Mulheres que Representam!

Mulheres que Representam!

Até parece que é chover no molhado falar que o dia da mulher é todo dia, e não só o dia 8 de março. Que as mulheres são incríveis e empoderadas. E que a luta do feminismo por um mundo de real igualdade e respeito é mais que digna, é essencial para a humanidade. Acontece que a gente tem que chover no molhado sim, todo ano nessa época. É claro que todas as afirmações acima são verdadeiras e do conhecimento de muita gente. Lógico que as coisas já melhoraram bastante, e hoje as mulheres tem muito mais voz e protagonismo. Mas ainda falta muito. Então, pra gente não deixar essas ideias passarem batidas, escolhemos 5 mulheres brilhantes, com histórias inspiradoras, pra comentar por aqui, como uma homenagem, sendo que essas 5 representam com propriedade todas as mulheres deste mundo!

Carmem Miranda 

Photo by Silver Screen Collection/Hulton Archive

Por muito tempo a Carmem Miranda não era muito bem vista aqui no Brasil. Alguns críticos e intelectuais, desses que gostam muito de criticar, mas não produzem nada original ou relevante, diziam que ela era uma artista fabricada, sem originalidade, americanizada, estereotipada, que ridicularizava a imagem do Brasil no exterior… Um absurdo, né? Por mais que ela nunca tenha sido compositora, era uma artista nata! Desde criança gostava de cantar, vivia sorrindo. Teve uma vida pobre no Rio de Janeiro, onde trabalhou desde criança. Primeiro entregando marmitas, depois vendendo gravatas e, por fim, já adolescente, numa loja de chapéus onde se encantou com o mundo da moda e desenhava figurinos. Aos 20 anos de idade gravou seu primeiro disco, no ano seguinte, 1930, vendeu quase 40 mil cópias, um sucesso estrondoso para a época. Aos 22 anos era considerada a rainha do rádio! Do rádio foi para o cinema, onde estrelou 7 filmes, sendo o último deles, Banana da Terra (1939), onde imortalizou sua imagem vestida de baiana, com turbante florido, cantando O Quê que a Baiana Tem? De Dorival Caymmi. Em 1940 foi levado para Los Angeles por um produtor norte americano que passava férias no Rio. Nos Estados Unidos virou uma estrela inquestionável! Estrelou 14 filmes, sendo a maioria como protagonista, no fim dos anos 40 ela era a mulher com o maior salário de Hollywood, conquistando até uma das cobiçadas estrelas na legendária Calçada da Fama! Ela mesma desenhava seus figurinos exuberantes e exóticos, tinha um senso estético fantástico, apenas movimentando os braços e os olhos, ela dançava como ninguém! Mas o ritmo de trabalho frenético de LA cobrou seu preço. Carmem Miranda ficou viciada em anfetaminas e acabou tendo uma parada cardíaca por conta dos estimulantes, morrendo aos 46 anos de idade, em 1955. Apesar de ter morrido em LA, ela foi velada e enterrada no Rio de Janeiro, cidade que sempre amou e considerou seu verdadeiro lar. 

Audrey Hepburn 

Photo by harpersbazaar.com

Mesmo tendo origem numa família nobre, Audrey Hepburn passou longe de ser uma bonequinha de luxo. Mas tinha tudo para ser uma grande artista. Ainda criança apaixonou-se pelo balé clássico. Por conta do trabalho do pai, a família de Audrey morou em vários países, o que deu a ela uma cultura considerável. Na adolescência, ela já falava holandês, inglês, alemão, italiano, francês e espanhol. Quando a Segunda Guerra Mundial começou, Audrey tinha apenas 10 anos. Na época morando em Arnhem, na Holanda, ela viveu os horrores da guerra quando os nazistas invadiram a Holanda. Em 1942 viu um tio ser fuzilado. Há muitos boatos, e muito poucas evidências, de que ela tenha participado ativamente na resistência holandesa. Talvez ela não tenha atuado como mensageira, percorrendo as cidades destruídas, como dizem. Mas é tido como muito possível que ela tenha feito apresentações de dança nas ruas em troca de dinheiro e ter dado esse dinheiro para a resistência, a qual seu tio fazia parte. Depois da guerra, mudou-se para a Inglaterra onde se especializou como dançarina de balé e começou a atuar em peças de teatro e filmes. Em 1952 a escritora Colette estava envolvida com a produção do musical da Broadway inspirado em seu livro, Gigi. Ela viu Hepburn se apresentando num teatro em Monte Carlo e decidiu convidá-la para atuar na Broadway. Daí foi só ladeira acima. Foram 23 filmes só em Hollywood, fora os que ela atuou na Inglaterra antes, e fora as muitas peças da Broadway. Foi uma mulher que trabalhou demais, e sempre com excelência! Ela ganhou dois Oscars e foi premiada mais de 25 vezes em premiações mundo afora. Seu papel mais emblemático, claro, foi Holly Golightly, a protagonista de Bonequinha de Luxo (Breakfast at Tiffany’s) lançado em 1961. No final da década de 60, quando sua careira estava no auge, ela decide parar tudo para ter filhos e se dedicar à família. Claro fez um filme aqui, outro ali, mas entre 1967 e 1993, quando ela faleceu, participou de apenas 5 filmes. Mas sua vida não se limitou a ser dona de casa, ela se engajou em muitas campanhas humanitárias e foi nomeada Embaixadora da Unicef em 1989. Audrey Hepburn foi diagnosticada com um câncer no estômago em 1992 e morreu dormindo na noite do dia 20 de janeiro de 1993. Mas certamente ela é uma dessas estrelas que nunca vai deixar de brilhar. 

Frida Kahlo 

Self-portrait with thorn necklace and hummingbird by Frida Kahlo (1940)

Ah, uma artista em sua mais pura essência! Afinal o que mais pode ser a arte senão o sofrimento travestido em cores fortes, olhares misteriosos e a vida traduzida em sentidos? Assim era Frida Kahlo! Uma mulher brilhante que encontrou ao longo de sua vida muito mais desgraças do que qualquer outra coisa, tentou domar seus sentimentos na base de pinceladas, onde foi muito bem sucedida, mas também o fez de maneira dolorosa, misturando prazer e sofrimento em relacionamentos amorosos questionáveis e abuso de remédios dos mais variados. A história de Frida é louquíssima porque tem um monte de camadas. Oriunda de uma família de classe me´dia, sua infância foi triste, testemunhando o casamento falido dos pais. Teve poliomelite, o que lhe deixou de cama por meses e lhe rendeu uma saúde frágil pro resto da vida. Quando jovem, aos 18 anos, sofreu um acidente gravíssimo, quando o ônibus em que ela estava se chocou com um bonde. Um corrimão do ônibus lhe perfurou as costas, a pélvis, o abdome e o útero, teve três vértebras e a clavícula fraturadas e seu pé direito foi quase triturado. Ainda assim ela sobreviveu, se recuperou, mas viveu o resto de seus dias com dores crônicas por todo o corpo, o que justificava (mais ou menos) o uso excessivo de analgésicos. E foi depois do acidente que Frida se dedicou a pintura, além de ler muito e se engajar politicamente. Filiou-se ao partido comunista mexicano, chegou a receber em sua casa no México, e ter um affair, dizem, o lendário político russo Leon Trotsky. Aliás, se o caso com Trotsky realmente rolou, foi uma das muitas puladas de cerca de Frida, que vivia casada desde 1929. Um casamento daqueles, entre tapas e beijos, amor e ódio. Mas o importante é que Frida Kahlo se tornou uma das artistas mais emblemáticas da história! Uniu primitivismo, folclore mexicano e surrealismo, tudo com um toque de feminismo muito peculiar, que produziu uma obra autêntica, revolucionária e influente até hoje. Frida foi encontrada morta em seu quarto no dia 13 de julho de 1954. Ela tinha 47 anos e morreu de uma possível embolia pulmonar, mas não se descarta a possibilidade de uma overdose premeditada de remédios, já que ela já tinha tentado suicídio muitas vezes ao longo da vida. Uma artista em estado bruto, tão perturbadora quanto genial. 

Amy Winehouse 

Photo by Phil Griffin

Há quem tente resumir a Amy Winehouse num clichê do tipo “rockstar que perde tudo para o vício em drogas, genialidade desperdiçada, blá blá blá…” Quem diz isso não poderia estar mais errado, cara! A história da Amy Winehouse é única, apesar de conter sim alguns clichês que, infelizmente, ainda se abatem muito sobre as mulheres, sejam elas estrelas pop ou ilustres desconhecidas. Desde muito criança, Amy já demonstrava aptidão para a arte, em especial a música. Porém era muito tímida. Quando chegou na adolescência e começou a fazer suas primeiras apresentações, como cantora, se sentia insegura, sofria de ansiedade, e isso culminou numa bulimia que não foi tratada. A bulimia e a anorexia são mais comuns do que a gente pensa, mas muito pouco se fala a respeito. Aliás, cabe aqui um parênteses pra homenagear outra mulher incrível e talentosíssima, a Karen Carpenter, que morreu muito jovem em decorrência da anorexia. Mas voltando à Amy, ela foi uma menina que sempre respirou música. Teve uns empreguinhos pra levantar uma grana, mas se realizava mesmo se apresentando em clubes de jazz em Londres. Entre 2000 e 2001 ela já era conhecida no circuito undeground de jazz da cidade e tinha uma fita demo na mão. Um amigo de um amigo conseguiu uns contatos e por fim, em 2002 ela assinou com a EMI, lançando seu primeiro disco pelo selo Island Records. O disco Frank foi lançado em 2003 e foi bem recebido pela crítica, mas sem venda expressiva. Mas o jogo virou mesmo em 2006 com o antológico disco Back to Black. Amy Winehouse se mostrou uma cantora impressionante e uma compositora sensível e bem articulada, com uma sonoridade super plural. E é em cima dessa obra, curta, mas irretocável, que Amy Winehuse se imortalizou. Todo mundo sabe das tretas do casamento conturbado dela, dos vícios em drogas, dos bafões estampados nos tablóides britânicos. Mas, cara, essa mulher revigorou a música pop, revolucionou o R&B moderno e é modelo até hoje como estética fashion. A Amy Winehouse é f*d@, e para sempre será! 

Elza Soares 

Photo by Daniel Barboza

Por falar em música e mulher f*d@, a gente finaliza essa lista com uma das mulheres mais emblemáticas da história moderna do Brasil. Nascida Elza Gomes da Conceição no Rio de Janeiro em em 23 de junho de 1930, Elza Soares conseguiu traduzir toda uma vida em música. Amores, tragédias familiares, pobreza, racismo… tá tudo lá, em mais de 60 anos de carreira musical. Logo na adolescência Elza já sentia na pele negra a dureza de ser mulher. Após ser abusada sexualmente por um “amigo” de seu pai, ela foi obrigada a se casar com esse “amigo” aos 13 anos de idade, para ter sua honra de mulher (vulgo virgindade) limpa. E, é lógico que depois de casada, vieram mais abusos e violência doméstica. Teve seu primeiro filho aos 14 anos. Com 15 anos viu seu segundo filho morrer de fome… olha a vida da Elza Soares dava um texto enorme! Enfim. O tal “amigo” finalmente morreu de tuberculose quando ela tinha 21 anos. Foi quando se viu livre para tentar realizar seu sonho: ser cantora. Vale lembrar que desde adolescente ela já se arriscava a compor umas canções. A entrada de Elza Soares no showbiz é revelador. Vestida humildemente, com um penteado todo troncho, ela se apresentou no programa de calouros de Ary Barroso. Quando a viu, o velho maestro, com bom humor perguntou: “De que planeta você veio, minha filha?”. Ela respondeu enfática: “Do mesmo planeta que o senhor, Seu Ary. Do planeta Fome.”. E é lógico que ela cantou, ganhou nota máxima e dali pra começar a gravar discos e etc, foi um pulo. Em 1962 ela já tinha uma carreira musical bem sucedida quando conheceu o craque responsável pela conquista da primeira Copa do Mundo do Brasil, o jogador Garrincha. Os dois começaram a namorar e Elza quase perdeu sua carreira de cantora, já que Garrincha abandonou sua então esposa para ficar com Elza. O público, que adorava Garrincha, começou a perseguir Elza acusando-a de destruir o casamento do jogador. Olha, foi um casamento muito conturbado. Anos depois, já morando juntos, Garrincha sofre um acidente de carro onde a mãe de Elza, que estava junto com ele, acaba morrendo. Ele entra em depressão, começa a beber muito e acaba por abandonar o futebol. Com o alcoolismo, vem a violência doméstica, o ciúmes exagerado e uma cirrose hepática que o matou em 1983. Elza segue a vida sempre cantando, gravando discos, fazendo shows… e sempre se reinventando, aglutinando novos gêneros musicais. Cantou samba, jazz, soul, funk, R&B, bossa nova, rock e até hip hop. Ela nunca parou de fazer música! Ela tem 33 discos gravados entre 1960 e 2021, sem falar nos 3 discos ao vivo e nas 7 coletâneas. Elza Soares morreu de causas naturais no dia 20 de janeiro de 2022, aos 91 anos de idade. Por coincidência, 39 anos depois, exatamente no mesmo dia que morreu Garrincha, que apesar de tudo, foi seu grande amor. Olha, a Elza Soares realmente é uma das representantes mais genuínas das mulheres não só no Brasil, mas no mundo. 

