Deu Match! 8 encontros apaixonantes da Strip Me para o Dia dos Namorados.

Deu Match! 8 encontros apaixonantes da Strip Me para o Dia dos Namorados.

Junho é a época mais romântica do ano! Começa o friozinho, aquele clima gostoso pra ficar no sofá vendo um filminho debaixo do cobertor, ou pra sair pra tomar aquele vinho, ou quem sabe comer um fondue. E é claro que tudo isso fica muito mais gostoso quando você tem aquele alguém do lado. Pode ter sido na balada, tendo amigos em comum, ou até mesmo virtualmente em redes sociais e apps de relacionamento. O importante é que deu match!

E para mostrar que toda panela tem sua tampa, a Strip Me apresenta 8 exemplos de camisetas que são match perfeito. Se completam, harmonizam, são as duas metades da laranja.

Nightporu + América Latina

Começamos com os dois pés na nossa terra! De um lado o símbolo máximo da arte brasileira, nosso icônico Abaporu, de Tarsila do Amaral, minimalista, mas sofisticado e imponente. De outro lado uma declaração de amor à América Latina, com uma estampa delicada no lado esquerdo do peito, onde bate o coração. De quebra, a citação a uma das mais clássicas canções de Caetano Veloso, que deixa clara a força vibrante do nosso continente. Ambas as camisetas, numa pegada by night minimalista, formam um casal perfeito.

Magritte + Onda Retrô

Eis aqui um match inspirador! Um match de quem carrega a arte na alma e no coração. De um lado a obra clássica O Filho do Homem, de René Magritte, pintada em 1964, num recorte simples, que evidencia o tom provocador e iconográfico da obra. Do outro lado, uma reprodução, também em recorte, da mais famosa e celebrada xilogravura do mundo, A Grande Onda de Kanagawa, do genial artista japonês Katsushika Hokusai. Duas camisetas que carregam no coração dois dos maiores ícones da história da arte. O surrealismo de Magritte e a xilogravura delicada de Hokusai formam um casamento incomum, mas admirável de se ver!

Super Smile + Robot

Um match atemporal. Não que sejam muito distantes, talvez separados por apenas uma geração. De um lado a representação dos anos 90 sintetizada numa imagem, que mistura identidade visual da maior marca de video games com a mais revolucionária banda da época. Por si só, Nirvana e Nintendo já são um match inacreditável, visto que não só revolucionaram seus próprios segmentos, como influenciaram o comportamento de toda uma geração. De outro lado mais uma vez a representação perfeita da geração 2010, cuja vida real é frequentemente colocada à prova de maneira virtual, tendo como trilha sonora mais uma revolução musical. Não sei o que o dua Daft Punk poderia fazer para provar que não são robôs. Mas jogar video game online ouvindo uma mixtape de Nirvana e Daft Punk é um match divertidíssimo!

John Guitarra + Jam

Este sim, o match dos anos 90! De um lado a imagem distorcida, como deve ser, de um dos 5 melhores guitarristas da década de 90. John Frusciante é, indiscutivelmente, o som definitivo da guitarra dos Red Hot Chilli Peppers, e um dos mais talentosos músicos de sua geração. De outro lado, uma das imagens mais famosas de Eddie Vedder, o frontman da banda Pearl Jam. Um salto para a multidão após uma de suas famosas escaladas pelas estruturas dos palcos. Hoje, tanto Frusciante quanto Vedder já estão mais velhos, mas continuam fazendo música. E o ritmo incontrolável dos Chilli Peppers com as melodias inigualáveis do Pearl Jam formam um match irresistível. Procure ouvir a música Dirty Frank, onde as duas bandas tocam juntas, para conferir.

Come Together + Gimme Shelter

De acordo com o clichê, deveríamos dizer que aqui é o clássico caso de match de opostos que se atraem. Mas não tem match mais complementar e harmonioso do que Beatles e Rolling Stones! Ainda mais neste caso. Dois dos maiores hinos da história do rock n’ roll! Duas músicas lançadas em 1969. De um lado os Beatles apresentam uma alegoria psicodélica e um dos riffs de baixo mais famosos do mundo, conclamando a união. De outro lado um arranjo potente de guitarra e piano elétrico embalam as palavras contundentes de Jagger contra a guerra do Vietnã, implorando por abrigo. Duas músicas que se completam, uma pela união das pessoas e outra pelo fim de conflitos. Match irretocável.

Bateria + Baixo Vintage

Pra finalizar a onda musical, apresentamos um match mais contemporâneo, e tradicionalíssimo ao mesmo tempo. De um lado mãe de todos ritmos, a condutora irrepreensível e dona do tempo. Às vezes suave e discreta, às vezes infernal e exuberante. A bateria! Do outro lado, o pai das notas graves, o elo de ligação, aquele que segura a onda e mantém tudo sob controle quando todo mundo está pirando. O alquimista de ritmos e melodias. O baixo! Match mais que óbvio! Aquele casal que todo mundo sabe que sempre ficaria junto. Desde os primórdios do jazz baixo e bateria se completam, até atualmente, dando nome a uma das bases mais populares da música eletrônica, o drum n’ bass. Match batido, porém muito bem ritmado.

Friday + Sunday

O Match inevitável. De um lado aquele sextou insano, incontrolável! Ilustrado aqui de maneira primorosa com o frame de uma das cenas mais clássicas do cinema de Stanley Kubrick: Jack Nicholson arrebentando uma porta completamente transtornado no clássico O Iluminado. Do outro lado o desespero dominical, o sentimento amargo do dia que precede a infalível segunda feira. Tal desespero é ilustrado de forma brilhante através do frame da cena mais revisitada da história do cinema: a antológica cena da facada no chuveiro do indispensável filme Psicose, de Alfred Hitchcock. Não dá pra negar. Todo sextou tem dentro de si o angustiante desespero de domingo. E por isso mesmo, um nunca vai conseguir viver sem o outro. Match natural.

Cocada + Goiabada

Finalizamos nossa lista com um match doce e tropical. De um lado o ícone maior do verão, da praia, do clima tropicaliente: o côco. Porém, não in natura, mas transformado num doce riquíssimo, com uma textura única e um sabor equilibrado e delicado. De outro lado uma das frutas que melhor representa a América Latina. Originalmente encontrada entre o norte das matas da Colômbia até o sul do México, a goiaba caiu nas graças dos índios, que a plantaram por todo o território brasileiro, isso bem antes de europeu vir se meter a besta por essas bandas. Dela se faz um dos doces mais apreciados do Brasil, em especial no sudeste. Um doce cheio de personalidae, sabor forte, marcante e inigualável. Você pode pensar que o match ideal seria a goiabada com queijo. Mas nós estamos aqui para quebrar paradigmas e mostrar que no amor (e na gastronomia) tudo é possivel! Cocada com goiabada é um match surpreendente e delicioso!

Depois dessa lista, com tantos matchs diferentes, inusitados e certeiros, só nos resta te dizer uma coisa: De onde saíram estes, tem muitos outros mais! Na Strip Me você encontra uma diversidade inacreditável de estampas sobre arte, cinema música, cultura pop, comportamento e muito mais! Com certeza, match ali não vai faltar. Tanto para você presentear o seu match da vida, quanto para você usar e curtir a vida com estilo enquanto o seu match não chega. Visite a nossa loja e confira os nossos lançamentos.

Vai fundo!

Para ouvir: Uma playlist pra curtir o diados namorados, mas saindo um pouquinho das obviedades tipo Marvin Gaye e Barry White. Não que eles sejam ruim, são ótimos, mas é sempre legal dar uma variada e ouvir sons diferentes, né. Alt Love Top 10 Tracks

Para assistir: Essa dica é simples e direta. Ainda não fizeram um filme romântico tão divertido, emocionante, verdadeiro e descolado quanto o excelente 500 Days of Summer. Filme de 2009, dirigido por Marc Webb, protagonizado por Zooey Deschanel e Joseph-Gordon Levitt numa sintonia incrível, com um roteiro ótimo e uma trilha sonora maravilhosa. Um filmaço!

50 Anos de Amor ao Exílio!

50 Anos de Amor ao Exílio!

Em 1971 o tema do filme Shaft, música escrita por Isaac Hayes, extrapolou o cinema e ganhou vários clubes e casas noturnas de New York frequentadas por um público bem miscigenado, entre brancos, negros, latinos, héteros e gays. Na mesma onda de Shaft, começaram a pintar várias músicas com um ritmo frenético, com arranjos de cordas, sintetizadores e linhas de baixo e bateria bem marcantes. Nascia a disco music. A aura desses clubes noturnos espalhados pela cidade de New York, do Harlem, passando pela Upper West Side até o Village e Soho, talvez sejam o retrato mais fiel do que foi a década de 1970. 

Em especial o ano de 1972 foi muito marcante, principalmente para a cultura norte americana, que já dominava o mundo todo. Nixon acabara de ser reeleito presidente dos Estados Unidos e prometia dar um fim à guerra do Vietnã, chegando a se encontrar com o Mao Tsé Tung na China para negociar um acordo de paz. Além disso Nixon também tinha a intenção de emplacar uma mega operação de combate às drogas nos Estados Unidos. O curioso disso é que tal combate dizia respeito especificamente ao LSD, a maconha e a heroína. A cocaína que esbranquiçava cada vez mais as mesas, balcões e pias de banheiro dos night clubs era solenemente ignorada, vista no começa da década de 70 como uma droga inofensiva e que simbolizava status social. Mas tudo isso entrou pelo canudinho… quer dizer, pelo cano em junho de 1972, quando veio à tona o escândalo de Watergate, que faria com que Nixon renunciasse ao cargo em 1974. 

The Nellcôte Session by Dominique Tarlé (1971)

Os jovens do começo dos anos 70 viviam a ressaca do movimento hippie, a desilusão da vida adulta, ter que trabalhar pra ganhar a vida. O rock n’ roll também, de certa forma amadurecia, ficava um pouco mais amargo depois das mortes de Hendrix, Joplin e Jim Morrison. A psicodelia do Grateful Dead saía de cena, substituído pelo peso sombrio do Black Sabbath . Em contra partida, os discursos libertários dos hippies acabaram por dar voz às mulheres, que passaram a dar mais as caras, sair para trabalhar e sair para se divertir, enfim buscar igualdade. Da mesma forma a comunidade gay também se organizou e se sentia mais livre para se impor, principalmente depois da rebelião de Stonewall em 1969. Da mesma forma os negros e hispânicos também começavam a sair dos guetos, até porque começaram a ter algum poder aquisitivo, o que lhes permitia sair para beber e dançar. Isso tudo só reforça essa pluralidade que começou a rolar nas casas noturnas de New York dos anos 70. 

1972 foi um ano de estabelecimento dessa nova cultura. Uma cultura de excessos, de diversidade, de engajamento político. E principalmente a música conseguiu traduzir tudo isso com muita precisão. Tanto é que neste ano alguns dos discos mais importantes da música pop de todos os tempos foram lançados. Let’s Stay Together (Al Green), Harvest (Neil Young), Eat a Peach (The Allman Brothers), Pink Moon (Nick Drake), Thick as a Brick (Jethro Tull), Slade Alive! (Slade), The Kink Kronikle (The Kinks), Machine Head (Deep Purple), Rio Grande Mud (ZZ Top), Mardi Gras (Creedence Clearwater Revival), Obscured by Cluds (Pink Floyd), Lou Reed (Lou Reed), The Rise and Fall of Ziggy Stardust and the Spiders from Mars (David Bowie), Roxy Music (Roxy Music), #1 Record (Big Star), School’s Out (Alice Cooper), Trilogy (Emerson, Lake & Palmer), Super Fly (Curtis Mayfield), All the Young Dudes (Mott the Hoople), Vol. 4 (Black Sabbath), Transformer (Lou Reed), Trouble Man (Marvin Gaye)… e muito mais! 

The Nellcôte Session by Dominique Tarlé (1971)

Convenhamos. Uma coisa é você lançar um disco de rock muito bom numa época em que o rock está em baixa e não tem muita gente no rádio tocando alguma coisa parecida com o que faz. Tipo o que aconteceu com o Nirvana ao lançar o Nevermind. Outra coisa é você lançar um disco de rock muito bom numa época em que o estilo está em alta e os principais nomes não só estão na ativa, mas estão em seu auge! Pois foi nesse contexto de efervescência, instabilidade e novidade que foi lançado o disco que, para muita gente, é o melhor disco de rock n’ roll de todos os tempos: Exile on Main Street, o décimo terceiro disco dos Rolling Stones. 

A história e a mística que permeiam este disco já são mais que conhecidas. Todo mundo sabe que depois de Sticky Fingers, os Stones estavam devendo mais dinheiro em impostos do que ganhavam. Resolveram se mudar para a França, Keith Richards arranjou uma mansão do século XIX caindo aos pedaços com um porão espaçoso, onde a banda resolveu montar um estúdio para gravar um disco novo. Neste processo, Richards acabou abrigando uma legião de junkies e vagabundos, já que ele próprio estava entregue ao vício de heroína. Tudo isso todo mundo já sabe. No entanto, não dá pra deixar passar batida a celebração dos 50 anos do Exile on Main Street. E nossa maneira de exaltar esse disco brilhante é justamente mostrando o contexto em que ele foi lançado e qual foi a recepção que ele recebeu na época. 

