PERFIL COLLAB STM: A ARTE LIVRE DE GUILHERME HAGLER

PERFIL COLLAB STM: A ARTE LIVRE DE GUILHERME HAGLER

Ser livre! Como é bom ser livre! Quando se trata de arte então, não tem nada melhor! Ser livre para criar, para explorar os mais diversos temas. Da racionalidade ao ocultismo, da crítica social ao amor idealizado! Ser livre para fazer arte seja como for. Na dança, na fotografia ou desenhando! Carregado de muito talento e muitas referências legais de cultura pop, o trampo do Guilherme Hagler transmite essa liberdade, um conjunto que tem tudo a ver com a Strip Me.

O Guilherme Hagler é mineiro nascido em Juiz de Fora e criado em Belo Horizonte. Ele cresceu dentro de uma família de mulheres talentosas, artistas que não tiravam seu sustento da arte, mas estavam sempre pintando, bordando, fotografando, fazendo música… Era um incentivo natural para que, ainda garoto, ele tivesse sua criatividade aguçada e se expressasse artisticamente. Do hábito de ler histórias e curtir desenhos, Hagler começou a desenhar e se envolver cada vez mais com arte.

Como todo bom artista livre, Guilherme Hagler não se limitou a só uma forma de expressão. Já se aventurou na fotografia e na dança, mas foi nas artes plásticas que ele encontrou seu caminho. E se dedicou muito. Inspirado por artistas impressionistas e surrealistas, em especial Paul Ranson e suas temáticas obscuras, começou a fazer reproduções de suas obras favoritas, além de muitas naturezas mortas, que são ótimas para reforçar conceitos de proporção e luz e sombra. Com o tempo, adicionou às suas referências o cinema e a música, através dos sentimentos transmitidos nas melodias e nas imagens dos videoclipes, para formatar seu trabalho autoral.

O trampo autoral do Hagler impressiona porque é muito original, mesmo sendo super iconoclasta, usando figuras conhecidos, referências da cultura pop, em especial o cinema e obras de arte famosas. Os desenhos dele demonstram muita técnica e muita sensibilidade. Por causa disso tudo, não tinha como o Guilherme Hagler não fazer parte do seleto rol de collabs da Strip Me. Um artista que tem tudo a ver com a marca! Pra finalizar, você confere o nosso bate bola com o próprio Guilherme. Se liga aí no que ele tem a dizer.

Strip Me Analógico ou digital? Você desenha direto no computador/tablet ou curte a tinta no papel?

Guilerme Hagler Eu nunca usei uma mesa digitalizadora na minha vida. Tenho vontade e receio de achar estranho hahaha. Gosto de desenhar direto no papel, com lápis e caneta. Quando o desenho fica pronto, eu fotografo ele em um ambiente bem iluminado, evitando ao máximo as distorções da câmera, pra depois transferir as “linhas” para o computador, onde eu adiciono as cores, sombras, refino as linhas, assino.

STM Além de desenhar e passar nervoso, o que tem feito em casa, durante a pandemia?

GH Muita música (sempre caçando coisas novas) e muitas horas de sono. Também descobri que podcasts me ajudam a me sentir menos sozinho nessa pandemia. Como estou trabalhando em casa, uso meu tempo livre para espairecer ou descansar (quando não estou desenhando ou fazendo tudo ao mesmo tempo)

STM Não precisa nem dizer que sua arte sempre passa uma mensagem, de todo o tipo, aliás. Tem alguma coisa que você queria dizer para as pessoas e ainda não conseguiu traduzir em um desenho?

GH Definitivamente ainda tenho muito a dizer. Mas uma das coisas que eu mais gosto na arte, são as possibilidades de interpretação. Por isso, deixo minha arte aberta a isso. Ela é o que você quiser que ela seja. Acho que se eu virar pra você e dizer exatamente o que eu estou querendo passar com uma imagem que eu fiz, posso acabar limitando a sua visão sobre ela. Já escutei interpretações de pessoas que atingiram níveis de profundidade que nem eu mesmo havia imaginado, acho essa troca muito rica.

A Barbie de cabeça pra baixo no copo d’água, por exemplo, foi uma homenagem à uma irmã que nunca foi muito fã do universo feminino. Quanto era bem pequena, ela literalmente arrancava os cabelos das Barbies que ganhava e mergulhava elas na água, rejeição total. E eu tenho certeza que muitas meninas também se sentem assim. Ser mulher não é necessariamente ser feminina. Nascer mulher não é necessariamente ser mulher. Gosto de sátiras que utilizam elementos da cultura pop.

STM Quem ou o quê te inspira e te faz desenhar? E quem ou o quê te desanima a pegar na caneta?

GH Minha vontade de desenhar é espontânea, ela não vem em momentos pontuais… Me sinto inspirado a desenhar quando tenho alguma ideia que julgo interessante, ou quando me sinto inspirado por algo que vi, uma imagem, um vídeo, um poema. Minha primeira série de desenhos foi baseada no conto “Cinco Mulheres”, do Machado de Assis. Quando começo um desenho, fico na ansiedade de terminar logo, então, mesmo que eu esteja me sentindo cansado, eu não paro. Dificilmente vou começar um desenho se tiver tido um dia muito estressante, por exemplo, mentalmente ou fisicamente. A não ser que eu tenha um prazo.

STM Os heróis do Cazuza morreram de overdose. E os seus heróis, na vida e na arte, ainda estão por aí? Quem são eles?

GH Apesar de não ser muito fã do conceito de “herói” ou “ídolo”, admiro sim artistas que morreram de overdose, Amy Winehouse é a primeira que vem na minha mente. Ainda fico triste quando escuto as músicas dela. Mas também tenho “heróis” que morreram por outras causas hahahaha… Gauguin, Dalí, Magritte, Frida, Lygia Clark, Edith Head, Elsa Schiaparelli, Chadwick Boseman… A lista é longa! E se ainda for pensar nos que estão vivos… Marina Abramovic, Rosana Paulino, Laura Callaghan, Oh de Laval, Hajime Sorayama… Caramba! Vai ser até injusto tentar montar uma lista, não quero deixar ninguém de fora. Tem MUITA gente foda e inspiradora por aí (vivos ou não).

STM Diversão e arte além dos teus desenhos, o que você curte?

GH Gosto de tudo que mantem minha mente trabalhando, que me instiga intelectualmente. Procuro informação a todo momento. A internet tem muita coisa interessante, se você souber onde procurar… Adoro assistir debates, escutar podcasts, jogar online com amigos. (Isso quando não estou escutando música ou assistindo algum filme) Tenho procurado livros para ler também, faz tempo que não leio algo que não seja acadêmico.

STM Qual a sensação de saber que seus desenhos enchem o peito de muita gente Brasil afora através da Strip Me?

