LGBTI+: Conquistas e direitos no Brasil.

LGBTI+: Conquistas e direitos no Brasil.

A diversidade, o orgulho e a luta por igualdade são marca (e estão na marca) da Strip Me. Por isso, neste mês os posts deste blog trazem temas e discussões relevantes e interessantes sobre a comunidade LGBTI+. Semana passada demos uma geral na história da homossexualidade pelo mundo e os marcos da luta por igualdade, que começaram efetivamente na metade do século XX. Hoje vamos falar sobre direitos. Os adquiridos, os ainda não conquistados e a diferença entre o que está no papel e o que acontece na prática.

Antes da gente falar do Brasil, é legal ter  em mente que o tratamento legal para homossexuais mundo afora é abissal. De um lado países como Arábia Saudita e Iêmen tem leis estabelecidas que condenam a morte quem for pego praticando atos homossexuais, de outro lado, países como Canadá, Holanda e Espanha realizam casamentos com todos os direitos civis estabelecidos entre casais do mesmo sexo. Além disso, desde 1990 a OMS, Organização Mundial de Saúde, estabeleceu que a homossexualidade não deve ser considerada doença mental ou desvio de caráter. A Anistia Nacional, a organização mais importante do mundo na defesa dos direitos humanos, considera desde 1991 a discriminação e homofobia violações graves dos direitos humanos. Isso mostra que ainda há muitas diferenças legais entre os países, a maioria dessas diferenças motivadas por fatores religiosos e de sociedades historicamente retrógradas e opressoras. Além disso, é evidente que as conquistas de reconhecimento e direitos dos homossexuais é recente. Tais mudanças são gradativas e, quanto mais conservadora a sociedade do país em questão, mas penosa vai ser essa transição.

É o caso do Brasil. Desde 1985 a comunidade médica de saúde mental, psiquiatras e psicólogos, deixou de considerar a homossexualidade como doença mental ou desvio sexual ou de caráter. Mas só em 2013 o casamento entre homossexuais foi admitido legalmente. Ainda assim, não existem leis específicas para punir a homofobia, transfobia e a discriminação a homossexuais. Esses atos são enquadrados dentro da lei contra o racismo, de 1989. Apesar dessas e de outras leis, a sociedade brasileira ainda é muito preconceituosa e conservadora. Assim como a maioria dos países latinos, somos um povo forjado pela subserviência, corrupção e exageros de moralidade da igreja católica e de uma elite rica e inescrupulosa. Por isso, muito da luta dos movimentos LGBTI+ no Brasil é para que as leis existentes realmente prevaleçam e que a sociedade aceite os homossexuais como cidadãos comuns dignos de respeito.

Na verdade, um olhar mais cuidadoso sobre a legislação brasileira  vai mostrar que os homossexuais transitam num limbo de legalidade, ou seja, não existem leis específicas que nominalmente dê direitos aos homossexuais. Quando dizemos que o casamento entre pessoas do mesmo sexo foi liberado no Brasil, é que uma resolução obrigando todos os cartórios do país a realizarem casamentos entre pessoas do mesmo sexo foi emitida pelo CNJ, Conselho Nacional de Justiça. A resolução tem força, mas não é uma lei, assim, se algum juiz invocar, ele pode questionar a resolução e atrasar muito a vida de algum casal. Mas a lei mesmo não diz nada. Não há lei que proíba  e nem que assegure o casamento entre homossexuais. A mesma coisa acontece no caso de adoção de crianças por casais homo afetivos. A lei não proíbe, mas também não assegura o direito. Assim, muitos casais que, por interpretação da lei, tem esse direito, tem muita dificuldade em conseguir realizar o desejo de ter, amar e criar um filho.

O mesmo acontece com os casos de homofobia, transfobia e discriminação. Tais crimes são enquadrados na lei contra o racismo, de 1989. Ou seja, dá margem para interpretações e diferentes julgamentos. Ainda hoje os números de violência contra homens e mulheres gays, em especial contra transexuais e travestis, é assombroso. Boa parte desses crimes acabam em impunidade. Um retrato lamentável da nossa sociedade.

Outros dois direitos muito importantes conquistados, mas que também não contam com o respaldo sólido da lei são o direito  ao processo de resignação sexual, a famosa mudança de sexo, e a alteração do nome no registro civil. A cirurgia de mudança de sexo é oferecida pelo SUS desde 2010 e acontece com todo o acompanhamento psicológico. Não é fácil conseguir, já que as vagas são bem escassas, mas não deixa de ser uma conquista importante.  Apenas em 2018 a alteração do nome social para as pessoas transexuais e travestis passou a ser aceito. Isso significa que mesmo pessoas que não tenham feito cirurgias de mudança de sexo, podem alterar seus documentos para que conste em seus documentos o nome adequado a como cada pessoa se identifica. Este direito também não está na constituição como lei, mas o CNJ já considera uma prática legal.

A conclusão que se chega é que realmente a comunidade LGBTI+ ainda tem muito por o que lutar. Além de serem ignorados na Constituição Federal, ainda sofrem com o preconceito que infelizmente ainda persiste desde os anos 1980, que enxerga o homossexual como promíscuo, imoral e propagador de doenças. Por outro lado, vemos florescer cada vez mais grupos de pessoas  se organizando e dando voz a este desejo de igualdade e respeito. Cada vez mais pessoas, incluindo homossexuais e heterossexuais, levantam essa bandeira. E marcas como a Strip Me fazem questão de se posicionar e divulgar a importância e a beleza da diversidade, do respeito e da igualdade. Orgulho, diversão e arte!

Vai fundo!

Para ouvir: Uma playlist com músicas emblemáticas de temática LGBTI+ no Brasil. Top 10 tracks LGBTI+ BR!

Para assistir: Tem no Youtube vários documentários independentes sobre a realidade dos gays no Brasil. Um dos que mais chama a atenção é o Sobre Vivência, produzido pelo Grupo de Pesquisa Psicologia e Educação – Tecnopoéticas, integrado ao curso de psicologia da UFRGS. São relatos que mostram com clareza desconcertante a realidade de quem se assume homossexual no país.

Para ler: O historiador norte americano James N. Green é especialista em estudos antropológicos latino americanos e, especialmente, brasileiros, além de ativista LGBTI+. Ele escreveu um interessante tratado sobre o homossexualidade masculina no Brasil, o livro Além do Carnaval – A homossexualidade masculina no Brasil do século XX, lançado em 2019 pela Editora Unesp. Uma leitura de desmistificação e compreensão da sociedade brasileira.

Uma história de amor, luta e orgulho.

Uma história de amor, luta e orgulho.

Imagine viver sob os preceitos de democracia dos gregos, sob a crença plural e mística os babilônicos. Que bom seria! Uma sociedade onde todo mundo se aceita como é e tem voz na sociedade, onde não há pudores e o sexo não é visto como algo sujo, mas sim como algo sagrado e libertador. Uma sociedade onde ninguém se importa com quem você mantém relações sexuais, porque tudo é aceito. Um conceito que séculos depois seria entendido como libertinagem. Mas que, na real, nada mais é do que liberdade. A verdade é uma só. Se formos buscar na história o começo de tudo, dá pra dizer que foi com a queda de Babilônia em 539 a.C. e a disseminação dos conceitos do judaísmo e depois, e principalmente, do cristianismo mundo afora dali em diante.

A homossexualidade é tão antiga quanto a humanidade e era aceita e praticada em diversas civilizações. Há registros dessa prática em povos que viveram no ano 1.200 a.C. Entre gregos e egípcios, civilizações que modernizaram muito a maneira de se organizar e viver em sociedade, a homossexualidade era algo comum. E, de cara, já dá pra evidenciar aqui a palavra diversidade, afinal além de tudo esses povos eram politeístas. Parece besteira, mas a maneira como a religiosidade era encarada por esses povos diz muito sobre a sua sociedade. Além do mais, não dá pra negar que a religião sempre moldou  a política e os poderes ao longo da civilização humana. À partir do momento em que só uma divindade era aceita, e todas as outras deveriam ser combatidas, fica claro que aceitar as diferenças deixou de ser uma opção. Assim, o sexo que era considerado algo sagrado e bom, passou a ser um ato sujo e de afronta a deus, a não ser que fosse praticado sob as normas, somente para reprodução. Ou seja, a homossexualidade estava fora de questão.