É impressionante! A vida de cada uma dessas 5 mulheres daria um livro. Resumí-las a um parágrafo é tarefa inglória. Mas a ideia é justamente que você queira saber mais e vá ler, assistir filmes, documentários… conhecer a obras de cada uma delas! Na real a gente sabe que a vida de toda mulher certamente daria um livro incrível, cheio de emoções e atitude, coragem, trabalho, ousadia e força! O dia 8 de março existe pra gente lembrar disso e entender de uma vez que igualdade não é só dividir a conta do bar, ter salário igual ou lavar uma louça no lugar dela de vez em quando. Essa igualdade tem a ver com respeito, com humanidade e sensatez. E é lógico que esses valores estão impregnados do DNA da Strip Me, que sempre celebra a diversidade, a igualdade, a responsabilidade, tudo encharcado de muito barulho, diversão e arte! Então confere lá na nossa loja os lançamentos e as estampas de arte, cinema, música, cultura pop e muito mais! 

Vai fundo! 

Para ouvir: Aquela playlist 100% Girl Power pra você curtir a semana da mulher! Girl Power Top 10 tracks

Para assistir: Tem muitos filmes excelentes sobre grandes mulheres, de A Cor Púrpura a Thelma & Louise. Mas hoje recomendamos um filme que não recebeu tanta atenção do grande público, mas é um filmaço, com uma fotogrfia linda, um roteiro forte e bem construído e uma atuação intensa da ótima atriz Reese Whiterspoon. É o filme Wild, lançado em 2014, dirigido pelo Jean-Marc Vallée, roteiro do Nick Hornby e uma história incrível de uma mulher que resolve atravessar os Estados Unidos a pé para tentar se recuperar de alguns traumas pessoais. É um filmaço! 

Para ler: Uma leitura tão deliciosa quanto fundamental é a excelente autobiografia da atriz Fernanda Montenegro! No livro Prólogo, Ato, Epílogo: Memórias de Fernanda Montenegro, ela canta com delicadeza e fluidez toda a sua história, que é cheia de momentos interessantíssimos! Mais uma história de uma mulher com M maiúsculo que merece ser lida. 

Vida Digital

Vida Digital

Todas as barreiras já foram quebradas. Não tem mais aquela conversa que rede social, smartphone e ter uma vida digital é coisa de jovem. Da criancinha ao senhorzinho que passou dos 80 anos, todo mundo já está habituado a ter um smartphone na mão e curte postar uma foto da caneca de café que está tomando enquanto espera o Uber chegar. Na real, já quebramos várias outras barreiras, fases que não fazem mais sentido. Ninguém aguenta mais aquele papo de “quando eu cheguei isso era tudo mato”. Isso não tem mais importância nenhuma. 

Hoje em dia todo mundo acaba tendo uma vida digital ativa, quer queira, quer não. E não se trata só de ter um perfil no Instagram. O celular se faz cada dia mais necessário. Facilita o seu transporte, você faz pagamentos sem precisar ter dinheiro nem cartão de crédito à mão, se comunica por voz, vídeo ou mensagem escrita, se man´tém informado e até se distrai jogando algum joguinho. Mesmo as pessoas que eram mais avessas à tecnologia e se recusavam a ter um celular já estão dando o braço a torcer. Mas é claro! Imagine! Hoje em dia se você marca uma consulta com um dentista, com certeza ele vai dizer que a consulta será confirmada um dia antes via Whatsapp. Se você faz uma compra, o comprovante ou a nota fiscal lhe é enviada ou por e-mail ou por SMS. Enfim, vai ficando cada vez mais difícil viver sem ter um celular e estar conectado. 

Chega a ser engraçado ouvir aquela conversa de um pessoal mais velho dizendo que a vida era muito melhor antigamente. Com certeza devia ser uma vida mais simples, inegável. Mas imagina se era melhor uma época em que, se você precisasse falar com uma pessoa que está numa cidade a, digamos, 200 quilômetros de distância, você teria que fazer uma ligação para uma central telefônica, que lhe colocaria em espera, para completar a ligação para a outra cidade e depois repassar para você. Nessa brincadeira, já passou mais de meia hora. Até a década de 70, ou seja só 50 anos atrás, era assim que funcionava. Imagina ligar para outro país então! Ou então, falando em outro país, imagine que você é um jornalista correspondente, que está cobrindo uma guerra na África e precisa mandar uma reportagem urgente para ser publicada no Brasil sobre os conflitos. Você teria que mandar o texto por fax, para ser redigido na redação do jornal, ou enviar por telégrafo. E se tivesse fotografias, os filmes teriam que ser enviados de avião, chegando só dois ou três dias depois, para ainda serem revelados. Até o início dos anos 90, só 30 anos atrás, era assim a vida de um jornalista. 

O lance das redes sociais é cada vez mais uma coisa a ser discutida, porque influencia a vida de todo mundo de maneira muito relevante. No começo era só curtição. Conhecer gente, reencontrar aquele crush da época do colégio, falar mal dos outros, postar clipes de músicas muito boas ou muito toscas e tomar uns spoilers na cara da série que você está vendo. Hoje em dia a parada já virou coisa séria. É business, você compra e vende coisas, empresas usam Instagram e Facebook para conhecer melhor o seu perfil antes de te contratar e, cada vez mais, a política se infiltra nesse mundo e usa como ferramenta para, não só fazer campanha a favor de um candidato, como pode disseminar notícias falsas sobre seus adversários. Mas não é por isso que vamos desencanar, apagar todos os perfis das redes sociais e viver como monges, né? O importante mesmo é ficar esperto em tudo isso, denunciar quando for preciso e usar com responsabilidade as redes sociais, como um veículo de expressão livre. Até porque, fora esse lado político, as redes sociais são massa porque além da possibilidade de você vender aquele violão velho que tá encostado pegando poeira ou comprar uma bike pra começar a dar umas pedaladas, você pode divulgar seus trampos, postar vídeos da sua banda, publicar textos, ou simplesmente anunciar que você oferece determinado serviço. 

Isso tudo é pra dizer que não importa que idade você tenha. O lance é viver o presente! Se adaptar e aproveitar ao máximo tudo que a vida digital nos oferece de bom. Tá tudo aí, na ponta dos seus dedos! Você pode fazer uma chamada de vídeo em tempo real com sua amiga que mora no Canadá, você pode chamar um Uber pra ir pessoalmente dar um abraço em quem você ama, se quer ficar em casa, você tem uma imensidão de opções de séries e filmes pra assistir nos streamings da vida, e ainda pode pedir um ranguinho delícia pra acompanhar! Você pode fazer um grupo no Whatsapp e organizar aquela festona com a turma, e já criar uma playlist matadora no Spotify pra bombar na festa. Você pode botar pra foras tuas alegrias e frustrações escrevendo sua opinião livremente, lembrando sempre que toda liberdade tem limites, é claro. Você pode ter esquecido a carteira em casa, mas consegue, com o celular, pagar por uma garrafa de água se precisar, é só fazer um pix. Eita mundo bão!

É claro que o mundo, e a vida online , digital, ainda tem muitos problemas a serem discutidos, enfrentados e resolvidos. Mas com certeza é um mundo melhor, mais prático e mais moderno. A Strip Me está sempre ligada nesse mundo moderno e conectado. Tanto que estamos cada vez mais próximos de nossos clientes, trocando ideias e experiências, além de facilitar a compra de camisetas que são verdadeiros manifestos deste mundo plural, orgânico e digital, cheio de barulho, diversão e ate, em que vivemos. Por isso temos toda uma coleção voltada para a vida digital, mas também tem estampas de música, cinema, arte, cultura pop e muito mais. Confere na nossa loja

Vai fundo! 

Para ouvir: Selecionamos uma lista com músicas que falam sobre modernidade e tecnologia, que além da temática, são grandes canções! Vida Digital Top 10 tracks

Para assistir: Indo um pouco para o lado sombrio das redes sociais, vale muito a pena assistir o filme Rede de ódio (título original: The Hater) um filme polonês lançado em 2020, produzido pela Netflix e dirigido por Jan Komasa. Uma história instigante sobre um garoto que começa a trabalhar como social media em assessorias de imprensa e vai cavando fundo no mundo de bullyng, fake news e outras drogas! Filme muito bom! 

100 ANOS DA SAM-SP: DE LÁ PRA CÁ

100 ANOS DA SAM-SP: DE LÁ PRA CÁ

Não há limites para a arte! Uma vez revelada sua verdadeira voz, reconhecida sua mais pura personalidade, evidenciada sua força e originalidade, a arte se espalha contagiosamente, inspira artistas a se arriscar, a criar, dar vida àquilo que nuca foi feito antes. Neste quarto e último texto homenageando os 100 anos da Semana de Arte Moderna de São Paulo, vamos entender como o movimento modernista, que começou a tomar forma na virada da década de 1910 para 1920, realizou a Semana de Arte Moderna em 1922 e se consolidou em 1928 encontrando sua mais pura personalidade, foi fundamental para todas as expressões artísticas que viriam a seguir no Brasil. A Semana de Arte Moderna de 1922 acabou sendo o farol que guiou, e ainda guia, muitos artistas brasileiros a encontrar sua própria voz, sua personalidade. 

O combo de 1928, Manifesto Antropofágico + Abaporu + Macunaíma, realmente acendeu a luz da identidade artística essencialmente brasileira. Artistas contemporâneos a Oswald de Andrade, Tarsila do Amaral e Mário de Andrade se reinventaram. Em especial na literatura, muitas obras únicas e geniais foram concebidas a partir de 1930. Ganham notoriedade nomes como Jorge Amado, Graciliano Ramos, Cecília Meirelles, Carlos Drummond de Andrade, Rachel de Queiros, José Lins do Rego, Mário Quintana, Érico Veríssimo e, o maior de todos e verdadeiro alquimista da língua portuguesa, João Guimarães Rosa. Guimarães Rosa é tão importante porque é a mais evidente e brilhante síntese da metáfora antropofágica. Nascido em 27 de junho de 1908, teve uma infância tranquila no interior de Minas Gerais. Sempre afeito a leitura, ainda criança dizia que estudava por diversão. Fez faculdade de medicina, profissão que exerceu por muito tempo, mas sempre escrevendo nas horas vagas. Em meados da década de 1930 passou no concurso do Itamaraty e tornou-se diplomata. Atuou como cônsul brasileiro na Alemanha entre 1938 e 1942. Na embaixada do Brasil em Hamburgo ele conheceu e logo se casou com Aracy de Carvalho, uma mulher fantástica, funcionária da embaixada brasileira, que entrou para história como heroína ajudando judeus a escapar das garras do nazismo fugindo para o Brasil, emitindo muito mais vistos do que as cotas permitidas pelo governo. Em 1946, já de volta ao Brasil, ele lança Sagarana, seu segundo livro e o primeiro a já evidenciar uma linguagem moderna. Mas foi em 1956 que ele lança sua grande obra: Grande Sertão: Veredas! Um épico que captura a alma do regionalismo brasileiro, como só Mário de Andrade foi capaz em Macunaíma. Mas Guimarães Rosa vai além criando uma linguagem totalmente nova, criando palavras e impondo uma narrativa que preza mais pela fluidez do que pelo padrão gramatical vigente. Antropofagia pura! Numa entrevista, ele chegou a declarar o seguinte: “Eu falo: português, alemão, francês, inglês, espanhol, italiano, esperanto, um pouco de russo; leio: sueco, holandês, latim e grego (mas com o dicionário agarrado); entendo alguns dialetos alemães; estudei a gramática: do húngaro, do árabe, do sânscrito, do lituano, do polonês, do tupi, do hebraico, do japonês, do checo, do finlandês, do dinamarquês; bisbilhotei um pouco a respeito de outras. Mas tudo mal. E acho que estudar o espírito e o mecanismo de outras línguas ajuda muito à compreensão mais profunda do idioma nacional.”. Ele faleceu no dia 19 de novembro de 1967, algumas semanas depois de ser indicado ao Prêmio Nobel da Literatura e apenas 3 dias depois de assumir sua cadeira na Academia Brasileira de Letras, ocasião em que discursou e disse emblemática frase: “A gente morre é pra provar que viveu.”. 