GH A sensação é de validação e de muita alegria, especialmente em um momento tão complicado quanto o que estamos vivendo. Fiquei super feliz quando fui convidado pra essa parceria e acho incrível quando marcas colaboram com artistas, especialmente os pequenos, é um diferencial. Se dedicar à arte pode ser um projeto de vida bem arriscado, ainda mais no Brasil. Mas quando o reconhecimento vem, qualquer que seja, é extremamente gratificante e motivante. Hoje estou me especializando em Moda e nunca havia imaginado pessoas andando com as minhas estampas por aí, é incrível! Sou muito grato e tenho grande admiração pela Strip Me, que já faz parte da minha história.

Siga o Gilherme Hagler no Instagram: @guilhermehagler

Vai fundo!

Para ouvir: Como sempre acontece nos textos dedicados aos collabs da Strip Me, a playlist fica por conta do próprio artista. Então confere lá as top 10 tracks favoritas do Hagler!

Pet Friendly?

Pet Friendly?

Não vamos negar que algumas regras existem para serem quebradas. A transgressão é um dos temperos da vida. Um tempero que deve ser usado com muita parcimônia, é claro. Afinal são só algumas regras que existem para serem quebradas. Quer saber outra coisa que dá um tempero todo especial à vida? Ter um bichinho e estimação! Ah, nada mais gostoso que ter um bichinho em casa pra fazer companhia, pra cuidar, dar e receber carinho, se divertir… e pode ser o animalzinho que você quiser, um peixinho, um cachorro, gato, passarinho, porquinho da índia, tanto faz. O importante é cuidar bem e dar bastante carinho.

Aliás, no quesito pet as regras são essenciais e, essas sim, não devem ser quebradas nunca. Se você tem um cachorro em casa, você deve dar comida duas vezes por dia, você deve passear com ele com frequência, deve dar vacina, vermífugo e por aí vai. São regras que precisam ser seguidas para o bem estar do cachorro e do seu próprio, já que você convive com ele e não quer o bichinho doente e tal. E cada pet tem suas regras específicas. Agora você pode estar pensando de onde saíram todas essas informações. De algum veterinário, ou de livros sobre o comportamento dos bichos… Não! Nada disso! Esses aprendizados foram todos tirados de um dos filmes mais emblemáticos dos anos 1980.

No natal de 1984 Rand Peltzer resolve comprar um presente único para seu filho, um animal de estimação diferente. Numa loja obscura em Chinatown, ele se depara com um mogwai, bichinho todo fofinho e peludinho, além de muito exótico. Era perfeito! Porém  o velho chinês dono da loja se recusa a vender o bichinho, dizendo tratar-se de um animal que requer muito cuidado, além de ser muito perigoso. Eis que enquanto o velho se ocupa de outra coisa, seu neto faz a venda, entregando o pequeno mogwai pela quantia de 200 dólares. Mas antes de entregar o animalzinho, deixou claro que 3 regras deveriam ser seguidas à risca para o bem estar de todos: 1 – o mogwai nunca deverá ser alimentado após a meia noite, mesmo que ele chore desesperadamente. 2 – Em hipótese alguma o mogwai poderá entrar em contato com água. 3 – O mogwai nunca poderá ser exposto à luz do sol. 3 regras simples que, obviamente, seriam descumpridas.

Os Gremlins foi lançado em 1984 e se tornou instantaneamente um filme aclamado pelo público. Sua mistura certeira de terror, humor negro e aventura fez dele um desses filmes para toda a família curtir, já que não contém exageros nem na parte de fantasia e aventura que conquistam crianças e nem nas piadas de humor negro, violência e eventuais sustos que conquistam os adultos.  Além do mais, ele tem aquele charme de filme B, com efeitos especiais toscos, que tornam tudo mais divertido. Apesar de não ter nenhum nome de peso no elenco e diretor e roteirista serem razoavelmente desconhecidos, o longa é produzido (leia-se bancado) por Steven Spielberg. E você sabe que o Spielberg não dá ponto sem nó. O filme foi um estouro e arrecadou milhões de dólares.

O fato de Steven Spielberg estar por trás do projeto proporciona várias referências super interessantes, os famosos easter eggs, ao longo do filme. A começar por uma ponta do próprio Spielberg em uma cena rápida, onde ele aparece numa cadeira de rodas. Homenageando  os clássicos do terror, em determinado momento um dos monstrinhos assiste na TV o icônico Invasores de Corpos (1956), de Don Siegel. No cinema onde todos os gremlins vão para se esconder da luz do dia, aparecem nos letreiros anúncios de dois filmes, A Boys Life e Watch the Skies, títulos usados provisoriamente por Spielberg durante a produção de E.T. – O Extraterrestre (1982) e Contatos Imediatos do Terceiro Grau (1977), respectivamente. O ET de Spielberg aparece ainda quando um dos gremlins se esconde numa loja entre vários brinquedos de pelúcia, e um doesses brinquedos é o famoso ET. Outro ícone homenageado é a série Perdidos no Espaço, na cena em que acontece uma feira de ciências e aparece um robô idêntico ao da série.

Hoje estamos recordando este clássico do cinema oitentista pra te lembrar que o cinema está sempre ensinando coisas legais pra gente. Em especial os filmes dos anos 1980 nos trazem inúmeras lições para a vida, como por exemplo pintar muros e encerar carros para ser um bom lutador de caratê, não andar com um extraterrestre na cestinha da bike se você tiver medo de altura, matar aula pode fazer com que você destrua a Ferrari do pai do seu amigo, caso você vá para o passado, não entre em contato com seus familiares, mas saiba tocar Johnny B. Goode por via das dúvidas… enfim, tantos ensinamentos enriquecedores. Os Gremlins também nos lembram que, no caso de cuidar de bichinhos de estimação, acaba valendo a pena seguir as regras e conselhos para cuidar bem do seu pet. Afinal ninguém quer correr o risco de ficar com seu bichinho doente, menos ainda ninguém quer correr o risco de ter que explodir o cinema da cidade por causa dele.

Vai fundo!

Para ouvir: Uma playlist com 10 tracks que embalaram os filmes mais divertidos dos anos 80! Top 10 tracks 80’s movies!

Para assistir: Óbvio que a recomendação é para assistir ao clássico primeiro filme, lançado em 1984. Confesso que as 2 sequências que foram lançadas nos anos 90 são bem decepcionantes. Mas já estão confirmadas duas temporadas de uma série animada que contará a origem dos mogwai. A série será exibida pela HBO Max, mais uma plataforma de streaming. Apesar de ainda não ter lançamento oficialmente marcado, a série promete agradar. Vamos esperar.

Arte & Treta na Renascença.

Arte & Treta na Renascença.