Parada Gay de Boise, Idaho, US 2016 – Photo by Adam Eschbach

A violência contra homossexuais vem de longe.  E, justiça seja feita, não era exclusiva da cultura judaico-cristã. No oriente também não era bem aceito. No século XIII, o império mongol de Gengis Khan punia a sodomia com a morte, por exemplo. Mas o bicho pegou mesmo no fim da Idade Média, quando a igreja católica dominava o ocidente e a implacável Inquisição se espalhava pela Europa. Mesmo depois do Iluminismo, da Revolução Francesa e de alguns avanços no campo social e filosófico, homossexuais ainda eram perseguidos com violência. No século XIX o gênio Oscar Wilde foi condenado a trabalhos forçados na Inglaterra por se relacionar com um rapaz. No século seguinte, o nazismo também perseguiu e matou milhares de homossexuais homens e mulheres. É como se a violência e perseguição contra os homossexuais fosse institucionalizada ao longo da história da humanidade, e assim continuou. Ainda nos anos 1960, apenas 50 anos atrás, a homossexualidade era  ilegal em todos os estados dos Estados Unidos! Aqui no Brasil não era diferente, apenas não estava explicitamente escrito no papel. Mas onde há violência, há resistência. E foi justamente nos Estados Unidos que essa resistência conseguiu se organizar e espalhar pelo mundo essa força.

Os atores Michael Cashman e Ian McKellen numa manifestação contra a censura em Londres, UK, 1988. – Photo by The Guardian Archives

O dia 28 de junho de 1969 entrou para a história como a Rebelião de Stonewall. Stonewall Inn era um bar onde se reuniam homossexuais da região do Greenwich Village, em New York. Bares como o Stonewall eram considerados pontos de prostituição e de muitas outras atividades ilegais. Em New York muitos deles eram gerenciados pela Cosa Nostra, a máfia italiana. Por isso, a polícia tinha motivos de sobra para dar batidas, muitas vezes com muita violência, nesses bares. Mas naquele 28 de junho, as coisas saíram de controle em Stonewall e os frequentadores do bar enfrentaram a polícia. Depois disso, dois grupos foram criados e  deram voz ao movimento LGBT: o Gay Liberation Front (GLF) e o Gay Activists Alliance (GAA). Ainda que contassem com mulheres lésbicas, esses grupos eram essencialmente masculinos. Os movimentos feministas que surgiam paralelamente acabaram dando voz também às lésbicas, ajudando a reforçar as lutas LGBT. Os ideais e o senso de organização desses grupos chegou ao Brasil no início dos anos 1970, em plena ditadura militar. Estes grupos passaram a agir produzindo publicações independentes que eram distribuídas ao público. Eram jornais pequenos como o Lampião da Esquina e o ChanaconChana.

O legendário Stonewall Inn em 1969 – Photo by Diana Davies
Manifestação da Gay Liberation Front na Times Square, NY, 1970. Photo by Diana Davies

Os anos 1980 chegavam com tudo, os grupos cada vez mais organizados começavam a ganhar voz perante a sociedade e tudo parecia melhorar. Mas aí pintou a AIDS. Além de matar muita gente entre a comunidade gay, a epidemia do HIV manchou os movimentos, que tiveram que se reposicionar, inclusive politicamente, diante de uma sociedade, que os acusava de serem portadores da doença, que era chamada por muitos de câncer gay. Ainda hoje em dia a comunidade homossexual ainda sofre com esse estigma, uma marca injusta e vil que vem sendo combatida desde então.

Parada Gay Londres, UK, 2018 – Photo by Steve Eason

Foi por conta da rebelião de Stonewall que o dia 28 de junho ficou marcado como o Dia Mundial do Orgulho Gay. Ao longo do mês de junho acontecem manifestações e passeatas em várias cidades mundo afora. Aqui no Brasil a Parada Gay na avenida Paulista, em São Paulo, já se tornou um dos eventos mais aguardados do ano e entrou no calendário anual da cidade. Com jeitão de festa, com muitas cores, música e alegria, a Parada Gay vem mostrar todo ano que a diversidade e o respeito andam lado a lado. Assim como movimentos antirracistas e feministas, o movimento LGBTi+ luta por uma condição muito básica: igualdade. Os gays em geral não querem impor suas escolhas a ninguém, só querem ser vistos e tratados pela sociedade como cidadãos comuns, que trabalham e pagam impostos como qualquer homem ou mulher heterossexual.  

Parada Gay Los Angeles, US, 2014. – Photo by Richard Vogel

A Strip Me é uma marca que apoia, defende, e divulga a diversidade e a liberdade de escolha. Por isso, neste mês de junho, o mês do orgulho LGBTI+ e da diversidade, este blog terá seus posts dedicados totalmente à comunidade gay. Então se prepara que ainda vem muito conteúdo interessante e divertido por aqui, com muito orgulho e muito amor!

Parada Gay na avenida Paulista, São Paulo, 2018. Photo by Paola Quintana Vera

Vai fundo!

Para ouvir: Uma playlist especial com canções que falam sobre direitos iguais com foco na comunidade gay. Tá em arraso! – Top 10 tracks LGBTI+ Equal Rights.

Para Assistir: Um filme excelente que mostra a trajetória do primeiro político eleito homossexual assumido nos Estados Unidos. Milk – A Voz da Igualdade foi lançado em 2008, dirigido pelo Gus Van Sant e com o Sean Penn no papel principal. Filmaço!

Para ler: Um livro excelente para entender o movimento gay no Brasil, de forma leve e muito interessante. Devassos No Paraíso: A Homossexualidade No Brasil, Da Colônia À Atualidade foi escrito pelo jornalista escritor, dramaturgo e cineasta João Silvério Trevisan e traz um texto delicioso de se ler, concebido sobre uma pesquisa profunda. Super recomendado.

Woodstock Sem Limites

Woodstock Sem Limites

Foi o ápice. Foi o início do fim. Foi o prenúncio de uma nova era. Foi uma enganação. Foi um ato revolucionário. Foi o maior evento da história moderna. Foi uma loucura. Woodstock foi tudo isso, e, provavelmente, muito mais. O festival de música, paz e amor que encerrou a década de 1960 ainda hoje é lembrado, comentado, celebrado e questionado. É compreensível que seja assim, afinal todas as dimensões ali foram transpostas. O tamanho, o número de pessoas reunidas, o line up estrelado, a liberdade, o congestionamento de estradas, nudez, consumo de drogas, intervenções climáticas, solidariedade, dinheiro gasto e arrecadado, processos judiciais, dívidas e, por fim, sucesso. Tudo isso esteve presente em larga escala em Woodstock.

Reprodução do cartaz oficial do festival

Michael Lang e Artie Kornfeld eram amigos, músicos ligados ao movimento hippie e estavam, no comecinho de 1969, com a ideia de montar um estúdio para gravar novas bandas e um selo para lançar seus discos, já que Kornfeld era funcionário da Capitol Records e tinha know-how e muitos contatos. Mas faltava o famoso capital inicial, já que eles eram os típicos músicos quebrados. Foi quando viram no jornal um anúncio de uma dupla de empresários que procurava projetos audaciosos ligados a arte e música para investir. Assim, Kornfeld e Lang se juntaram a John Roberts e Joel Rosenman. A dupla de empresários topou a empreitada, e o agora quarteto começava a planejar seu projeto de estúdio, batizado de Woodstock, que é onde eles queriam se estabelecer. Isso porque a pequena cidade de Woodstock, próxima a New York, era onde Bob Dylan morava na época. Lang e Kornfeld eram muito fãs de Dylan e sonhavam com a ideia de que Dylan passasse a gravar em seu estúdio, o único na cidade onde ele morava. Mas o investimento para montar um bom estúdio era alto demais até mesmo para os jovens ricos empresários Roberts e Rosenman. Então surgiu a ideia de fazer um festival de música para alavancar o projeto com a grana da venda de ingressos. Então Woodstock começou a ser pensado como um festival de música.

Woodstock era uma cidade pequena e cercada de fazendas e ranchos. Com uma população essencialmente de meia idade e conservadora. Quando se espalhou a notícia que quatro jovens queria reunir um bando de hippies nas suas terras, rolou uma comoção popular e eles não conseguiam autorização para fazer o festival em lugar nenhum. Até que um senhor com uma grande fazenda de vacas leiteiras na cidade de Bethel, vizinha a Woodstock, topou alugar suas terras e abrigar essa maluquice toda. Vale dizer que isso só aconteceu duas semanas antes da data já marcada para o festival acontecer. Então vamos colocar na linha do tempo. A ideia do festival pintou em janeiro de 1969 e o evento estava marcado para acontecer no fim de semana dos dias 15, 16 e 17 de agosto do mesmo ano. No fim de julho eles ainda não tinham o lugar definido. Mas já tinham vários nomes grandes confirmados.

