Bridges. A voz grave, o sotaque sulista e o bigode volumoso de Sam Elliot também já estavam nos planos dos Coen quando criaram o cowboy. John Goodman e Steve Buscemi também serviram como parâmetro para os personagens Walter e Donny, respectivamente. 

3 – Walter Sobchak e John Milius 

Os Irmãos Coen eram muito amigos do diretor e roteirista John Milius, um cara bem excêntrico. Quando começaram a desenvolver o personagem Walter Sobchak, um cara durão, veterano do Vientã, que curte armas de fogo, logo se lembraram de Milius. Colecionador de armas, esquentado, pragmático, briguento, de colete cheio de bolsos e óculos escuros estilo aviador, Milius parecia estar sempre pronto para sair para uma caçada. E John Goodman caiu como uma luva, pois tem o porte físico de Milius, além de ser um baita ator. Ah, só pra lembrar. John Milius escreveu o roteiro de Apocalipse Now, além de ter escrito e dirigido Conan, O Bárbaro e Amanhecer Violento. 

4 – A segunda opção para Bunny Lebowski 

Bunny Lebowski é a jovem esposa do velho e rico Jeff Lebowski, que é sequestrada. A personagem é a típica garota deslumbrada e sem escrúpulos de Hollywood. Uma jovem bonita, mas de comportamento vulgar e com um talento ímpar para gastar mais dinheiro do que consegue ganhar. Os Irmãos Coen queriam que a personagem fosse interpretada pela Charlize Theron. Mas ela estava envolvida com a produção do excelente Advogado do Diabo e não aceitou. O papel acabou ficando com a Tara Reid, estreante no cinema e sem muita expressão. Caso o papel ficasse com Charlize Theron, certamente a personagem ganharia mais destaque no filme. 

5 – Figurino caseiro 

Não só o personagem The Dude foi escrito para o Jeff Bridges, como o próprio ator se sentiu totalmente à vontade para interpretá-lo. À vontade até demais. A ponto de praticamente todas as roupas que o ator aparece usando no filme são dele mesmo, e não figurinos escolhidos pela produção. Algumas cenas, inclusive, Bridges foi com a roupa que estava em casa para o estúdio, só fez a maquiagem e entrou em cena. Mais à vontade que isso, impossível! 

6 – Autobahn Chilli Peppers 

Um trio de delinquentes estão envolvidos no suposto sequestro de Bunny Lebowski. São caras que tinham uma banda de eletro rock chamada Autobahn. Uma referência descarada ao Kraftwerk. O curioso é que um dos integrantes desse trio de maloqueiros é ninguém menos que o Flea, baixista do Red Hot Chilli Peppers. Flea é amigo de Jeff Bridges, e na época era figurinha carimbada nas festas mais descoladas de Hollywood. Os Irmãos Coen foram com a cara dele, que acabou ganhando o papel. Ele aparece pouco e quase não tem falas, mas tá lá, pra reforçar a aura noventista do filme. 

7 – Trilha sonora 

Um dos pontos altos do filme é a sua trilha sonora. A escolha das músicas foi impecável e inusitada. Num filme com uma estética e linguagem tão diretamente ligadas aos anos 90, a trilha sonora impressiona por ser plural, mas com ênfase no country, e southern rock dos anos 70, no jazz e nos experimentalismos da world music. E são músicas ótimas! A começar pela emblemática The Man in Me, do Bob Dylan que abre o filme. Mas também tem Elvis Costello, Nina Simone, Kenny Rogers, Captain Beefheart e a ótima versão de Hotel California dos Gipsy Kings. 

8 – The Dude’s drink 

Todo bom personagem que se prese tem um drink como marca registrada. Desde o simples whisky de Don Draper, em Mad Men, até o específico Vodca Martini batido, e não mexido, de James Bond. É claro que o The Dude não ia ficar de fora dessa. No filme fica evidente sua paixão por um drink que ele chama ocasionalmente de “caucasian”, mas que oficialmente se chama White Russian. É uma bebida que leva vodca, licor de café, creme de leite e gelo. Não se sabe direito qual a origem do White Russian, mas se sabe que ele já era popular no final dos anos 60 na costa oeste dos Estados Unidos e se espalhou por todo o país nos anos 70, sempre presente nas discotecas e casas noturnas. Nos anos 80 ficou fora de moda e desapareceu da maioria dos cardápios, até os Irmãos Coen desenterrarem esse drink sabe-se lá porquê. 