The Nellcôte Session by Dominique Tarlé (1971)

Já temos o contexto do mundo do showbiz em 1972, quando o Exile… foi lançado. Agora vamos dar uma geral na situação dos Stones pouco antes de irem para a França em 1971. Eles tinham acabado de lançar o Sticky Fingers, disco que fez grande sucesso e causou polêmica por conta de sua capa. Mas a verdade é que, há anos os Stones pareciam não ter sequer um minuto de paz, claro que muito por conta de suas próprias atitudes. Em 1968 Richards e Jagger foram presos por porte de drogas, em 1969 Richards começou a sair com a namorada de Brian Jones, então guitarrista da banda. Baita climão. Jones é expulso da banda por se drogar demais e é substituído por Mick Taylor. Meses depois de sua saída da banda, Brian Jones é encontrado morto na piscina de sua casa. Morte esta envolta em mistério e que abala muito a banda. Pra piorar, no fim do ano rola o incidente em Altamont, que pirou ainda mais os ânimos dos Stones. Em 1971, quando o Sticky Fingers foi lançado, eles se deram conta que o disco vendia muito bem, mas eles não ganhavam dinheiro algum. Foi quando se ligaram que estavam falidos por conta de contratos mal intencionados de seu ex empresário Allen klein. E se mudaram para a França para não perder o resto de bens que ainda possuíam. 

Os Stones ficaram literalmente isolados no sul da França entre 1971 e 1972. Estavam todos estressados e decepcionados. Claro, soma-se a isso uma dieta irresponsável de álcool e drogas das mais variadas e em quantidades perigosas, para dizer o mínimo. Desligados das tendências que rolavam no centro de Londres e de New York, os Stones se voltaram para as raízes do blues, do country e do gospel num disco introspectivo, confessional e caótico. A produção aparentemente desleixada, com a voz de Jagger soterrada por camadas de guitarras e naipes de metal, traz a claustrofobia de um porão embolorado e úmido de um casarão no meio do nada, mas ao mesmo tempo traz a espontaneidade de jam sessions de blues, como as que aconteciam em bares só para negros no meio do delta do Mississippi no começo do século XX. 

The Nellcôte Session by Dominique Tarlé (1971)

Quando foi lançado, no dia 12 de maio de 1972, pouca gente realmente entendeu o disco. Grande parte da crítica citava Exile on Main Street como o trabalho mais fraco dos Rolling Stones, um disco desconexo e mal gravado. Entretanto, houveram poucos críticos que enxergaram no disco a intensidade, o calor e a originalidade que aquelas canções transmitiam. Antes do álbum ser lançado, em março de 1972, Tumbling Dice fora lançada como single e estourou nas paradas de sucesso dos Estados Unidos e da Inglaterra, catapultando a venda do disco 2 meses depois. Por parte do público, o disco foi muito bem aceito e celebrado como um dos melhores discos dos Stones. Curioso que bastou virar a década para que a visão da crítica mudasse a respeito do Exile… a partir dos anos 80 ele passou a figurar em tudo quanto é lista de discos mais importantes do rock de todos os tempos, sempre bem rankeado. Mais do que o reconhecimento da crítica, os ecos de Exile on Main Street podem ser ouvidos em boa parte da produção musical desde o fim dos anos 70 até hoje. Em especial no som de bandas como MC5 e The Stooges, posteriormente Dinossaur Jr e The Black Crowes. E esses são só alguns exemplos. 

De 1972 até agora, muita coisa mudou. A era disco, o punk, new wave, grunge, nu metal… na real muita coisa muito boa foi produzida ao longo desses 50 anos. Mas não é exagero nenhum dizer que a essência mais pura e cristalina do rock n’ roll foi melhor traduzida em somente um disco. É compreensível que os próprios integrantes dos Rolling Stones alimentem os mitos e lendas sobre Nellcôte e aqueles meses de loucura e gravação, afinal de contas, isso ajuda muito a continuar vendendo discos. Mas o que importa é que nos foi entregue o melhor disco de rock n’ roll de todos os tempos, e isso não é mito nenhum. E todas as histórias de chapação, intrigas e ímpetos momentâneos de genialidade podem até tornar tudo mais interessante, mas mesmo se elas não existissem, se fosse um disco gravado num estúdio convencional, mas que trouxesse as mesmas canções, a mesma sonoridades, as mesmas sensações, ainda assim Exile on Main Street seria um disco indispensável para a música pop. 

The Nellcôte Session by Dominique Tarlé (1971)

São obras tão fortes, cheias de personalidade e recheadas de histórias como este disco que inspiram e instigam a Strip Me a sempre produzir estampas surpreendentes e descoladas exaltando a arte, a música, o cinema, enfim, a cultura pop. Então dá uma olhada na nossa loja pra conferir nossos lançamentos e também algumas estampas referentes aos Rolling Stones! It’s only barulho diversão e arte, but I like it! 

The Nellcôte Session by Dominique Tarlé (1971)

Vai fundo! 

Para ouvir: Olha, com certeza deve ser um pecado muito grave selecionar só 10 músicas de um disco tão bom quanto o Exile on Main Street. Então, hoje não tem playlist com top 10. A playlist de hoje é todo o disco Exile on Main Street

Para assistir: Impossível não recomendar o ótimo documentário Stones in Exile, lançado em 2010 e dirigido pelo Stephen Kijak! Um mergulho delicioso dentro das sessões de gravação do Exile on Main Street! 

Para ler: Uma das melhores autobiografias do mundo do rock já escritas com certeza é a de Keith Richards. Um livro enorme, mas delicioso, onde Richards conta toda sua história com bom humor, honestidade e uma fluência incrível. Leitura recomendadíssima! O livro se chama Vida, escrito pelo próprio Richards, saiu aqui no Brasil em 2010 pela Editora Globo. 

California: Não é à toa que a cultura pop esteja neste estado.

California: Não é à toa que a cultura pop esteja neste estado.

Em várias culturas, ao longo da história da humanidade, é muito comum aparecer sempre a busca por uma terra prometida, um lugar sagrado onde aquele povo vai encontrar paz e prosperidade. Canaã para os judeus, Meca para os muçulmanos, Jerusalém para os cristãos, Tenochtitlán para os Astecas… na ficção também não faltam exemplos, desde a Terra do Nunca de J. M. Barrie até a paradisíaca Shangri La, de James Hilton. Mas a verdade é que existe um lugar que chega muito perto de ser esse lugar mágico, onde as pessoas são felizes e tudo prospera. Onde a riqueza desde sempre floresceu e até hoje as pessoas continuam indo pra lá para realizarem seus sonhos. Bem-vindo à California

Tudo acontece na California. É o estado mais rico dos Estados Unidos, também o mais populoso. Lá encontram-se os polos de tecnologia e entretenimento mais importantes do mundo. Sem falar nos portos marítimos imensos e super modernos e bases militares importantíssimas. Além do mais a California é um lugar plural, onde a diversidade impera. É a região dos Estados Unidos que concentra o maior número de povos nativos, além de uma comunidade imensa de hispânicos e asiáticos. Também foi lá que despontaram as primeiras lideranças gays, que deram voz a comunidade homossexual. Também é um estado que respira cultura. É onde está Hollywood, a locomotiva da indústria mundial do cinema, e cidades como Los Angeles e San Francisco, que encabeçaram o verão do amor, em 1967, e revelaram incontáveis bandas e músicos. Isso sem falar nos esportes, outra marca registrada da California, onde o surf se popularizou pra valer e o skate foi criado. É muita coisa, né? Como pode? O que faz com que tanta coisa aconteça por lá? 

É uma história antiga.  Em 1543 os espanhóis já dominavam toda a América Central e o México. Passaram então a desbravar a costa do Oceano Pacífico. Quando chegaram na península hoje chamada Baja California, estado do México onde se encontra a famosa cidade de Tijuana, os espanhóis acreditavam tratar-se de uma ilha. Foi batizada California por causa de um livro que fazia sucesso na época, um romance chamado Sergas de Esplandián, do escritor Rodriguez Montalvo. A história do livro se passa numa ilha fictícia chamada California, onde viviam belas e poderosas amazonas. Porém, pelo difícil acesso ao Oceano Pacífico, a região permaneceu ignorada pelos espanhóis por praticamente duzentos anos. A região era habitada por várias tribos indígenas como os Yourok, Maidu, Pomo, Chumash, Miwoke e Mojave. À medida que os espanhóis iam colonizando o México, avançavam para o interior e para o oeste. Foi só por volta de 1700 que chegaram na região da Baja California e começaram, assim como aconteceu no Brasil com os portugueses, a instalar missões comandadas por jesuítas, com o intuito de catequizar os índios e, claro, os colocarem para trabalhar. Os espanhóis também estabeleceram logo dois lugares estratégicos para construir fortes para proteger a região. Assim nasceram os fortes de San Francisco ao norte e San Diego mais ao sul, e que hoje são cidades muito importantes. 

Bom, essa história de colonização, dominação de povos nativos, não é novidade pra ninguém, aconteceu igual em todo lugar. Claramente uma imensa parte dos índios da região foi dizimada principalmente por doenças como a gripe e a varíola, e também pela violência dos europeus. Em 1821 o México se torna independente da Espanha e seu território era imenso, incluindo praticamente todo o sudoeste dos Estados Unidos, os atuais estados do Texas, New Mexico, Arizona, Colorado, Utah, Nevada e California. Porém era um território ainda pouco povoado. Boa parte da região é de deserto, muito ruim para a agricultura, permitindo apenas que alguns fazendeiros dedicados a pecuária prosperassem. Mas a terra e o clima se mostraram favoráveis para o plantio de um produto que se tornaria ícone do México: a pimenta. Acontece que além do clima inóspito e da resistência ferrenha dos índios, os mexicanos não controlavam a entrada de fazendeiros ingleses e norte americanos que migravam da costa leste em busca de melhores terras. Esses fazendeiros foram tomando posse por conta própria de terras, principalmente na região da bacia do rio Colorado. Foi quando começou a treta entre México e Estados Unidos reivindicando aquelas terras para si. O governo dos Estados Unidos até reconhecia aquelas terras como território mexicano, mas o povo… 

Em 1836 o estado do Texas faz um levante e se proclama uma república independente do México. Rolam alguns conflitos e o governo norte americano acaba federalizando o Texas em 1845, o incorporando como um estado seu. Os mexicanos não gostam e é declara guerra. O conflito dura pouco mais de dois anos e os Estados Unidos saem vencedores. Em 1948 é assinado o Tratado de Guadalupe Hidalgo, que cede aos Estados Unidos 30% do seu território, e o mapa dos Estados Unidos se estabelece como conhecemos hoje. Mas não pense você que foi de graça. Em troca de toda essa terra, os Estados Unidos pagaram ao México 15 milhões e dólares, assumiram a dívida que os mexicanos tinham com a Inglaterra de 5 milhões de dólares e também concederam a cidadania norte americana a todos os mexicanos que vivam naquele território e desejassem permanecer por lá. Isso explica a quantidade e influência dos hispânicos na California até hoje. Mas o pessoal da California não tinha um minuto de paz naquela época. A guerra mal acabou em 1848 e logo foram descobertas na região da atual San Francisco algumas jazidas de ouro. Em um ano a população de San Francisco pulou de mil habitantes para 25 mil! Em 1849 a corrida do ouro na California foi avassaladora. O estado foi rapidamente povoado por aventureiros, comerciantes e todo o tipo de gente, principalmente imigrantes asiáticos que cruzavam o Oceano Pacífico em busca de oportunidades. Além disso, foi criada a ferrovia transcontinental, que liga a costa leste a costa oeste dos Estados Unidos. E você sabe que dinheiro chama dinheiro, né? O ouro fez o comércio prosperar, que fez com que as cidades se desenvolvessem, vieram as universidades, como a UCLA e Stanford. E era tanto nerd junto inventando coisas que a região ficou conhecida como Vale do Silício, já que o silício é usado em larga escala na produção de hardwares. 

O Vale do Silício compreende mais a região norte, de San Francisco e Palo Alto. Já a região sul da California, mais ensolarada e cheia de belezas naturais, se tornou o refúgio de muitos artistas e gente cheia de dinheiro querendo curtir a vida. Assim se estabeleceu na região de Los Angeles a indústria do entretenimento, juntando o útil ao agradável. Mas isso não foi assim mero acaso. A busca pelo oeste selvagem e caloroso não deixou de inspirar os norte-americanos, mesmo depois do fim da corrida do ouro. Toda uma cultura foi criada em cima daquilo. Muitos livros de ficção passaram a ser ambientados naquela região. Seres folclóricos como Billy The Kid e Jesse James ganharam notoriedade, surgindo o gênero western tanto para a literatura, quanto para o cinema, que engatinhava no início do século XX. Com outra perspectiva, a Geração Beat, em especial Jack Kerouac, idealizou a busca do oeste como algo existencial. Na carona dos Beats, os Hippies se estabeleceram na costa Oeste, inicialmente em San Francisco e depois em Los Angeles, onde a se materializou o slogan “Sexo, drogas e rock n’ roll”. 