O público de Woodstock. Photo by Dan Garson

Mas não foi nada fácil conseguir um line up tão poderoso. E o mérito deve ser dado à banda Creedence Clearwater Revival. Antes do Creedence assinar, eles não conseguiam fechar com ninguém, pois não eram conhecidos, queriam fazer um festival no meio do nada… ninguém botava fé. Mas depois que o Creedence, que na época era um dos maiores nomes do rock norte americano, comprou a briga e assinou, todo mundo foi atrás. E aqui estamos falando de boa parte dos grandes ícones da música na época: Janis Joplin, Grateful Dead, The Who, Jimi Hendrix, Sly & the Family Stone, Santana, Crosby, Stills, Nash & Young, Mountain, Jefferson Airplane, The Band, Joe Cocker, Tem Years After, Ritchie Havens, Joan Baez… e quem ficou de fora por, ainda assim não botar fé no evento, no futuro se arrependeu. Foi o caso de bandas como The Doors e Led Zeppelin. E olha que ninguém ali estava fazendo caridade. Todo mundo tinha contrato e cachê estabelecido. O papo hippie de não ligar pra dinheiro e bens materiais passou longe de Woodstock. Costuma-se dizer, aliás, que o festival foi de graça, mas não foi bem assim.

A banda Creedence Clearwater Revival durante o show em Woodstock. Photo by Elliot Landy
The Who durante o show em Woodstock. Photo by Henry Diltz

Os ingressos para o festival custavam 18 dólares antecipados e custariam 24 dólares na hora. Custariam. O festival estava previsto para receber 50 mil pessoas no máximo. Acontece que só de ingressos antecipados foram vendidos quase 100 mil. Dois dias antes do início do festival as estradas que levavam a Bethel já estavam tomadas por hippies de todo o canto. A organização do festival não teve tempo de montar as bilheterias na entrada. No primeiro dia do evento, eles desistiram de tentar controlar a entrada de pessoas e liberaram a entrada de geral. 100 mil pessoas, aproximadamente, pagaram ingresso. Mas o festival reuniu mais de 400 mil pessoas! Pra você ter ideia, isso é mais gente do que a população de muita cidade Brasil afora. E teve muita gente que ficou pelo caminho. As estradas ficaram tão congestionadas, que muita gente abandonava seus carros e concluía o trajeto até o festival a pé. O que só piorou a situação, pois se acumulavam carros parados pelo trajeto que dificultavam o trânsito de outros veículos. Teve muita gente, inclusive, que tinha comprado ingresso, não conseguiu chegar por causa do trânsito e acabou processando a organização. E foram tantos processos que os caras conseguiram quitar todas as dívidas acumuladas por conta do festival só dez anos depois, em 1980.

A estrada para Woodstock. Photo by Baron Wolman
A estrada para Woodstock. Photo by Baron Wolman

Olha, Woodstock  é cercado por tantas histórias incríveis, algumas verdadeiras, outras lendas, que daria um texto imenso. Teve o Pete Townshend, do The Who, expulsando a golpes de guitarra um ativista que subiu no palco durante o show para protestar contra a prisão de John Sinclair, que era também ativista e empresário da banda MC5. Teve uma multidão passando mal por tomar LSD de má procedência, teve uma chuva torrencial que fez com que o pessoal do Grateful Dead tocasse levando choques terríveis de seus instrumentos e microfones. Ah, teve também uma comoção popular dos moradores das fazendas vizinhas, que souberam que as pequenas empresas que forneciam comida para o festival não estavam dando conta de alimentar todo mundo, e doaram comida. A região era grande produtora de granola, que foi doada em grande quantidade. À partir daí a granola se popularizou entre os hippies, virou sinônimo de alimento saudável e está aí até hoje. É sério isso! A granola é o que é hoje por causa do Woodstock, senão seria só mais um ingrediente misturado para fazer os cereais infantis matinais.

Woodstock. Photo by Elliot Landy

Em 2020 oficialmente atingimos a famosa (entre os astrólogos) Era de Aquário. Acontece que essa era já vinha sendo anunciada desde 1967 e foi um dos motes do Woodstock. Diz-se que a Era de Aquário vai trazer harmonia e mais conhecimento para a Terra (Será? Tomara, né, porque estamos precisando). Também foi o ápice da contra-cultura, do movimento Flower Power e das manifestações contra a guerra do Vietnã. Também foi o começo do fim da era de ouro do rock n’ roll. Dali em diante, o consumo de drogas, que até então era muito mais ligado ao auto conhecimento,  se tornou desenfreado, a cocaína entrou com tudo e deixou tudo mais caótico. Os conflitos tornaram-se mais violentos nos anos 70 e o rock n’ roll sofria uma queda de popularidade e perdia seu status de arte para se tornar apenas hedonismo descontrolado, ou uma forma pedante de música elaborada até demais (a.k.a. rock progressivo). O que só viria a mudar com os punks na segunda metade da década, que resgatariam a essência do rock.

O fato é que o Woodstock entrou para história como o maior festival de música de todos os tempos, um verdadeiro marco na cultura pop. Dá pra dividir a cultura do século XX entre antes e depois de Woodstock. Um festival que trazia a música, mas também toda a carga política, social e de consciência de toda uma geração.  Rock n’ roll, atitude, diversão, consciência, engajamento! Tudo que a Strip Me gosta e espalha por aí! Por isso a gente não poderia deixar de falar sobre esse evento maravilhoso por aqui. Assim, cá estamos. Missão cumprida.

Vai fundo.

Para ouvir: Aquela playlist difícil de ser elaborada com o que rolou de melhor no Woodstock de 1969. Então confira  nossa playlist Woodstock ‘69 Top 10 Tracks.

Para assistir: O Woodstock foi todo filmado e acabou virando um documentário um ano depois. Woodstock – 3 Dias de Paz, Amor e Música foi lançado em 1970. Dirigido por Michael Wadleigh, o filme levou o Oscar daquele ano de Melhor Documentário. Ah, e uma curiosidade: o assistente de direção e um dos editores deste filme foi um jovem aspirante a cineasta chamado Martin Scorcese.

Para ler: Um dos quatro responsáveis pelo festival, Michael Lang, escreveu o livro definitivo sobre Woodstock. O ótimo A Estrada Para Woodstock foi lançado em 2019 pela editora Belas Letras no ano em que o festival completou 50 anos. Uma leitura deliciosa, recheada de curiosidades e muitos causos.

Amigos Para Sempre.

Amigos Para Sempre.

Que ano foi 1994! Nos cinemas teve Forrest Gump, Pulp Fiction, Assassinos por Natureza, Entrevista com o Vampiro e O Corvo, na música Oasis lançava seu disco de estreia, o excelente Definitely Maybe, Cranberries lançava o clássico No Need To Argue, Green Day levava o punk para as massas com Dookie, sem falar nas estreias de Weezer com o Blue Album e Jeff Buckley com a obra prima Grace. Aqui no Brasil fomos tetra campeões do mundo no futebol, o Plano Real chegava para equilibrar a economia e a TV a cabo se popularizou. Além da MTV, agora tínhamos acesso a séries como Mad About You, Seinfeld, Um Maluco no Pedaço, Dawson’s Creek, Arquivo X, Plantão Médico… e, é claro, foi em 1994 que estreou uma das séries mais impactantes dos últimos 25 anos: Friends.

Todo mundo tem a vida dividida em duas famílias. A família dos pais e irmãos, na qual vivemos do nascimento até o fim da adolescência; e depois a família que a gente mesmo forma ao casar e ter filhos. Entre esses dois períodos existe um intervalo, talvez o período mais importante da vida. É quando a gente ganha o mundo, sai da casa dos pais e passa a se virar sozinho. Também é a época em que a gente curte mais a vida, o corpo jovem ainda suporta alguns excessos e noites em claro, é quando a gente se relaciona com um monte de gente diferente e cria uma espécie de família, que é aquele grupo de bons amigos com quem se troca segredos, alegrias, tristezas e experiências. A série Friends é tão marcante porque aborda justamente essa fase da vida com muita propriedade, bom humor e delicadeza.

Duas coisas fazem de Friends uma série tão especial e querida: o elenco e um texto fabuloso. A química entre os seis personagens principais é invejável! Assistindo a série dá pra ter certeza que aqueles atores também eram amigos na vida real. E, de fato, Jennifer Aniston (Rachel Green), Courtney Cox (Monica Geller), Lisa Kudrow (Phoebe Buffay), Matt LeBlanc (Joey Tribbiani), Matthew Perry (Chandler Bing) e David Schwimmer (Ross Geller) se deram super bem logo de cara e se tornaram amigos. Tanto é que ficou famoso o fato de que o sexteto fez um acordo entre si de negociar seus salários com a Warner juntos e igualmente. Quando o casal Rachel e Ross tinham nítida popularidade maior que o resto dos personagens, seria natural que os atores quisessem um salário maior, mas isso não aconteceu. Os seis atores sempre receberam salários iguais. A série durou 10 anos. A última cena, do último episódio, onde os seis personagens entregam suas chaves do apartamento, levou horas para ser gravada, porque os atores estavam realmente muito emocionados.