9 – De recepção morna a filme cult 

 O Grande Lebowski teve um orçamento estimado em 15 milhões de dólares. Nos Estados Unidos ele arrecadou nos cinemas 18 milhões. No mundo todo aproximadamente 46 milhões de dólares. Não são números ruins, certo? Mais ou menos. Hollywood está acostumada com lucros bem maiores. O Resgate do Soldado Ryan, por exemplo, no mesmo ano, teve um orçamento de 70 milhões e arrecadou nos cinemas mais de 480 milhões de dólares. Mas o fato é que O Grande Lebowski foi se tornando aquele filme antigamente chamado tesouro de locadora. A leveza, a simplicidade, o humor, a pitada de psicodelia, a trilha sonora e as ótimas atuações fizeram com que o boca a boca tornasse O Grande Lebowski num dos filmes mais procurados das video locadoras. Sem falar que virou referência pop com falas como “The Dude abides.” e gerando memes até hoje. 

10 – Dudeísmo 

O céu é o limite para O Grande Lebowski. Não é à toa que, quando determinada obra ganha o adjetivo “cult”, ela passa a ser cultuada, considerada genial e apreciada por gente descolada, alternativa, intelectual. Acontece que o lado cult d’O Grande Lebowski foi longe demais. Em 2005 o jornalista Oliver Benjamin fundou The Church of the Latter-Day Dude, a Igreja do Dude do Último Dia, criando assim o Dudeísmo. E se você acha que é piada, achou errado. O Dudeísmo é uma comunidade essencialmente virtual de mais de 600 mil pessoas, tem sua própria filosofia, que mistura taoísmo, zen-budismo e filosofia humanista, com livros publicados, igrejas e tudo o mais. No site oficial, você é recebido com a mensagem: “Dudeísmo é uma filosofia que prega a não-pregação, pratica o mínimo possível e, acima de tudo, uh… perdi minha linha de raciocínio. De qualquer forma, se você quiser encontrar paz na terra e boa vontade, cara, nós o ajudaremos a começar.” Se você quiser experimentar, é só acessar dudeism.com 

Pra concluir, O Grande Lebowski é um fenômeno! Um filme excelente, com uma porção de referências pop, boa música, humor, viagem, aquela crítica gostosa ao conservadorismo… enfim, tudo que a gente gosta! Então é claro que O Grande Lebowski está na lista de referências e preferências a Strip Me! Tanto é que já ganhou uma estampa linda! E tem muitas outras estampas incríveis de cinema, música, arte, cultura pop e muito mais. Dá uma conferida na nossa loja e aproveita pra se atualizar na seção de lançamentos

Vai fundo: 

Para ouvir: Claro, uma playlist delícia com as 10 mais da trilha sonora do filme! The Big Lebowski Top 10 tracks

Para ler: O Raymond Chandler é dos grandes mestres da literatura noir! E o livro que inspirou O Grande Lebowski, O Sono Eterno, é realmente muito bom e saiu aqui no Brasil pela editora LP&M. É leitura altamente recomendável. 

Lennon & McCartney que nada! É Lennon & Bowie!

Lennon & McCartney que nada! É Lennon & Bowie!

Londres. Janeiro de 1966. 
Já era tarde da noite quando um jovem músico de 19 anos, conhecido como Davy Jones, entra num pub nos arredores de Westminster com dois amigos. O pub não estava muito cheio. Os rapazes se encostam no balcão e logo cada um está com um pint cheio na mão. Ao lado deles, estava um senhor de meia idade, que parecia estar sentado ali a horas, visivelmente bêbado e falando alto. Em dado momento, alguém pede para o tal senhor falar mais baixo. Indignado, ele responde: “Não me enche o saco! Você sabe quem eu sou? Sabe com quem você está falando? Eu sou Alfred Lennon! Meu filho ganhou uma medalha da rainha, é um dos homens mais importantes deste país!”. Davy Jones não acreditou no que ouviu e foi conversar com o suposto Alfred Lennon. Depois de fazer algumas perguntas, Davy se deu conta que estava realmente falando com o pai de um de seus grandes heróis da música. “Senhor Lennon, eu espero um dia poder conhecer pessoalmente o seu filho.” e Alfred balbucia quase caindo da cadeira “Claro, claro. Quem sabe um dia, garoto…”. 