Você já parou pra pensar o que seria do mundo sem a treta? Claro, seria um lugar onde reinaria a paz e harmonia entre todos os seres humanos e tal. Mas será que teríamos chegado tão longe? Obras de arte magníficas ainda teriam sido produzidas, pesquisas e descobertas científicas teriam sido realizadas se não existisse aquele sentimento, aquele pensamento interior dizendo “Quem aquele f*#% d# p@%*# pensa que é? Ele acha que é melhor que eu? Pois vai ele ver só!”. Desde que o mundo é mundo e o homem vive em sociedade, rivalidades, desafetos e intrigas fazem parte da nossa história. E não é difícil supor que essas rivalidades contribuíram para que alguns gênios buscassem a perfeição. Os exemplos são muitos: Mozart e Salieri, Shakespeare e Marlowe, Darwin e Owen, Tesla e Edison, João Gordo e Dolabella… mas hoje vamos falar da grande treta da Renascença: Leonardo Da Vinci vs. Michelangelo!

Bom, Leonardo Da Vinci e Michelangelo Buonarroti dispensam apresentação, né? Dois dos maiores artistas de todos os tempos. Ambos pintores e escultores que viveram a virada do século XV para o XVI e conceberam obras admiradas até hoje. Apesar da diferença de idade entre eles, Da Vinci era 23 anos mais velho que Michelangelo, a rivalidade entre os dois era inevitável. Quando Michelangelo chegou à idade adulta e começou a se destacar, Da Vinci já era um artista consagrado. Mesmo assim, Michelangelo se recusava a aceitar que Da Vinci era esse gênio todo que se dizia, já que ele considerava a si próprio sim como o grande artista de seu tempo. Ainda que pensasse desta forma, Michelangelo não deixou de absorver minuciosamente as técnicas de pintura desenvolvidas por Da Vinci, de claro e escuro, luz e sombra e esfumaçado, bem como os estudos da anatomia humana a que Da Vinci tanto se dedicou.

O Homem Vitruviano de Leonardo Da Vinci

Eram realmente artistas antagônicos. Da Vinci ficou famoso pela procrastinação. O acervo de rascunhos e obras inacabadas dele é vasto, já suas pinturas que foram totalmente concluídas, são apenas 16, muito pouco para um artista que viveu até os 67 anos de idade. Já Michelangelo era o que se pode chamar de workaholic. Vivia em seu ateliê mais de 12 horas por dia trabalhando incansavelmente em suas obras. Da Vinci era conhecido por ser um homem sociável, de personalidade amistosa e calma, sempre bem vestido e arrumado. Já Michelangelo era comparável a um pinscher, era baixinho, arrogante e muito briguento. Ambos viviam na mesma cidade, Florença, um dos principais polos da arte renascentista. E foi justamente o governo da cidade que começou a treta entre os dois.

Palazzo della Signoria, Florença

Em 1504 o governo convidou Da Vinci e Michelangelo para pintarem, cada um em uma parede do Palazzo della Signoria, então sede do governo florentino e hoje conhecido como Palazzo Vecchio, um afresco retratando alguma batalha em que o povo de Florença tivesse lutado e saído vitorioso, claro. Os dois artistas já não iam muito com a cara um do outro, mas o dinheiro oferecido era bom demais pra se recusar. Então lá foram eles. Nos meses que se seguiram um alfinetava o outro constantemente, e as obras mesmo, nada de sair. Ficou famoso o comentário de Da Vinci vendo os esboços de Michelangelo, que sempre gostou de retratar os homens extremamente fortes e com músculos bem definidos. Da Vinci teria dito que não entendia por que Michelangelo insistia em retratar os homens como se fossem uma noz aberta.

Corpo masculino nu (estudo para o teto da capela Sistina) – Michelangelo, 1511

Mas o ápice da treta entre os dois aconteceu na rua. Antes de contar o que rolou, vale dizer que Da Vinci era um pintor irrepreensível, mas não era tão genial esculpindo. As esculturas de Da Vinci são poucas, e são bem acima da média, mas não são incríveis. E isso o frustrava muito. Uma dessas esculturas era o Cavalo de Sforza. E não preciso dizer que Michelangelo era um escultor brilhante, tá aí o Davi até hoje, que não me deixa mentir. Bom, Da Vinci estava na praça principal de Florença conversando com uma turma. E eles falavam sobre a obra de Dante Alighieri, o grande escritor. Coincidentemente Michelangelo passava por ali, e Michelangelo era admirador e grande conhecedor da obra de Dante. Da Vinci, sabendo disso, aparentemente sem más intenções, chamou Michelangelo para a conversa com uma frase do tipo: “Ô Michelangelo, chega aqui, estamos falando do Dante e tô sabendo que você manja do assunto.”. Como bom pinscher, Michelangelo ouviu o convite de Da Vinci como um desaforo cheio de ironia e sarcasmo e, raivoso, descarregou um caminhão de insultos a Da Vinci. Um dos insultos teria sido algo como: “Quem é você pra falar comigo, nem esculpir um cavalo você consegue, fez aquela aberração do Sforza!”. Da Vinci ficou ofendidíssimo e foi embora deprimido, se sentindo um artista medíocre.

Depois disso, ambos abandonaram o trampo no Palazzo della Signoria e foram embora de Florença. Da Vinci se mudou para Milão e Michelangelo foi pra Roma a convite do Papa, para fazer um job na Capela Sistina. É claro que não foi só a discussão na praça que motivou a mudança dos dois. Com certeza, eles foram atrás de melhores ofertas de trabalho. Mas com certeza a inimizade contribuiu para que abandonassem o trabalho no palácio e adiantassem sua saída de Florença, claro, os dois levando o pagamento do trabalho que ficou lá inacabado.

A Criação de Adão – Michelangelo

No fim das contas, histórias como essas são, de certa forma, um alívio para nós. Da Vinci foi o artista mais completo e brilhante de todos os tempos, além de pinturas icônicas como Mona Lisa e Dama com Arminho, era cientista, arquiteto e acadêmico. Michelangelo era um artista pungente e conseguia transformar blocos de mármore em figuras fascinantes, como é Davi e a Pietá, além de seu afresco incomparável na Capela Sistina. Foram verdadeiros gênios. Ainda bem que ficaram também registros como este contado aqui, do lado humano desses caras, que nos coloca em pé de igualdade com eles. Somos todos reles mortais sempre atrás de diversão e arte, e, de vez em quando, de uma boa treta.

Vai fundo!

Para ouvir: Uma seleção de canções para embalar aquela treta no meio da festa! Top 10 tracks da treta!

Para assistir: Uma das tretas mais célebres da história é a de Mozart e Salieri. Uma história incrivelmente bem retratada na excelente cinebiografia de Mozart, Amadeus, filme de Milos Forman lançado em 1984.