A química do elenco foi combinada a um texto brilhante. A equipe de roteiristas de Friends era fantástica. Eles conseguiram imprimir um ritmo delicioso, transmitir emoções fortes e verdadeiras, ao mesmo tempo que entregavam um humor rápido e inteligente. É verdade que esse tipo de linguagem não era novidade nos Estados Unidos. Mas a combinação de elementos de diferentes séries fez com que tudo funcionasse tão bem.  Seinfeld estreou em 1989 e trouxe para a televisão um humor nonsense rápido e inteligente, cheio de sarcasmo e referências. Em 1992 a excelente série Mad About You  fez muito mais que mostrar ao mundo a linda e ótima atriz Helen Hunt, pois trouxe um texto calcado no cotidiano, nas coisas simples do dia a dia e mostrando a vida de um casal jovem e moderno numa grande cidade. Friends pegou o cotidiano e as experiências vividas em uma relação humana de Mad About You com a comédia inteligente de Seinfeld. Também e importante ressaltar que Friends tinha o diferencial de não ter um único protagonista, e aqui também há de se dar o crédito aos roteiristas, que conseguiam contar histórias de 6 personagens diferentes numa harmonia inacreditável.

Agora estamos aqui, 27 anos depois da estreia da série, 17 anos depois de seu último episódio. O sonho de todo fã de Friends sempre foi ver uma reunião daquela turma. Mas a cada ano que passa a dúvida aumenta. Afinal, eles já passaram de fase. Aquele intervalo entre as duas famílias. A maioria dos personagens já formou sua própria família. Como toda amizade muito forte na juventude, com o tempo, a chegada da família e o trabalho, o laço não se desfaz, mas acaba rolando um distanciamento natural. Será que a série ainda funcionaria sob essas circunstâncias? Pois é, se funcionaria hoje em dia, nunca saberemos. Mas o sonho de ver o sexteto reunido já é realidade. A reunião do elenco de Friends vai ao ar neste dia 27 de maio na HBO Max, nos Estados Unidos. O programa de uma hora de duração traz os seis atores falando sobre a série, revisitando cenários e comentando sobre seus momentos favoritos. E, olha, é disso que o mundo mais precisa hoje em dia. Depois de mais de um ano sem poder se encontrar com os amigos, abraçar, conversar sem máscaras, olhando os sorrisos de cada um, pelo menos poderemos amenizar essa falta vendo a reunião de uns amigos que se tornaram tão próximos de nós, que também são nossos amigos.

Friends é uma série incrível porque é um retrato dos anos 90, mas com uma pitada de fofura e loucura extra. Tá certo que justamente por ser uma série de comédia dos anos 90, ela está cheia de piadas homofóbicas e gordofóbicas que não caberiam em pleno 2021. A maioria dos fãs da série assumem isso. Mas colocada no contexto da época, assistindo Friends hoje em dia dá pra sacar isso e relevar. Aliás, falando em contexto, muita gente que assistiu a série na época de seu lançamento, maratonou todas as temporadas durante a pandemia, afinal, ela traz essa memória boa de um tempo de descobertas e alegria. É uma série que inspira a gente a querer viver, aproveitar cada fase da vida, amar nossos amigos, curtir a vida e amar muito. É como a Monica diz para a Rachel no comecinho da série: “Bem vinda ao mundo real. É uma droga, mas você vai amar.”.

Vai fundo.

Para ouvir: Claro! Uma playlist com algumas das canções que passaram e pela série! Friends Top 10 tracks!

40 Anos Sem o Rei do Reggae.

40 Anos Sem o Rei do Reggae.

O começo da história até que é comum aqui no Brasil. Um garoto negro, nascido na favela em meio a muita pobreza e apaixonado por futebol consegue vencer na vida e ser mundialmente reconhecido. Acontece que a história que vamos contar hoje não se passa no Brasil e, apesar de realmente apaixonado por futebol, esse garoto negro venceu na vida através da música e de um estilo de vida que, até então, o mundo desconhecia. Hoje vamos relembrar a história de um dos maiores ícones da cultura pop dos século XX: Bob Marley, que no dia 11 de maio deste ano completou 40 anos de sua morte.

Photo by Dennis Morris

A história do Bob Marley é muito interessante, cheia de passagens curiosas. Pra começar, ele cresceu em Trenchtown, a maior favela de Kingston, capital da Jamaica. Lá, com apenas 5 anos de idade o pequeno Marley levantava uma grana lendo a mão das pessoas na rua. Claro que devia ser uma baita enrolação, mas já demonstrava que era um garoto com muito carisma para lidar com as pessoas. Um tempo depois, a mãe de Bob, que já não estava mais com o pai dele, passou a viver com um homem que tinha um filho chamado Neville Livingston, que tinha a mesma idade e de cara ficou amigão do Bob. Os dois moleques não se largaram mais e passaram a dividir uma grande paixão: ouvir rádio e cantar suas músicas favoritas. Já na juventude, Neville adotaria o apelido pelo qual ficou conhecido mundo afora: Bunny Wailer.

Paint on canvas by Mick Rock – 2008

Adolescentes, Bob e Bunny viviam procurando diversão e conheceram um grupo vocal ali mesmo, em Trenchtown, e passaram a andar com aquela rapaziada. E acabaram se tornando muito amigos de um desses rapazes, um certo Peter Tosh. Pirando no dubstep, rocksteady e ritmos caribenhos como o calipso, que dominavam a Jamaica nos anos 1960, o trio montou a banda The Wailing Wailers, conseguiram gravar dois ou três compactos que tiveram uma aceitação local muito boa. Tanto é que os caras resolveram arriscar trocar de ilha, saindo da Jamaica e indo para a Inglaterra. Ali, ironicamente, iriam acabar entrando na gravadora Island Records. Mas não foi moleza.

Bunny Wailer, Bob Marley e Peter Tosh nos tempos de Wailing Wailers, 1964
(Photo by Michael Ochs)

Na Inglaterra, eles fizeram uma tour morna, que não rendeu muita grana. Na real, mal se pagou. Tanto é que a banda se viu ali sem sequer ter grana pra voltar para a Jamaica. Foi quando conheceram um produtor tido como malandro na cena musical londrina chamado Chris Blackwell. Blackwell era dono da Island Records e tinha revelado o primeiro grande nome do reggae, Jimmy Cliff. Acontece que Cliff tinha acabado de sair da Island para assinar com uma grande gravadora. Blackwell viu naqueles jamaicanos, principalmente no carismático Bob Marley, seu novo Jimmy Cliff. Ele ofereceu o seguinte acordo para os rapazes. Ele pagava a passagem de volta deles para a Jamaica. Mas em troca, antes de partir, eles gravariam um disco, que Blackwell lançaria pela Island. Foi assim que surgiu um dos maiores clássicos do reggae, o disco Catch a Fire.

Importante dizer que na época dos Wailing Wailers na Jamaica, a banda interpretava canções de amor sem muito conteúdo. Mas, pouco antes da viagem para a Inglaterra, ainda com uns 18, 19 anos de idade, Bob Marley se converteu ao Rastafari. Uma seita religiosa criada na própria Jamaica, com base nas raízes dos negros etíopes, e que tinham a maconha como erva sagrada. Após sua conversão, Bob Marley passou a escrever canções que professavam sua fé, cantando sobre os principais valores do Rastafari, a igualdade, pureza, e amor. Bob Marley, Bunny Wailer e Peter Tosh realmente abraçaram a causa rasta, inclusive se tornando veganos, não consumindo álcool e nem tabaco, bem como drogas sintéticas.  Desta forma, o disco Catch a Fire já veio envolto numa densa névoa de maconha, literalmente, e de canções incríveis! Nessa época, a banda já se apresentava com o nome mais enxuto: The Wailers. Eles cumpriram sua parte no acordo com Blackwell, gravaram o disco e voltaram pra casa. Na Inglaterra, Blackwell se ligou que tinha uma pérola nas mãos e lançou o disco com uma alteração muito marcante, sem consultar a banda. O disco saiu em 1973 sob o nome Bob Marley and The Wailers. E, tal qual a fumaça do cigarrinho de artista da banda, a canção Stir It Up foi pras cabeças e alavancou a venda do disco. Bob Marley and The Wailers começavam a ganhar fama internacional.