Em 1967 o tal Davy Jones decide mudar seu nome artístico para David Bowie. Depois de dois discos sem grande repercussão na década de 60, Bowie entra nos anos 70 com tudo. Em 1970 The Man Who Sold the World já chama a atenção na Inglaterra. Em 1972 The Rise and Fall of Ziggy Stardust and The Spiders From Mars transforma Bowie num fenômeno mundial. Na sequência, Alladin Sane, Pin Ups e Diamond Dogs o consagram como grande astro do rock. Porém, curiosamente, até então sem ter alcançado o número 1 da Billboard nos Estados Unidos, mesmo sendo cultuado no país. Mas o ano de 1974 chegava recheado de surpresas para Bowie. 

Em 1974 John Lennon estava morando provisoriamente em Los Angeles, separado de Yoko Ono, vivendo com May Pang o período que entrou para a história como “o fim de semana perdido”, quatorze meses de muita loucura, festas e drogas na companhia de gente como Keith Moon, Elton John, entre outros. Foi em fevereiro de 1974 que John Lennon foi convidado para uma grande festa na casa da atriz Elizabeth Taylor. Lá foi então Lennon e sua turminha do barulho. Coincidente, quem estava na festa também era David Bowie. Porém, nem mesmo as quantidades nada recomendáveis de cocaína que Bowie consumia conseguiram deixa-lo à vontade na frente de seu grande herói. Liz Taylor apresentou Bowie a Lennon. Mesmo John sendo muito simpático na ocasião, Bowie se limitou a cumprimentar John formalmente, disse que tinha todos os discos dos Beatles e da carreira solo dele e finalizou com um “com licença, preciso ir agora.”. Não se sabe se ele foi embora da festa, ou se evitou a noite toda estar no mesmo ambiente em que Lennon estivesse. Um encontro constrangedor. Mas não seria o único. 

Em junho de 1974 Bowie já estava com a pré-produção de seu novo disco praticamente finalizada. E ele queria incluir no tracklist do álbum a música Across the Universe, composição de Lennon que consta no disco Let it Be, dos Beatles. Bowie queria pedir pessoalmente a autorização de Lennon para gravar a faixa e aproveitar para apagar a má impressão causada no primeiro encontro. Para isso, Bowie convocou Tony Visconti, que estava produzindo o disco e conhecia John, para intermediar o encontro. Bowie estava numa suíte do requintado hotel Sherry Netherland, em New York. John chegou no quarto de hotel de Bowie, que mais uma vez estava apavorado com a presença do beatle. Bowie se limitou a ficar sentado no chão, encostado numa parede com um bloco de papel, onde fazia alguns desenhos, enquanto Lennon conversava com Visconti. Depois de muito tempo, quase duas horas, sem que Bowie se manifestasse, John pediu a ele algumas folhas daquele bloco e um lápis, dizendo “Vou desenhar você.”. Bowie sorriu, e os dois começaram a fazer caricaturas um do outro e rir e começaram a conversar. Finalmente. E realmente se tornaram amigos. 

Depois de “matar” Ziggy Stardust, Bowie estava na pilha de se reinventar. Começou a levar sua música por um caminho mais dançante, flertando com funk, R&B e disco. Para seu novo disco, além de contar com a produção de Tony Visconti, Bowie se uniu ao esplêndido guitarrista Carlos Alomar para conceber o ótimo Young Americans. Em janeiro de 1975 John Lennon foi até o estúdio onde Bowie estava gravando para fazer uma participação em Across the Universe, onde tocou guitarra. Após a gravação, Bowie e Lennon desataram a conversar sobre suas experiências ruins com a fama, como eles lidavam com aqueles problemas de superexposição e etc. Depois de muito papo, numa jam session Bowie e Lennon começaram a improvisar em cima de um riff que Alomar cuspiu de sua guitarra. Com a conversa fresca na cabeça, a letra não poderia ser sobre outra coisa. E assim surgiu a música Fame. 