Alfred Hitchcock e a invenção do suspense.

Alfred Hitchcock e a invenção do suspense.

A definição mais sintética e objetiva da arte pode ser a seguinte:
talento + técnica = arte de qualidade.
Claro que a arte é uma parada muito intangível e que tem significados e representações distintas, que variam de pessoa para pessoa. Mas, de maneira geral, a equação acima é válida. A fotografia é a manifestação artística que melhor exemplifica isso. Se o fotógrafo conhece todas as técnicas de medição de luz, proporções de abertura de diafragma e obturador, foco e etc, mas não tem um olhar apurado e a sensibilidade para captar a cena desejada, ele vai obter um bom resultado, mas não será uma grande obra de arte. Já se o fotógrafo tem a sensibilidade  e o olhar apurado suficiente para captar um momento incrível, mas não tem as técnicas de manuseio da câmera, o resultado também pode até ser bom, mas não será uma obra de arte. Agora, se o fotógrafo consegue juntar tudo, aí sim terá uma foto incrível, que será admirada como verdadeira obra de arte.

Crédito da imagem: Silverscreen Archives

Mas tem alguma coisa a mais. Tem um elemento misterioso, um brilho, uma parada natural em poucas pessoas, que, somada a técnica e ao talento, consegue conceber obras primas, incomparáveis e eternas. Já que falamos de fotografia, vamos dar um pulinho e ir pro cinema, para falar de um dos grandes mestres desta que é conhecida como a sétima arte. Alfred Hitchcock foi um dos mais produtivos e geniais cineastas da história. Concebeu mais de 50 filmes, inventou um dos gêneros  mais populares e foi responsável por uma verdadeira revolução no cinema.

Crédito da imagem: Rex Features Archives

“Todos temos dentro de si um lugar escuro, cheio de violência e horror. Eu sou apenas o cara no canto com uma câmera, assistindo.” Com essa frase, Hitchcock conseguiu resumir sua obra. O suspense e o terror psicológico são invenções dele. Numa época em que o cinema era extremamente conservador, Hitchcock apresentava tramas sombrias, repletas de traições, cobiça e mistério. Seus personagens não eram claramente bons ou ruins, apesar de serem sempre carismáticos. Desta forma, tornaram-se clássicos filmes como Festim Diabólico (1948), Disque M Para Matar (1954), Janela Indiscreta (1954), O Homem que Sabia Demais (1956), Um Corpo que Cai (1958), Os Pássaros (1963) e sua obra máxima, Psicose (1960). Com estes filmes, Hitchcock apresentou ao mundo uma nova maneira de fazer cinema, tanto na estética, como na forma de contar as histórias e até na atuação dos atores.

Quando lançou Psicose, Hitchcock já era um diretor consagrado em Hollywood, Mas foi com este filme que ele quebrou todas as barreiras. Tanto é que produtora nenhuma encarou financiar o filme, com medo de lança-lo e ter prejuízo, acreditando que o público não aceitaria tanta violência e sadismo, isso se o filme chegasse ao público, porque corria o risco de ele esbarrar na censura. Por fim, o diretor bancou o filme do seu próprio bolso, fazendo dele uma produção independente. E ele investiu pesado.

Crédito da imagem: Rex Features Archives

Pra começar, o filme é adaptado de um livro. Psicose foi escrito por Robert Bloch, publicado originalmente em 1959 e inspirado num caso de assassinatos famoso na época, o caso Ed Gein, conhecido como o assassino de Wisconsin. Quando Alfred Hitchcock leu o livro, no ato comprou os direitos para filmá-lo e mandou comprar todos os exemplares à venda em todas as grandes cidades do país, para que ninguém soubesse o final da história. O protagonista da história se tornaria no futuro um verdadeiro clichê do cinema, um clichê muito eficiente, diga-se: o assassino esquizofrênico, travestido, sedutor e violento. Isso sem falar da icônica cena do chuveiro.

Crédito da imagem: Silverscreen Archives

Por ser um filme independente, com orçamento reduzido, tudo foi feito a toque de caixa, além do mais, Hitchcock não entregou o roteiro todo de uma vez na mão dos atores, e filmava as cenas sem muitas repetições, para captaras reações mais naturais possível dos atores ao se depararem com as cenas. O filme todo foi filmado em 6 semanas, tempo curtíssimo para os padrões de Hollywood. Todas as cenas foram filmadas de bate pronto, no máximo com três ou quatro takes. A exceção foi a cena do chuveiro, que levou uma semana para ser concluída. Provavelmente Hitchcock tinha consciência que aquela cena seria o ponto alto do filme.

Marion Crane, a personagem interpretada pela atriz Janet Leigh, era uma mulher insatisfeita com a vida, trabalhava num pequeno escritório e tinha um amante, com quem não podia se casar. Quando ela consegue algum dinheiro, combina com seu amante que fujam para finalmente se casar. É nessa fuga que ela vai parar no Bates Motel, um hotelzinho fuleiro de beira de estrada, gerenciado por Norman Bates, um homem simples, que vive sob os caprichos de sua velha mãe. Marion é a protagonista do filme. E, passada apenas meia hora do início do longa, ela é morta a facadas no chuveiro. Além da cena ser icônica, era novidade no cinema uma personagem principal morrer tão cedo, aliás, de maneira geral, personagens principais raramente morriam. Os cortes rápidos, tensão, uma trilha sonora inacreditável, closes e ângulos fechados, fizeram da cena do chuveiro a cartilha que todos os filmes de suspense e terror até hoje seguem.

A extensa filmografia de Alfred Hitchcock é permeada de filmes brilhantes, como os que já foram citados aqui. Não é à toa que ele é conhecido como o mestre do suspense. Hitchcock mudou o jeito de se fazer e de se consumir cinema. Para se ter ideia, antes de Psicose, era muito comum as pessoas entrarem numa sala de cinema com o filme já pela metade, aí a pessoa voltava em outra sessão para ver do começo e ia embora  quando entrava a parte que já tinha visto. Ou seja, era um entra e sai dos infernos durante a sessão. Os primeiros cartazes de divulgação de Psicose traziam uma foto do próprio Hitchcock informando que ninguém deveria entrar na sala de cinema se o filme já tivesse começado, além de instruir os donos de cinema a impedirem que isso acontecesse, para que as pessoas tivessem a experiência completa.

Enfim, Hitchcock foi um cineasta genial, uma dos maiores nomes do cinema, cultuado até hoje. Por isso ele tem tudo a ver com a Strip Me, um cara que representa o encontro entre o entretenimento (diversão) e a arte, com personalidade e sem barreiras para a criatividade.

Vai fundo!

Para ouvir: Já que o filme mais famoso de Hitchcock é Psicose, preparamos uma playlist com 10 canções sobre psicopatas, esquizofrênicos e malucos em geral. Curte aí esse Top 10 Psycho Tracks!