Nas artes plásticas, as cores e pinceladas fortes de Anita Malfatti e os traços únicos de Tarsila do Amaral foram determinantes para as gerações das décadas de 1940 e 1950. Ismael Nery, Alfredo Volpi, Aldemir Martins e, principalmente Cândido Portinari. Portinari talvez seja o pintor de maior êxito no Brasil. Produziu em abundância e com muita qualidade. Ele nasceu no interior de São Paulo, numa fazendo de café em 29 de dezembro de 1903. Apesar do pouco estudo, ele não chegou a completar o ensino primário, tinha um talento inquestionável. Quando ele tinha 14 anos um grupo de pintores e escultores italianos passou pela cidade onde ele morava. Esses artistas viajavam de cidade em cidade fazendo restauração de pinturas, esculturas e vitrais de igrejas. Tais artistas se impressionaram muito com o talento do garoto, que acabou trabalhando com o grupo por um tempo. Depois, com 16 para 17 anos, mudou-se para o Rio de Janeiro para aprimorar sua arte. Ele ingressa na Escola Nacional de Belas Artes e chama a atenção de acadêmicos e até mesmo da imprensa. Era um artista tradicional, mas à partir de 1926 toma conhecimento do modernismo e se interessa pelo estilo. Após ganhar uma bolada num concurso em 1928, ele embarca para a Europa pela primeira vez, e fica em Paris por 2 anos. Volta para o Brasil cheio de novas ideias e técnicas. Assim como Tarsila do Amaral e Di Cavalcanti, Portinari pinta elementos brasileiros com muita personalidade, mas incluindo uma linguagem muito mais criativa e envolvente. Suas obras ganham prestígio mundo afora, ele chegou a fazer exposições exclusivas no legendário MoMA (Museu de Arte Moderna de New York). Ele pintava compulsivamente e acabou morrendo intoxicado pelas tintas que utilizava, pois trabalhava num ateliê pequeno e abafado, em 6 de fevereiro de 1962. 

Depois do golpe de 1930, que alçou Getúlio Vargas ao poder de maneira inconstitucional, o Brasil entraria num momento particularmente nefasto. Após algumas revoltas, em 1937 Vargas instaura o Estado Novo, a ditadura mais truculenta já vista no Brasil. Apesar de ter durado de 1937 a 1945, apenas 8 anos, ela foi mais violenta do que a ditadura de 1964, que se estendeu até 1985. Fora isso, o mundo via com terror a ascensão de Hitler e os horrores da Segunda Guerra Mundial. Mesmo depois de tanta violência, inacreditavelmente, Getúlio Vargas volta ao poder nos braços do povo, eleito democraticamente em 1951 presidente do Brasil, cargo que deixaria em 1954 após cometer suicídio. Ou seja, foi uma fase de muito medo, insegurança e incerteza. Mas a segunda metade da década de 1950 parece ter trazido novos ares e o Brasil praticamente renasceu. Em 1955 Juscelino Kubitschek assume a presidência do país abrindo o Brasil para o comércio estrangeiro, cheio de planos de desenvolvimento, incluindo mudar a capital do país para uma cidade recém planejada e construída no meio do cerrado. Em 1958 o Brasil ganha sua primeira Copa do Mundo de Futebol… enfim, uma euforia pairava o ar. No meio disso tudo alguns artistas despontavam com novas linguagens, em paralelo ao não menos novidadeiro Cinema Novo de Nelson Pereira Santos e Glauber Rocha, e à moderníssima bossa nova, gênero musical que nascia da fusão do samba com o jazz na zona sul da cidade do Rio de Janeiro. 

No meio de toda essa efervescência o jovem Hélio Oiticica se estabelecia como um dos principais artistas de um coletivo chamado Frente! Um coletivo de artistas plásticos que estudavam e promoviam exposições de arte concreta e outras vertentes da arte de vanguarda. Oiticica, já absorvendo elementos da Pop Art, começou a extrapolar a tela e a tinta para criar ambientes, o que ele chamava de arte penetrável, ou arte ambiental. Em 1964 ele se interessa pela produção de carros alegóricos das escolas de samba e acaba mergulhando naquele mundo. Foi uma experiência transformadora, que o fez acrescentar mais elementos artísticos e impregnar cada vez mais suas obras com críticas sociais. Até que o ano de 1967 chega trazendo uma nova revolução. No Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro, Oiticica apresenta um ambiente que mistura paisagens tropicais, elementos dos morros cariocas, a pobreza, a alegria do samba e muito mais. A obra se chama Tropicália e viria a inspirar Caetano Veloso, Gilberto Gil e outros músicos a criar o mais antropofágico dos movimentos culturais brasileiros: o tropicalismo. Com uma linguagem estética moderna e pop de artistas como Antonio Peticov e a música universal e super criativa dos Mutantes o tropicalismo é o filho prodígio do modernismo e da Semana de Arte Moderna de 1922. É o Brasil e o mundo ao mesmo tempo agora, em sua mais completa tradução. 

Consequentemente, o que se seguiu de lá pra cá só reforça esse conceito de evolução da arte, que encontra na metáfora mais que perfeita do Manifesto Antropofágico o meio ideal para se reinventar, evoluir e provocar, encantar, emocionar, empolgar e existir. Vieram nomes que absorveram, misturaram, subverteram e produziram uma arte contemporânea e original como Chico Science e o Manguebeat, e o Eduardo Kobra e seu grafite revolucionário. Encerramos hoje este mês de celebração dos 100 anos da Semana de Arte Moderna de São Paulo. O momento que mudou drasticamente todos os padrões da arte no Brasil, que desencadeou uma enxurrada de obras e movimentos revolucionários. A Strip Me está sempre de olho no que há de mais novo e interessante da arte, que instiga a criar. Mas também não deixa de olhar pra trás, pra aprender e se inspirar no que é clássico e abriu caminhos. Por isso a Strip Me apresenta estampas homenageando a Semana de Arte Moderna de 1922 e também tantas outras estampas de arte, música, cinema, cultura pop, tudo que nos encanta e inspira! Uma homenagem da Strip Me a todos que fizeram parte daquela semana de muito barulho, diversão e arte no Teatro Municipal de São Paulo 100 anos atrás! 

Vai fundo!  

Para ouvir: A produção musical no início do século XX era bem limitada e essencialmente de música erudita, né. Então, ao longo desses 4 posts sobre os 100 anos da Semana de Arte Moderna, vamos caprichar numa playlist cheia de brasilidade, com o que rola de som enquanto os textos são produzidos. Uma playlist que vai crescendo a cada post, até chegar a ser um top 40 tracks! SAM-SP 1922 – Top 40 Tracks.    

Para assistir: Em 2002 a TV Cultura fez um ótimo documentário sobre a semana de Arte Moderna de 1922. Com vários depoimentos de gente que fez parte do movimento modernista, em gravações antigas, claro, é um doc que vale a pena demais ser visto! Tá completinho no Youtube.    

Para ler: Com certeza a obra mais emblemática da literatura modernista brasileira veio a ser publicada 6 anos depois da Semana de Arte Moderna. Claro, é o indispensável Macunaíma, de Mário de Andrade. Um livro delicioso, divertido e que diz muito, mas muito mesmo, sobre o Brasil de ontem, de hoje e de sempre. Leitura necessária! 

100 ANOS DA SAM-SP: A REVOLUÇÃO

100 ANOS DA SAM-SP: A REVOLUÇÃO

Tudo tem um ponto de partida, um início. O fogo no rastilho que precede a explosão. Por exemplo: Não é nenhum absurdo afirmar que se Bruce Pavitt e Jonathan Poneman não tivessem criado a Sub Pop, o grunge, movimento musical que mudou os rumos da música pop nos anos 90, não existiria. A maioria das bandas, como Nirvana, Soundgarden e Alice in Chains seriam bandas alternativas conhecidas somente no underground dos Estados Unidos. A verdadeira revolução que os discos Nevermind, Superunknow e Facelift causaram só aconteceu graças à existência da Sub Pop. Neste terceiro texto dedicado aos 100 anos da SAM-SP, a gente vai entender que a mesma coisa aconteceu com o movimento modernista brasileiro no começo do século XX. A Semana de Arte Moderna de 1922 foi considerada um marco, o ponto de ruptura, só algumas décadas depois de ter acontecido. Na época teve alguma repercussão na imprensa paulistana, um burburinho no meio artístico, que deu um novo incentivo aos artistas mais ousados. uma chancela aos artistas para realmente buscarem novos formatos, novas linguagens, novas inspirações. Os anos que sucederam a Semana de Arte Moderna de São Paulo trariam a verdadeira revolução na arte brasileira, em especial na literatura e nas artes plásticas. Revolução esta que teve como protagonistas um casal extraordinário. 

É muito importante lembrar que os artistas brasileiros, em especial os modernistas, eram totalmente influenciados pelas escolas artísticas europeias. Sim, era uma arte de vanguarda, o expressionismo, surrealismo, eram escolas que causavam a mesma repulsa nos conservadores tanto aqui no Brasil quanto no exterior. Por mais que Anita Malfatti e Di Cavalcante na pintura, Oswald de Andrade e Menotti del Picchia na literatura, imprimissem sua própria personalidade em suas obras, não só as técnicas, mas todas as referências eram estrangeiras. Faltava alguma coisa.  

Alguns meses depois da Semana de Arte Moderna ter acontecido, o escritor Oswald de Andrade conheceu uma mulher extraordinária! Uma mulher linda e cheia de talentos! Além de muito inteligente, era uma pintora sensibilíssima e muito criativa. Era Tarsila do Amaral. Os dois logo começaram a namorar, mas ela teve que partir para continuar os estudos em Paris no fim daquele mesmo ano. Oswald foi junto. Ali, na Paris do final da belle époque, o casal viva cercado de amigos, que eram também grandes artistas. Entre eles estavam os artistas plásticos Fernand Léger, Constantin Brâncuși, Georges Braque, Pablo Picasso e o poeta Blaise Cendras. Tarsila, essa mulher incrível, reunia esses e outros artistas em sua casa em Paris, onde oferecia granes almoços, servindo feijoada, caipirinha, doce de abóbora com coco, cigarros de fumo enrolados em palha de milho e cafézinho coado na hora. Você já deve ter lido esta história aqui neste blog a um tempo atrás.

A Tarsila do Amaral nasceu numa fazenda enorme de café em Americana, interior de São Paulo. Sua família era muito rica e progressista. Ela teve uma educação invejável e foi incentivada pelos pais a seguir carreira de artista, dando a ela a oportunidade de ir à Europa frequentemente. No início de 1922 ela já morava em Paris. Em fevereiro daquele ano, recebeu uma carta de sua amiga, Anita Malfatti, contando sobre o grande acontecimento da Semana de Arte Moderna em São Paulo e como os ares começavam a mudar nas artes do Brasil. No fim do segundo semestre de 1922, ela volta a São Paulo, onde conheceu Oswald de Andrade. Os dois se deram bem logo de cara, se apaixonaram e não tardariam a se casar. Foram a Paris no fim de 1922, voltaram ao Brasil em 1923, trazendo consigo o poeta Blaise Cendras para conhecer o país. Durante sua estadia no país, o poeta francês conheceu toda a turma modernista e se encantou com a efervescência da cidade de São Paulo. Mas foi uma pequena viagem para o interior de Minas Gerais que mudaria pra valer as coisas. 

Acompanhado de Oswald e Tarsila, Cendras conheceu o interior paulista e as cidades históricas mineiras. Ficou completamente estupefato com o que viu e viveu. A simplicidade poética do povo do campo, o chamado caipira, a beleza e exuberância da arte barroca de Minas Gerais, a comida inacreditavelmente deliciosa, a fauna e flora da região… O impacto foi tamanho que Cendras, numa conversa com seus amigos artistas brasileiros, fez um desabafo revelador. Ele disse que não entendia o que os brasileiros buscavam tanto na arte europeia se a própria existência do Brasil caipira era de uma riqueza inesgotável! Ele não entendia como aqueles artistas não buscavam inspiração em sua própria terra, sua própria gente, sua própria cultura! Foi um soco no estômago que abriu os olhos daquele pessoal. A revolução começara finalmente! Em 18 de março de 1924 é publicado no jornal Correio da Manhã o Manifesto da Poesia Pau Brasil, que seria mais encorpado e lançado em livro de mesmo título ainda naquele ano. Escrito por Oswald de Andrade, o texto sugere uma busca da identidade brasileira, um aceno ao primitivismo, mas com uma linguagem moderna, uma narrativa com a fluidez e liberdade do expressionismo. Os modernistas acabavam de descobrir o Brasil! 