Photo by Dennis Morris

Impulsionados pelas boas vendas na Inglaterra, a banda foi tentar a sorte nos Estados Unidos. Lá caíram nas graças da turma da música negra que dominava o começo dos anos 1970 e acabaram sendo contratados como banda de abertura dos shows da Sly and the Family Stone. Acontece que a turnê não durou mais que dez shows. De cara, o show de Bob Marley and The Wailers passou a ofuscar a atração principal. Muita gente pirava no show de abertura e acabava não dando muita bola para a Sly and the Family Stone. Resultado, tour cancelada para os jamaicanos. Mas tudo bem. Eles fizeram alguns shows por conta própria e começaram a fazer seu nome em solo ianque. Enquanto isso, a banda já começava a se estranhar. Esse negócio de Bob Marley and The Wailers pegou mau pro Bunny Wailer e pro Peter Tosh. Ego inflado + grana entrando. Já viu, né? De qualquer forma, a banda continuou produzindo. Ainda no final de 1973 a banda lança o segundo disco, Burnin’. O disco que fez realmente tudo mudar. Este disco caiu nas mãos de Eric Clapton, que chapou no som e acabou regravando I Shot the Sheriff. Foi quando o nome de Bob Marley se tornou conhecido mundialmente.

Daí em diante, foi só ladeira (e fumaça) acima. Claro que o trio fundamental, Marley, Wailer e Tosh, se dissolveu em meio a muita treta. Bob Marley, malandramente, acabou mantendo o nome Bob Marley and The Wailers em seus discos, mesmo sem Bunny Wailer e Peter Tosh. Entre 1973 e 1981 foram 11 discos lançados, todos com sucesso estrondoso no mundo todo. Bob Marley se tornou um proeminente ativista pelos direitos humanos e pela paz, tendo sido inclusive baleado num atentado na Jamaica. Mas não foi isso que o matou, mas sim sua teimosia. Em 1977 ele machucou o pé jogando futebol. Ficou com uma ferida feia no dedão do pé. Ferida essa que ele não cuidou. Talvez ele tenha esquecido… Enfim.  Só em 1980 que foi atrás de saber porque aquele machucado no dedo não sarava nunca. Acabou sendo diagnosticado com um raro melanoma. A solução era amputar o dedo. Mas Bob não topou. Temia que isso prejudicasse sua performance no palco, onde ficava em pé e dançava por horas. Além do mais, a crença rasta valorizava muito o corpo, e uma amputação ia contra esses conceitos.. No fim, o tal melanoma evoluiu para um câncer que se espalhou pelo corpo de Marley e acabou o matando em 11 de maio de 1981.

Photo by Dennis Morris

Vamos finalizando, porque esse texto já está enorme. Uma pena, porque a vida do Bob Marley é cheia de histórias incríveis e interessantes. Desde o atentado que ele sofreu na Jamaica por querer fazer um show gratuito para apaziguar os ânimos políticos do país, até sua breve passagem pelo Brasil onde teve seu visto de trabalho negado pelos militares e jogou uma pelada com Chico Buarque, Alceu Valença e Moraes Moreira. Sem falar que ele espalhou pelo mundo o reggae como forma de música de protesto, que foi incorporada pelos punks ingleses, em especial o The Clash. Mas quem sabe essas histórias não pintam por aqui numa outra oportunidade, né? Afinal, o Bob Marley tem tudo a ver com tudo que a Strip Me mais acredita e ama: Engajamento, personalidade, diversão e arte!

Vai fundo!

Para ouvir: Claro, uma playlist delícia com o que há de melhor na obra do Bob Marley, mas dando aquela desviada das obviedades. Top 10 tracks do Rei do Reggae.

Para assistir: Eu sei que não tem tanto a ver com o Bob Marley em si, mas eu acho que é um filme tão divertido e que traz tanto dessa aura jamaicana, além de ser um filme muito subestimado. Estou falando de Jamaica Abaixo de Zero, filme lançado em 1993 sobre a improvável equipe de trenó que disputou as Olimpíadas de Inverno do Canadá de 1988.

Para ler: O ótimo livro No Woman No Cry – Minha vida com Bob Marley, escrito pela esposa de Bob, Rita Marley e lançado no Brasil em 2019 pela editora Belas Letras. Uma narrativa detalhada e fluente sobre a trajetória de Bob Marley, tanto pessoal como profissionalmente.

O algo mais das redes sociais.

O algo mais das redes sociais.

Nada como viver num mundo onde cada indivíduo é reconhecido por ser quem realmente é e pode ser definido pelas suas própria escolhas. Muito diferente de tempos antigos quando não passávamos de um número comprido num pedaço de papel plastificado, ou um pouco mais a frente quando você era reconhecido pelo número do seu documento e também pelo endereço de IP  do seu computador. Agora sim é que ficou bom! Fomos promovidos a alvos de algoritmo! O algo mais das redes sociais que nos define de verdade, de acordo com as nossas escolhas e comportamento!

Em termos técnicos, um algoritmo é uma sequência lógica, finita e definida de instruções para solucionar um problema ou efetuar uma tarefa. Ou seja, o algoritmo faz parte de uma cadeia de outros algoritmos e códigos que formam uma plataforma virtual, um software, um site, um aplicativo e tudo que envolve tecnologia e informática, e que é desenvolvido pelo famoso pessoal da TI. E é claro que esses algoritmos também estão nas redes sociais, em todas elas. Ainda que em cada uma se comportem de maneiras diferentes, eles estão lá!

E o que um algoritmo de rede social mais quer nessa vida é te conhecer! Dessa forma ele pode identificar padrões, e fazer com que aquela rede social se comporte de um jeitinho todo especial só para você. Mas sejamos práticos. Funciona assim. Suponha que você está no Instagram, lá você costuma interagir mais e curtir mais as postagens das pessoas A, B e C e das marcas S, T e M. Porém, você também segue as pessoas D, F e G e as marcas X, Y e Z. O algoritmo do Instagram vai identificar esse seu comportamento de interação e curtidas e vai fazer com que os posts das pessoas e marcas que você tem mais contato e afinidade apareçam em destaque ou antes das outras na sua timeline. Ou seja, o que você vê no topo da sua timeline, não é necessariamente o post mais recente, mas sim o que o Instagram considera mais relevante pra você.

E isso é muito bom… não é? Claro que é, cara! Torna sua vida muito mais prática e divertida. Você está tendo acesso direto a tudo que você mais gosta. Se tem alguma notícia importante, algum produto novo, qualquer coisa que seja do teu interesse, a rede social vai fazer com que você fique sabendo o mais rápido possível. Sem falar que te livra de ficar pulando posts que não te interessam, de gente que você acha chata. Mas vamos com calma, porque, como tudo na vida, tem sempre um porém, algum defeito. Primeiro que isso pode ser entendido como uma invasão de privacidade. De fato, até pode. Mas não é. Porque quando você fez aquele cadastrinho maroto pra fazer parte da rede social, você passou pelo termo de política de privacidade, e clicou em “aceito”. Além disso, esse comportamento padrão do algoritmo acaba sendo restritivo. Você acaba não tendo acesso fácil a coisas diferentes, Então, se você é muito fã do Tarantino, mas também curte de vez em quando ver uma comédia romântica com a Meg Ryan, corre o risco de você ficar recebendo só as mesmas notícias dos boatos do novo roteiro do Tarantino e não fique sabendo que saiu um filme novo com a Meg Ryan.

E tem mais. Não é que a turma que manda nessas redes sociais são gente boníssima, quer o teu bem e facilitar ao máximo sua vida. É claro que toda a informação coletada sobre o teu comportamento fica à disposição de marcas e empresas que querem anunciar nessas redes. Não é nada explícito, relaxa. Ninguém tem acesso ao teu nome, CPF, número de cartão de crédito e etc. Mas quando a empresa anuncia numa rede social, a empresa informa a rede social que quer que o anúncio dela chegue em pessoas do século masculino, que tenham entre 25 e 50 anos, que gostem de filmes do Tarantino, que tenham interesse em moda, em esportes radicais e por aí vai. E se você se encaixa nesse perfil, vai aparecer, ali entre o post do teu brother andando de skate e do vídeo do Blink 182, o tal anúncio daquela empresa. E provavelmente você vai achar deveras interessante.

São os tempos modernos, cara! A gente aprende a viver com essas novas ferramentas e, principalmente, aprende a conviver com esse tipo de comportamento das redes sociais. É claro que a Strip Me também usa de algumas dessas estratégias para chegar a cada vez mais pessoas. Mas também é uma empresa que valoriza a personalidade e relações orgânicas. Sem falar que os dados de cada uma das pessoas que compram na loja online da Strip Me permanecem em sigilo. Estratégias e tecnologia moderna, mas relações old school, comprometimento e parceria! Diversão e arte!

Vai fundo!

Para ouvir: Você tá ligado que o Spotify também tem os algoritmos dele, né? Então, pra você conhecer um pouco mais da Strip Me, vamos sacar as 10 tracks mais legais da playlist “Radar de Novidades”, a playlist que o Spotify alimenta frequentemente com canções novas que, de acordo com o algoritmo deles, vai nos interessar. É a Algoritmo STM – Top 10 Tracks.