As vastas planícies desérticas facilitaram a instalação de grandes estúdios para a produção de filmes. A proximidade de tais planícies com estúdios instalados a praias paradisíacas fez com que artistas e produtores se estabelecessem, alguns de maneira faraônica, na beira dessas praias. Mas não era simplesmente se mudar para LA para se dar bem na vida. Muita gente quebrou a cara. E, não só Los Angeles, várias cidades da California passaram a crescer muito e desordenadamente. Cidades grandes e desiguais geram jovens sem grana e muito insatisfeitos. Esses jovens sempre acabam dando um jeito de se divertir. Se eles moram longe das praias, resolvem surfar sobre rodas. Surge o skate, que vira mais que um esporte, se torna uma cultura. Na cola da cultura do skate vem o hardcore, que acaba meio que reinventando o punk. E essa mistura toda acaba resultando num estado tão diverso e afeito a liberdade, que foi um dos primeiros do país a legalizar a maconha

A California é realmente um lugar inacreditável. Junta tudo! Belezas naturais e tecnologia, cultura pop e tradições indígenas, tacos mexicanos vendidos nas ruas de LA com vinhos requintados do Napa Valley, desertos escaldantes ao sul e montanhas nevadas ao norte. É uma terra encantada num amontoado irresistível de cultura pop. De tão irresistível, a California está super bem representada nas estampas da Strip Me, nas camisetas de cinema, música e cultura pop. Vem conferir na nossa loja, sempre tem lançamentos novos chegando! 

Vai fundo! 

Para ouvir: A California é uma terra tão amada que o que não falta é música sobre ela! Então aqui você tem uma playlist 100% California! California top 10 tracks

Para assistir: Vale muito a pena conferir o divertido Lords of Dogtown, filme baseado em fatos reais, que conta a história dos Z-Boys, turma dos anos 70 que revolucionou o skate. Um retrato bem legal da juventude e da cidade de Los Angeles naquela época. O filme é dirigido pela talentosa Catherine Hardwick, foi lançado em 2005 e tem uma trilha sonora muito boa Iggy Pop, Bowie, T-Rex e Ted Nugent. 

Lennon & McCartney que nada! É Lennon & Bowie!

Lennon & McCartney que nada! É Lennon & Bowie!

Londres. Janeiro de 1966. 
Já era tarde da noite quando um jovem músico de 19 anos, conhecido como Davy Jones, entra num pub nos arredores de Westminster com dois amigos. O pub não estava muito cheio. Os rapazes se encostam no balcão e logo cada um está com um pint cheio na mão. Ao lado deles, estava um senhor de meia idade, que parecia estar sentado ali a horas, visivelmente bêbado e falando alto. Em dado momento, alguém pede para o tal senhor falar mais baixo. Indignado, ele responde: “Não me enche o saco! Você sabe quem eu sou? Sabe com quem você está falando? Eu sou Alfred Lennon! Meu filho ganhou uma medalha da rainha, é um dos homens mais importantes deste país!”. Davy Jones não acreditou no que ouviu e foi conversar com o suposto Alfred Lennon. Depois de fazer algumas perguntas, Davy se deu conta que estava realmente falando com o pai de um de seus grandes heróis da música. “Senhor Lennon, eu espero um dia poder conhecer pessoalmente o seu filho.” e Alfred balbucia quase caindo da cadeira “Claro, claro. Quem sabe um dia, garoto…”. 

Em 1967 o tal Davy Jones decide mudar seu nome artístico para David Bowie. Depois de dois discos sem grande repercussão na década de 60, Bowie entra nos anos 70 com tudo. Em 1970 The Man Who Sold the World já chama a atenção na Inglaterra. Em 1972 The Rise and Fall of Ziggy Stardust and The Spiders From Mars transforma Bowie num fenômeno mundial. Na sequência, Alladin Sane, Pin Ups e Diamond Dogs o consagram como grande astro do rock. Porém, curiosamente, até então sem ter alcançado o número 1 da Billboard nos Estados Unidos, mesmo sendo cultuado no país. Mas o ano de 1974 chegava recheado de surpresas para Bowie. 

Em 1974 John Lennon estava morando provisoriamente em Los Angeles, separado de Yoko Ono, vivendo com May Pang o período que entrou para a história como “o fim de semana perdido”, quatorze meses de muita loucura, festas e drogas na companhia de gente como Keith Moon, Elton John, entre outros. Foi em fevereiro de 1974 que John Lennon foi convidado para uma grande festa na casa da atriz Elizabeth Taylor. Lá foi então Lennon e sua turminha do barulho. Coincidente, quem estava na festa também era David Bowie. Porém, nem mesmo as quantidades nada recomendáveis de cocaína que Bowie consumia conseguiram deixa-lo à vontade na frente de seu grande herói. Liz Taylor apresentou Bowie a Lennon. Mesmo John sendo muito simpático na ocasião, Bowie se limitou a cumprimentar John formalmente, disse que tinha todos os discos dos Beatles e da carreira solo dele e finalizou com um “com licença, preciso ir agora.”. Não se sabe se ele foi embora da festa, ou se evitou a noite toda estar no mesmo ambiente em que Lennon estivesse. Um encontro constrangedor. Mas não seria o único. 

Em junho de 1974 Bowie já estava com a pré-produção de seu novo disco praticamente finalizada. E ele queria incluir no tracklist do álbum a música Across the Universe, composição de Lennon que consta no disco Let it Be, dos Beatles. Bowie queria pedir pessoalmente a autorização de Lennon para gravar a faixa e aproveitar para apagar a má impressão causada no primeiro encontro. Para isso, Bowie convocou Tony Visconti, que estava produzindo o disco e conhecia John, para intermediar o encontro. Bowie estava numa suíte do requintado hotel Sherry Netherland, em New York. John chegou no quarto de hotel de Bowie, que mais uma vez estava apavorado com a presença do beatle. Bowie se limitou a ficar sentado no chão, encostado numa parede com um bloco de papel, onde fazia alguns desenhos, enquanto Lennon conversava com Visconti. Depois de muito tempo, quase duas horas, sem que Bowie se manifestasse, John pediu a ele algumas folhas daquele bloco e um lápis, dizendo “Vou desenhar você.”. Bowie sorriu, e os dois começaram a fazer caricaturas um do outro e rir e começaram a conversar. Finalmente. E realmente se tornaram amigos. 

Depois de “matar” Ziggy Stardust, Bowie estava na pilha de se reinventar. Começou a levar sua música por um caminho mais dançante, flertando com funk, R&B e disco. Para seu novo disco, além de contar com a produção de Tony Visconti, Bowie se uniu ao esplêndido guitarrista Carlos Alomar para conceber o ótimo Young Americans. Em janeiro de 1975 John Lennon foi até o estúdio onde Bowie estava gravando para fazer uma participação em Across the Universe, onde tocou guitarra. Após a gravação, Bowie e Lennon desataram a conversar sobre suas experiências ruins com a fama, como eles lidavam com aqueles problemas de superexposição e etc. Depois de muito papo, numa jam session Bowie e Lennon começaram a improvisar em cima de um riff que Alomar cuspiu de sua guitarra. Com a conversa fresca na cabeça, a letra não poderia ser sobre outra coisa. E assim surgiu a música Fame. 

Young Americans foi lançado em março de 1975 e fez um sucesso enorme! E a amizade entre Bowie e Lennon só crescia. Mesmo sendo reverenciado no mundo todo àquela altura, Bowie não se sentia tão querido pelo povo norte americano. Um dos muitos encontros entre Bowie e Lennon naquele ano aconteceu nos bastidores de um show do Elton John no Madison Square Garden. Ao saber que Bowie estava lá, o público começou a gritar seu nome. E John deu um abraço em Bowie dizendo “Eu não te disse, David? A América te ama, cara!”. Nessa época, John funcionou meio que como um conselheiro para Bowie. Inclusive no que diz respeito a confiança em empresários, finanças e etc. Tanto é que no final de 1975 Bowie demitiu Tony Defries, seu empresário há muito tempo, desconfiando que ele vinha lhe roubando. O que aparentemente era verdade. 

Em 1977 Bowie estava grudado em Iggy Pop. Os dois moravam em Berlim na época. Voltando de uma série de shows no Japão, eles fizeram uma escala em Hong Kong, na China, antes de seguir para a Alemanha. Mas acabaram não pegando o próximo voo logo de cara, porque souberam que John Lennon estava na cidade, de passagem também, a caminho de Tokyo, onde se encontraria com Yoko Ono. Rapidamente tudo se arranjou e eles se encontraram. John estava com seu filho Sean ainda com alguns meses de idade, e o apresentou a Bowie e Iggy Pop. Naquele dia, aconteceu uma passagem que Bowie nunca mais esqueceria e contaria inúmeras vezes. Ele e John saíram para dar uma caminhada pelas ruas de Hong Kong. Eis que um garoto que não devia ter mais que 15 anos de idade os interrompe e pergunta: “Ei, você não é o John Lennon, dos Beatles?”. John, espirituoso responde: “Não. Mas bem que gostaria ter o dinheiro dele.”. Bowie amou a resposta e passou a usá-la frequentemente quando perguntado se ele era o David Bowie. Meses depois, Bowie estava em New York, andando pelo Soho, quando alguém lhe cutuca as costas dizendo: “Ei, você não é o David Bowie?” Sem sequer olhar para trás, ele responde: “Não. Mas gostaria de ter o dinheiro dele.”. A mesma pessoa o segura pelo braço e diz: “Seu bastardo mentiroso! Você queria era ter o meu dinheiro!”. Era John Lennon. 

Foi May Pang, a empresária, ex- amante de Lennon e amiga de Bowie quem se encarregou de dar a David a mais triste das notícias naquele fatídico dia 8 e dezembro e 1980. Bowie estava participando de uma peça na Broadway chamada O Homem Elefante. Por isso tinha alugado um apartamento em New York. Pang foi pessoalmente até lá para dar a notícia da morte de John Lennon a David Bowie. Bowie ficou transtornado. Gritava e chorava. Meses depois, Bowie disse numa entrevista sobre a morte de John: “Um pedaço inteiro da minha vida parecia ter sido tirado, toda a razão de ser cantor e compositor parecia ter sido removida de mim.”. 

Assim terminava uma amizade das mais lendárias o rock n’roll, e uma história que começou como um sonho distante no balcão de um pub qualquer em Londres. Terminava também uma curta, porém muito eficiente parceria musical. A composição de Lennon & Bowie, Fame, foi o primeiro single de David Bowie a atingir o número 1 da Billboard nos Estados Unidos. Dali em diante, Bowie nunca mais se sentiria menosprezado pelos norte-americanos, e teria várias músicas chegando ao topo por lá até o fim de sua carreira. No final de 2013 David Bowie foi diagnosticado com um câncer no fígado. Ele combateu doença por dois longos anos. No dia 10 de janeiro de 2016 Bowie não resistiu e faleceu. 

A música é um dos combustíveis que faz com que a Strip Me esteja sempre criando novas estampas, se renovando, sempre em busca do barulho, diversão e arte! E histórias como essa, contada aqui, são uma inspiração extra, que mostram como a vida é cheia de surpresas, encontros, desencontros, coincidências e ironias! A influência disso tudo e muito mais, você pode conferir nas estampas super descoladas das camisetas de música, arte, cinema, cultura pop e muito mais. Vem conferir nossos lançamentos e dá uma geral na nossa loja

Vai fundo! 

Para ouvir: Uma playlist imbatível com a dobradinha Lennon & Bowie. Só o puro creme do milho verde da carreira solo do John Lennon e também do David Bowie. Lennon & Bowie Top 10 tracks

Para assistir: O John Lennon sempre pareceu ser muito simpático e camarada com o Bowie, né? Mas não pense você que ele foi sempre assim. Na época dos Beatles o John era bem arrogante e costumava destratar muita gente. O divertidíssimo filme Meu Jantar Com Jimi, retrata bem isso. O filme é de 2003, dirigido pelo Bill Fishman e escrito pelo Howard Kaylan, que era vocalista da banda The Turtles na década de 60 e numa turnê pela Inglaterra conheceu os Beatles e acabou numa noitada com Jimi Hendrix. É baseado em fatos reais e um filme imperdível! 

Para ler: Apesar de o foco hoje ter sido mais o David Bowie, vale recomendar a impecável biografia de John Lennon escrita pelo Philip Norman, onde toda essa fase do John nos Estados Unidos é contada em detalhes.. O livro John Lennon: A Vida foi lançado em 2009 pela editora Companhia das Letras. Leitura essencial. 

Hip Hop: Origem, (r)evolução e treta!

Hip Hop: Origem, (r)evolução e treta!