Mas as grandes e fundamentais obras do modernismo brasileiro vão surgir somente em 1928, graças a um livro até então desconhecido escrito em 1557. Era o livro Hans Staden: Suas Viagens e Cativeiro Entre os Selvagens do Brasil. Hans Staden foi um aventureiro alemão que esteve no Brasil como explorador por duas vezes, uma em 1548, voltando para a Europa em 1549, e voltando ao Brasil em 1550. A história toda de Staden é inacreditável e merece ser lida. Nessa sua segunda viagem ao Brasil, aconteceu de tudo. Seu navio foi atacado por piratas, depois naufragou durante uma tempestade próximo a Santa Catarina, foi a pé até São Vicente, em São Paulo, uma epopeia cheia de aventuras. Até que em janeiro de 1554 ele estava na região onde hoje é a cidade de Bertioga. Praticamente na mesma semana em que o padre Manoel da Nóbrega fundava a cidade de São Paulo, do outro lado da Serra do Mar, Hans Staden foi capturado pelos índios Tamoio. Era uma tribo muito afeita à violência, desprezava os homens brancos e praticavam a antropofagia. Não eram meros canibais que comiam carne humana para matar a fome. Era um ritual eucarístico em que eles acreditavam que comendo a carne de seus prisioneiros, absorviam todas as virtudes do morto. Hans Staden viu aquilo acontecer mais de uma vez enquanto esteve preso na tribo. Ele conseguiu escapar dos índios em 1557, voltou para a Alemanha e escreveu este livro riquíssimo em detalhes sobre tudo que viveu no Brasil. 

Este livro é tão importante porque uma cópia dele, com texto original em alemão, foi adquirido em 1900, pelo barão do café Eduardo Prado, um dos paulistas mais ricos da época. Ele deu este livro para um botânico suíço que vivia no Brasil, chamado Albert Löfgren, que o traduziu para o português. Para ser editado e lançado no Brasil com o financiamento do próprio Eduardo Prado. Eduardo Prado este que era pai do Paulo Prado, o jovem e rico cafeicultor amigo dos modernistas que bancou a Semana de Arte Moderna no Teatro Municipal de São Paulo. Foi Paulo Prado que, na metade da década de 1920, notando o interesse e a busca dos modernistas, em especial Oswald de Andrade, Mário de Andrade e Tarsila do Amaral, pelo Brasil profundo, deu a eles este livro. O casal Oswald e Tarsila ficaram impressionados com aquela história toda. E dali veio a inspiração para o antológico Manifesto Antropofágico e para a pintura brasileira mais icônica e importante da nossa história, o Abaporu, de Tarsila do Amaral. A saber, Abaporu em tupi significa Comedor de Gente. 

Tanto o Manifesto Antropofágico quanto o Abaporu foram lançados em 1928. No mesmo ano também foi lançado o livro Macunaíma, um verdadeiro divisor de águas na lieratura brasileira, que também foi influenciado diretamente pelo Hans Staden no sentido das tradições indígenas, mas que se misturou com a vida simples do caipira e a malandragem do brasileiro de camadas mais pobres das grandes cidades. Foram essas três obras grandiosas e geniais que realmente mudaram a maneira de se entender e de se fazer arte no Brasil. A Semana de Arte Moderna de 1922 foi o pé na porta, e as obras de Oswald de Andrade, Tarsila do Amaral e Mário de Andrade realmente concretizaram a revolução que o modernismo tanto buscava. 

Uma história tão rica, tão interessante, tão recheada de atitude, de barulho, diversão e arte como é tudo que envolve a Semana de Arte Moderna de 1922 não poderia nunca passar em branco aqui na Strip Me! Por isso você encontra não só estampas relacionadas a este evento incrível, como muitas outras relacionadas às artes, música, cinema, cultura pop e muito mais! É só dar aquele conferida na nossa loja nos novos lançamentos

Vai fundo! 

Para ouvir: A produção musical no início do século XX era bem limitada e essencialmente de música erudita, né. Então, ao longo desses 4 posts sobre os 100 anos da Semana de Arte Moderna, vamos caprichar numa playlist cheia de brasilidade, com o que rola de som enquanto os textos são produzidos. Uma playlist que vai crescendo a cada post, até chegar a ser um top 40 tracks! SAM-SP 1922 – Top 30 Tracks.   

Para assistir: Em 2002 a TV Cultura fez um ótimo documentário sobre a semana de Arte Moderna de 1922. Com vários depoimentos de gente que fez parte do movimento modernista, em gravações antigas, claro, é um doc que vale a pena demais ser visto! Tá completinho no Youtube.   

Para ler: Com certeza a obra mais emblemática da literatura modernista brasileira veio a ser publicada 6 anos depois da Semana de Arte Moderna. Claro, é o indispensável Macunaíma, de Mário de Andrade. Um livro delicioso, divertido e que diz muito, mas muito mesmo, sobre o Brasil de ontem, de hoje e de sempre. Leitura necessária! 

100 ANOS DA SAM-SP: PÉ NA PORTA!

100 ANOS DA SAM-SP: PÉ NA PORTA!

Na semana passada você leu aqui o rebuliço que era o começo do século XX em São Paulo. Conservadores fazendo críticas, os artistas de vanguarda achando tudo chatíssimo e querendo dar uma renovada no rolê todo, o mundo recém saído de uma guerra mundial, por aqui uma república dominada pela bancada ruralista, com políticas excludentes, que só favoreciam os ricos. São Paulo se desenvolvia rapidamente com o dinheiro do café, se tornou uma cidade iluminada com a chegada da energia elétrica, o que permitiu criar-se uma fauna noturna de intelectuais endinheirados que se reuniam em bares e cafés até altas horas da noite, conspirando contra o parnasianismo, o classicismo e a chatice em geral que imperava nas artes brasileiras. E foi o artigo de Monteiro Lobato, Paranoia ou Mistificação, publicado no Estado de S. Paulo em 1917 que desencadeou uma ação mais efetiva entre o grupo de amigos de Anita Malfatti, alvo de Lobato no artigo, que destilou todo o seu desprezo pelas obras da pintora, com forte influência do surrealismo e expressionismo. Foi então que, além de Anita Malfatti, Oswald de Andrade, Menotti del Picchia, Mário de Andrade, dentre outros artistas, passaram a se empenhar em produzir e divulgar uma arte mais contemporânea, provocadora e livre. Nesta época ainda não eram considerados modernistas, mas se auto intitulavam artistas futuristas! 

Mas demorou tanto tempo assim pra essa turma se organizar? O artigo de Monteiro Lobato foi publicado em 1917. Só 5 anos depois é que os modernistas conseguiram organizar um evento que os divulgasse amplamente? Demorou esse tempo todo sim. Mas, calma, porque muita coisa foi feita ao longo desse tempo. Um pouco antes ainda, Oswald de Andrade fez sua primeira viagem para a Europa. Voltou de Paris com o libertário texto Manifesto do Futurismo, do poeta italiano Filippo Tommaso Marinetti, embaixo do braço e disposto a implementar aquele mesmo senso de rebeldia, novidade, experimentalismo e liberdade no Brasil. No ano de 1918 ele se torna amigo muito próximo de Mário de Andrade, já que tinham em Anita Malfatti uma amiga em comum. Juntou-se á turma na mesma época o escritor Menotti del Picchia, o escultor Victor Brecheret, o pintor Di Cavalcanti e os escritores Guilherme de Almeida e Manuel Bandeira. Essa turma toda, entre 1917 e 1922 tiveram vários artigos publicados defendendo essa nova visão artística e exposições de telas e esculturas foram organizadas. 

O que viria a ser conhecido como movimento modernista tinha suas bases mais sólidas nas artes plásticas. As pinturas de Anita Malfatti, Di Cavalcanti, Portinari e as esculturas de Victor Brecheret, sempre que expostas causavam muitas críticas no meio artístico e jornalístico e muita pouca atenção do público em geral. Os escritores Mario de Andrade, Menotti del Picchia e Oswald de Andrade publicavam seus artigos em periódicos insistentemente, defendendo a vanguarda da arte trazidas por eles mesmos da Europa. Foi no final de 1921 que, durante um jantar, em companhia do jovem e riquíssimo cafeicultor Paulo Prado, tiveram a ideia de fazer uma semana toda dedicada à arte moderna, com exposições e apresentações de música e leitura de textos e poesias. Paulo Prado, que não era artista, se prontificou a pedir uma ajuda a alguns de seus amigos também cafeicultores e riquíssimos, para que pudessem alugar o imponente Teatro Municipal para abrigar o evento. Já naquela noite começaram a articular ideias, pensar em que artistas participariam e etc. 

Dois fatos são muito curiosos nisso tudo. O primeiro é que Anita Malfatti precisou ser convencida a participar expondo algumas de suas telas. Depois de tanta crítica ao longo do tempo, a pioneira do expressionismo no Brasil estava cansada daquilo e não queria se expor. Ela não vinha de uma família rica, como Oswald de Andrade por exemplo, e tentava se manter longe dos holofotes, ganhando dinheiro pintando telas sob encomenda, dando aulas de pintura e etc. Sentia que participar de um evento como aquele colocaria seu nome em todos os jornais com críticas ferozes, que poderiam prejudicar sua imagem e fazer com que ela perdesse alguns trabalhos. Coube a Mario de Andrade, amigo e confidente de Anita, a missão de convencê-la. Missão esta cumprida com louvor. Outra curiosidade inacreditável é que o primeiro nome mais cotado para presidir a Semana, que seria responsável por fazer o discurso de abertura e seria uma espécie de mestre de cerimônias, era ninguém menos que Monteiro Lobato! Sim, porque apesar de todos os pesares, Lobato era amigo da maioria dos escritores modernistas. E ter Lobato na linha de frente significaria muito diante do público e da crítica especializada. Mas ele declinou o convite sem nem pensar, pois jamais pactuaria com aquele tipo de arte ultrajante (segundo ele próprio). Por sorte, de última hora, chega ao Brasil o diplomata e escritor Graça Aranha, um dos nomes mais respeitados na época, um homem rico, encantador e muito talentoso, um brasileiro que residia já há muitos anos em Paris, mas sempre vinha visitar sua terra natal. Em contato com a cultura europeia de vanguarda, Graça Aranha, ao ser convidado para presidir a semana de arte moderna de São Paulo, adorou a ideia e aceitou no ato! 

Com Paulo Prado financiando o Teatro Municipal e Graça Aranha confirmado para presidir o evento, não tinha como dar errado! E não deu mesmo. A Semana de Arte Moderna de São Paulo aconteceu de 13 a 17 de fevereiro de 1922. A programação era a seguinte: O saguão do Teatro Municipal de São Paulo ficaria aberto diariamente para visitação de uma enorme exposição com obras dos artistas Emiliano Di Cavalcanti, Anita Malfatti, Zaina Aita, Ferrignac, Yan de Almeida Prado, John Graz, Vicente do Rego Monteiro, Antonio Paim Vieira, Victor Brecheret, Hildegardo Leão Velloso e Haarberg. Na noite do dia 13, uma segunda feira, a semana foi aberta com um discurso de Graça Aranha intitulado A emoção estética da arte moderna. Foi um discurso longo e bem monótono que rendeu nada mais do que aplausos protocolares. Em seguida sobe ao palco um conjunto de câmara que interpreta algumas composições de Heitor Villa-Lobos. Depois de um intervalo pro cafezinho e dar uma conferida nas obras expostas no saguão, o público retorna para que o poeta Ronald de Carvalho fizesse uma breve palestra falando sobre pintura e escultura moderna e declamando alguns versos de sua autoria. O público torceu o nariz, mas não fez muito alarde. Depois de algumas vaias, Ronald de Carvalho, espirituoso, respondeu ao público dando de ombros com indiferença: “Cada um fala com a voz que Deus lhe deu.”. A noite foi concluída com a apresentação do maestro Ernani Braga. 