Para assistir: Lógico que toda a obra do Hitchcock é mai que recomendada e está espalhada por aí, em plataformas digitais, boxes de DVDs e blurays e etc. Então, vamos recomendar o ótimo filme Hitchcock, lançado em 2012 e que conta a história da produção de Psicose com um elenco matador (com o perdão do trocadilho). Hitchcock é interpretado por Anthony Hopkins, Helen Mirren interpreta Alma, a esposa do diretor e Scarlett Johansson interpreta Janet Leigh. A direção é de Sacha Gervasi e é um filme mais que recomendado.

Para ler: A excelente editora Darkside, especializada em literatura de terror e livros com um acabamento e concepção gráfica invejáveis, relançou Psicose, o livro de Robert Bloch lançado originalmente em 1959, numa edição lindíssima. Além do livro ser uma delícia de se ler e ter muito mais detalhes sórdidos dos crimes do que no filme, tem uma capa linda. Um livro que vale a pena ler e ter em destaque na estante.

Well, whatever… Nevermind.

Well, whatever… Nevermind.

 Um dos vídeos mais famosos do Nirvana é uma filmagem amadora de um show da banda em Dallas numa pequena casa de shows. O show foi um caos, vários problemas técnicos, PAs falhando e etc. Sem falar que o som do Nirvana sempre foi barulhento, abusando de microfonias. Eis que durante a música Love Buzz, na hora do solo de guitarra, Kurt Cobain faz um stage dive com guitarra no lombo e tudo. Ele está lá curtindo, se debatendo em cima da plateia, quando um dos seguranças o puxa de volta para o palco. Mas ele não quer ir, e, no reflexo, enfia a guitarra na testa do tal segurança. Quando Kurt volta ao palco, o segurança com a cabeça sangrando tá full pistola e já chega no soco e na bicuda pra cima dele e o caos se instaura. Nem o mais otimista dos seres humanos que visse este vídeo antes de setembro de 1991 acreditaria que aquela banda seria capaz de desbancar Michael Jackson na lista dos discos mais vendidos do ano.

A música pop produziu os mais variados fenômenos da década de 1950 pra cá. Um branco do sul dos Estados Unidos que misturou country com música negra, 4 moleques de uma cidadezinha portuária da Inglaterra que faziam músicas de amor e aposentaram a fase dos topetes no rock, um inglês que imortalizou sua imagem com um raio na cara e uma música plural e por aí vai. Mas nenhum desses fenômenos foi tão radical quanto a ascensão da banda Nirvana. Por mais que Elvis tenha sido um revolucionário misturando o country dos brancos com o R&B dos negros, o cenário musical estava pronto para isso. Os Beatles foram uma evolução natural daquele movimento que já contava com Buddy Holly e Little Richards. Bowie foi um gênio justamente por saber ler o que havia de melhor na vanguarda da música pop e recriar à sua maneira. Em nenhum desses casos houve ruptura. Com o Nirvana foi diferente.

Photo by: Michael Lavine

Até dá pra dizer que o rock estava em evidência em 1991. Mas era um rock afetado, narcisista. Guns n’ Roses lançava o megalomaníaco Use Your Illusion I e II, U2 se rendia ao pop em Atchung Baby e no front do rock mais pesado, o Metallica se rendia a baladas e mais melodias do que agressividade no clássico Black Album. O punk rock estava esquecido. A música alternativa, que sempre foi efervescente, vale dizer, continuava de boa ali no underground sem incomodar ninguém.  Pra não falar que não rolava rock alternativo no mainstream, o clipe de Losing my Religion, do R.E.M. estava bombando e o Sonic Youth tinha lançado Goo, um disco bem sucedido por uma grande gravadora, um ano antes.

Photo by: Kirk Weedle

Aliás, foi por causa do Sonic Youth que o Nirvana acabou assinando com a Geffen Records. Dizem que o pensamento dos executivos da gravadora era o seguinte: se o Sonic Youth vendeu 50 mil discos, o que eles consideravam um bom desempenho para uma banda alternativa, se o tal Nirvana vendesse igual ou um pouco mais, já valia a pena. Acontece que em dezembro de 1991, três meses depois de lançado, Nevermind já vendia 300 mil cópias por semana! Tudo por causa de um riff de guitarra grudento, uma letra reclamona e um clipe poderoso.

Photo by: Kirk Weedle
Photo by: Kirk Weedle

Nevermind é um disco brilhante e irretocável. Ali estão as melhores composições de Kurt Cobain, executadas por uma banda afiadíssima, um baixo marcante e preciso, uma bateria cavalar, harmonias incríveis e uma produção soberba. É um monte de elogios grandiosos, eu sei, mas não é exagero. Apesar de estar recheado de hits, o disco foi puxado por Smells Like Teen Spirit. Uma música que Kurt Cobain escreveu inspirado nos Pixies com sua dinâmica de guitarras distorcidas, verso suave e explosão no refrão. O clipe reforçava a letra da música, que reclamava da apatia juvenil, apresentando uma mini rebelião num ginásio de colégio com cheerleaders com o símbolo da anarquia punk estampado em suas blusas. Era tudo que uma juventude cansada de bandas super produzidas e astros pop inatingíveis precisava.

Photo by: Michael Lavine

A honestidade, o sarcasmo e principalmente as músicas excelentes do Nirvana caíram nas graças do mundo pop. Nevermind tirou Michael Jackson do topo dos discos mais vendidos e chutou a porta para um mundo desconhecido entrar. De uma hora pra outra, roqueiros maltrapilhos, de cabelos ensebados e usando bermudas e camisas de flanela passaram a frequentar capas de revistas e ter seus discos entre os mais vendidos. Na real, a maioria das bandas que apareceram como grande novidade da música já eram veteranos, com pelo menos três ou quatro discos já lançados na bagagem. Mudhoney, Pixies, Sonic Youth, Soundgarden, Screaming Trees, L7… essa turma toda já estava na ativa desde os anos 1980.

O Nevermind é o disco mais importante da década de 1990, e completa neste ano 30 anos de lançado. Responsável por uma revolução na música e no comportamento. Não se trata só de um disco com 12 músicas ótimas. Trata-se do disco de uma banda que sempre que podia, falava bem de outras bandas, que tinha personalidade e muito talento. Nevermind é a obra prima, mas tudo que o Nirvana lançou é bom demais. Bleach, Incestcide, In Utero, Unplugged in NY, os singles, discos ao vivo, bootlegs… não tem coisa ruim. É por isso que a morte de Kurt Cobain em 5 de abril de 1994 ainda é sentida e lembrada até hoje. E enquanto existirem jovens descontentes com guitarras na mão, continuará sendo.

Photo by: Charles Peterson

Vai fundo!