Uma roda se forma em torno de dois homens. Todos à volta dos dois não querem perder nenhum detalhe. Aparentemente, aquele é um duelo aguardado por todos. Os dois homens se olham friamente no centro do círculo, que é formado por uma pequena multidão de olhares curiosos. Não ficou claro quem desafiou quem, mas sabe-se que houve muita bebedeira e gritaria. Depois de alguns insultos de ambos os lados, em tom de pilhéria, vale ressaltar, a turma de amigos que acompanhavam os dois, ao invés de conter os ânimos com o protocolar “deixa disso”, bradaram incentivando o confronto! Em questão de segundos, os dois já estavam rodeados de pessoas que se acotovelavam e ficavam em silêncio esperando o início do duelo. Um deles era mais forte e alto. Tinha uma barba ruiva, suja e cheia de nós, e a cabeça raspada. Já o outro era bem cabeludo, um cabelo ensebado e comprido, já meio grisalho. Também com uma barba longa e suja, este era mais gordo. Ambos tinham uma imagem intimidadora e vestiam roupas velhas e esfarrapadas. O gordo desferiu o primeiro golpe, com sua voz grave e rouca fez uma rima dizendo que seu oponente lhe fazia ter engulhos até com um vinho saboroso, pois era tão feio quanto um pútrido leproso. E se iniciou uma batalha de rimas que durou quase meia hora, um insultando o outro, sempre rimando, até que um dos dois se cansou, não conseguiu responder à altura e teve que pagar bebidas para seu oponente no resto da noite. 

Uma cena como essa acontecia praticamente todos os dias nas tavernas da Bretanha e da França entre os séculos XVII e XVIII. Era uma tradição celta muito popular. Na real, esses duelos de rimas é o tipo de coisa que era comum a vários povos em diferentes lugares do mundo, um lance muito antigo mesmo. Mas os registros mais claros disso são à partir dessa época, entre os celtas, e rapidamente se espalhando pela Europa e, consequentemente, na América. Aqui no Brasil acabou originando o repente no Nordeste e a trova na região sul entre o fim do século XIX e começo do século XX. Também gerou um tipo de música nas ilhas do Caribe, que ficou conhecido como Mento, em especial na Jamaica. O mento iria se fundir com o ska e o rocksteady para dar origem ao reggae. Reggae este que fazia parte dos sons que rolavam nos sound systems, grandes caixas de som que eram colocadas nas ruas da periferia de Kingstown e rolavam altos bailes ao ar livre. Nestes bailes, sempre tinham os toasters, caras que pegavam o microfone e falavam de forma ritmada, de acordo com a música que estava tocando, sobre o cotidiano daquela região, falavam de pobreza e política, mas também falavam muito sobre sexo, faziam piadas e tiravam sarro das pessoas. Aqui já estamos no fim dos anos 60. 

Justamente tentando fugir dessa pobreza, muitos jamaicanos começaram a migrar para os Estados Unidos. Uma das comunidades mais famosas de jamaicanos nos Estados Unidos ficava no Bronx, bairro paupérrimo no extremo norte da cidade de New York. Já nos anos 70 o jamaicano Kool Herc, trouxe um dos sound systems da Jamaica para os Estados Unidos e começou a fazer festas nas ruas do bairro. Nesta época, a pobreza e a falta do que fazer fizeram com os jovens se juntassem em gangues. A violência era generalizada, e o racismo era só mais gasolina nessa fogueira. As festas nas ruas com os sound systems eram uma oportunidade de diversão e começou a se tornar cada vez mais comum os DJs usarem o microfone. A turma que curtia som começou a criar um novo jeito de dançar. Entre as gangues, se tornou muito popular marcar territórios e se expressar através do grafite nos muros da cidade. Alguns clubes e casas noturnas quiseram colocar os sound systems pra dentro, o DJ já não dava conta de falar ao microfone e colocar os sons. Surgem então os mestres de cerimônia, os MCs. E pronto. Está criada a cultura hip hop. 

Mas não foi fácil assim. Tinha muita treta, muita briga. Foi o mestre Afrika Bambaataa quem mais ajudou a botar ordem na casa. Pregou a união das gangues de negros para combater o racismo e insistia que com a música, o grafite e a dança, era essencial que o conhecimento e a consciência social viessem junto no pacote. Ele criou a Zulu Nation e realmente mudou o mundo. Daí pra frente só foi apavoro! Nos anos 80 pintaram Run DMC, Public Enemy e Beastie Boys. Sem falar de Kurtis Blow, MC Hammer, Eazy E, Ice T e DJ Jazzy Jeff & The Fresh Prince (sim, foi onde o Will Smith começou). Nos anos 80 o rap e o hip hop estouraram! Milhões de discos vendidos, rappers ditando moda, videoclipes com produções caríssimas, muita ostentação, carrões, correntes de ouro, drogas, sexo… enfim, uma parada que deu certo, mas que tinha tudo pra dar erado. E para alguns realmente deu errado. 

Tupac Maru Shakur nasceu ali, no olho do furacão, no Bronx dos anos 70. Viveu parte de sua infância no Harlem, outra parte em Baltimore e já adolescente se mudou com sua mãe para a Bay Area, California. Lá se envolveu com tráfico de drogas e passou a trampar de roadie para a banda Digital Underground, onde teve oportunidade de cantar algumas vezes e começou a se destacar. Em 1991 ele já tem seu primeiro disco solo lançado. Mas voltando ao início dos anos 70, no bairro do Brooklyn, New York, nascia Christopher George Latore Wallace, um figura que ficaria conhecido como The Notorious B.I.G. Ao contrário de Tupac, ele teve uma infância estável vivendo sempre no mesmo bairro e estudando numa boa escola, onde teve boas noções de inglês e literatura. Mas a boa educação não impediu que ele fosse pra rua e também embarcasse no tráfico de drogas. Ainda jovem, ele já era conhecido por vender crack no bairro. B.I.G. passou a juventude e o início da vida adulta no Brooklyn traficando drogas e fazendo rap nas ruas e em pequenos bares, mas sem grande sucesso. Entre 1992 e 1993, enquanto B.I.G. ainda estava restrito ao circuito do rap nova iorquino, Tupac já tinha ganhado disco de ouro, participado de filme no cinema e até mesmo andou aos beijinhos com a Madonna. Em fevereiro de 1993 B.I.G. descolou um show para fazer em Los Angeles, e aproveitou para conhecer Tupac. Os dois se deram super bem logo de cara e ficaram bróders. 

Mas essa brodagem toda durou pouco. No dia 30 de novembro de 1993 Tupac colou no estúdio de B.I.G. e Puffy, que era produtor. Era madrugada, o estúdio ficava no segundo andar de um prédio na Times Square. Quando chegou no hall do prédio, tinham 3 caras por ali. Ao chamar o elevador, Tupac se ligou que um dos caras puxou uma pistola. Mas ele também era malandro e sempre andava armado. Só que antes de puxar seu revólver, levou cinco tiros. Os três caras caíram fora correndo. Só que Tupac não morreu. Estava em péssimo estado, claro, se arrastando. Mas conseguiu ir até o estúdio, onde foi recebido por B.I.G. e Puffy com uma cara de espanto e, segundo o próprio Tupac, culpa. Uma cara de quem quer dizer “Agora f*deu!”. Mas a vida não estava fácil pra ninguém. Nessa época, Tupac vinha enfrentando problemas sérios com a justiça, sendo acusado de estupro e de ter envolvimento com um dos maiores gângsters da época. E, aparentemente, era tudo verdade. Tanto que ele, mesmo baleado, todo enfaixado e numa cadeira de rodas, foi condenado a prisão. Ficou preso por 11 meses, saindo por pagamento parcial da fiança e por bom comportamento. 

Enquanto esteve preso, Tupac cultivou a ideia de que B.I.G. e Puffy sabiam que ele seria baleado naquela noite no estúdio. E se não sabiam, o mínimo que poderiam fazer é achar quem tinha feito aquilo e dar uma coça nos malucos, afinal ali era New York, era a quebrada de B.I.G. e não ia ser difícil descobrir quem deu os tiros. Mas nada foi feito. Nada é exagero. Foram feitas músicas. B.I.G. lançou a música Who Shot Ya? meses depois de Tupac ser baleado. E era uma música com uma letra meio irônica, pegou mal e Tupac levou pro pessoal. Hit’ Em Up foi a resposta de Tupac, uma letra direta para B.I.G. repleta de ofensas. Era 1995, e foi o auge da treta entre a cena rap/hip hop da costa leste dos Estados Unidos (B.I.G.) contra a costa oeste (Tupac) e.muitos artistas de ambas as cenas compraram a briga, cada um com o seu território. Uma disputa estúpida e descabida, mas que rendeu muito para a mídia, que sempre tinha alguma coisa pra noticiar a respeito. Só que a treta extrapolou a música. No dia 7 de setembro de 1996 Tupac foi baleado e morreu em Las Vegas. Não há nenhum indício de que B.I.G. tenha algum envolvimento com o crime. Aliás, ali pelo fim de 1996 já rolava um papo de apaziguar e acabar com aquela rixa besta. Em 9 de março de 1997 B.I.G. estava em Los Angeles para um show e deu entrevistas pedindo paz e o fim daquela rivalidade. No mesmo dia também foi baleado e morto. 

Tupac e Notorious B.I.G. eram os dois maiores nomes do rap no mundo nos anos 90. A morte dos dois finalmente fez com que os ânimos se acalmassem e a rivalidade entre costa leste e costa oeste acabasse. Um preço muito alto para o fim de uma rivalidade tão imbecil. Mas apesar dos pesares, o hip hop sobreviveu firme e forte. Ainda nos anos 90, sob o legado desses dois gigantes nomes como Dr. Dre, Snoopy Doggy Dogg, Cypress Hill, Fugees, Jay-Z, Busta Hymes, Eminem, N.W.A., Ice T, Outkast, De La Soul, Ice Cube, Lauryn Hill e tantos outros dominassem a parada! Pode crer que se não fossem as estripulias de Kurt Cobain, Eddie Vedder e companhia, o hip hop teria dominado a indústria musical nos anos 90, como domina desde o começo do século XXI até hoje. Atualmente, mais de 70% de toda música ouvida nas principais plataformas de streaming em todo mundo é rap e hip hop

É um estilo de música e de vida muito rico, com uma história incrível! E olha que a gente se limitou a falar apenas dos Estados Unidos. Só a história do hip hop no Brasil, com Thaíde & DJ Hum, DJ Marlboro e toda a turma, já dava outro texto delicioso. Mas por hora, ficamos por aqui. Lembrando, é claro, que o hip hop, a cultura do grafite, a luta contra o racismo, a poesia e a música são parte essencial na formação da Strip Me. Então você obviamente encontra várias camisetas sensacionais com referências a este universo maravilhoso, bem como tantas outras estampas de música, cinema, arte, cultura pop e muito mais. Se liga nos nossos lançamentos e visite a nossa loja

Vai fundo! 

Para ouvir: Uma playlist no capricho do que há de melhor no hip hop dos anos 90. Top 10 Tracks 90’s Hip Hop 

Para assistir: A série The Get Down, produção da Netflix é impecável e retrata muito bem o início do hip hop no Bronx. É mais que imperdível, essencial. 

100% de Aproveitamento no Lollapalooza 2022

100% de Aproveitamento no Lollapalooza 2022

Tá chegando! Semana que vem vai rolar mais uma edição do nosso querido Lollapalooza! O festival de música mais descolado que este país já viu acontece nos dias 25, 26 e 27 de março no Autódromo de Interlagos, na cidade de São Paulo. Depois de 2 anos dentro de casa, tá todo mundo na pilha de curtir uns rolês, ainda mais no naipe do Lolla. E como barulho, diversão e arte é o que não falta no Lollapalooza, nada mais justo do que a Strip Me se apresentar pra dar aquelas dicas quentes pra você aproveitar cada segundo desse rolê com conforto, disposição e se mantendo bem longe de qualquer perrengue! Se liga! 

Começamos com a parte mais chatinha, mas que precisa ser falada. Ainda que não haja mais a obrigatoriedade de usar máscara em lugares abertos, o uso da máscara é uma ótima ideia. Afinal, as coisas estão voltando ao normal, mas corona ainda está saltitando por aí, ainda tem gente sendo internada e etc. É bom se cuidar, né? Então, leva umas 3 máscaras, porque você vai suar bastante. E leva também um frasquinho de álcool gel. Outra coisa fundamental é não esquecer de jeito nenhum seu comprovante de vacinação. Ele tem que ser apresentado junto do ingresso, para você poder entrar no evento. 