Young Americans foi lançado em março de 1975 e fez um sucesso enorme! E a amizade entre Bowie e Lennon só crescia. Mesmo sendo reverenciado no mundo todo àquela altura, Bowie não se sentia tão querido pelo povo norte americano. Um dos muitos encontros entre Bowie e Lennon naquele ano aconteceu nos bastidores de um show do Elton John no Madison Square Garden. Ao saber que Bowie estava lá, o público começou a gritar seu nome. E John deu um abraço em Bowie dizendo “Eu não te disse, David? A América te ama, cara!”. Nessa época, John funcionou meio que como um conselheiro para Bowie. Inclusive no que diz respeito a confiança em empresários, finanças e etc. Tanto é que no final de 1975 Bowie demitiu Tony Defries, seu empresário há muito tempo, desconfiando que ele vinha lhe roubando. O que aparentemente era verdade. 

Em 1977 Bowie estava grudado em Iggy Pop. Os dois moravam em Berlim na época. Voltando de uma série de shows no Japão, eles fizeram uma escala em Hong Kong, na China, antes de seguir para a Alemanha. Mas acabaram não pegando o próximo voo logo de cara, porque souberam que John Lennon estava na cidade, de passagem também, a caminho de Tokyo, onde se encontraria com Yoko Ono. Rapidamente tudo se arranjou e eles se encontraram. John estava com seu filho Sean ainda com alguns meses de idade, e o apresentou a Bowie e Iggy Pop. Naquele dia, aconteceu uma passagem que Bowie nunca mais esqueceria e contaria inúmeras vezes. Ele e John saíram para dar uma caminhada pelas ruas de Hong Kong. Eis que um garoto que não devia ter mais que 15 anos de idade os interrompe e pergunta: “Ei, você não é o John Lennon, dos Beatles?”. John, espirituoso responde: “Não. Mas bem que gostaria ter o dinheiro dele.”. Bowie amou a resposta e passou a usá-la frequentemente quando perguntado se ele era o David Bowie. Meses depois, Bowie estava em New York, andando pelo Soho, quando alguém lhe cutuca as costas dizendo: “Ei, você não é o David Bowie?” Sem sequer olhar para trás, ele responde: “Não. Mas gostaria de ter o dinheiro dele.”. A mesma pessoa o segura pelo braço e diz: “Seu bastardo mentiroso! Você queria era ter o meu dinheiro!”. Era John Lennon. 

Foi May Pang, a empresária, ex- amante de Lennon e amiga de Bowie quem se encarregou de dar a David a mais triste das notícias naquele fatídico dia 8 e dezembro e 1980. Bowie estava participando de uma peça na Broadway chamada O Homem Elefante. Por isso tinha alugado um apartamento em New York. Pang foi pessoalmente até lá para dar a notícia da morte de John Lennon a David Bowie. Bowie ficou transtornado. Gritava e chorava. Meses depois, Bowie disse numa entrevista sobre a morte de John: “Um pedaço inteiro da minha vida parecia ter sido tirado, toda a razão de ser cantor e compositor parecia ter sido removida de mim.”. 

Assim terminava uma amizade das mais lendárias o rock n’roll, e uma história que começou como um sonho distante no balcão de um pub qualquer em Londres. Terminava também uma curta, porém muito eficiente parceria musical. A composição de Lennon & Bowie, Fame, foi o primeiro single de David Bowie a atingir o número 1 da Billboard nos Estados Unidos. Dali em diante, Bowie nunca mais se sentiria menosprezado pelos norte-americanos, e teria várias músicas chegando ao topo por lá até o fim de sua carreira. No final de 2013 David Bowie foi diagnosticado com um câncer no fígado. Ele combateu doença por dois longos anos. No dia 10 de janeiro de 2016 Bowie não resistiu e faleceu. 

A música é um dos combustíveis que faz com que a Strip Me esteja sempre criando novas estampas, se renovando, sempre em busca do barulho, diversão e arte! E histórias como essa, contada aqui, são uma inspiração extra, que mostram como a vida é cheia de surpresas, encontros, desencontros, coincidências e ironias! A influência disso tudo e muito mais, você pode conferir nas estampas super descoladas das camisetas de música, arte, cinema, cultura pop e muito mais. Vem conferir nossos lançamentos e dá uma geral na nossa loja

Vai fundo! 