Para assistir: O excelente documentário Terms and Conditions May Apply, laçado em 2013 e dirigido por  Cullen Hoback, o filme mostra a quantidade de dados que corporações e governos conseguem de forma legal de todos os usuários de redes sociais que simplesmente clicaram no botão “aceito”. Vale a pena demais assistir!

Pet Friendly?

Pet Friendly?

Não vamos negar que algumas regras existem para serem quebradas. A transgressão é um dos temperos da vida. Um tempero que deve ser usado com muita parcimônia, é claro. Afinal são só algumas regras que existem para serem quebradas. Quer saber outra coisa que dá um tempero todo especial à vida? Ter um bichinho e estimação! Ah, nada mais gostoso que ter um bichinho em casa pra fazer companhia, pra cuidar, dar e receber carinho, se divertir… e pode ser o animalzinho que você quiser, um peixinho, um cachorro, gato, passarinho, porquinho da índia, tanto faz. O importante é cuidar bem e dar bastante carinho.

Aliás, no quesito pet as regras são essenciais e, essas sim, não devem ser quebradas nunca. Se você tem um cachorro em casa, você deve dar comida duas vezes por dia, você deve passear com ele com frequência, deve dar vacina, vermífugo e por aí vai. São regras que precisam ser seguidas para o bem estar do cachorro e do seu próprio, já que você convive com ele e não quer o bichinho doente e tal. E cada pet tem suas regras específicas. Agora você pode estar pensando de onde saíram todas essas informações. De algum veterinário, ou de livros sobre o comportamento dos bichos… Não! Nada disso! Esses aprendizados foram todos tirados de um dos filmes mais emblemáticos dos anos 1980.

No natal de 1984 Rand Peltzer resolve comprar um presente único para seu filho, um animal de estimação diferente. Numa loja obscura em Chinatown, ele se depara com um mogwai, bichinho todo fofinho e peludinho, além de muito exótico. Era perfeito! Porém  o velho chinês dono da loja se recusa a vender o bichinho, dizendo tratar-se de um animal que requer muito cuidado, além de ser muito perigoso. Eis que enquanto o velho se ocupa de outra coisa, seu neto faz a venda, entregando o pequeno mogwai pela quantia de 200 dólares. Mas antes de entregar o animalzinho, deixou claro que 3 regras deveriam ser seguidas à risca para o bem estar de todos: 1 – o mogwai nunca deverá ser alimentado após a meia noite, mesmo que ele chore desesperadamente. 2 – Em hipótese alguma o mogwai poderá entrar em contato com água. 3 – O mogwai nunca poderá ser exposto à luz do sol. 3 regras simples que, obviamente, seriam descumpridas.

Os Gremlins foi lançado em 1984 e se tornou instantaneamente um filme aclamado pelo público. Sua mistura certeira de terror, humor negro e aventura fez dele um desses filmes para toda a família curtir, já que não contém exageros nem na parte de fantasia e aventura que conquistam crianças e nem nas piadas de humor negro, violência e eventuais sustos que conquistam os adultos.  Além do mais, ele tem aquele charme de filme B, com efeitos especiais toscos, que tornam tudo mais divertido. Apesar de não ter nenhum nome de peso no elenco e diretor e roteirista serem razoavelmente desconhecidos, o longa é produzido (leia-se bancado) por Steven Spielberg. E você sabe que o Spielberg não dá ponto sem nó. O filme foi um estouro e arrecadou milhões de dólares.

O fato de Steven Spielberg estar por trás do projeto proporciona várias referências super interessantes, os famosos easter eggs, ao longo do filme. A começar por uma ponta do próprio Spielberg em uma cena rápida, onde ele aparece numa cadeira de rodas. Homenageando  os clássicos do terror, em determinado momento um dos monstrinhos assiste na TV o icônico Invasores de Corpos (1956), de Don Siegel. No cinema onde todos os gremlins vão para se esconder da luz do dia, aparecem nos letreiros anúncios de dois filmes, A Boys Life e Watch the Skies, títulos usados provisoriamente por Spielberg durante a produção de E.T. – O Extraterrestre (1982) e Contatos Imediatos do Terceiro Grau (1977), respectivamente. O ET de Spielberg aparece ainda quando um dos gremlins se esconde numa loja entre vários brinquedos de pelúcia, e um doesses brinquedos é o famoso ET. Outro ícone homenageado é a série Perdidos no Espaço, na cena em que acontece uma feira de ciências e aparece um robô idêntico ao da série.

Hoje estamos recordando este clássico do cinema oitentista pra te lembrar que o cinema está sempre ensinando coisas legais pra gente. Em especial os filmes dos anos 1980 nos trazem inúmeras lições para a vida, como por exemplo pintar muros e encerar carros para ser um bom lutador de caratê, não andar com um extraterrestre na cestinha da bike se você tiver medo de altura, matar aula pode fazer com que você destrua a Ferrari do pai do seu amigo, caso você vá para o passado, não entre em contato com seus familiares, mas saiba tocar Johnny B. Goode por via das dúvidas… enfim, tantos ensinamentos enriquecedores. Os Gremlins também nos lembram que, no caso de cuidar de bichinhos de estimação, acaba valendo a pena seguir as regras e conselhos para cuidar bem do seu pet. Afinal ninguém quer correr o risco de ficar com seu bichinho doente, menos ainda ninguém quer correr o risco de ter que explodir o cinema da cidade por causa dele.

Vai fundo!

Para ouvir: Uma playlist com 10 tracks que embalaram os filmes mais divertidos dos anos 80! Top 10 tracks 80’s movies!

Para assistir: Óbvio que a recomendação é para assistir ao clássico primeiro filme, lançado em 1984. Confesso que as 2 sequências que foram lançadas nos anos 90 são bem decepcionantes. Mas já estão confirmadas duas temporadas de uma série animada que contará a origem dos mogwai. A série será exibida pela HBO Max, mais uma plataforma de streaming. Apesar de ainda não ter lançamento oficialmente marcado, a série promete agradar. Vamos esperar.

Well, whatever… Nevermind.

Well, whatever… Nevermind.

 Um dos vídeos mais famosos do Nirvana é uma filmagem amadora de um show da banda em Dallas numa pequena casa de shows. O show foi um caos, vários problemas técnicos, PAs falhando e etc. Sem falar que o som do Nirvana sempre foi barulhento, abusando de microfonias. Eis que durante a música Love Buzz, na hora do solo de guitarra, Kurt Cobain faz um stage dive com guitarra no lombo e tudo. Ele está lá curtindo, se debatendo em cima da plateia, quando um dos seguranças o puxa de volta para o palco. Mas ele não quer ir, e, no reflexo, enfia a guitarra na testa do tal segurança. Quando Kurt volta ao palco, o segurança com a cabeça sangrando tá full pistola e já chega no soco e na bicuda pra cima dele e o caos se instaura. Nem o mais otimista dos seres humanos que visse este vídeo antes de setembro de 1991 acreditaria que aquela banda seria capaz de desbancar Michael Jackson na lista dos discos mais vendidos do ano.

A música pop produziu os mais variados fenômenos da década de 1950 pra cá. Um branco do sul dos Estados Unidos que misturou country com música negra, 4 moleques de uma cidadezinha portuária da Inglaterra que faziam músicas de amor e aposentaram a fase dos topetes no rock, um inglês que imortalizou sua imagem com um raio na cara e uma música plural e por aí vai. Mas nenhum desses fenômenos foi tão radical quanto a ascensão da banda Nirvana. Por mais que Elvis tenha sido um revolucionário misturando o country dos brancos com o R&B dos negros, o cenário musical estava pronto para isso. Os Beatles foram uma evolução natural daquele movimento que já contava com Buddy Holly e Little Richards. Bowie foi um gênio justamente por saber ler o que havia de melhor na vanguarda da música pop e recriar à sua maneira. Em nenhum desses casos houve ruptura. Com o Nirvana foi diferente.

Photo by: Michael Lavine

Até dá pra dizer que o rock estava em evidência em 1991. Mas era um rock afetado, narcisista. Guns n’ Roses lançava o megalomaníaco Use Your Illusion I e II, U2 se rendia ao pop em Atchung Baby e no front do rock mais pesado, o Metallica se rendia a baladas e mais melodias do que agressividade no clássico Black Album. O punk rock estava esquecido. A música alternativa, que sempre foi efervescente, vale dizer, continuava de boa ali no underground sem incomodar ninguém.  Pra não falar que não rolava rock alternativo no mainstream, o clipe de Losing my Religion, do R.E.M. estava bombando e o Sonic Youth tinha lançado Goo, um disco bem sucedido por uma grande gravadora, um ano antes.