Pensando no seu conforto, a primeira coisa é evitar levar mochila ou bolsas grandes, que vão ocupar espaço, você pode acabar querendo levar coisas demais e ficar carregando peso desnecessário, além de se tornar um estorvo na hora de curtir os shows e pular loucamente ao som da sua música favorita. A dica aqui é levar uma bolsa pequena com alça comprida ou então a famigerada pochete. Porque o que você vai realmente precisar levar é seu celular, um carregador portátil, seu documento, dinheiro e cartão de crédito, máscaras, um frasquinho de álcool gel, um protetor solar e uma barrinha de cereal. Tudo coisa pequena e leve. Além do mais esse lance de levar mochila e bolsas grandes varia de festival pra festival. Tem uns que não permitem. O Lolla, especificamente, libera a entrada, mas não tem guarda volumes, ou seja, você tem que ficar carregando o tempo todo. A mochila serviria se o festival permitisse, por exemplo, de as pessoas entrarem com garrafas de água e tal. Mas não é o caso. Se você aparecer na catraca com uma garrafinha de água que seja, vão te mandar jogar fora ou beber tudo antes de entrar. 

Apesar disso, se hidratar é uma das dicas mais importantes. Tá fazendo um calorão e você vai ficar perambulando por ali o dia todo. Tomar uma cervejinha curtindo um belo show é uma delícia e a gente recomenda que você o faça! Mas capricha na água também, vai intercalando. Assim como a água e a cerveja, você vai precisar comprar comida. Então, duas dicas essenciais neste aspecto são: leve uma quantidade de dinheiro trocado, em notas pequenas, para não precisar ficar esperando troco, e também compre uma quantidade maior de fichas do que você quer consumir naquele momento. Assim, você evita pegar a fila do caixa várias vezes e vai direto pegar o que você quer comer ou beber. Outra coisa importante é se ligar no clima. Um dia antes de ir pro festival dá uma conferida na previsão do tempo. O Tom Jobim já cantou que são as águas de março que fecham o verão, né? Então, pode ser que chova. Neste caso, leva uma capa de chuva. Se a previsão for de sol, lambuza esse corpinho de filtro solar sem medo e ser feliz! 

Pra curtir os shows com plenitude, se programe. Faz uma listinha dos shows que você mais quer ver. No site do Lolla já tem os horários de cada show. Você vai precisar andar de um lugar para o outro, e os palcos não são tão pertinho um do outro. Então, além de elencar suas prioridades entre as atrações, também é boa ideia ter um mapa de toda a área do local e baixar o app do festival, que vai te ajudar a se localizar. Outra dica sobre os shows em particular é: aproveite o show! Lembre-se que tem pelo menos uns três canais de TV filmando e transmitindo tudo! Desencana de ficar fazendo centenas de vídeos e fotos e assista o show! A propósito, cabe aqui dar algumas dicas de shows que vão rolar no Lolla esse ano que vale a pena se programar pra ver. Na sexta feira às duas e meia da tarde, Tem o Turnstile, uma banda muito boa, pegada meio pós punk e muita presença de palco. No sábado vale conferir o show da Clarice Falcão, um show super alto astral, performático e com músicas bonitinhas e divertidas. E no domingo tem Foo Fighters, eu sei, mas imperdível mesmo é o show da Black Pumas, baita banda incrível. Show às cinco da tarde, imperdível! 

Pra finalizar as dicas, voltamos ao seu conforto e bem estar. Primeira coisa: vai de tênis! Um tênis confortável! Pensa que você vai andar muito, que lá tem grama e terra, se chover vira um lamaçal… então, nada de chinelo, sandália ou sapato de salto. Outro item de vestuário indispensável para um festival como o Lolla, claro que é uma camiseta estilosa e super confortável, com um tecido de qualidade e caimento perfeito! A Strip Me está aqui pra te oferecer tudo isso. E pra te ajudar ainda mais, sugerimos algumas estampas, pra você colar no rolê com um look imbatível São elas que ilustram este texto! Tem de tudo! Tem as good vibes pra curtir o festival na paz e amor, no maior clima californiano, tem as mais sacaninhas, que subvertem aquelas marcas famosonas, e, é claro, tem as camisetas de música, com capa de disco dos Strokes, escalação dos Foo Fighters e até aquela referência ao hip hop raiz! É pra se esbaldar nos 3 dias do Lolla no maior estilo! Então divirta-se e bom festival! 

Para conferir essas e outras estampas, dá uma olhada na nossa loja! stripme.com.br

E para mais informações sobre o Lollapalooza 2022, entra no site do festival lollapaloozabr.com

Vai fundo! 

Para ouvir: Uma playlist no capricho pra você ir esquentando os motores para o Lolla 2022! Top 10 Tracks Lolla 2022 

Para assistir: O pessoal da Strip Me obviamente não costuma perder esses rolês incríveis. Então aqui está o registro de um dos shows mais marcantes da história do Lollapalooza Brasil, e que parte da equipe da Strip Me estava ali no meio pirando com esse show inesquecível! Soundgarden no Lollapalooza Brasil 2014

Mulheres que Representam!

Mulheres que Representam!

Até parece que é chover no molhado falar que o dia da mulher é todo dia, e não só o dia 8 de março. Que as mulheres são incríveis e empoderadas. E que a luta do feminismo por um mundo de real igualdade e respeito é mais que digna, é essencial para a humanidade. Acontece que a gente tem que chover no molhado sim, todo ano nessa época. É claro que todas as afirmações acima são verdadeiras e do conhecimento de muita gente. Lógico que as coisas já melhoraram bastante, e hoje as mulheres tem muito mais voz e protagonismo. Mas ainda falta muito. Então, pra gente não deixar essas ideias passarem batidas, escolhemos 5 mulheres brilhantes, com histórias inspiradoras, pra comentar por aqui, como uma homenagem, sendo que essas 5 representam com propriedade todas as mulheres deste mundo!

Carmem Miranda 

Photo by Silver Screen Collection/Hulton Archive

Por muito tempo a Carmem Miranda não era muito bem vista aqui no Brasil. Alguns críticos e intelectuais, desses que gostam muito de criticar, mas não produzem nada original ou relevante, diziam que ela era uma artista fabricada, sem originalidade, americanizada, estereotipada, que ridicularizava a imagem do Brasil no exterior… Um absurdo, né? Por mais que ela nunca tenha sido compositora, era uma artista nata! Desde criança gostava de cantar, vivia sorrindo. Teve uma vida pobre no Rio de Janeiro, onde trabalhou desde criança. Primeiro entregando marmitas, depois vendendo gravatas e, por fim, já adolescente, numa loja de chapéus onde se encantou com o mundo da moda e desenhava figurinos. Aos 20 anos de idade gravou seu primeiro disco, no ano seguinte, 1930, vendeu quase 40 mil cópias, um sucesso estrondoso para a época. Aos 22 anos era considerada a rainha do rádio! Do rádio foi para o cinema, onde estrelou 7 filmes, sendo o último deles, Banana da Terra (1939), onde imortalizou sua imagem vestida de baiana, com turbante florido, cantando O Quê que a Baiana Tem? De Dorival Caymmi. Em 1940 foi levado para Los Angeles por um produtor norte americano que passava férias no Rio. Nos Estados Unidos virou uma estrela inquestionável! Estrelou 14 filmes, sendo a maioria como protagonista, no fim dos anos 40 ela era a mulher com o maior salário de Hollywood, conquistando até uma das cobiçadas estrelas na legendária Calçada da Fama! Ela mesma desenhava seus figurinos exuberantes e exóticos, tinha um senso estético fantástico, apenas movimentando os braços e os olhos, ela dançava como ninguém! Mas o ritmo de trabalho frenético de LA cobrou seu preço. Carmem Miranda ficou viciada em anfetaminas e acabou tendo uma parada cardíaca por conta dos estimulantes, morrendo aos 46 anos de idade, em 1955. Apesar de ter morrido em LA, ela foi velada e enterrada no Rio de Janeiro, cidade que sempre amou e considerou seu verdadeiro lar. 

Audrey Hepburn 

Photo by harpersbazaar.com

Mesmo tendo origem numa família nobre, Audrey Hepburn passou longe de ser uma bonequinha de luxo. Mas tinha tudo para ser uma grande artista. Ainda criança apaixonou-se pelo balé clássico. Por conta do trabalho do pai, a família de Audrey morou em vários países, o que deu a ela uma cultura considerável. Na adolescência, ela já falava holandês, inglês, alemão, italiano, francês e espanhol. Quando a Segunda Guerra Mundial começou, Audrey tinha apenas 10 anos. Na época morando em Arnhem, na Holanda, ela viveu os horrores da guerra quando os nazistas invadiram a Holanda. Em 1942 viu um tio ser fuzilado. Há muitos boatos, e muito poucas evidências, de que ela tenha participado ativamente na resistência holandesa. Talvez ela não tenha atuado como mensageira, percorrendo as cidades destruídas, como dizem. Mas é tido como muito possível que ela tenha feito apresentações de dança nas ruas em troca de dinheiro e ter dado esse dinheiro para a resistência, a qual seu tio fazia parte. Depois da guerra, mudou-se para a Inglaterra onde se especializou como dançarina de balé e começou a atuar em peças de teatro e filmes. Em 1952 a escritora Colette estava envolvida com a produção do musical da Broadway inspirado em seu livro, Gigi. Ela viu Hepburn se apresentando num teatro em Monte Carlo e decidiu convidá-la para atuar na Broadway. Daí foi só ladeira acima. Foram 23 filmes só em Hollywood, fora os que ela atuou na Inglaterra antes, e fora as muitas peças da Broadway. Foi uma mulher que trabalhou demais, e sempre com excelência! Ela ganhou dois Oscars e foi premiada mais de 25 vezes em premiações mundo afora. Seu papel mais emblemático, claro, foi Holly Golightly, a protagonista de Bonequinha de Luxo (Breakfast at Tiffany’s) lançado em 1961. No final da década de 60, quando sua careira estava no auge, ela decide parar tudo para ter filhos e se dedicar à família. Claro fez um filme aqui, outro ali, mas entre 1967 e 1993, quando ela faleceu, participou de apenas 5 filmes. Mas sua vida não se limitou a ser dona de casa, ela se engajou em muitas campanhas humanitárias e foi nomeada Embaixadora da Unicef em 1989. Audrey Hepburn foi diagnosticada com um câncer no estômago em 1992 e morreu dormindo na noite do dia 20 de janeiro de 1993. Mas certamente ela é uma dessas estrelas que nunca vai deixar de brilhar. 

Frida Kahlo 

Self-portrait with thorn necklace and hummingbird by Frida Kahlo (1940)

Ah, uma artista em sua mais pura essência! Afinal o que mais pode ser a arte senão o sofrimento travestido em cores fortes, olhares misteriosos e a vida traduzida em sentidos? Assim era Frida Kahlo! Uma mulher brilhante que encontrou ao longo de sua vida muito mais desgraças do que qualquer outra coisa, tentou domar seus sentimentos na base de pinceladas, onde foi muito bem sucedida, mas também o fez de maneira dolorosa, misturando prazer e sofrimento em relacionamentos amorosos questionáveis e abuso de remédios dos mais variados. A história de Frida é louquíssima porque tem um monte de camadas. Oriunda de uma família de classe me´dia, sua infância foi triste, testemunhando o casamento falido dos pais. Teve poliomelite, o que lhe deixou de cama por meses e lhe rendeu uma saúde frágil pro resto da vida. Quando jovem, aos 18 anos, sofreu um acidente gravíssimo, quando o ônibus em que ela estava se chocou com um bonde. Um corrimão do ônibus lhe perfurou as costas, a pélvis, o abdome e o útero, teve três vértebras e a clavícula fraturadas e seu pé direito foi quase triturado. Ainda assim ela sobreviveu, se recuperou, mas viveu o resto de seus dias com dores crônicas por todo o corpo, o que justificava (mais ou menos) o uso excessivo de analgésicos. E foi depois do acidente que Frida se dedicou a pintura, além de ler muito e se engajar politicamente. Filiou-se ao partido comunista mexicano, chegou a receber em sua casa no México, e ter um affair, dizem, o lendário político russo Leon Trotsky. Aliás, se o caso com Trotsky realmente rolou, foi uma das muitas puladas de cerca de Frida, que vivia casada desde 1929. Um casamento daqueles, entre tapas e beijos, amor e ódio. Mas o importante é que Frida Kahlo se tornou uma das artistas mais emblemáticas da história! Uniu primitivismo, folclore mexicano e surrealismo, tudo com um toque de feminismo muito peculiar, que produziu uma obra autêntica, revolucionária e influente até hoje. Frida foi encontrada morta em seu quarto no dia 13 de julho de 1954. Ela tinha 47 anos e morreu de uma possível embolia pulmonar, mas não se descarta a possibilidade de uma overdose premeditada de remédios, já que ela já tinha tentado suicídio muitas vezes ao longo da vida. Uma artista em estado bruto, tão perturbadora quanto genial. 