Para ouvir: Uma playlist imbatível com a dobradinha Lennon & Bowie. Só o puro creme do milho verde da carreira solo do John Lennon e também do David Bowie. Lennon & Bowie Top 10 tracks

Para assistir: O John Lennon sempre pareceu ser muito simpático e camarada com o Bowie, né? Mas não pense você que ele foi sempre assim. Na época dos Beatles o John era bem arrogante e costumava destratar muita gente. O divertidíssimo filme Meu Jantar Com Jimi, retrata bem isso. O filme é de 2003, dirigido pelo Bill Fishman e escrito pelo Howard Kaylan, que era vocalista da banda The Turtles na década de 60 e numa turnê pela Inglaterra conheceu os Beatles e acabou numa noitada com Jimi Hendrix. É baseado em fatos reais e um filme imperdível! 

Para ler: Apesar de o foco hoje ter sido mais o David Bowie, vale recomendar a impecável biografia de John Lennon escrita pelo Philip Norman, onde toda essa fase do John nos Estados Unidos é contada em detalhes.. O livro John Lennon: A Vida foi lançado em 2009 pela editora Companhia das Letras. Leitura essencial. 

Hip Hop: Origem, (r)evolução e treta!

Hip Hop: Origem, (r)evolução e treta!

Uma roda se forma em torno de dois homens. Todos à volta dos dois não querem perder nenhum detalhe. Aparentemente, aquele é um duelo aguardado por todos. Os dois homens se olham friamente no centro do círculo, que é formado por uma pequena multidão de olhares curiosos. Não ficou claro quem desafiou quem, mas sabe-se que houve muita bebedeira e gritaria. Depois de alguns insultos de ambos os lados, em tom de pilhéria, vale ressaltar, a turma de amigos que acompanhavam os dois, ao invés de conter os ânimos com o protocolar “deixa disso”, bradaram incentivando o confronto! Em questão de segundos, os dois já estavam rodeados de pessoas que se acotovelavam e ficavam em silêncio esperando o início do duelo. Um deles era mais forte e alto. Tinha uma barba ruiva, suja e cheia de nós, e a cabeça raspada. Já o outro era bem cabeludo, um cabelo ensebado e comprido, já meio grisalho. Também com uma barba longa e suja, este era mais gordo. Ambos tinham uma imagem intimidadora e vestiam roupas velhas e esfarrapadas. O gordo desferiu o primeiro golpe, com sua voz grave e rouca fez uma rima dizendo que seu oponente lhe fazia ter engulhos até com um vinho saboroso, pois era tão feio quanto um pútrido leproso. E se iniciou uma batalha de rimas que durou quase meia hora, um insultando o outro, sempre rimando, até que um dos dois se cansou, não conseguiu responder à altura e teve que pagar bebidas para seu oponente no resto da noite. 

Uma cena como essa acontecia praticamente todos os dias nas tavernas da Bretanha e da França entre os séculos XVII e XVIII. Era uma tradição celta muito popular. Na real, esses duelos de rimas é o tipo de coisa que era comum a vários povos em diferentes lugares do mundo, um lance muito antigo mesmo. Mas os registros mais claros disso são à partir dessa época, entre os celtas, e rapidamente se espalhando pela Europa e, consequentemente, na América. Aqui no Brasil acabou originando o repente no Nordeste e a trova na região sul entre o fim do século XIX e começo do século XX. Também gerou um tipo de música nas ilhas do Caribe, que ficou conhecido como Mento, em especial na Jamaica. O mento iria se fundir com o ska e o rocksteady para dar origem ao reggae. Reggae este que fazia parte dos sons que rolavam nos sound systems, grandes caixas de som que eram colocadas nas ruas da periferia de Kingstown e rolavam altos bailes ao ar livre. Nestes bailes, sempre tinham os toasters, caras que pegavam o microfone e falavam de forma ritmada, de acordo com a música que estava tocando, sobre o cotidiano daquela região, falavam de pobreza e política, mas também falavam muito sobre sexo, faziam piadas e tiravam sarro das pessoas. Aqui já estamos no fim dos anos 60. 