Para ouvir: Todo mundo conhece os clássicos do Nirvana. Mas tem muita coisa nas beiradas de toda a obra da banda que é genial e merece ser ouvida. Por isso, fizemos um top 10 tracks Nirvana que fogem do óbvio.

Para assistir:Tem muito material interessantíssimo sobre o Nirvana. Vou citar dois: Primeiro o home vídeo Nirvana Live! Tonight! Sold Out! que conta toda a trajetória da banda até a morte prematura de Kurt Cobain. O outro é o documentário Montage of Heck, que se presta a contar a história do Kurt Cobain através de sua própria obra e com vídeos e gravações cedidos pela família. Inclusive a produção é assinada pela Frances Bean Cobain, filha de Kurt.

Para ler: Claro! A indispensável biografia de Kurt Cobain  Heavier than Heaven, escrita pelo jornalista Charles R. Cross. Um livro completíssimo, super bem escrito e delicioso de se ler. Livro essencial para quem gosta de música.

Fazer Mais!

Fazer Mais!

Não dá pra ter limite. A gente sempre tem que querer mais, ser mais, fazer mais. Não é porque você faz bem determinada coisa, que você vai se limitar a fazer só essa coisa. Sócrates, Wladimir, Casagrande e Zenon eram jogadores de futebol, jogar bola era o que eles faziam de melhor. Mas eles fizeram mais e usaram o futebol pra promover ideias de democracia e igualdade num período turbulento da nossa história. Em 1982 a Democracia Corinthiana mostrava para um país sob um regime ditatorial que as coisas podiam ser melhores se o povo tiver liberdade de escolha.

E o John Lennon então! O negócio dele era compor e tocar canções, certo? Claro! Mas ele também quis fazer mais. Em 1969 botou nas ruas de algumas cidades do mundo a campanha War is Over. Além de colar centenas de cartazes, lambe lambes e outdoors com os dizeres “War is Over if you want it”, John e Yoko deram várias entrevistas coletivas para falar sobre paz, direitos humanos e o fim da Guerra do Vietnã.

Enfim, histórias não faltam de pessoas que quiseram fazer mais e ainda fazem a diferença na sociedade. É muito legal perceber que dá pra fazer mais fazendo o que a gente sabe fazer de melhor. É assim que a Strip Me, produzindo camisetas sensacionais, também encontrou uma forma de fazer mais. Aliás, sempre esteve no DNA da Strip Me integrar, transmitir um estilo de vida cosmopolita que abraça a diversidade e a cultura. Uma marca que se orgulha de suas origens, que incentiva a produção local, a sustentabilidade e novos talentos. Mas ainda dá pra fazer mais! Por isso a Strip Me faz doações a cada venda realizada no site.

Funciona assim: A Strip Me auxilia 4 ONGs diferentes. Quando você faz uma compra no site da Strip Me, uma parte do valor é doado para uma dessas organizações. Para quem está comprando, não muda nada, não tem alteração de valor. O que acontece é que quem está comprando pode escolher o destino dessa doação. Ou seja, você pode escolher se esse dinheiro vai para o combate à fome ou para a proteção aos animais, por exemplo. As ONGs beneficiadas lutam por causas nas quais a Strip Me também acredita.

A ABCP, Associação Beneficente e Comunitária do Povo, surgiu em 2007 na cidade de São Paulo com o objetivo de amparar pessoas em situação de rua, bem como oferecer educação e moradia e esperança, para que essas pessoas sejam integradas à sociedade com dignidade. A ONG realiza projetos como o PopRua, auxiliando famílias, crianças e adolescentes, gestantes em situação de vulnerabilidade e famílias em processo de adoção, por meio de atendimentos sociais, concessões de cestas básicas, palestras, cursos de capacitação e oficinas de esportes e cultura. As doações da Strip Me neste caso são revertidas em cestas básicas. www.abcpovo.org.br

A Endeleza é uma organização brasileira que atua na África promovendo educação, alimentação e qualidade de vida. O nome vem do swahili, língua nacional do Quênia, e significa prosperidade. A educação, o empoderamento e a sustentabilidade formam a base dessa ONG que atua no Quênia com um centro de desenvolvimento humano e uma escola primária sustentável onde crianças e adolescentes desfrutam de alimentação e educação. Só a Strip Me já ajudou a servir 1235 refeições até agora E esse número vai crescer ainda mais com o tempo! www.endeleza.org

O Instituto Clélia Angelon surgiu em 2006 levantando bandeiras como a defesa dos direitos humanos, defesa dos animais e preservação do meio ambiente. É uma organização que busca construir uma sociedade mais justa e consciente. Para isso, cria, desenvolve e apoia vários projetos que visam a igualdade, a preservação do meio ambiente, os direitos humanos e dos animais, além de difundir os ideias da sustentabilidade e do veganismo. Aqui as doações da Strip Me são convertidas em mudas de hortaliças que são plantadas e cultivadas pela ONG. www.facebook.com/institutocleliaangelon

O Grupo Escoteiro Ipê Amarelo é uma entidade sem fins lucrativos, filiado à União dos Escoteiros do Brasil e declarado de Utilidade Pública no Município de São José, no estado de Santa Catarina. Através da filosofia do escotismo, o Grupo Ipê Amarelo promove o desenvolvimento do caráter, senso de civilidade, saúde física e intelectual de crianças e jovens na faixa etária de 5 a 21 anos, além de promover vários projetos e campanhas assistenciais e de cunho ambiental. Aqui as doações da Strip Me são destinadas a custear campanhas e atividades do Grupo Escoteiro. www.ipeamarelo.org

Todas essas ideias incríveis e super valiosas a Strip Me assina embaixo e faz sua parte para que elas se mantenham vivas e floresçam cada vez mais. Em meio a tanta confusão e coisa ruim que rola mundo afora, é bom demais saber que tem gente remando pro lado certo, acreditando na vida. Melhor ainda é saber que cada um de nós também está fazendo a sua parte. A desigualdade, fome, crimes ambientais, crueldade contra animais e falta de educação e cultura são a nossa guerra. E ela pode acabar, se você quiser.

Vai fundo!

Para ouvir: Uma playlist inspiradora com canções que transmitem, representam e divulgam todos os nossos ideais. Top 10 tracks para fazer mais!

Para assistir: O documentário One Strange Rock é brilhante. Mostra vários aspectos intrigantes, assustadores e maravilhosos dessa bolota que gira no espaço, e que a gente chama de planeta Terra. Além de muita informação e imagens incríveis, este doc conta com a narração bem humorada de Will Smith. Vale a pena conferir. Tem no catálogo da Disney Plus.