Amy Winehouse 

Photo by Phil Griffin

Há quem tente resumir a Amy Winehouse num clichê do tipo “rockstar que perde tudo para o vício em drogas, genialidade desperdiçada, blá blá blá…” Quem diz isso não poderia estar mais errado, cara! A história da Amy Winehouse é única, apesar de conter sim alguns clichês que, infelizmente, ainda se abatem muito sobre as mulheres, sejam elas estrelas pop ou ilustres desconhecidas. Desde muito criança, Amy já demonstrava aptidão para a arte, em especial a música. Porém era muito tímida. Quando chegou na adolescência e começou a fazer suas primeiras apresentações, como cantora, se sentia insegura, sofria de ansiedade, e isso culminou numa bulimia que não foi tratada. A bulimia e a anorexia são mais comuns do que a gente pensa, mas muito pouco se fala a respeito. Aliás, cabe aqui um parênteses pra homenagear outra mulher incrível e talentosíssima, a Karen Carpenter, que morreu muito jovem em decorrência da anorexia. Mas voltando à Amy, ela foi uma menina que sempre respirou música. Teve uns empreguinhos pra levantar uma grana, mas se realizava mesmo se apresentando em clubes de jazz em Londres. Entre 2000 e 2001 ela já era conhecida no circuito undeground de jazz da cidade e tinha uma fita demo na mão. Um amigo de um amigo conseguiu uns contatos e por fim, em 2002 ela assinou com a EMI, lançando seu primeiro disco pelo selo Island Records. O disco Frank foi lançado em 2003 e foi bem recebido pela crítica, mas sem venda expressiva. Mas o jogo virou mesmo em 2006 com o antológico disco Back to Black. Amy Winehouse se mostrou uma cantora impressionante e uma compositora sensível e bem articulada, com uma sonoridade super plural. E é em cima dessa obra, curta, mas irretocável, que Amy Winehuse se imortalizou. Todo mundo sabe das tretas do casamento conturbado dela, dos vícios em drogas, dos bafões estampados nos tablóides britânicos. Mas, cara, essa mulher revigorou a música pop, revolucionou o R&B moderno e é modelo até hoje como estética fashion. A Amy Winehouse é f*d@, e para sempre será! 

Elza Soares 

Photo by Daniel Barboza

Por falar em música e mulher f*d@, a gente finaliza essa lista com uma das mulheres mais emblemáticas da história moderna do Brasil. Nascida Elza Gomes da Conceição no Rio de Janeiro em em 23 de junho de 1930, Elza Soares conseguiu traduzir toda uma vida em música. Amores, tragédias familiares, pobreza, racismo… tá tudo lá, em mais de 60 anos de carreira musical. Logo na adolescência Elza já sentia na pele negra a dureza de ser mulher. Após ser abusada sexualmente por um “amigo” de seu pai, ela foi obrigada a se casar com esse “amigo” aos 13 anos de idade, para ter sua honra de mulher (vulgo virgindade) limpa. E, é lógico que depois de casada, vieram mais abusos e violência doméstica. Teve seu primeiro filho aos 14 anos. Com 15 anos viu seu segundo filho morrer de fome… olha a vida da Elza Soares dava um texto enorme! Enfim. O tal “amigo” finalmente morreu de tuberculose quando ela tinha 21 anos. Foi quando se viu livre para tentar realizar seu sonho: ser cantora. Vale lembrar que desde adolescente ela já se arriscava a compor umas canções. A entrada de Elza Soares no showbiz é revelador. Vestida humildemente, com um penteado todo troncho, ela se apresentou no programa de calouros de Ary Barroso. Quando a viu, o velho maestro, com bom humor perguntou: “De que planeta você veio, minha filha?”. Ela respondeu enfática: “Do mesmo planeta que o senhor, Seu Ary. Do planeta Fome.”. E é lógico que ela cantou, ganhou nota máxima e dali pra começar a gravar discos e etc, foi um pulo. Em 1962 ela já tinha uma carreira musical bem sucedida quando conheceu o craque responsável pela conquista da primeira Copa do Mundo do Brasil, o jogador Garrincha. Os dois começaram a namorar e Elza quase perdeu sua carreira de cantora, já que Garrincha abandonou sua então esposa para ficar com Elza. O público, que adorava Garrincha, começou a perseguir Elza acusando-a de destruir o casamento do jogador. Olha, foi um casamento muito conturbado. Anos depois, já morando juntos, Garrincha sofre um acidente de carro onde a mãe de Elza, que estava junto com ele, acaba morrendo. Ele entra em depressão, começa a beber muito e acaba por abandonar o futebol. Com o alcoolismo, vem a violência doméstica, o ciúmes exagerado e uma cirrose hepática que o matou em 1983. Elza segue a vida sempre cantando, gravando discos, fazendo shows… e sempre se reinventando, aglutinando novos gêneros musicais. Cantou samba, jazz, soul, funk, R&B, bossa nova, rock e até hip hop. Ela nunca parou de fazer música! Ela tem 33 discos gravados entre 1960 e 2021, sem falar nos 3 discos ao vivo e nas 7 coletâneas. Elza Soares morreu de causas naturais no dia 20 de janeiro de 2022, aos 91 anos de idade. Por coincidência, 39 anos depois, exatamente no mesmo dia que morreu Garrincha, que apesar de tudo, foi seu grande amor. Olha, a Elza Soares realmente é uma das representantes mais genuínas das mulheres não só no Brasil, mas no mundo. 

É impressionante! A vida de cada uma dessas 5 mulheres daria um livro. Resumí-las a um parágrafo é tarefa inglória. Mas a ideia é justamente que você queira saber mais e vá ler, assistir filmes, documentários… conhecer a obras de cada uma delas! Na real a gente sabe que a vida de toda mulher certamente daria um livro incrível, cheio de emoções e atitude, coragem, trabalho, ousadia e força! O dia 8 de março existe pra gente lembrar disso e entender de uma vez que igualdade não é só dividir a conta do bar, ter salário igual ou lavar uma louça no lugar dela de vez em quando. Essa igualdade tem a ver com respeito, com humanidade e sensatez. E é lógico que esses valores estão impregnados do DNA da Strip Me, que sempre celebra a diversidade, a igualdade, a responsabilidade, tudo encharcado de muito barulho, diversão e arte! Então confere lá na nossa loja os lançamentos e as estampas de arte, cinema, música, cultura pop e muito mais! 

Vai fundo! 

Para ouvir: Aquela playlist 100% Girl Power pra você curtir a semana da mulher! Girl Power Top 10 tracks

Para assistir: Tem muitos filmes excelentes sobre grandes mulheres, de A Cor Púrpura a Thelma & Louise. Mas hoje recomendamos um filme que não recebeu tanta atenção do grande público, mas é um filmaço, com uma fotogrfia linda, um roteiro forte e bem construído e uma atuação intensa da ótima atriz Reese Whiterspoon. É o filme Wild, lançado em 2014, dirigido pelo Jean-Marc Vallée, roteiro do Nick Hornby e uma história incrível de uma mulher que resolve atravessar os Estados Unidos a pé para tentar se recuperar de alguns traumas pessoais. É um filmaço! 

Para ler: Uma leitura tão deliciosa quanto fundamental é a excelente autobiografia da atriz Fernanda Montenegro! No livro Prólogo, Ato, Epílogo: Memórias de Fernanda Montenegro, ela canta com delicadeza e fluidez toda a sua história, que é cheia de momentos interessantíssimos! Mais uma história de uma mulher com M maiúsculo que merece ser lida. 

100 ANOS DA SAM-SP: DE LÁ PRA CÁ

100 ANOS DA SAM-SP: DE LÁ PRA CÁ

Não há limites para a arte! Uma vez revelada sua verdadeira voz, reconhecida sua mais pura personalidade, evidenciada sua força e originalidade, a arte se espalha contagiosamente, inspira artistas a se arriscar, a criar, dar vida àquilo que nuca foi feito antes. Neste quarto e último texto homenageando os 100 anos da Semana de Arte Moderna de São Paulo, vamos entender como o movimento modernista, que começou a tomar forma na virada da década de 1910 para 1920, realizou a Semana de Arte Moderna em 1922 e se consolidou em 1928 encontrando sua mais pura personalidade, foi fundamental para todas as expressões artísticas que viriam a seguir no Brasil. A Semana de Arte Moderna de 1922 acabou sendo o farol que guiou, e ainda guia, muitos artistas brasileiros a encontrar sua própria voz, sua personalidade. 

O combo de 1928, Manifesto Antropofágico + Abaporu + Macunaíma, realmente acendeu a luz da identidade artística essencialmente brasileira. Artistas contemporâneos a Oswald de Andrade, Tarsila do Amaral e Mário de Andrade se reinventaram. Em especial na literatura, muitas obras únicas e geniais foram concebidas a partir de 1930. Ganham notoriedade nomes como Jorge Amado, Graciliano Ramos, Cecília Meirelles, Carlos Drummond de Andrade, Rachel de Queiros, José Lins do Rego, Mário Quintana, Érico Veríssimo e, o maior de todos e verdadeiro alquimista da língua portuguesa, João Guimarães Rosa. Guimarães Rosa é tão importante porque é a mais evidente e brilhante síntese da metáfora antropofágica. Nascido em 27 de junho de 1908, teve uma infância tranquila no interior de Minas Gerais. Sempre afeito a leitura, ainda criança dizia que estudava por diversão. Fez faculdade de medicina, profissão que exerceu por muito tempo, mas sempre escrevendo nas horas vagas. Em meados da década de 1930 passou no concurso do Itamaraty e tornou-se diplomata. Atuou como cônsul brasileiro na Alemanha entre 1938 e 1942. Na embaixada do Brasil em Hamburgo ele conheceu e logo se casou com Aracy de Carvalho, uma mulher fantástica, funcionária da embaixada brasileira, que entrou para história como heroína ajudando judeus a escapar das garras do nazismo fugindo para o Brasil, emitindo muito mais vistos do que as cotas permitidas pelo governo. Em 1946, já de volta ao Brasil, ele lança Sagarana, seu segundo livro e o primeiro a já evidenciar uma linguagem moderna. Mas foi em 1956 que ele lança sua grande obra: Grande Sertão: Veredas! Um épico que captura a alma do regionalismo brasileiro, como só Mário de Andrade foi capaz em Macunaíma. Mas Guimarães Rosa vai além criando uma linguagem totalmente nova, criando palavras e impondo uma narrativa que preza mais pela fluidez do que pelo padrão gramatical vigente. Antropofagia pura! Numa entrevista, ele chegou a declarar o seguinte: “Eu falo: português, alemão, francês, inglês, espanhol, italiano, esperanto, um pouco de russo; leio: sueco, holandês, latim e grego (mas com o dicionário agarrado); entendo alguns dialetos alemães; estudei a gramática: do húngaro, do árabe, do sânscrito, do lituano, do polonês, do tupi, do hebraico, do japonês, do checo, do finlandês, do dinamarquês; bisbilhotei um pouco a respeito de outras. Mas tudo mal. E acho que estudar o espírito e o mecanismo de outras línguas ajuda muito à compreensão mais profunda do idioma nacional.”. Ele faleceu no dia 19 de novembro de 1967, algumas semanas depois de ser indicado ao Prêmio Nobel da Literatura e apenas 3 dias depois de assumir sua cadeira na Academia Brasileira de Letras, ocasião em que discursou e disse emblemática frase: “A gente morre é pra provar que viveu.”. 

Nas artes plásticas, as cores e pinceladas fortes de Anita Malfatti e os traços únicos de Tarsila do Amaral foram determinantes para as gerações das décadas de 1940 e 1950. Ismael Nery, Alfredo Volpi, Aldemir Martins e, principalmente Cândido Portinari. Portinari talvez seja o pintor de maior êxito no Brasil. Produziu em abundância e com muita qualidade. Ele nasceu no interior de São Paulo, numa fazendo de café em 29 de dezembro de 1903. Apesar do pouco estudo, ele não chegou a completar o ensino primário, tinha um talento inquestionável. Quando ele tinha 14 anos um grupo de pintores e escultores italianos passou pela cidade onde ele morava. Esses artistas viajavam de cidade em cidade fazendo restauração de pinturas, esculturas e vitrais de igrejas. Tais artistas se impressionaram muito com o talento do garoto, que acabou trabalhando com o grupo por um tempo. Depois, com 16 para 17 anos, mudou-se para o Rio de Janeiro para aprimorar sua arte. Ele ingressa na Escola Nacional de Belas Artes e chama a atenção de acadêmicos e até mesmo da imprensa. Era um artista tradicional, mas à partir de 1926 toma conhecimento do modernismo e se interessa pelo estilo. Após ganhar uma bolada num concurso em 1928, ele embarca para a Europa pela primeira vez, e fica em Paris por 2 anos. Volta para o Brasil cheio de novas ideias e técnicas. Assim como Tarsila do Amaral e Di Cavalcanti, Portinari pinta elementos brasileiros com muita personalidade, mas incluindo uma linguagem muito mais criativa e envolvente. Suas obras ganham prestígio mundo afora, ele chegou a fazer exposições exclusivas no legendário MoMA (Museu de Arte Moderna de New York). Ele pintava compulsivamente e acabou morrendo intoxicado pelas tintas que utilizava, pois trabalhava num ateliê pequeno e abafado, em 6 de fevereiro de 1962. 