Photo by: Kirk Weedle

Aliás, foi por causa do Sonic Youth que o Nirvana acabou assinando com a Geffen Records. Dizem que o pensamento dos executivos da gravadora era o seguinte: se o Sonic Youth vendeu 50 mil discos, o que eles consideravam um bom desempenho para uma banda alternativa, se o tal Nirvana vendesse igual ou um pouco mais, já valia a pena. Acontece que em dezembro de 1991, três meses depois de lançado, Nevermind já vendia 300 mil cópias por semana! Tudo por causa de um riff de guitarra grudento, uma letra reclamona e um clipe poderoso.

Photo by: Kirk Weedle
Photo by: Kirk Weedle

Nevermind é um disco brilhante e irretocável. Ali estão as melhores composições de Kurt Cobain, executadas por uma banda afiadíssima, um baixo marcante e preciso, uma bateria cavalar, harmonias incríveis e uma produção soberba. É um monte de elogios grandiosos, eu sei, mas não é exagero. Apesar de estar recheado de hits, o disco foi puxado por Smells Like Teen Spirit. Uma música que Kurt Cobain escreveu inspirado nos Pixies com sua dinâmica de guitarras distorcidas, verso suave e explosão no refrão. O clipe reforçava a letra da música, que reclamava da apatia juvenil, apresentando uma mini rebelião num ginásio de colégio com cheerleaders com o símbolo da anarquia punk estampado em suas blusas. Era tudo que uma juventude cansada de bandas super produzidas e astros pop inatingíveis precisava.

Photo by: Michael Lavine

A honestidade, o sarcasmo e principalmente as músicas excelentes do Nirvana caíram nas graças do mundo pop. Nevermind tirou Michael Jackson do topo dos discos mais vendidos e chutou a porta para um mundo desconhecido entrar. De uma hora pra outra, roqueiros maltrapilhos, de cabelos ensebados e usando bermudas e camisas de flanela passaram a frequentar capas de revistas e ter seus discos entre os mais vendidos. Na real, a maioria das bandas que apareceram como grande novidade da música já eram veteranos, com pelo menos três ou quatro discos já lançados na bagagem. Mudhoney, Pixies, Sonic Youth, Soundgarden, Screaming Trees, L7… essa turma toda já estava na ativa desde os anos 1980.

O Nevermind é o disco mais importante da década de 1990, e completa neste ano 30 anos de lançado. Responsável por uma revolução na música e no comportamento. Não se trata só de um disco com 12 músicas ótimas. Trata-se do disco de uma banda que sempre que podia, falava bem de outras bandas, que tinha personalidade e muito talento. Nevermind é a obra prima, mas tudo que o Nirvana lançou é bom demais. Bleach, Incestcide, In Utero, Unplugged in NY, os singles, discos ao vivo, bootlegs… não tem coisa ruim. É por isso que a morte de Kurt Cobain em 5 de abril de 1994 ainda é sentida e lembrada até hoje. E enquanto existirem jovens descontentes com guitarras na mão, continuará sendo.

Photo by: Charles Peterson

Vai fundo!

Para ouvir: Todo mundo conhece os clássicos do Nirvana. Mas tem muita coisa nas beiradas de toda a obra da banda que é genial e merece ser ouvida. Por isso, fizemos um top 10 tracks Nirvana que fogem do óbvio.

Para assistir:Tem muito material interessantíssimo sobre o Nirvana. Vou citar dois: Primeiro o home vídeo Nirvana Live! Tonight! Sold Out! que conta toda a trajetória da banda até a morte prematura de Kurt Cobain. O outro é o documentário Montage of Heck, que se presta a contar a história do Kurt Cobain através de sua própria obra e com vídeos e gravações cedidos pela família. Inclusive a produção é assinada pela Frances Bean Cobain, filha de Kurt.

Para ler: Claro! A indispensável biografia de Kurt Cobain  Heavier than Heaven, escrita pelo jornalista Charles R. Cross. Um livro completíssimo, super bem escrito e delicioso de se ler. Livro essencial para quem gosta de música.

Fazer Mais!

Fazer Mais!

Não dá pra ter limite. A gente sempre tem que querer mais, ser mais, fazer mais. Não é porque você faz bem determinada coisa, que você vai se limitar a fazer só essa coisa. Sócrates, Wladimir, Casagrande e Zenon eram jogadores de futebol, jogar bola era o que eles faziam de melhor. Mas eles fizeram mais e usaram o futebol pra promover ideias de democracia e igualdade num período turbulento da nossa história. Em 1982 a Democracia Corinthiana mostrava para um país sob um regime ditatorial que as coisas podiam ser melhores se o povo tiver liberdade de escolha.

E o John Lennon então! O negócio dele era compor e tocar canções, certo? Claro! Mas ele também quis fazer mais. Em 1969 botou nas ruas de algumas cidades do mundo a campanha War is Over. Além de colar centenas de cartazes, lambe lambes e outdoors com os dizeres “War is Over if you want it”, John e Yoko deram várias entrevistas coletivas para falar sobre paz, direitos humanos e o fim da Guerra do Vietnã.

Enfim, histórias não faltam de pessoas que quiseram fazer mais e ainda fazem a diferença na sociedade. É muito legal perceber que dá pra fazer mais fazendo o que a gente sabe fazer de melhor. É assim que a Strip Me, produzindo camisetas sensacionais, também encontrou uma forma de fazer mais. Aliás, sempre esteve no DNA da Strip Me integrar, transmitir um estilo de vida cosmopolita que abraça a diversidade e a cultura. Uma marca que se orgulha de suas origens, que incentiva a produção local, a sustentabilidade e novos talentos. Mas ainda dá pra fazer mais! Por isso a Strip Me faz doações a cada venda realizada no site.

Funciona assim: A Strip Me auxilia 4 ONGs diferentes. Quando você faz uma compra no site da Strip Me, uma parte do valor é doado para uma dessas organizações. Para quem está comprando, não muda nada, não tem alteração de valor. O que acontece é que quem está comprando pode escolher o destino dessa doação. Ou seja, você pode escolher se esse dinheiro vai para o combate à fome ou para a proteção aos animais, por exemplo. As ONGs beneficiadas lutam por causas nas quais a Strip Me também acredita.

A ABCP, Associação Beneficente e Comunitária do Povo, surgiu em 2007 na cidade de São Paulo com o objetivo de amparar pessoas em situação de rua, bem como oferecer educação e moradia e esperança, para que essas pessoas sejam integradas à sociedade com dignidade. A ONG realiza projetos como o PopRua, auxiliando famílias, crianças e adolescentes, gestantes em situação de vulnerabilidade e famílias em processo de adoção, por meio de atendimentos sociais, concessões de cestas básicas, palestras, cursos de capacitação e oficinas de esportes e cultura. As doações da Strip Me neste caso são revertidas em cestas básicas. www.abcpovo.org.br

A Endeleza é uma organização brasileira que atua na África promovendo educação, alimentação e qualidade de vida. O nome vem do swahili, língua nacional do Quênia, e significa prosperidade. A educação, o empoderamento e a sustentabilidade formam a base dessa ONG que atua no Quênia com um centro de desenvolvimento humano e uma escola primária sustentável onde crianças e adolescentes desfrutam de alimentação e educação. Só a Strip Me já ajudou a servir 1235 refeições até agora E esse número vai crescer ainda mais com o tempo! www.endeleza.org

O Instituto Clélia Angelon surgiu em 2006 levantando bandeiras como a defesa dos direitos humanos, defesa dos animais e preservação do meio ambiente. É uma organização que busca construir uma sociedade mais justa e consciente. Para isso, cria, desenvolve e apoia vários projetos que visam a igualdade, a preservação do meio ambiente, os direitos humanos e dos animais, além de difundir os ideias da sustentabilidade e do veganismo. Aqui as doações da Strip Me são convertidas em mudas de hortaliças que são plantadas e cultivadas pela ONG. www.facebook.com/institutocleliaangelon

O Grupo Escoteiro Ipê Amarelo é uma entidade sem fins lucrativos, filiado à União dos Escoteiros do Brasil e declarado de Utilidade Pública no Município de São José, no estado de Santa Catarina. Através da filosofia do escotismo, o Grupo Ipê Amarelo promove o desenvolvimento do caráter, senso de civilidade, saúde física e intelectual de crianças e jovens na faixa etária de 5 a 21 anos, além de promover vários projetos e campanhas assistenciais e de cunho ambiental. Aqui as doações da Strip Me são destinadas a custear campanhas e atividades do Grupo Escoteiro. www.ipeamarelo.org

Todas essas ideias incríveis e super valiosas a Strip Me assina embaixo e faz sua parte para que elas se mantenham vivas e floresçam cada vez mais. Em meio a tanta confusão e coisa ruim que rola mundo afora, é bom demais saber que tem gente remando pro lado certo, acreditando na vida. Melhor ainda é saber que cada um de nós também está fazendo a sua parte. A desigualdade, fome, crimes ambientais, crueldade contra animais e falta de educação e cultura são a nossa guerra. E ela pode acabar, se você quiser.