Imunização Racional

Imunização Racional

É muito famoso o episódio em que os Beatles, entre outros artistas famosos, foram até Rishikesh, na Índia, para um retiro espiritual baseado nas tradições hindus de meditação. A estadia dos Beatles por lá acabou mal, numa situação que já apareceu em tantas versões diferentes, inclusive por parte dos rapazes de Liverpool, que ninguém sabe exatamente o que aconteceu. Supostamente, o guia espiritual Maharish Mahesh Yogi, que era muito admirado por todos e se dizia casto e livre de pensamentos mundanos e das drogas ou sexo, havia tentado abusar sexualmente da atriz Mia Farrow durante o retiro. Lennon e Harrison se revoltaram e foram questionar o guru. Após da discussão, os Beatles abandonaram o retiro acusando o Maharish de ser mentiroso, de se fazer valer da fama da banda para se divulgar e etc. Isso aconteceu em 1968. No início dos anos 1970, quando os Beatles se separaram, essa história já era conhecidíssima em todo o mundo. Mas aparentemente, o cantor brasileiro Tim Maia, se soube dessa história, não prestou muita atenção. Ainda bem.

Crédito: Imagem de Divulgação do artista

Em 1974 Tim Maia já tinha 3 discos de sucesso estrondoso no currículo. Mas além de ser conhecido pela música, Tim Maia também era famoso por ser um puta louco, que não media esforços para consumir uma dieta farta em comidas altamente calóricas, muito álcool, nicotina e todo o tipo de drogas imagináveis. Naquele ano, em uma de suas costumeiras visitas a seu amigo Tibério Gaspar, Tim Maia, que estava viajando de mescalina, viu jogado na sala de Tibério um livro. Ele pegou e começou a folhear, se interessou, levou pra casa e o leu inteiro. Por alguma razão desconhecida, aquele livro fez todo o sentido na cabeça de Tim. O livro era O Universo em Desencanto .

Crédito: Acervo da família

Pra resumir, esse livro dizia o seguinte: Nós, humanos, não somos originalmente da Terra. Somos do planeta Racional Superior, e estamos exilados na Terra. Aqui estamos animalizados, sujos e magnetizados por forças negativas. Todos precisamos alcançar a imunização racional, que só pode ser alcançada lendo e seguindo os ensinamentos do livro O Universo em Desencanto. Uma vez imunizados, estaremos prontos para que os discos voadores venham nos buscar e nos levar para nosso planeta de origem. Só mesmo o Tim Maia louco de mescalina pra cair numa patacoada dessa! Mas ele não só caiu, como forçou toda a sua banda a entrar na mesma onda. Dali por diante, todo mundo só poderia usar roupa branca, porque muitas cores nos magnetizam, ninguém mais pode beber, fumar, cheirar, fazer sexo sem fins de reprodução e nem comer carne vermelha.

Crédito: Imagem de divulgação do artista

Claro que a banda não gostou nada da brincadeira. Mas, a princípio, todo mundo  fingia que estava seguindo tudo direitinho, porque eles estavam produzindo um som inacreditável. Tim Maia vinha de um fim de relacionamento que o devastou, mas o deixou muito criativo. Além do mais, ele estava ouvindo feito louco Curtis Mayfield, Isaac Hayes, Sly & Family Stone… e produzindo canções inspiradíssimas, influenciadas por essa turma. Quando pintou o lance Racional, Tim Maia simplesmente pegou essas canções incríveis que tinha escrito, colocou letras falando única e exclusivamente sobre imunização racional e o O Universo em Desencanto. Gravou assim o Tim Maia Racional. Com o disco pronto, Tim levou até sua gravadora para que fosse prensado e distribuído. Óbvio, que a gravadora não aceitou. Todo mundo admitia a qualidade musical da bolacha, mas as letras das músicas  faziam do disco um suicídio comercial. Tim Maia, então, abandona a gravadora, cria seu próprio selo, a Seroma Discos, e lança de forma independente Tim Maia Racional Vol1 e Vol2. Vale dizer também que, sob a filosofia Racional, Tim Maia parou de beber, fumar, usar drogas e comer carne vermelha. Ele emagreceu e sua voz ganhou uma potência e brilho assustadores. A performance vocal dele nessa época é de arrepiar.

Acontece que esse papo chato de imunização racional era dose mesmo. Ninguém aguentava. Mas o Tim Maia trabalhava incansavelmente em prol da causa Racional. Mas a vida dele só piorava. Ele estava sem dinheiro, a mulher o abandonou (de novo), estava sem gravadora, os músicos estavam de saco cheio e também ameaçavam deixar a banda… até que em setembro de 1975, já há um ano insistindo nessa maluquice, Tim Maia acordou com uma puta vontade de comer uma picanha mal passada, tomar cerveja e fumar um baseado (não necessariamente nessa ordem). Foi ter uma conversa com o guru da parada, o seu Manuel Jacintho Coelho, ninguém sabe o que exatamente foi dito, mas Tim Maia saiu de lá irritado, foi pro seu apartamento, botou fogo na suas roupas brancas, mandou quebrar todos os discos que ainda não tinham sido vendidos e, peladão, enquanto suas roupas pegavam fogo, gritava da sua janela um caminhão de palavrões dirigidos ao guru Racional.

Crédito: Imagem de divulgação do artista

A vida voltou ao normal, Tim Maia na sua dieta de sempre, voltou a compor canções pop de altíssimo nível e acabou transformando seus discos da fase Racional em verdadeiras relíquias da música brasileira. Como ele ficou puto (com razão) com tudo que aconteceu, nunca mais falou no assunto e deu fim nos discos, que se tornaram raríssimos. Depois da morte de Tim Maia em 1998, os dois discos da fase racional foram redescobertos, viraram cults e os poucos discos existentes começaram a aparecer sendo vendido por mais de 2 mil reais. Mas não acaba aí. Ninguém sabia, mas estava guardado num estúdio pequeno no Rio o Tim Maia Racional Vol3. As fitas foram gravadas pouco antes de Tim Maia deixar a seita e ficaram guardadas nesse tal estúdio porque Tim Maia não havia pago pelas horas de gravação, e o dono não liberou as gravações pro Tim. Em 2011 o músico e produtor carioca Kassim pegou esse material bruto, deu um talento e disco foi finalmente lançado.

Crédito: Sonia D’Almeida

O que a gente mais precisa nos dias de hoje é imunização. E quem precisa ser racional são os governantes. Mas tá difícil, né. Enquanto a nossa imunização não chega (sem falar na racionalidade do governo), o jeito é esperar de boa. Vai que a Cultura Racional tá certa e a gente acaba vendo algum disco voador por aí. Aliás, não sei se você sabe, mas na música mais famosa dessa fase, a clássica, Imunização Racional (Que Beleza), Tim Maia não canta meros “uh uh uh, que beleza”. Mas sim ele canta “UFO UFO UFO, que beleza”. Pega pra ouvir com calma, com o fone de ouvido que você vai se ligar. Por essa nem o Fox Mulder esperava, hein… então a gente finaliza por aqui. A verdade está lá fora. De máscara, claro.