A segunda noite de apresentações, na quarta-feira, dia 15 de fevereiro, não foi nada parecida com a estreia. Após a noite de segunda feira, os jornais fizeram duras críticas à exposição de obras de arte e às apresentações lítero-musicais pretensiosas. Farejando treta e algazarra, o público paulistano lotou o Municipal! Quem abre a noite é Menotti del Picchia com uma palestra sobre a literatura contemporânea. Ao exaltar uma literatura que foge dos padrões clássicos, del Picchia vai bem, mas recebe uma vaia enorme. Até que, no fim, ele anuncia que subirá ao palco Oswald de Andrade. O teatro vem abaixo, fazendo com que a vaia que del Picchia levou parecesse um abafado assobio. A vaia era descomunal. Oswald fica no palco parado por alguns minutos até que a vaia cesse. Finalmente em silêncio, ele começa a ler seu texto. E a vaia explode mais uma vez. Oswald declamou seu texto para ninguém, debaixo de vaias permanentes. Na sequência, Mario de Andrade sobe ao palco e a recepção é a mesma. Ele começa a ler com muita dificuldade. Em certo momento, ele para e espera que se faça silêncio. Quando todos param, ele diz: “Se for pra continuar assim, eu não continuo falando!” e uma gargalhada e um aplauso retumbante enchem o teatro. É feito um intervalo. Na volta das apresentações, a noite decorre com mais tranquilidade com uma apresentação de dança de Yvonne Daumerie e finalizando com um concerto de piano da pianista Guiomar Novaes, uma artista já consagrada e muito querida, a única a sair do palco sob aplausos satisfeitos. 

A noite de encerramento, na sexta-feira, dia 17 de fevereiro não foi tão movimentada. A atração principal era o compositor Heitor Villa-Lobos, que começava a ganhar notoriedade dentro e fora do Brasil. Apesar de sua formação erudita, era um músico contemporâneo, que começava a criar peças sinfônicas misturando elementos africanos e outras linguagens pouco convencionais. Entretanto, sua música era razoavelmente bem aceita. Por seu apelo popular, a noite de sexta feira foi toda dedicada à sua música, sem discursos e leituras e textos e poemas de escritores controversos, que poderiam gerar animosidade no público. Porém, o público lá estava para ver o circo pegar fogo. Quando Villa-Lobos sobe ao palco de fraque e calçando chinelos, o público desabou em vaias, acreditando ser aquela uma provocação a seja lá o que fosse. Porém, nada mais era do que uma unha encravada, ou algo parecido, que o impedia de calçar sapatos fechados. Mas com o tempo o público logo se acalmou e foi possível ouvir boa parte da apresentação de Villa-Lobos ao piano acompanhado de uma orquestra, que encerraria grandiosamente a Semana de Arte Moderna de São Paulo. 

Foi realmente um evento muito marcante e fundamental. Porém, o Brasil se daria conta disso só muito tempo depois. De imediato, a Semana de Arte Moderna causou muito falatório entre a sociedade paulistana, mas acabou dando origem a grandes obras e uma reestruturação enorme da arte no Brasil um bom tempo depois. Foi um verdadeiro pé na porta da arte moderna, que chegava pra ficar! E o que aconteceu nos meses e anos logo depois deste evento tão emblemático, você fica sabendo na semana que vem, no próximo texto deste mês, que é todo dedicado aos 100 anos da SAM-SP! Nesse meio tempo, você pode conferir as estampas especiais da Strip Me da Semana de Arte Moderna de 1922, sem falar de tantas outras estampas incríveis de arte, música, cinema, cultura pop e muito mais. Confere os lançamentos lá na nossa loja

Vai fundo! 

Para ouvir: A produção musical no início do século XX era bem limitada e essencialmente de música erudita, né. Então, ao longo desses 4 posts sobre os 100 anos da Semana de Arte Moderna, vamos caprichar numa playlist cheia de brasilidade, com o que rola de som enquanto os textos são produzidos. Uma playlist que vai crescendo a cada post, até chegar a ser um top 40 tracks! SAM-SP 1922 – Top 20 Tracks.  

Para assistir: Em 2002 a TV Cultura fez um ótimo documentário sobre a semana de Arte Moderna de 1922. Com vários depoimentos de gente que fez parte do movimento modernista, em gravações antigas, claro, é um doc que vale a pena demais ser visto! Tá completinho no Youtube.  

Para ler: Com certeza a obra mais emblemática da literatura modernista brasileira veio a ser publicada 6 anos depois da Semana de Arte Moderna. Claro, é o indispensável Macunaíma, de Mário de Andrade. Um livro delicioso, divertido e que diz muito, mas muito mesmo, sobre o Brasil de ontem, de hoje e de sempre. Leitura necessária! 

100 anos da SAM-SP: Origens

100 anos da SAM-SP: Origens

Nenhuma revolução é legítima se não passar pela arte! A gente não quer só comida, a gente quer comida, barulho diversão e arte! Nenhuma revolução é legítima se não tiver uma identidade própria muito clara! O orgulho de ser quem somos passa necessariamente pelo autoconhecimento. Nenhuma revolução é legítima se não causar consequências, se não deixar marcas permanentes! Portas da percepção abertas para tudo que é novo! Novas formas, novas cores. Novos Baianos. Deglutição tropical, antropofagia cultural. Nesta altura do campeonato, você já deve estar desconfiado, mas eu vou te confirmar. É fevereiro! E nós vamos passar todo o mês celebrando uma das mais legítimas revoluções brasileiras! A Semana de Arte Moderna de 1922, que neste mês completa 100 anos. Então se prepara! Porque vão ser quatro posts, cada um abordando um aspecto específico deste que foi, com absoluta certeza, o momento mais importante das artes no Brasil. 

É lógico que pra começar a gente precisa dar aquela geral na situação toda antes de a Semana de Arte Moderna ser idealizada e acontecer. E aqui é fundamental que a gente dê uma olhada no contexto histórico do Brasil até então. Era o começo do século XX e o Brasil tinha recentemente se tornado uma república, depois de um golpe militar todo esculhambado, mas que acabou depondo o imperador Dom Pedro II. No início da república, apesar de a cidade do Rio de Janeiro ser a capital do país, era São Paulo quem dava as cartas, pois a maior parte da renda do Brasil vinha do café, e os estados de São Paulo e Minas Gerais eram os maiores produtores dessa delícia. Você já ouviu falar na escola da república do café com leite, né? Pois então, é dessa época que estamos falando. À medida que os cafeicultores enriqueciam e acabavam por colocar quem bem entendiam nos cargos públicos, a cidade de São Paulo crescia, tornava-se cosmopolita, vibrante. E começam a pipocar pelos bares e cafés da cidade, que a partir de 1905 podiam ficar abertos até tarde da noite graças à instalação da energia elétrica, muitos intelectuais. 

Importante lembrar uma coisa aqui. As camadas sociais eram muito mais definidas no começo do século XX. Existiam os muito ricos, a classe média, que tinha uma vida confortável, e os muito pobres, essencialmente negros “livres” desde 1888, que viviam sem emprego em cortiços e barracos na periferia. Claro que já existia uma cultura popular entre os pobres, mas era tudo muito separado. Intelectuais e artistas reconhecidos eram todos de famílias ricas, jovens que estudaram na Europa e etc. As coisas só começariam a mudar e o popular se misturar com o erudito (leia-se o pobre com o rico) com a popularização do rádio, a partir da década de 1930. Isso posto, fica mais claro entender quem eram esses artistas e intelectuais que criariam o movimento modernista brasileiro e acabariam dando luz à Semana de Arte Moderna. 

Oswald de Andrade, Mário de Andrade, Menotti del Picchia, Victor Brecheret, Anita Malfatti, Sérgio Millet, Di Cavalcante e tantos outros eram todos artistas e intelectuais ricos, em contato com o que havia de mais atual nas artes da Europa. Eles começaram a se reunir e debater sobre o atraso do Brasil no aspecto cultural. Realmente, o Brasil, conservador que só ele desde sempre, tinha uma literatura baseada no parnasianismo (uma escola literária que preza pelo uso mais rebuscado da língua, poesias com rimas dentro da métrica… enfim, uma chatice!), a pintura classicista, que respeita formas, cores, sombras, luz, etc, e uma música erudita baseada nos compositores clássicos europeus. Deu pra sacar que era tudo importado, né? Não existia uma linguagem genuinamente brasileira. Vá lá que na literatura já rolava o movimento primitivista, ou seja, alguns autores que olhavam para dentro do Brasil para ambientar suas ideias. Seu maior nome foi Monteiro Lobato, com seu personagem clássico Jeca Tatu. Entretanto, a linguagem de obras como a de Lobato ainda eram rebuscadas na escrita, apesar de trazer elementos brasileiros. Mas até a turma que seria conhecida no futuro como modernista trazia seus conceitos de arte de vanguarda, como o cubismo, surrealismo e etc, da Europa. 

Além de tudo, 1922 é um ponto de intersecção fundamental entre a história política e artística, que gerou mudanças essenciais para a história do Brasil como conhecemos hoje. Como já foi dito aqui, no começo do século XX era São Paulo quem dava as cartas no país. À medida que o ano de 1922 se aproximava, era preparada uma infinidade de festividades Brasil afora, pois aquele seria o ano do primeiro centenário da independência do país. E existe um aspecto muito importante da história que precisa ficar claro pra todo mundo: A história é fabricada! Os fatos chegam até nós no colégio distorcidos, exagerados, com alguns lados ocultos. A independência do Brasil é um ótimo exemplo disso. Por muito tempo após o fatídico 7 de setembro, era considerada como a data oficial da independência o dia 12 de outubro de 1822, que foi quando aconteceu a solenidade de coroação de Dom Pedro I como imperador do Brasil. O revisionismo histórico impulsionado por Dom Pedro II e pelos militares positivistas, já quase no fim do império, motivou algumas mudanças, fazendo com que alguns momentos soassem mais heroicos do que realmente foram. Assim passou-se a considerar o 7 de setembro como data oficial, mas sem grande alarde. Após a proclamação da república e São Paulo tendo seus intelectuais e milionários mandando no país, um novo revisionismo histórico passou a acontecer, ainda mais com o centenário da independência se avizinhando. Até então, a história do Brasil era essencialmente contada tendo como cenário os estados do Rio de Janeiro, Minas Gerais, Bahia e Pernambuco. São Paulo, buscando algum protagonismo na história, deu ênfase na independência ter sido proclamada às margens do Rio Ipiranga e criou a imagem dos bandeirantes como grandes heróis desbravadores, que até então não tinham esse nome e eram apenas caçadores de pedras preciosas e exterminadores de indígenas, ou seja, nada mais que uma nota de rodapé nas páginas da história. 

Com a década de 1920 florescendo, o momento era de transformação, crescimento e busca por uma identidade própria, genuinamente brasileira. Os intelectuais e artistas mais ligados a vanguarda já davam seus primeiros passos e sofriam os ataques dos conservadores. Em 1913 o escultor Lasar Segall fez uma pequena exposição com obras claramente influenciadas pelo cubismo de Pablo Picasso e Georges Braque, que foi recebida com entusiasmo por Mário de Andrade e sua turma, mas recebeu críticas pesadas da imprensa e do público em geral. Em 1917 Anita Malfatti faz sua mais famosa exposição, com telas calcadas no surrealismo e modernismo. Monteiro Lobato escreve um artigo que ficou famoso, chamado Paranoia ou Mistificação. Neste artigo, uma crítica a exposição de Malfatti, Lobato destila todo o seu desprezo por uma pretensa arte, que não segue regras, que é provocadora e de qualidade questionável. Tal artigo foi publicado no jornal O Estado de S. Paulo e é considerado o marco zero do movimento modernista. Mário de Andrade, Oswald de Andrade, Anita Malfatti, Menotti del Picchia, eram todos amigos e passaram a se reunir com frequência para encontrar meios de responder artigos como aquele de Monteiro Lobato, além de divulgar e enaltecer uma arte mais moderna e repudiar as artes encharcadas de conservadorismo e padrões estéticos. 

Com todas essas cartas na mesa, o ano de 1922 nasce cheio de promessas de mudanças. E se você está achando estranho não ter lido até agora o nome do Tarsila do Amaral, ou sobre o Abaporu, sobre o Macunaíma e sobre o manifesto Pau Brasil e o manifesto Antropofágico, não se desespere! Ainda tem muita história pela frente! Nos próximos textos, vamos falar sobre como foi a Semana de Arte Moderna, as obras, os textos, as músicas que rolaram no evento, como foi a recepção do público e da crítica, depois vamos falar das consequências e das principais obras modernistas e também vamos falar sobre o impacto décadas depois e como toda essa aura seria recriada nas mãos dos tropicalistas. Mas hoje nós paramos por aqui, em janeiro de 1922, quando Mário de Andrade, em uma de suas mais célebres obras, Paulicéia Desvairada, vaticina logo no prefácio: “Está fundado o Desvairismo!” 