Depois do golpe de 1930, que alçou Getúlio Vargas ao poder de maneira inconstitucional, o Brasil entraria num momento particularmente nefasto. Após algumas revoltas, em 1937 Vargas instaura o Estado Novo, a ditadura mais truculenta já vista no Brasil. Apesar de ter durado de 1937 a 1945, apenas 8 anos, ela foi mais violenta do que a ditadura de 1964, que se estendeu até 1985. Fora isso, o mundo via com terror a ascensão de Hitler e os horrores da Segunda Guerra Mundial. Mesmo depois de tanta violência, inacreditavelmente, Getúlio Vargas volta ao poder nos braços do povo, eleito democraticamente em 1951 presidente do Brasil, cargo que deixaria em 1954 após cometer suicídio. Ou seja, foi uma fase de muito medo, insegurança e incerteza. Mas a segunda metade da década de 1950 parece ter trazido novos ares e o Brasil praticamente renasceu. Em 1955 Juscelino Kubitschek assume a presidência do país abrindo o Brasil para o comércio estrangeiro, cheio de planos de desenvolvimento, incluindo mudar a capital do país para uma cidade recém planejada e construída no meio do cerrado. Em 1958 o Brasil ganha sua primeira Copa do Mundo de Futebol… enfim, uma euforia pairava o ar. No meio disso tudo alguns artistas despontavam com novas linguagens, em paralelo ao não menos novidadeiro Cinema Novo de Nelson Pereira Santos e Glauber Rocha, e à moderníssima bossa nova, gênero musical que nascia da fusão do samba com o jazz na zona sul da cidade do Rio de Janeiro. 

No meio de toda essa efervescência o jovem Hélio Oiticica se estabelecia como um dos principais artistas de um coletivo chamado Frente! Um coletivo de artistas plásticos que estudavam e promoviam exposições de arte concreta e outras vertentes da arte de vanguarda. Oiticica, já absorvendo elementos da Pop Art, começou a extrapolar a tela e a tinta para criar ambientes, o que ele chamava de arte penetrável, ou arte ambiental. Em 1964 ele se interessa pela produção de carros alegóricos das escolas de samba e acaba mergulhando naquele mundo. Foi uma experiência transformadora, que o fez acrescentar mais elementos artísticos e impregnar cada vez mais suas obras com críticas sociais. Até que o ano de 1967 chega trazendo uma nova revolução. No Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro, Oiticica apresenta um ambiente que mistura paisagens tropicais, elementos dos morros cariocas, a pobreza, a alegria do samba e muito mais. A obra se chama Tropicália e viria a inspirar Caetano Veloso, Gilberto Gil e outros músicos a criar o mais antropofágico dos movimentos culturais brasileiros: o tropicalismo. Com uma linguagem estética moderna e pop de artistas como Antonio Peticov e a música universal e super criativa dos Mutantes o tropicalismo é o filho prodígio do modernismo e da Semana de Arte Moderna de 1922. É o Brasil e o mundo ao mesmo tempo agora, em sua mais completa tradução. 

Consequentemente, o que se seguiu de lá pra cá só reforça esse conceito de evolução da arte, que encontra na metáfora mais que perfeita do Manifesto Antropofágico o meio ideal para se reinventar, evoluir e provocar, encantar, emocionar, empolgar e existir. Vieram nomes que absorveram, misturaram, subverteram e produziram uma arte contemporânea e original como Chico Science e o Manguebeat, e o Eduardo Kobra e seu grafite revolucionário. Encerramos hoje este mês de celebração dos 100 anos da Semana de Arte Moderna de São Paulo. O momento que mudou drasticamente todos os padrões da arte no Brasil, que desencadeou uma enxurrada de obras e movimentos revolucionários. A Strip Me está sempre de olho no que há de mais novo e interessante da arte, que instiga a criar. Mas também não deixa de olhar pra trás, pra aprender e se inspirar no que é clássico e abriu caminhos. Por isso a Strip Me apresenta estampas homenageando a Semana de Arte Moderna de 1922 e também tantas outras estampas de arte, música, cinema, cultura pop, tudo que nos encanta e inspira! Uma homenagem da Strip Me a todos que fizeram parte daquela semana de muito barulho, diversão e arte no Teatro Municipal de São Paulo 100 anos atrás! 

Vai fundo!  

Para ouvir: A produção musical no início do século XX era bem limitada e essencialmente de música erudita, né. Então, ao longo desses 4 posts sobre os 100 anos da Semana de Arte Moderna, vamos caprichar numa playlist cheia de brasilidade, com o que rola de som enquanto os textos são produzidos. Uma playlist que vai crescendo a cada post, até chegar a ser um top 40 tracks! SAM-SP 1922 – Top 40 Tracks.    

Para assistir: Em 2002 a TV Cultura fez um ótimo documentário sobre a semana de Arte Moderna de 1922. Com vários depoimentos de gente que fez parte do movimento modernista, em gravações antigas, claro, é um doc que vale a pena demais ser visto! Tá completinho no Youtube.    

Para ler: Com certeza a obra mais emblemática da literatura modernista brasileira veio a ser publicada 6 anos depois da Semana de Arte Moderna. Claro, é o indispensável Macunaíma, de Mário de Andrade. Um livro delicioso, divertido e que diz muito, mas muito mesmo, sobre o Brasil de ontem, de hoje e de sempre. Leitura necessária! 

Big Brother is Watching You

Big Brother is Watching You

Telas! Telas por todos os lados! Todas as suas vontades, interesses, virtudes, defeitos, são revelados! Uma nova linguagem é criada para designar conceitos, novas palavras são incluídas no dicionário, enquanto outras caem em desuso. E, acima de tudo, sempre tem alguém assistindo você! Isso tudo pode ser aplicado às redes sociais, ao novo lifestyle mundial de estarmos sempre conectados, afinal tudo isso é uma realidade. Porém, essas ideias e noções de comportamento descrevem igualmente as características da sociedade criada pelo escritor George Orwell. E o espantoso é que ele escreveu tudo isso em 1948, quando ainda não existia sequer o conceito da internet. Orwell descreve uma sociedade futurista, em que a sociedade vive cercada de telas, e é controlada por elas. Controle este, manipulador e castrador, regido por um governo autoritário, misterioso e muito eficiente. Para George Orwell este futuro era o ano, para ele longínquo, de 1984, ano que também é o título do livro, que se tornou um clássico absoluto da literatura mundial e uma obra quase que premonitória do que seria o futuro da humanidade. Mais do que isso, este livro acabou inspirando um dos programas de TV mais revolucionários, polêmicos e rentáveis do mundo! 

Em 1997, na Alemanha, foi feito um experimento antropológico colocando algumas pessoas dentro de uma casa por alguns dias sem contato nenhum com o mundo exterior, sem televisão, sem telefone e etc, para ver como essas pessoas se comportariam em diferentes situações e tal. Um jovem holandês leu sobre esse experimento e imaginou que isso poderia render um programa de TV interessante. Ele estava começando uma produtora de audiovisual na época, e procurava ideias diferentes, inovadoras, para desenvolver. Seu nome era John De Mol, e sua produtora fora batizada Endemol. Essa ideia de confinar pessoas numa casa ficou fermentando na cabeça de John De Mol até 1999, quando ele conseguiu desenvolver a ideia e resolveu produzir um piloto. 

Nós aprendemos, de maneira bem didática, no filme Pulp Fiction o que é um piloto. Nas palavras de Jules Winnfield: “Sim, mas você está sabendo que existe uma invenção chamada televisão, e que nela são transmitidos programas de TV, certo? Então. A maneira como eles escolhem que programa vai ser transmitido é fazendo um programa e mostrando para as pessoas. Esse programa é chamado de piloto. Então eles mostram esse programa para produtores de TV e outras pessoas e, com base nisso, eles decidem se vão fazer mais programas. Alguns pilotos são escolhidos e se tornam programas de televisão. Alguns não dão em nada.”. Bom, o John De Mol fez um piloto. Alugou duas casas de veraneio no interior da Holanda, em uma delas fez todo um aparato de espelhos e encheu a casa de câmeras. Na casa vizinha, colocou os monitores, todo o equipamento de edição e alojou todo o staff de produção. Enquanto aconteciam as filmagens, logo nos primeiros dias, De Mol reparou que todas as pessoas da produção, do cozinheiro ao editor de vídeo, não desgrudavam dos monitores, acompanhando a vida das pessoas da casa ao lado. Ali ele soube que seria um sucesso. Inspirado pelo livro de George Orwell , vendo que todos na casa estavam sendo vigiados 24 horas, e recebiam ordens de uma voz anônima, De Mol batizou o seu programa de Big Brother. 

Naquele mundinho de 1984 do George Orwell as pessoas eram criadas desde muito novas a temer e respeitar o Big Brother, uma espécie de entidade que personificava o governo. O Big Brother era uma voz e um rosto em todas as telas, que dava ordens, instruía as pessoas e ditava o que era certo e errado. Era frequente ver nas telas e cartazes pela cidade o assustador lembrete: “The Big Brother is watching you”. Realmente, as pessoas tinham até mesmo dentro de suas casas várias telas, que não só transmitiam as imagens do Big Brother como funcionavam como câmeras. Qualquer atitude subversiva era prontamente vista e combatida. O protagonista da história, Winston, descobre um lugar em sua casa, onde era para ter um armário, em que nenhuma tela o vê. Ali ele começa a escrever seus pensamentos, algo totalmente proibido pelo governo. E esse é o começo da trama toda. 

Não poderia ter sido uma escolha melhor! John De Mol se fez valer de uma entidade da ficção que representa o fascismo, o autoritarismo, o cerceamento de liberdade, para batizar um programa de TV que, por mais que tenha esse viés de confinamento, várias regras e etc, se presta a mostrar pessoas discutindo, conversando abertamente, se adaptando a uma convivência e até mesmo transando livremente. Tudo isso mostrado em rede nacional, e ainda gerando muito dinheiro com publicidade. A primeira edição do Big Brother aconteceu em 1999 na Holanda e foi um sucesso avassalador. Gerou polêmica no mundo todo! O termo “reality show” não existia. A internet engatinhava na época, mas De Mol conseguiu que as câmeras transmitissem 24 horas por dia abertamente num site. O engraçado disso é que rolava uma edição forte para ser transmitido na TV em determinado horário, de forma resumida o que se passava na casa. Os técnicos e editores ficavam monitorando tudo. Quando começava alguma treta mais acalorada, ou algum casal se pegando, a transmissão da internet era cortada, para fazer com que as pessoas assistissem ao programa na televisão. Desde então, a coisa cresceu absurdamente e a Endemol começou a vender o formato, com o nome, e tudo, para emissoras de TV de vários países. 

Não é só o nome que foi tirado do livro de Orwell. Na história de 1984, se alguém era flagrado cometendo qualquer ato que fosse contra os mandamentos do governo, essa pessoa era presa e levada para o… confessionário! Era onde essa pessoa teria a oportunidade de se explicar antes de ser transferida para o Ministério do Amor, onde seria tratada carinhosamente com eletrochoques, lobotomia e toda a sorte de procedimentos que pudessem convencer a pessoa de que ela estava errada. Sim, convencer. O protagonista, Winston, em certo momento da história, acaba preso por ter pensamentos subversivos e contra o governo. Seu interlocutor, enquanto o tortura com choques, lhe mostra a mão com 4 dedos estendidos e o polegar escondido. Ele pergunta: “Quantos dedos você vê, Winston?” e ele responde: “4.”. “Errado São 5 dedos.” e dá-lhe choque. Depois de muita tortura e choques, Winston finalmente afirma que vê 5 dedos, mesmo sendo apenas 4 que são mostrados. O interlocutor então diz: “Não quero que minta para mim. Eu quero que você realmente acredite que está vendo 5 dedos” e continua as sessões de choque e tortura. Essa passagem do livro, inclusive, inspirou a ótima música 2+2=5, da banda Radiohead. Aliás, 1984 é uma obra amplamente influente em todos os meios artísticos. Se você achou que essa coisa toda de telas, estar sempre vigiado, controle de pensamento e liberdade é muito Black Mirror, você acertou. Os criadores já admitiram que a obra de Orwell sempre foi uma forte inspiração para a série. Sem falar que apesar de não ter criado o programa, os direitos de Black Mirror pertencem a que empresa? Acertou quem disse Endemol! 

É verdade! Depois de vender o formato do Big Brother para vários países mundo afora, a Endemol se especializou nisso, criar e comprar os direitos de programas de tv dos mais variados para vendê-los pelo mundo. Para se ter ideia, Masterchef, Extreme Makeover, A Fazenda, Masked Singer e muitos outros são programas criados e vendidos como franquias no mundo todo pela Endemol. Mas com certeza, o líder é o Big Brother! Aquele que começou tudo e abriu o caminho para um novo mundo: os reality shows! A vida como ela é, pessoas de verdade, tudo mostrado para você em quantas telas você quiser. Pode ser na tv, no tablet, no computador, no celular! E tudo na hora que você quiser! Sempre vai ter uma câmera à espreita de quem você queira assistir. Em seguida, você vai na sua rede social favorita e faz um vídeo comentando sobre o que você viu! Qual é a sua opinião? Sempre vai ter alguém querendo saber. Sempre vai ter alguém assistindo você! 