Justamente tentando fugir dessa pobreza, muitos jamaicanos começaram a migrar para os Estados Unidos. Uma das comunidades mais famosas de jamaicanos nos Estados Unidos ficava no Bronx, bairro paupérrimo no extremo norte da cidade de New York. Já nos anos 70 o jamaicano Kool Herc, trouxe um dos sound systems da Jamaica para os Estados Unidos e começou a fazer festas nas ruas do bairro. Nesta época, a pobreza e a falta do que fazer fizeram com os jovens se juntassem em gangues. A violência era generalizada, e o racismo era só mais gasolina nessa fogueira. As festas nas ruas com os sound systems eram uma oportunidade de diversão e começou a se tornar cada vez mais comum os DJs usarem o microfone. A turma que curtia som começou a criar um novo jeito de dançar. Entre as gangues, se tornou muito popular marcar territórios e se expressar através do grafite nos muros da cidade. Alguns clubes e casas noturnas quiseram colocar os sound systems pra dentro, o DJ já não dava conta de falar ao microfone e colocar os sons. Surgem então os mestres de cerimônia, os MCs. E pronto. Está criada a cultura hip hop. 

Mas não foi fácil assim. Tinha muita treta, muita briga. Foi o mestre Afrika Bambaataa quem mais ajudou a botar ordem na casa. Pregou a união das gangues de negros para combater o racismo e insistia que com a música, o grafite e a dança, era essencial que o conhecimento e a consciência social viessem junto no pacote. Ele criou a Zulu Nation e realmente mudou o mundo. Daí pra frente só foi apavoro! Nos anos 80 pintaram Run DMC, Public Enemy e Beastie Boys. Sem falar de Kurtis Blow, MC Hammer, Eazy E, Ice T e DJ Jazzy Jeff & The Fresh Prince (sim, foi onde o Will Smith começou). Nos anos 80 o rap e o hip hop estouraram! Milhões de discos vendidos, rappers ditando moda, videoclipes com produções caríssimas, muita ostentação, carrões, correntes de ouro, drogas, sexo… enfim, uma parada que deu certo, mas que tinha tudo pra dar erado. E para alguns realmente deu errado. 

Tupac Maru Shakur nasceu ali, no olho do furacão, no Bronx dos anos 70. Viveu parte de sua infância no Harlem, outra parte em Baltimore e já adolescente se mudou com sua mãe para a Bay Area, California. Lá se envolveu com tráfico de drogas e passou a trampar de roadie para a banda Digital Underground, onde teve oportunidade de cantar algumas vezes e começou a se destacar. Em 1991 ele já tem seu primeiro disco solo lançado. Mas voltando ao início dos anos 70, no bairro do Brooklyn, New York, nascia Christopher George Latore Wallace, um figura que ficaria conhecido como The Notorious B.I.G. Ao contrário de Tupac, ele teve uma infância estável vivendo sempre no mesmo bairro e estudando numa boa escola, onde teve boas noções de inglês e literatura. Mas a boa educação não impediu que ele fosse pra rua e também embarcasse no tráfico de drogas. Ainda jovem, ele já era conhecido por vender crack no bairro. B.I.G. passou a juventude e o início da vida adulta no Brooklyn traficando drogas e fazendo rap nas ruas e em pequenos bares, mas sem grande sucesso. Entre 1992 e 1993, enquanto B.I.G. ainda estava restrito ao circuito do rap nova iorquino, Tupac já tinha ganhado disco de ouro, participado de filme no cinema e até mesmo andou aos beijinhos com a Madonna. Em fevereiro de 1993 B.I.G. descolou um show para fazer em Los Angeles, e aproveitou para conhecer Tupac. Os dois se deram super bem logo de cara e ficaram bróders. 

Mas essa brodagem toda durou pouco. No dia 30 de novembro de 1993 Tupac colou no estúdio de B.I.G. e Puffy, que era produtor. Era madrugada, o estúdio ficava no segundo andar de um prédio na Times Square. Quando chegou no hall do prédio, tinham 3 caras por ali. Ao chamar o elevador, Tupac se ligou que um dos caras puxou uma pistola. Mas ele também era malandro e sempre andava armado. Só que antes de puxar seu revólver, levou cinco tiros. Os três caras caíram fora correndo. Só que Tupac não morreu. Estava em péssimo estado, claro, se arrastando. Mas conseguiu ir até o estúdio, onde foi recebido por B.I.G. e Puffy com uma cara de espanto e, segundo o próprio Tupac, culpa. Uma cara de quem quer dizer “Agora f*deu!”. Mas a vida não estava fácil pra ninguém. Nessa época, Tupac vinha enfrentando problemas sérios com a justiça, sendo acusado de estupro e de ter envolvimento com um dos maiores gângsters da época. E, aparentemente, era tudo verdade. Tanto que ele, mesmo baleado, todo enfaixado e numa cadeira de rodas, foi condenado a prisão. Ficou preso por 11 meses, saindo por pagamento parcial da fiança e por bom comportamento. 