Enquanto você espera os próximos textos, dá uma olhada nas estampas novíssimas da Strip Me sobre a Semana de Arte Moderna de 1922, isso sem falar de tantas outras sobre arte, música, cinema, cultura pop e muito mais! Confere lá na nossa loja as novidades!  

Vai fundo! 

Para ouvir: A produção musical no início do século XX era bem limitada e essencialmente de música erudita, né. Então, ao longo desses 4 posts sobre os 100 anos da Semana de Arte Moderna, vamos caprichar numa playlist cheia de brasilidade, com o que rola de som enquanto os textos são produzidos Uma playlist que vai crescendo a cada post, até chegar a ser um top 40 tracks! SAM-SP 1922 – Top 10 Tracks

Para assistir: Em 2002 a TV Cultura fez um ótimo documentário sobre a semana de Arte Moderna de 1922. Com vários depoimentos de gente que fez parte do movimento modernista, em gravações antigas, claro, é um doc que vale a pena demais ser visto! Tá completinho no Youtube

Para ler: Com certeza a obra mais emblemática da literatura modernista brasileira veio a ser publicada 6 anos depois da Semana de Arte Moderna. Claro, é o indispensável Macunaíma, de Mário de Andrade. Um livro delicioso, divertido e que diz muito, mas muito mesmo, sobre o Brasil de ontem, de hoje e de sempre. Leitura necessária! 

Big Brother is Watching You

Big Brother is Watching You

Telas! Telas por todos os lados! Todas as suas vontades, interesses, virtudes, defeitos, são revelados! Uma nova linguagem é criada para designar conceitos, novas palavras são incluídas no dicionário, enquanto outras caem em desuso. E, acima de tudo, sempre tem alguém assistindo você! Isso tudo pode ser aplicado às redes sociais, ao novo lifestyle mundial de estarmos sempre conectados, afinal tudo isso é uma realidade. Porém, essas ideias e noções de comportamento descrevem igualmente as características da sociedade criada pelo escritor George Orwell. E o espantoso é que ele escreveu tudo isso em 1948, quando ainda não existia sequer o conceito da internet. Orwell descreve uma sociedade futurista, em que a sociedade vive cercada de telas, e é controlada por elas. Controle este, manipulador e castrador, regido por um governo autoritário, misterioso e muito eficiente. Para George Orwell este futuro era o ano, para ele longínquo, de 1984, ano que também é o título do livro, que se tornou um clássico absoluto da literatura mundial e uma obra quase que premonitória do que seria o futuro da humanidade. Mais do que isso, este livro acabou inspirando um dos programas de TV mais revolucionários, polêmicos e rentáveis do mundo! 

Em 1997, na Alemanha, foi feito um experimento antropológico colocando algumas pessoas dentro de uma casa por alguns dias sem contato nenhum com o mundo exterior, sem televisão, sem telefone e etc, para ver como essas pessoas se comportariam em diferentes situações e tal. Um jovem holandês leu sobre esse experimento e imaginou que isso poderia render um programa de TV interessante. Ele estava começando uma produtora de audiovisual na época, e procurava ideias diferentes, inovadoras, para desenvolver. Seu nome era John De Mol, e sua produtora fora batizada Endemol. Essa ideia de confinar pessoas numa casa ficou fermentando na cabeça de John De Mol até 1999, quando ele conseguiu desenvolver a ideia e resolveu produzir um piloto. 

Nós aprendemos, de maneira bem didática, no filme Pulp Fiction o que é um piloto. Nas palavras de Jules Winnfield: “Sim, mas você está sabendo que existe uma invenção chamada televisão, e que nela são transmitidos programas de TV, certo? Então. A maneira como eles escolhem que programa vai ser transmitido é fazendo um programa e mostrando para as pessoas. Esse programa é chamado de piloto. Então eles mostram esse programa para produtores de TV e outras pessoas e, com base nisso, eles decidem se vão fazer mais programas. Alguns pilotos são escolhidos e se tornam programas de televisão. Alguns não dão em nada.”. Bom, o John De Mol fez um piloto. Alugou duas casas de veraneio no interior da Holanda, em uma delas fez todo um aparato de espelhos e encheu a casa de câmeras. Na casa vizinha, colocou os monitores, todo o equipamento de edição e alojou todo o staff de produção. Enquanto aconteciam as filmagens, logo nos primeiros dias, De Mol reparou que todas as pessoas da produção, do cozinheiro ao editor de vídeo, não desgrudavam dos monitores, acompanhando a vida das pessoas da casa ao lado. Ali ele soube que seria um sucesso. Inspirado pelo livro de George Orwell , vendo que todos na casa estavam sendo vigiados 24 horas, e recebiam ordens de uma voz anônima, De Mol batizou o seu programa de Big Brother. 

Naquele mundinho de 1984 do George Orwell as pessoas eram criadas desde muito novas a temer e respeitar o Big Brother, uma espécie de entidade que personificava o governo. O Big Brother era uma voz e um rosto em todas as telas, que dava ordens, instruía as pessoas e ditava o que era certo e errado. Era frequente ver nas telas e cartazes pela cidade o assustador lembrete: “The Big Brother is watching you”. Realmente, as pessoas tinham até mesmo dentro de suas casas várias telas, que não só transmitiam as imagens do Big Brother como funcionavam como câmeras. Qualquer atitude subversiva era prontamente vista e combatida. O protagonista da história, Winston, descobre um lugar em sua casa, onde era para ter um armário, em que nenhuma tela o vê. Ali ele começa a escrever seus pensamentos, algo totalmente proibido pelo governo. E esse é o começo da trama toda. 

Não poderia ter sido uma escolha melhor! John De Mol se fez valer de uma entidade da ficção que representa o fascismo, o autoritarismo, o cerceamento de liberdade, para batizar um programa de TV que, por mais que tenha esse viés de confinamento, várias regras e etc, se presta a mostrar pessoas discutindo, conversando abertamente, se adaptando a uma convivência e até mesmo transando livremente. Tudo isso mostrado em rede nacional, e ainda gerando muito dinheiro com publicidade. A primeira edição do Big Brother aconteceu em 1999 na Holanda e foi um sucesso avassalador. Gerou polêmica no mundo todo! O termo “reality show” não existia. A internet engatinhava na época, mas De Mol conseguiu que as câmeras transmitissem 24 horas por dia abertamente num site. O engraçado disso é que rolava uma edição forte para ser transmitido na TV em determinado horário, de forma resumida o que se passava na casa. Os técnicos e editores ficavam monitorando tudo. Quando começava alguma treta mais acalorada, ou algum casal se pegando, a transmissão da internet era cortada, para fazer com que as pessoas assistissem ao programa na televisão. Desde então, a coisa cresceu absurdamente e a Endemol começou a vender o formato, com o nome, e tudo, para emissoras de TV de vários países. 

Não é só o nome que foi tirado do livro de Orwell. Na história de 1984, se alguém era flagrado cometendo qualquer ato que fosse contra os mandamentos do governo, essa pessoa era presa e levada para o… confessionário! Era onde essa pessoa teria a oportunidade de se explicar antes de ser transferida para o Ministério do Amor, onde seria tratada carinhosamente com eletrochoques, lobotomia e toda a sorte de procedimentos que pudessem convencer a pessoa de que ela estava errada. Sim, convencer. O protagonista, Winston, em certo momento da história, acaba preso por ter pensamentos subversivos e contra o governo. Seu interlocutor, enquanto o tortura com choques, lhe mostra a mão com 4 dedos estendidos e o polegar escondido. Ele pergunta: “Quantos dedos você vê, Winston?” e ele responde: “4.”. “Errado São 5 dedos.” e dá-lhe choque. Depois de muita tortura e choques, Winston finalmente afirma que vê 5 dedos, mesmo sendo apenas 4 que são mostrados. O interlocutor então diz: “Não quero que minta para mim. Eu quero que você realmente acredite que está vendo 5 dedos” e continua as sessões de choque e tortura. Essa passagem do livro, inclusive, inspirou a ótima música 2+2=5, da banda Radiohead. Aliás, 1984 é uma obra amplamente influente em todos os meios artísticos. Se você achou que essa coisa toda de telas, estar sempre vigiado, controle de pensamento e liberdade é muito Black Mirror, você acertou. Os criadores já admitiram que a obra de Orwell sempre foi uma forte inspiração para a série. Sem falar que apesar de não ter criado o programa, os direitos de Black Mirror pertencem a que empresa? Acertou quem disse Endemol! 

É verdade! Depois de vender o formato do Big Brother para vários países mundo afora, a Endemol se especializou nisso, criar e comprar os direitos de programas de tv dos mais variados para vendê-los pelo mundo. Para se ter ideia, Masterchef, Extreme Makeover, A Fazenda, Masked Singer e muitos outros são programas criados e vendidos como franquias no mundo todo pela Endemol. Mas com certeza, o líder é o Big Brother! Aquele que começou tudo e abriu o caminho para um novo mundo: os reality shows! A vida como ela é, pessoas de verdade, tudo mostrado para você em quantas telas você quiser. Pode ser na tv, no tablet, no computador, no celular! E tudo na hora que você quiser! Sempre vai ter uma câmera à espreita de quem você queira assistir. Em seguida, você vai na sua rede social favorita e faz um vídeo comentando sobre o que você viu! Qual é a sua opinião? Sempre vai ter alguém querendo saber. Sempre vai ter alguém assistindo você! 

Semana passada estreou a 22ª edição do Big Brother Brasil. É um programa de sucesso indiscutível, mas que gera muita discussão pela qualidade do conteúdo apresentado. Certamente é uma discussão que tem seu valor. Mas o mais importante é que exista a liberdade de um programa como este ser exibido, a liberdade das pessoas de assistirem ou não, de opinarem a favor ou contra. Não menos importante é entender de onde saiu todo esse conceito de Big Brother, confessionário e etc. 1984 é um livro essencial para entender a sociedade moderna e os modelos de política e comportamento que moldaram a humanidade até hoje. Entendendo de onde a gente veio, fica mais fácil saber pra onde a gente vai. 

Agora pense você: Um programa de TV super polêmico, que gera discussões super interessantes sobre diversidade, posicionamentos, sexualidade, convivência, festas e ainda geram uma enxurrada de memes divertidíssimos, e um livro que influenciou de David Bowie a Mano Brown, de Stanley Kubrick às irmãs Wachowski, de Anthony BurgessChuck Palahniuk. É lógico que tudo isso faz parte do universo Strip Me! Então aproveita para dar uma espiadinha nas novas estampas da nossa loja

Vai fundo! 

Para ouvir: Como foi dito, o livro de George Orwell inspirou muita gente a compor canções que fazem referência ao livro 1984. Aqui você confere as mais legais. 1984 Top 10 Tracks

Para assistir: Claro que o livro 1984 já foi adaptado para o cinema. Mas não funcionou muito bem. O filme é cansativo. Mas tem muito filme bom que tem muita influência da obra maior de George Orwell. Um deles é o excelente O Show de Truman, dirigido pelo Peter Weir e lançado em 1998. Um filme divertido, emocionante e muito impactante. Recomendadíssimo! 

Para ler: Aí sim! Não tem como não recomendar a leitura de 1984, clássico de George Orwell lançado em 1948. A editora Companhia das Letras reeditou a obra recentemente, numa edição de luxo, com capa dura e vários apêndices com ensaios sobre a obra e as capas que o livro já teve em diversos países. Vale a pena conferir e é essencial que que seja lido! 

Meus caminhos tortos. Meu sangue latino.

Meus caminhos tortos.     Meu sangue latino.

Em 1976 o compositor cearense Belchior cantava que tinha 25 anos de sonho, de sangue e de América do Sul, e que, por força deste destino, um tango argentino lhe caía bem melhor que um blues. Na verdade, naquele ano Belchior já tinha 30 anos de idade. Mas consideramos que a canção em que consta essa frase, À Palo Seco, foi composta em 1971, mas só foi ser gravada em 1976, quando Alucinação, o primeiro disco do cantor, foi lançado. Neste mesmo disco, Belchior afirmava que era apenas um rapaz latino americano sem dinheiro no bolso, sem parentes importantes e vindo do interior. Chama muito a atenção que numa época em que a cultura norte americana inundava o Brasil com bandas de rock, filmes de Hollywood e a onda disco, que resultou até em novela (Dancin’ Days), Belchior procurava afirmar suas origens, como filho da América do Sul, se dizendo um rapaz latino americano e preferindo o tango ao blues como música de lamento. O que é mais louco nisso tudo é que, ainda hoje, nós, brasileiros, ainda somos muito mais influenciados culturalmente pelo que vem dos Estados Unidos e Europa e mal conhecemos a cultura dos nossos vizinhos. 