Semana passada estreou a 22ª edição do Big Brother Brasil. É um programa de sucesso indiscutível, mas que gera muita discussão pela qualidade do conteúdo apresentado. Certamente é uma discussão que tem seu valor. Mas o mais importante é que exista a liberdade de um programa como este ser exibido, a liberdade das pessoas de assistirem ou não, de opinarem a favor ou contra. Não menos importante é entender de onde saiu todo esse conceito de Big Brother, confessionário e etc. 1984 é um livro essencial para entender a sociedade moderna e os modelos de política e comportamento que moldaram a humanidade até hoje. Entendendo de onde a gente veio, fica mais fácil saber pra onde a gente vai. 

Agora pense você: Um programa de TV super polêmico, que gera discussões super interessantes sobre diversidade, posicionamentos, sexualidade, convivência, festas e ainda geram uma enxurrada de memes divertidíssimos, e um livro que influenciou de David Bowie a Mano Brown, de Stanley Kubrick às irmãs Wachowski, de Anthony BurgessChuck Palahniuk. É lógico que tudo isso faz parte do universo Strip Me! Então aproveita para dar uma espiadinha nas novas estampas da nossa loja

Vai fundo! 

Para ouvir: Como foi dito, o livro de George Orwell inspirou muita gente a compor canções que fazem referência ao livro 1984. Aqui você confere as mais legais. 1984 Top 10 Tracks

Para assistir: Claro que o livro 1984 já foi adaptado para o cinema. Mas não funcionou muito bem. O filme é cansativo. Mas tem muito filme bom que tem muita influência da obra maior de George Orwell. Um deles é o excelente O Show de Truman, dirigido pelo Peter Weir e lançado em 1998. Um filme divertido, emocionante e muito impactante. Recomendadíssimo! 

Para ler: Aí sim! Não tem como não recomendar a leitura de 1984, clássico de George Orwell lançado em 1948. A editora Companhia das Letras reeditou a obra recentemente, numa edição de luxo, com capa dura e vários apêndices com ensaios sobre a obra e as capas que o livro já teve em diversos países. Vale a pena conferir e é essencial que que seja lido! 

Meus caminhos tortos. Meu sangue latino.

Meus caminhos tortos.     Meu sangue latino.

Em 1976 o compositor cearense Belchior cantava que tinha 25 anos de sonho, de sangue e de América do Sul, e que, por força deste destino, um tango argentino lhe caía bem melhor que um blues. Na verdade, naquele ano Belchior já tinha 30 anos de idade. Mas consideramos que a canção em que consta essa frase, À Palo Seco, foi composta em 1971, mas só foi ser gravada em 1976, quando Alucinação, o primeiro disco do cantor, foi lançado. Neste mesmo disco, Belchior afirmava que era apenas um rapaz latino americano sem dinheiro no bolso, sem parentes importantes e vindo do interior. Chama muito a atenção que numa época em que a cultura norte americana inundava o Brasil com bandas de rock, filmes de Hollywood e a onda disco, que resultou até em novela (Dancin’ Days), Belchior procurava afirmar suas origens, como filho da América do Sul, se dizendo um rapaz latino americano e preferindo o tango ao blues como música de lamento. O que é mais louco nisso tudo é que, ainda hoje, nós, brasileiros, ainda somos muito mais influenciados culturalmente pelo que vem dos Estados Unidos e Europa e mal conhecemos a cultura dos nossos vizinhos. 

Mas a América do Sul é um lugar incrível! Vale a pena a gente se esforçar e procurar conhecer um pouco mais do que os nossos hermanos da Argentina, Uruguai, Paraguai, Equador, Peru, Colômbia, Bolívia, Venezuela, Suriname e Guianas tem a nos oferecer.  Música, gastronomia, arte, história, comportamento, paisagens…a diversidade é enorme. Vale a pena destacar uma diferença que, às vezes, gera confusão. Pode acontecer de alguém se referir à América do Sul como América Latina. Mas qual a diferença? A América Latina abrange a América do Sul, toda a América Central e o México, que faz parte da América do Norte. Ou seja, se refere a todos os países americanos de língua latina e colonização ibérica (espanhola e portuguesa). Não vamos entrar muito aqui em pormenores históricos, mas é legal deixar claro que a distância cultural do Brasil para com seus vizinhos é compreensível e vai muito além da barreira linguística. 

Acredite, a colonização espanhola foi muito mais violenta e usurpadora do que a nossa, que se deu através dos portugueses. Além disso, por toda a região dos Andes, estavam instalados povos mais organizados e civilizados que as tribos nômades e mais vulneráveis de índios que habitavam o território brasileiro. Portanto, houve muito mais confronto nas colônias espanholas, que acabaram por se tornar independentes muito antes que o Brasil. Além do mais, mesmo depois da independência brasileira, ainda ficamos praticamente 70 anos numa monarquia liderada por descendentes da família real portuguesa. É a mesma coisa de você sair da casa dos seus pais, mas ainda depender da mesada que eles te dão pra pagar as suas contas. Enfim. Foi só no início do século XX que o Brasil começa a encontrar sua própria identidade. Uma época em que as referências culturais vinham essencialmente da Europa (França e Inglaterra) e, em seguida, a massiva campanha dos Estados Unidos como grande potência mundial importando o seu american way of life

Dado este contexto, vamos ao que interessa. Pra começar, vamos falar rapidamente das Guianas. O território da Guiana e da Guiana Francesa foi originalmente colonizado por holandeses e em seguida por ingleses e franceses, que obviamente dividiram a área entre si. A parte dos ingleses se tornou independente, já a francesa até hoje é território francês. Não é uma colônia, mas sim um Departamento Regional Ultramarino Francês (que é um nome chique e moderno para… colônia). Já a Guiana, que era inglesa, hoje é independente e tem uma cultura interessantíssima baseada na mistura de povos africanos e hindus, além da influência inglesa. É um país de praias caribenhas, uma música que se assemelha muito ao reggae e ao calipso, cujo nome mais importante é o compositor Eddy Grant. Por ser um país pobre, não desenvolveu uma cultura forte de TV e cinema, mas revelou alguns ótimos escritores como Wilson Harris, Jan Carew e Denis Williams. O país também se destaca por suas belas praias banhadas pelo Mar do Caribe e sua culinária condimentada que mistura ingredientes nativos e indianos. O Suriname completa o rol dos países da América do Sul que não fazem parte da América Latina, pois tem colonização e cultura intimamente ligada à França, Inglaterra e Holanda. O Suriname foi colonizado por holandeses. Tornou-se independente, mas o holandês ainda é o idioma oficial do país. Por ser um país pequeno, subdesenvolvido e viver constantemente sob as rédeas de um governo ditatorial, tem uma cultura própria sem muita expressão. 

Seguindo pelo mapa, vizinho da Guiana, temos a Venezuela! Aí sim! Chegamos na latinidade! Basicamente conhecemos a Venezuela como um país confuso politicamente, rico em petróleo, com 7 vencedoras Miss Universo e com uma seleção de futebol de qualidade bem duvidosa. Tudo isso é verdade, mas tem muito mais. A começar por suas praias belíssimas, comparáveis às praias das ilhas de Curaçao e Aruba, que não pertencem ao território venezuelano, mas estão ali, bem pertinho. A música venezuelana mais tradicional tem influência espanhola e caribenha, mas o país conta com uma cena efervescente de bandas de rock e música eletrônica. Destaque para a ótima banda Caramelos de Cianuro com um power pop delicioso, Arca, uma cantora de música eletrônica super contemporânea e eclética e La Vida Bohème, banda de pós punk que já ganhou Grammy e tudo! O cinema venezuelano também é digno de nota. Apesar de ser essencialmente de cunho político e social, tem grandes talentos e obras excelentes. Os principais nomes são o diretor Jonathan Jakubowicz e a diretora Mariana Rondón, responsável pelo ótimo filme Postales de Leningrado. 

Apesar de distantes um do outro, Colômbia e Bolívia são dois países que comumente, e injustamente, são resumidos a uma única atividade: a produção de cocaína. Em especial a Colômbia, acabou recebendo este rótulo por conta de Pablo Escobar, o maior produtor e traficante de cocaína que já existiu. Sua história virou filme, série, livro e o escambau! Para nós brasileiros, apenas dois nomes são lembrados quando se trata de colombianos famosos: Pablo Escobar e o jogador de Futebol Valderramas, que ficou famoso nos anos 90 por seu talento com a bola e por sua cabeleira esfuziante. Mas a Colômbia também se destaca pelas belezas de seu litoral caribenho, em especial Cartagena e Barranquilla, pela cumbia, estilo musical envolvente que mistura ritmos caribenhos e espanhóis, pela produção de café de excelente qualidade e por ser a terra natal do gênio da literatura Gabriel Garcia Márquez. Já a Bolívia é marcada pela história e se mantém como patrimônio cultural dos povos pré-colombianos. Assim como o Peru, abriga vastas áreas de preservação arqueológica das civilizações Inca, Quíchua e Aimará. Mas também se destaca pela arquitetura barroca e pintura e escultura de influência classicista dos espanhóis colonizadores. Como curiosidade, a Bolívia e o Paraguai são os dois únicos países sul americanos que não tem saída para o mar. 

Equador, Peru e Paraguai formam um bloco de países muito parecidos. Por um lado, são países pouco desenvolvidos, com uma economia fraca e marcados por governos autoritários e corruptos. Por outro lado, carregam intactas e são orgulhosos de suas tradições. O Paraguai é famoso por aqui pelo comércio de produtos falsificados, uma marca de uma economia desesperada. Mas também carrega a cultura guarani de forma muito valorosa. A música também é muito forte no Paraguai, em especial a guarânia, uma música paraguaia que lembra uma valsa, é marcada por um violão rítmico e arpejos de harpa, e influenciou muito a música sertaneja feita no Brasil. Já o Peru, além de render muitas piadas, do tipo Cusco é uma cidade do Peru, é famoso pelo incrível parque histórico de Machu Picchu. É um país fundamental para entender as civilizações que viviam na América antes dos europeus chegarem, e também para visualizar a truculência dos europeus contra esses povos antigos. 

E por fim chegamos nos países com os quais temos maior afinidade. Talvez por serem um pouco mais desenvolvidos e abertos ao turismo, talvez por estarem mais próximos do sul e sudeste do Brasil, as regiões mais populosas e fortes economicamente do país, talvez por terem maior visibilidade mundo afora. Certamente por todas essas razões juntas e muitas outras, Argentina, Chile e Uruguai já são mais próximos de nós. Uruguai é famoso por seu futebol que une garra e violência, proporcionando um espetáculo sempre emocionante, também pelas belezas de Punta Del Este, sem falar no presidente da república mais fofo que o mundo já viu, o simpático velhinho Mujica. Não podemos nos esquecer dos excelentes vinhos uruguaios e da recente legalização da maconha, que tornou o país ainda mais atraente para quem se liga num turismo de cabeça feita. Já o Chile se tornou um destino turístico concorrido por conta e suas paisagens nevadas, os lagos naturais nas montanhas, as cidades charmosas e o excelente vinho. O Chile também abriga uma cena interessante de música contemporânea om bandas como Los Prisioneiros e Los Jaivas. E, claro, terra natal de Pablo Neruda. E finalmente a Argentina! Terra de Maradona, de Carlos Gardel e da Mafalda! Certamente o mais cosmopolita dos países sul americanos depois do Brasil. A Argentina é f*da! Tem o cinema brilhante de Juan José Campanella, Gustavo Taretto e Ricardo Darín! Tem a música pop sensacional da Soda Stereo e do Fito Paez, tem o rock n’ roll dos Los Rodríguez e Los Fabulosos Cadillacs, sem falar no Sui Generis, Pappo’s Blues e até o metal do Rata Blanca. Os vinhos de Mendoza, a gastronomia, a noite, os passeios incríveis de Buenos Aires! Ah, é… tem o Messi também. 

Como é que um continente tão plural, cheio de arte, misturando antigo e contemporâneo, com tanta música boa, lugares incríveis, personalidades emblemáticas e, principalmente tanta originalidade e personalidade, não seria uma inspiração e uma referência para a Strip Me? É claro que juntamos toda essa latinidade em estampas lindas e super modernas! Vem conferir essas e outras estampas na nossa loja

Vai fundo! 

Para ouvir: Aquela playlist caprichada só com músicas deliciosas de artistas sul americanos! America Del Sur Top 10 tracks

Para assistir: A Netflix produziu e lançou em 2020 um documentário dividido em 6 episódios chamado Quebra Tudo!: A História do Rock na América Latina. É um doc interessantíssimo e cheio de bandas incríveis que vão da Argentina até o México! Tudo que é rock n’ roll cantado em espanhol desde La Bamba até hoje em dia é contado lá! Vale a pena demais! Disponível no catálogo da Netflix. 

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