Enquanto esteve preso, Tupac cultivou a ideia de que B.I.G. e Puffy sabiam que ele seria baleado naquela noite no estúdio. E se não sabiam, o mínimo que poderiam fazer é achar quem tinha feito aquilo e dar uma coça nos malucos, afinal ali era New York, era a quebrada de B.I.G. e não ia ser difícil descobrir quem deu os tiros. Mas nada foi feito. Nada é exagero. Foram feitas músicas. B.I.G. lançou a música Who Shot Ya? meses depois de Tupac ser baleado. E era uma música com uma letra meio irônica, pegou mal e Tupac levou pro pessoal. Hit’ Em Up foi a resposta de Tupac, uma letra direta para B.I.G. repleta de ofensas. Era 1995, e foi o auge da treta entre a cena rap/hip hop da costa leste dos Estados Unidos (B.I.G.) contra a costa oeste (Tupac) e.muitos artistas de ambas as cenas compraram a briga, cada um com o seu território. Uma disputa estúpida e descabida, mas que rendeu muito para a mídia, que sempre tinha alguma coisa pra noticiar a respeito. Só que a treta extrapolou a música. No dia 7 de setembro de 1996 Tupac foi baleado e morreu em Las Vegas. Não há nenhum indício de que B.I.G. tenha algum envolvimento com o crime. Aliás, ali pelo fim de 1996 já rolava um papo de apaziguar e acabar com aquela rixa besta. Em 9 de março de 1997 B.I.G. estava em Los Angeles para um show e deu entrevistas pedindo paz e o fim daquela rivalidade. No mesmo dia também foi baleado e morto. 

Tupac e Notorious B.I.G. eram os dois maiores nomes do rap no mundo nos anos 90. A morte dos dois finalmente fez com que os ânimos se acalmassem e a rivalidade entre costa leste e costa oeste acabasse. Um preço muito alto para o fim de uma rivalidade tão imbecil. Mas apesar dos pesares, o hip hop sobreviveu firme e forte. Ainda nos anos 90, sob o legado desses dois gigantes nomes como Dr. Dre, Snoopy Doggy Dogg, Cypress Hill, Fugees, Jay-Z, Busta Hymes, Eminem, N.W.A., Ice T, Outkast, De La Soul, Ice Cube, Lauryn Hill e tantos outros dominassem a parada! Pode crer que se não fossem as estripulias de Kurt Cobain, Eddie Vedder e companhia, o hip hop teria dominado a indústria musical nos anos 90, como domina desde o começo do século XXI até hoje. Atualmente, mais de 70% de toda música ouvida nas principais plataformas de streaming em todo mundo é rap e hip hop

É um estilo de música e de vida muito rico, com uma história incrível! E olha que a gente se limitou a falar apenas dos Estados Unidos. Só a história do hip hop no Brasil, com Thaíde & DJ Hum, DJ Marlboro e toda a turma, já dava outro texto delicioso. Mas por hora, ficamos por aqui. Lembrando, é claro, que o hip hop, a cultura do grafite, a luta contra o racismo, a poesia e a música são parte essencial na formação da Strip Me. Então você obviamente encontra várias camisetas sensacionais com referências a este universo maravilhoso, bem como tantas outras estampas de música, cinema, arte, cultura pop e muito mais. Se liga nos nossos lançamentos e visite a nossa loja

Vai fundo! 

Para ouvir: Uma playlist no capricho do que há de melhor no hip hop dos anos 90. Top 10 Tracks 90’s Hip Hop 

Para assistir: A série The Get Down, produção da Netflix é impecável e retrata muito bem o início do hip hop no Bronx. É mais que imperdível, essencial. 

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