Mas a América do Sul é um lugar incrível! Vale a pena a gente se esforçar e procurar conhecer um pouco mais do que os nossos hermanos da Argentina, Uruguai, Paraguai, Equador, Peru, Colômbia, Bolívia, Venezuela, Suriname e Guianas tem a nos oferecer.  Música, gastronomia, arte, história, comportamento, paisagens…a diversidade é enorme. Vale a pena destacar uma diferença que, às vezes, gera confusão. Pode acontecer de alguém se referir à América do Sul como América Latina. Mas qual a diferença? A América Latina abrange a América do Sul, toda a América Central e o México, que faz parte da América do Norte. Ou seja, se refere a todos os países americanos de língua latina e colonização ibérica (espanhola e portuguesa). Não vamos entrar muito aqui em pormenores históricos, mas é legal deixar claro que a distância cultural do Brasil para com seus vizinhos é compreensível e vai muito além da barreira linguística. 

Acredite, a colonização espanhola foi muito mais violenta e usurpadora do que a nossa, que se deu através dos portugueses. Além disso, por toda a região dos Andes, estavam instalados povos mais organizados e civilizados que as tribos nômades e mais vulneráveis de índios que habitavam o território brasileiro. Portanto, houve muito mais confronto nas colônias espanholas, que acabaram por se tornar independentes muito antes que o Brasil. Além do mais, mesmo depois da independência brasileira, ainda ficamos praticamente 70 anos numa monarquia liderada por descendentes da família real portuguesa. É a mesma coisa de você sair da casa dos seus pais, mas ainda depender da mesada que eles te dão pra pagar as suas contas. Enfim. Foi só no início do século XX que o Brasil começa a encontrar sua própria identidade. Uma época em que as referências culturais vinham essencialmente da Europa (França e Inglaterra) e, em seguida, a massiva campanha dos Estados Unidos como grande potência mundial importando o seu american way of life

Dado este contexto, vamos ao que interessa. Pra começar, vamos falar rapidamente das Guianas. O território da Guiana e da Guiana Francesa foi originalmente colonizado por holandeses e em seguida por ingleses e franceses, que obviamente dividiram a área entre si. A parte dos ingleses se tornou independente, já a francesa até hoje é território francês. Não é uma colônia, mas sim um Departamento Regional Ultramarino Francês (que é um nome chique e moderno para… colônia). Já a Guiana, que era inglesa, hoje é independente e tem uma cultura interessantíssima baseada na mistura de povos africanos e hindus, além da influência inglesa. É um país de praias caribenhas, uma música que se assemelha muito ao reggae e ao calipso, cujo nome mais importante é o compositor Eddy Grant. Por ser um país pobre, não desenvolveu uma cultura forte de TV e cinema, mas revelou alguns ótimos escritores como Wilson Harris, Jan Carew e Denis Williams. O país também se destaca por suas belas praias banhadas pelo Mar do Caribe e sua culinária condimentada que mistura ingredientes nativos e indianos. O Suriname completa o rol dos países da América do Sul que não fazem parte da América Latina, pois tem colonização e cultura intimamente ligada à França, Inglaterra e Holanda. O Suriname foi colonizado por holandeses. Tornou-se independente, mas o holandês ainda é o idioma oficial do país. Por ser um país pequeno, subdesenvolvido e viver constantemente sob as rédeas de um governo ditatorial, tem uma cultura própria sem muita expressão. 

Seguindo pelo mapa, vizinho da Guiana, temos a Venezuela! Aí sim! Chegamos na latinidade! Basicamente conhecemos a Venezuela como um país confuso politicamente, rico em petróleo, com 7 vencedoras Miss Universo e com uma seleção de futebol de qualidade bem duvidosa. Tudo isso é verdade, mas tem muito mais. A começar por suas praias belíssimas, comparáveis às praias das ilhas de Curaçao e Aruba, que não pertencem ao território venezuelano, mas estão ali, bem pertinho. A música venezuelana mais tradicional tem influência espanhola e caribenha, mas o país conta com uma cena efervescente de bandas de rock e música eletrônica. Destaque para a ótima banda Caramelos de Cianuro com um power pop delicioso, Arca, uma cantora de música eletrônica super contemporânea e eclética e La Vida Bohème, banda de pós punk que já ganhou Grammy e tudo! O cinema venezuelano também é digno de nota. Apesar de ser essencialmente de cunho político e social, tem grandes talentos e obras excelentes. Os principais nomes são o diretor Jonathan Jakubowicz e a diretora Mariana Rondón, responsável pelo ótimo filme Postales de Leningrado. 

Apesar de distantes um do outro, Colômbia e Bolívia são dois países que comumente, e injustamente, são resumidos a uma única atividade: a produção de cocaína. Em especial a Colômbia, acabou recebendo este rótulo por conta de Pablo Escobar, o maior produtor e traficante de cocaína que já existiu. Sua história virou filme, série, livro e o escambau! Para nós brasileiros, apenas dois nomes são lembrados quando se trata de colombianos famosos: Pablo Escobar e o jogador de Futebol Valderramas, que ficou famoso nos anos 90 por seu talento com a bola e por sua cabeleira esfuziante. Mas a Colômbia também se destaca pelas belezas de seu litoral caribenho, em especial Cartagena e Barranquilla, pela cumbia, estilo musical envolvente que mistura ritmos caribenhos e espanhóis, pela produção de café de excelente qualidade e por ser a terra natal do gênio da literatura Gabriel Garcia Márquez. Já a Bolívia é marcada pela história e se mantém como patrimônio cultural dos povos pré-colombianos. Assim como o Peru, abriga vastas áreas de preservação arqueológica das civilizações Inca, Quíchua e Aimará. Mas também se destaca pela arquitetura barroca e pintura e escultura de influência classicista dos espanhóis colonizadores. Como curiosidade, a Bolívia e o Paraguai são os dois únicos países sul americanos que não tem saída para o mar. 

Equador, Peru e Paraguai formam um bloco de países muito parecidos. Por um lado, são países pouco desenvolvidos, com uma economia fraca e marcados por governos autoritários e corruptos. Por outro lado, carregam intactas e são orgulhosos de suas tradições. O Paraguai é famoso por aqui pelo comércio de produtos falsificados, uma marca de uma economia desesperada. Mas também carrega a cultura guarani de forma muito valorosa. A música também é muito forte no Paraguai, em especial a guarânia, uma música paraguaia que lembra uma valsa, é marcada por um violão rítmico e arpejos de harpa, e influenciou muito a música sertaneja feita no Brasil. Já o Peru, além de render muitas piadas, do tipo Cusco é uma cidade do Peru, é famoso pelo incrível parque histórico de Machu Picchu. É um país fundamental para entender as civilizações que viviam na América antes dos europeus chegarem, e também para visualizar a truculência dos europeus contra esses povos antigos. 

E por fim chegamos nos países com os quais temos maior afinidade. Talvez por serem um pouco mais desenvolvidos e abertos ao turismo, talvez por estarem mais próximos do sul e sudeste do Brasil, as regiões mais populosas e fortes economicamente do país, talvez por terem maior visibilidade mundo afora. Certamente por todas essas razões juntas e muitas outras, Argentina, Chile e Uruguai já são mais próximos de nós. Uruguai é famoso por seu futebol que une garra e violência, proporcionando um espetáculo sempre emocionante, também pelas belezas de Punta Del Este, sem falar no presidente da república mais fofo que o mundo já viu, o simpático velhinho Mujica. Não podemos nos esquecer dos excelentes vinhos uruguaios e da recente legalização da maconha, que tornou o país ainda mais atraente para quem se liga num turismo de cabeça feita. Já o Chile se tornou um destino turístico concorrido por conta e suas paisagens nevadas, os lagos naturais nas montanhas, as cidades charmosas e o excelente vinho. O Chile também abriga uma cena interessante de música contemporânea om bandas como Los Prisioneiros e Los Jaivas. E, claro, terra natal de Pablo Neruda. E finalmente a Argentina! Terra de Maradona, de Carlos Gardel e da Mafalda! Certamente o mais cosmopolita dos países sul americanos depois do Brasil. A Argentina é f*da! Tem o cinema brilhante de Juan José Campanella, Gustavo Taretto e Ricardo Darín! Tem a música pop sensacional da Soda Stereo e do Fito Paez, tem o rock n’ roll dos Los Rodríguez e Los Fabulosos Cadillacs, sem falar no Sui Generis, Pappo’s Blues e até o metal do Rata Blanca. Os vinhos de Mendoza, a gastronomia, a noite, os passeios incríveis de Buenos Aires! Ah, é… tem o Messi também. 

Como é que um continente tão plural, cheio de arte, misturando antigo e contemporâneo, com tanta música boa, lugares incríveis, personalidades emblemáticas e, principalmente tanta originalidade e personalidade, não seria uma inspiração e uma referência para a Strip Me? É claro que juntamos toda essa latinidade em estampas lindas e super modernas! Vem conferir essas e outras estampas na nossa loja

Vai fundo! 

Para ouvir: Aquela playlist caprichada só com músicas deliciosas de artistas sul americanos! America Del Sur Top 10 tracks

Para assistir: A Netflix produziu e lançou em 2020 um documentário dividido em 6 episódios chamado Quebra Tudo!: A História do Rock na América Latina. É um doc interessantíssimo e cheio de bandas incríveis que vão da Argentina até o México! Tudo que é rock n’ roll cantado em espanhol desde La Bamba até hoje em dia é contado lá! Vale a pena demais! Disponível no catálogo da Netflix. 

Pulp F*ckin’ Fiction!

Pulp F*ckin’ Fiction!

Logo de cara as pessoas não entenderam o Nirvana. O Nevermind foi lançado em setembro de 1991 e foi subindo aos poucos a lista de discos mais vendidos. Vendas estas impulsionadas pelo clipe de Smells Like Teen Spirit e tal. O disco foi um sucesso, Come As You Are nas rádios… Mas as pessoas realmente ainda não entendiam a banda. A compreensão mesmo da importância do Nirvana para a música e como o Nevermind foi um divisor de águas só veio alguns anos depois da morte do Kurt Cobain. Foi quando as pessoas puderam olhar com certa distância e ver toda a cena grunge, as bandas que vieram depois como o Silverchair e outras. A mesma coisa aconteceu com outro marco fundamental dos anos 90: o filme Pulp Fiction.

Hoje em dia Pulp Fiction é facilmente considerado um dos filmes mais importantes da história do cinema. É inovador, apesar de ser um retrato super fiel de seu tempo. Muita gente já conhece a história de Quentin Tarantino para chegar em Pulp Fiction. Mas vale a pena dar uma geral aqui. Tarantino tinha escrito os roteiros de Amor à Queima Roupa e Assassinos por Natureza, que foram vendidos e ganharam as salas de cinema pelas mãos de Tony Scott e Oliver Stone respectivamente. Com a grana desses filmes, ele pôde viabilizar Cães de Aluguel. O roteiro caiu nas graças de Harvey Keitel, ator já muito respeitado em Hollywood, que topou atuar no projeto e atraiu outros atores e a confiança dos estúdios. O filme é lançado em 1992 com ótima aceitação da crítica, mas sem grande sucesso de público. Neste ponto Tarantino consolida seu nome na indústria e parte para um projeto um pouco mais ousado.

A trajetória do Nirvana e do Quentin Tarantino são bem semelhantes nesta transição do início da carreira para uma explosão de popularidade. Ambos tiveram estreias promissoras, bem faladas, mas sem popularidade, o disco Bleach e o filme Cães de Aluguel. Trabalhos que deram estofo para que eles pudessem dar passos mais livres para criar sua grande obra. É até difícil dizer o que faz de Pulp Fiction um filme tão espetacular. Mas com certeza o roteiro é parte fundamental.

Ainda que o jovem Roger Avary seja creditado como co-autor do roteiro de Pulp Fiction, é evidente que Tarantino é quem comandava o show. Tarantino tem o talento de escrever diálogos simples, fluídos, interessantes e que, em poucos minutos, entregam uma profundidade inacreditável dos personagens. No brilhante diálogo entre Jules e Vincent no carro, na primeira cena após os créditos de abertura, você já entende que são dois caras que trabalham juntos, tem um grau de amizade, são bandidos, curtem drogas… é muita informação num diálogo simples sobre fast food na Europa. E este é só o começo. O roteiro todo é recheado desses diálogos. Além de tratar de histórias distintas, mas que se cruzam em algum momento, foi também o trabalho de edição e montagem que fez toda a diferença.