Vai fundo!

Para ouvir: Uma playlist inspiradora com canções que transmitem, representam e divulgam todos os nossos ideais. Top 10 tracks para fazer mais!

Para assistir: O documentário One Strange Rock é brilhante. Mostra vários aspectos intrigantes, assustadores e maravilhosos dessa bolota que gira no espaço, e que a gente chama de planeta Terra. Além de muita informação e imagens incríveis, este doc conta com a narração bem humorada de Will Smith. Vale a pena conferir. Tem no catálogo da Disney Plus.

Imunização Racional

Imunização Racional

É muito famoso o episódio em que os Beatles, entre outros artistas famosos, foram até Rishikesh, na Índia, para um retiro espiritual baseado nas tradições hindus de meditação. A estadia dos Beatles por lá acabou mal, numa situação que já apareceu em tantas versões diferentes, inclusive por parte dos rapazes de Liverpool, que ninguém sabe exatamente o que aconteceu. Supostamente, o guia espiritual Maharish Mahesh Yogi, que era muito admirado por todos e se dizia casto e livre de pensamentos mundanos e das drogas ou sexo, havia tentado abusar sexualmente da atriz Mia Farrow durante o retiro. Lennon e Harrison se revoltaram e foram questionar o guru. Após da discussão, os Beatles abandonaram o retiro acusando o Maharish de ser mentiroso, de se fazer valer da fama da banda para se divulgar e etc. Isso aconteceu em 1968. No início dos anos 1970, quando os Beatles se separaram, essa história já era conhecidíssima em todo o mundo. Mas aparentemente, o cantor brasileiro Tim Maia, se soube dessa história, não prestou muita atenção. Ainda bem.

Crédito: Imagem de Divulgação do artista

Em 1974 Tim Maia já tinha 3 discos de sucesso estrondoso no currículo. Mas além de ser conhecido pela música, Tim Maia também era famoso por ser um puta louco, que não media esforços para consumir uma dieta farta em comidas altamente calóricas, muito álcool, nicotina e todo o tipo de drogas imagináveis. Naquele ano, em uma de suas costumeiras visitas a seu amigo Tibério Gaspar, Tim Maia, que estava viajando de mescalina, viu jogado na sala de Tibério um livro. Ele pegou e começou a folhear, se interessou, levou pra casa e o leu inteiro. Por alguma razão desconhecida, aquele livro fez todo o sentido na cabeça de Tim. O livro era O Universo em Desencanto .

Crédito: Acervo da família

Pra resumir, esse livro dizia o seguinte: Nós, humanos, não somos originalmente da Terra. Somos do planeta Racional Superior, e estamos exilados na Terra. Aqui estamos animalizados, sujos e magnetizados por forças negativas. Todos precisamos alcançar a imunização racional, que só pode ser alcançada lendo e seguindo os ensinamentos do livro O Universo em Desencanto. Uma vez imunizados, estaremos prontos para que os discos voadores venham nos buscar e nos levar para nosso planeta de origem. Só mesmo o Tim Maia louco de mescalina pra cair numa patacoada dessa! Mas ele não só caiu, como forçou toda a sua banda a entrar na mesma onda. Dali por diante, todo mundo só poderia usar roupa branca, porque muitas cores nos magnetizam, ninguém mais pode beber, fumar, cheirar, fazer sexo sem fins de reprodução e nem comer carne vermelha.

Crédito: Imagem de divulgação do artista

Claro que a banda não gostou nada da brincadeira. Mas, a princípio, todo mundo  fingia que estava seguindo tudo direitinho, porque eles estavam produzindo um som inacreditável. Tim Maia vinha de um fim de relacionamento que o devastou, mas o deixou muito criativo. Além do mais, ele estava ouvindo feito louco Curtis Mayfield, Isaac Hayes, Sly & Family Stone… e produzindo canções inspiradíssimas, influenciadas por essa turma. Quando pintou o lance Racional, Tim Maia simplesmente pegou essas canções incríveis que tinha escrito, colocou letras falando única e exclusivamente sobre imunização racional e o O Universo em Desencanto. Gravou assim o Tim Maia Racional. Com o disco pronto, Tim levou até sua gravadora para que fosse prensado e distribuído. Óbvio, que a gravadora não aceitou. Todo mundo admitia a qualidade musical da bolacha, mas as letras das músicas  faziam do disco um suicídio comercial. Tim Maia, então, abandona a gravadora, cria seu próprio selo, a Seroma Discos, e lança de forma independente Tim Maia Racional Vol1 e Vol2. Vale dizer também que, sob a filosofia Racional, Tim Maia parou de beber, fumar, usar drogas e comer carne vermelha. Ele emagreceu e sua voz ganhou uma potência e brilho assustadores. A performance vocal dele nessa época é de arrepiar.

Acontece que esse papo chato de imunização racional era dose mesmo. Ninguém aguentava. Mas o Tim Maia trabalhava incansavelmente em prol da causa Racional. Mas a vida dele só piorava. Ele estava sem dinheiro, a mulher o abandonou (de novo), estava sem gravadora, os músicos estavam de saco cheio e também ameaçavam deixar a banda… até que em setembro de 1975, já há um ano insistindo nessa maluquice, Tim Maia acordou com uma puta vontade de comer uma picanha mal passada, tomar cerveja e fumar um baseado (não necessariamente nessa ordem). Foi ter uma conversa com o guru da parada, o seu Manuel Jacintho Coelho, ninguém sabe o que exatamente foi dito, mas Tim Maia saiu de lá irritado, foi pro seu apartamento, botou fogo na suas roupas brancas, mandou quebrar todos os discos que ainda não tinham sido vendidos e, peladão, enquanto suas roupas pegavam fogo, gritava da sua janela um caminhão de palavrões dirigidos ao guru Racional.

Crédito: Imagem de divulgação do artista

A vida voltou ao normal, Tim Maia na sua dieta de sempre, voltou a compor canções pop de altíssimo nível e acabou transformando seus discos da fase Racional em verdadeiras relíquias da música brasileira. Como ele ficou puto (com razão) com tudo que aconteceu, nunca mais falou no assunto e deu fim nos discos, que se tornaram raríssimos. Depois da morte de Tim Maia em 1998, os dois discos da fase racional foram redescobertos, viraram cults e os poucos discos existentes começaram a aparecer sendo vendido por mais de 2 mil reais. Mas não acaba aí. Ninguém sabia, mas estava guardado num estúdio pequeno no Rio o Tim Maia Racional Vol3. As fitas foram gravadas pouco antes de Tim Maia deixar a seita e ficaram guardadas nesse tal estúdio porque Tim Maia não havia pago pelas horas de gravação, e o dono não liberou as gravações pro Tim. Em 2011 o músico e produtor carioca Kassim pegou esse material bruto, deu um talento e disco foi finalmente lançado.

Crédito: Sonia D’Almeida

O que a gente mais precisa nos dias de hoje é imunização. E quem precisa ser racional são os governantes. Mas tá difícil, né. Enquanto a nossa imunização não chega (sem falar na racionalidade do governo), o jeito é esperar de boa. Vai que a Cultura Racional tá certa e a gente acaba vendo algum disco voador por aí. Aliás, não sei se você sabe, mas na música mais famosa dessa fase, a clássica, Imunização Racional (Que Beleza), Tim Maia não canta meros “uh uh uh, que beleza”. Mas sim ele canta “UFO UFO UFO, que beleza”. Pega pra ouvir com calma, com o fone de ouvido que você vai se ligar. Por essa nem o Fox Mulder esperava, hein… então a gente finaliza por aqui. A verdade está lá fora. De máscara, claro.

Vai fundo!

Para ouvir: Aquela playlist imunizada no capricho! Selecionamos o que há de melhor nos 3 volumes do Tim Maia Racional. Um Top 10 Tracks Tim Maia Racional.

Pra ler e assistir: Não dá pra deixar de recomendar a biografia do Tim Maia escrita de forma deliciosa pelo Nelson Motta. Vale Tudo: O Som e a Fúria de Tim Maia é um livro sensacional que conta todos os causos, a obra e a trajetória da vida do Tim Maia. E o filme Tim Maia, lançado em 2014, dirigido pelo Mauro Lima tem o roteiro adaptado do livro do Nelson Motta. E, olha, o filme tá disponível no catálogo da Netflix.

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