Em 1992 Cameron Crowe lançou o filme Singles, todo baseado na cena musical de Seattle e que conta três histórias distintas que se cruzam em alguns momentos. O filme é bem divertido e tal, mas não é memorável. Quando Crowe viu Pulp Fiction em 1994, chegou a declarar que finalmente tinha entendido como montar e editar um filme com histórias paralelas, admitindo que seu flme era bem simplório neste aspecto. Cameron Crowe não deveria ser tão exigente consigo mesmo, porque aquela montagem e edição de Pulp Fiction nunca havia sido feita antes na história do cinema. Nunca ninguém subverteu e misturou a cronologia de uma trama daquele jeito. E funciona lindamente. Aliás, é um dos charmes do filme, essa cronologia zoneada, que impressiona muito quando se assiste pela primeira vez, mas não se torna cansativa quando se assiste de novo, e de novo, e de novo…

Além do mais, neste filme Tarantino nos entrega duas coisas impensáveis naquela primeira metade dos anos 90: John Travolta sendo levado a sério como ator e o ressurgimento da surf music. O elenco de Pulp Fiction é incrível porque Tarantino apostou alto. Trouxe um John Travolta desacreditado, vindo de comédias pequenas e meio rechonchudo, apostou em nomes muito pouco conhecidos como Uma Thurman e Samuel L. Jackson e se ancorou em dois grandes nomes com ótimos papéis, mas sem grande protagonismo, Harvey Keitel e Bruce Willis. Talvez o fato de que não exista um grande protagonista faz com que todas as atuações sejam irrepreensíveis. Já a trilha sonora, com o perdão do clichê, é um personagem a mais no filme. É uma trilha sonora tão fantástica e com uma conexão tão forte com as cenas, que não dá pra dissociar uma coisa da outra, ou dizer, “Ah, naquela cena, podia ter tocado tal música ao invés dessa.”. Assim como não dá pra imaginar outro ator interpretando o Jules, não dá pra imaginar outra música que não seja Girl, You’ll Be a Woman Soon na cena pré overdose da Mia.

Mas o fato é que Pulp Fiction não foi um sucesso arrasador de bilheteria quando foi lançado nos cinemas. Mas virou ítem cada vez mais concorrido nas vídeo locadoras com o passar dos anos (vídeo locadora era como se a Netflix tivesse uma loja física e você fosse lá pegar um filme emprestado, em VHS ou DVD e tivesse que devolver depois). Anos depois de seu lançamento, Pulp Fiction passou a ser visto como um divisor de águas. Antes dele, a violência não era tão explícita e os diálogos não eram tão casuais. De repente, ficou mais comum ver um filme como Clube da Luta e diálogos como “Com que celebridade morta você lutaria?” “Gandhi.” “Boa resposta.”. E se tornou mais raro ver personagens como Stallone Cobra dizendo “Você é a doença e eu sou a cura.” antes de disparar um tiro de escopeta.

Pra finalizar, podemos fechar o paralelo entre Quentin Tarantino e Nirvana. Para ambos, sua segunda obra foi a mais marcante e tida como sua obra máxima. Depois de Pulp Fiction, Tarantino tirou um pouco o pé do acelerador e pegou um roteiro pronto para somente dirigir, uma coisa menos autoral e mais leve. Veio Jackie Brown. Depois do Nevermind, o Nirvana também fez o mesmo e lançou Incesticide, um disco com sobras de estúdio, demos e covers. Em seguida, a banda ressurgiu com um disco forte para reafirmar sua posição de grande banda de rock. Foi lançado In Utero, que até poderia ter sido um disco duplo, pelo que dizem. Tarantino também resolveu reafirmar seu posto de diretor autoral cheio de referências com a saga Kill Bill. Depois do In Utero, o Nirvana acabou. Mesmo sem a morte de Cobain, a separação era inevitável. Era preciso se renovar. Assim como Tarantino. Depois de Kill Bill, Tarantino passou a vislumbrar novos ares e passou a produzir filmes considerados de época, numa clara guinada de renovação e renascimento de sua carreira.

Mas ainda é Pulp Fiction a obra mais importante de Tarantino. Um filme que representa uma renovação artística, uma ode a boa música, uma quebra de padrões estéticos e muita diversão! Certamente um dos filmes favoritos na Strip Me, uma fonte de inspiração e um ícone inconfundível da cultura pop.

Vai fundo!

Para ouvir: Claro, aquela seleção das melhores da trilha sonora do Pulp Fiction! Top 10 Tracks Pulp Fiction.

Para assistir: Imperdível o curta divertidíssimo Tarantino’s Mind. Curtametragem de 2006 dirigido por Bernardo Dutra e Manitou Felipe, com Selton Mello e Seu Jorge no melhor papel de suas vidas trocando ideia num bar sobre os filmes do Tarantino. Disponível completinho e free no Youtube.

O que esperar de 2022

O que esperar de 2022

Sim! Estamos oficialmente em 2022. Já passamos pelos festejos de despedida de 2021 e de saudação ao ano novo. Nos primeiros dias úteis do ano começamos a olhar para frente e imaginar o que vem por aí. Claro, nossa maior preocupação é com a saúde. Passamos pelos momentos mais sombrios e dolorosos da pandemia, vivenciamos a chegada das vacinas e o alívio de observar a queda vertiginosa de número de óbitos e internações. Mas também estamos diante de novas variantes do vírus e sabemos que, ainda que possamos flexibilizar um pouco as regras, a proteção, o cuidado e a vacinação ainda são essenciais. Tendo isso em mente, podemos respirar fundo se preparar para um ano que, com certeza será muito movimentado, cheio de momentos históricos importantes, eventos grandiosos e muita arte. 

Para começar, 2022 é um ano muito importante para a história do Brasil. No dia 7 de setembro vamos celebrar o bicentenário da Independência, um momento muito importante de reflexão política e social do país, ainda mais num ano de eleições presidenciais. Outro momento importantíssimo para a nossa história política e social foi a Revolta dos 18 do Forte, que foi o pontapé inicial no movimento tenentista e a luta pelo fim da República Velha. A Revolta dos 18 do Forte completa 100 anos no dia 5 de julho. Mas não só de eventos políticos se vive! Ainda mais pra nós, que gostamos de uma vida encharcada de diversão e arte! Neste ano vamos celebrar os 100 anos da Semana de Arte Moderna de São Paulo, A famosa Semana de Arte Moderna de 1922. Um momento mágico das artes no Brasil, quando os artistas conseguem condensar o naturalismo e as origens culturais brasileiras com o que havia de mais vanguarda na Europa. Uma verdadeira revolução nas artes plásticas, na literatura e na música. A Semana de Arte Moderna de 1922 aconteceu entre os dias 13 e 18 de fevereiro de 1922. E você pode ter certeza que a Strip Me não vai deixar esse momento tão importante da nossa arte passar batido. Vem coisa boa por aí! 

Este ano também será marcado por grandes eventos. Claro, contando com todos os protocolos de segurança, proteção e etc. Mas enfim, estão confirmados para este ano vários eventos esportivos e culturais. Entre eles o mais significativo certamente é a Copa do Mundo de futebol, que acontece no Qatar. Será uma Copa do Mundo bem diferente, a começar pela época do ano em que vai acontecer. Estamos acostumados a acompanhar a Copa em julho, no meio do ano. Pois desta vez o torneio vai rolar entre os dias 21 de novembro e 18 e dezembro. Isso porque o Qatar está localizado numa região do hemisfério norte em que o calor no verão, julho e agosto, no caso, é tão forte que torna impossível a prática de qualquer competição esportiva. Então teremos que aguardar até o fim do ano para acompanhar, não só os jogos, mas também a nossa gloriosa fábrica de memes e os comentaristas de Twitter que tão bem nos entretêm. 

Além da Copa do Mundo, também tem muito festival de música confirmado com grandes atrações. Começando pelo Coala Festival, já tradicional festival de música brasileira que rola em São Paulo. Agendado para os dias 17 e 18 de setembro, vai rolar no primeiro dia Alceu Valença e Gal Costa, com participação do Tim Bernardes, vocalista e principal compositor da banda O Terno. No dia seguinte as atrações principais serão a rainha da MPB Maria Bethânia, o excelente rapper Black Alien, que já fez parte do Planet Hemp, e também a cantora mineira Marina Sena. Mais voltado pro rock, e também já tradicionalíssimo, é o João Rock, que rola em Ribeirão Preto (SP). Famoso por reunir um número imenso de grandes personalidades em cada edição, este ano vai contar com Titãs, CPM 22, Humberto Gessinger, Planet Hemp, Emicida, Pitty, Gabriel o Pensador, Barão Vermelho, Erasmo Carlos e outros no dia 11 e junho. Antes, logo ali, em março, mais especificamente nos dias 25, 26 e 27, rola também o icônico Lollapalooza Brasil em São Paulo. É um dos maiores festivais do mundo e este ano traz gente como The Strokes, Doja Cat, Machine Gun Kelly, Miley Cyrus, Asap Rocky, Alok, Foo Fighters, Black Pumas, Emicida, Fresno, Detonautas e muitos outros. Claro que também precisamos falar do colossal Rock In Rio, uma verdadeira instituição da música no Brasil. O festival acontece do dia 2 ao dia 11 de setembro e traz Post Malone, Demi Lovato, Justin Bieber, Alok, Coldplay, Iron Maiden, Megadeth, Sepultura, Joss Stone, Avril Lavigne, Green Day e muito mais. Haja vacina, álcool gel e máscara pra tanta coisa! 

Ainda sobre eventos, vale ficar de olho nas programações do MASP e do MIS em São Paulo neste ano. O MASP vai trazer pelo menos três exposições de grandes metres da pintura contemporânea do Brasil: Alfredo Volpi, Abdias Nascimento e Luiz Zerbini. Já o MIS está com uma exposição interativa sobre a Rita Lee, que vai até o dia 20 de fevereiro e que está sendo muito elogiada. Além disso, o museu tem programada para este ano uma exposição do mestre Portinari. 

Ainda vivendo uma indefinição imensa entre a sala de cinema e o streaming, a indústria do cinema segue produzindo e promete grandes lançamentos para 2022. Não dá pra negar que dá um certo desânimo ao bater os olhos na lista de lançamentos do ano. Fica cada vez mais evidente que o cinema vem sofrendo uma crise criativa profunda. Praticamente todos os filmes anunciados não são roteiros originais, são filmes baseados em quadrinhos, remakes e continuações de filmes antigos. Filmes autorais, originais, infelizmente estão em falta. Vem aí Pânico 5, Missão Impossível 7, Jurassic World 3, Legalmente Loira 3, e até mesmo Top Gun: Maverick, uma inusitada continuação do clássico oitentista Top Gun: Ases Indomáveis. Além disso, tem os filmes de heróis dos quadrinhos, Batman, Doutor Estranho no Multiverso da Loucura, Thor: Love and Thunder e Pantera Negra: Wakanda para Sempre. Convenhamos que, apesar da falta de títulos originais, diversão não vai faltar nas telonas e nos streamings. 

No mundo da música, foi-se o tempo em que os fãs esperavam ansiosamente o lançamento de um novo disco. Hoje em dia, muita gente nem lança mais disco, preferindo lançar digitalmente nas plataformas de áudio e no Youtube uma ou duas músicas como single. Mas enfim, mesmo assim, ainda tem gente que curte, ainda que nos moldes digitais, produzir um álbum completo. E tem vários lançamentos esperados para 2022. Já estão garantidos lançamentos inéditos de Arctic Monkeys, Avenged Sevenfold, Tears for Fears, The Weeknd, Eddie Vedder, Jack White e Liam Gallagher. No Brasil os mais aguardados são os novos lançamentos de Anitta, Pitty, Planet Hemp e Otto. Sem música boa e fresquinha, esse ano a gente não fica! 

Enfim. Já deu pra sacar que 2022 é um ano que vem chegando com tudo! História, política, sociedade, saúde, esporte, música, cinema, artes plásticas… tem de tudo, bicho! Um ano pra gente pensar muito, agir ainda mais e também curtir muito, aproveitar a vida e se divertir! Tudo com muita responsabilidade, é claro! Que 2022 venha com muita saúde, barulho, diversão e arte

Vai fundo! 

Para ouvir: Uma playlist empolgante com músicas alto astral pra começar bem o ano! Top 10 tracks Up 2022

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