Vai fundo!

Para ouvir: Aquela playlist imunizada no capricho! Selecionamos o que há de melhor nos 3 volumes do Tim Maia Racional. Um Top 10 Tracks Tim Maia Racional.

Pra ler e assistir: Não dá pra deixar de recomendar a biografia do Tim Maia escrita de forma deliciosa pelo Nelson Motta. Vale Tudo: O Som e a Fúria de Tim Maia é um livro sensacional que conta todos os causos, a obra e a trajetória da vida do Tim Maia. E o filme Tim Maia, lançado em 2014, dirigido pelo Mauro Lima tem o roteiro adaptado do livro do Nelson Motta. E, olha, o filme tá disponível no catálogo da Netflix.

Perfil Collab STM: Adão Iturrusgarai

Perfil Collab STM: Adão Iturrusgarai

Não tem nada mais controverso, apaixonante, provocante e original do que o humor!  Pode se teorizar em cima o quanto for, tentar impor limites, regras… o humor de verdade só funciona quando incomoda, quando te faz rir e pensar ao mesmo tempo. Exemplo disso é a obra inteira do Adão Iturrugarai. Cartunista, roteirista, escritor e artista visual, sempre com um pé na comédia, quando não com o corpo todo. Não é à toa que um artista desse naipe faz parte dos collabs da Strip Me.

O Adão nasceu em Cachoeira do Sul, cidade gaúcha localizada no centro do estado, na região conhecida como Depressão Central, onde o relevo é de baixa altitude. Inserido em plena depressão central, Adão não viu outra opção senão ser humorista e contrariar tudo que estivesse ao seu alcance. Pra ajudar ainda tinha o rock n’ roll, que também servia de incentivo a rebeldia. Adão achou no desenho a sua voz, e desenhava em tudo quanto é lugar. Calçadas, muros, paredes do banheiro da escola… às vezes até numa folha de papel. Tudo isso de caso pensado, sabendo que ia incomodar.

As primeiras referências vieram do legendário Pasquim com seu humor crítico e os desenhos do genial Henfil. Mas a parada mudou mesmo quando tomou contato com o Angeli, Laerte, Glauco… aquela geração de artistas que realmente revolucionou o cartum brasileiro. Com eles, vieram as obras de Robert Crumb e Gilbert Shelton, e Adão realmente achou seu caminho. Claro, tudo isso misturado ao rock n’ roll e ao cinema, que já era uma paixão, aqueles filmes franceses da nouvelle vague e tal. Tudo isso moldou um artista de personalidade forte e muito plural. Tanto que, além do desenho, Adão já trampou como roteirista em programas como o divertido TV Colosso e o ótimo Casseta e Planeta, ambos na Globo dos anos 1990.

Mas o Adão é conhecido mesmo pelos desenhos. Criou personagens emblemáticos como a dupla Rocky & Hudson, cowboys gays que precederam o famoso filme Brokeback Mountain, e a Aline, uma mocinha bem libertária, pra dizer o mínimo. Nos anos 1990 chegou a editar uma revista, além de participar de publicações como a Chiclete com Banana, do Angeli. Ah, inclusive ele participou como um quarto amigo no clássico trio Los Tres Amigos (Angel Villa, Laerton y Glauquito). De lá pra cá, seus cartuns, charges e tiras ilustram publicações brasileiras e de vários outros países na América Latina e Europa.

E foi essa mistura de inquietação, cultura pop, rebeldia e rock n’ roll que ligou o Adão Iturrusgarai com a Strip Me. Sempre ligado em ícones pop, Adão sempre curtiu fazer releituras de obras famosas e capas de discos, desenhos que funcionaram perfeitamente como estampas de camisetas. Depois de recriar capas de discos como Nevermind, Velvet Underground and Nico, Goo, entre outros, Adão viu que o Abaporu dava pano pra manga. Aí vieram várias versões incríveis e divertidíssimas deste ícone do modernismo antropofágico brasileiro. Aliás, total antropofágicas artisticamente essas versões do Adão.

O Adão é um baita artista massa, que a Strip Me se orgulha demais de ter como collab. Com certeza um dos cartunistas mais importantes do Brasil, criativo e questionador, que deixou para trás a depressão central em que vivia quando jovem, para hoje desfrutar de caminhadas matutinas, onde seu cérebro incansável fervilha de ideias que serão colocadas no papel ou não). Pra conhecer o trampo do Adão além das estampas da Strip Me, você pode acessar o site dele que tem muito conteúdo legal e também o Instagram.
iturrusgarai.com
@adaoiturrusgarai

Vai fundo!

Para ouvir: Claro que a playlist deste post foi concebida pelo próprio Adão. E como o bicho é do contra, acabou selecionando 11 canções, ao contrário das costumeiras 10 tracks. Mas tudo bem, a gente acabou liberando diante das ótimas escolhas que ele fez. Confere aí o Top 10+1 tracks do Adão.

Caetano Veloso

Caetano Veloso

O Caetano Veloso é um dos artistas mais surpreendentes do cenário musical brasileiro. Não é exagero, é fato. Porque a verdade é que poucas pessoas conhecem a obra e a vida do Caetano com profundidade suficiente. De maneira geral, as pessoas conhecem fragmentos dele. E são muitos fragmentos! Há quem o conheça por suas canções mais famosas, como Sampa, Leãozinho, Você é Linda e etc. Uma turma mais descolada, conhece o Caetano tropicalista e vanguardista dos discos Transa e Araçá Azul. A turma menos ligada em música e mais conservadora, conhece ele por seu polêmico casamento e seu posicionamento político. E a turma mais nova, que já nasceu com a internet na ponta dos dedos, talvez não conheça nada de sua vida e obra, mas o conhece pelo já clássico meme “Você é burro, cara.”. Sem falar que é um artista tão emblemático que seu nome já virou verbo, desde muito criança tinha um gosto musical inusitado, ajudou a conceber e divulgar o axé music e o carnaval dos trios elétricos de Salvador, já fez um disco à partir de uma improvável inspiração numa barulhenta banda alternativa norte americana… olha, é tanta história!

Caetano Veloso (1967)

Caetano Emanuel Vianna Teles Veloso nasceu em Santo Amaro da Purificação, interior do estado da Bahia, no dia 07 de agosto de 1942. Filho de José Veloso e Dona Canô. foi o quinto dos sete filhos do casal.  Quando Caetano tinha 4 anos, sua mãe deu a luz a uma menina. Os pais então pediram para que cada um dos 5 irmãos da recém nascida escolhesse um nome, que seria, cada nome, escrito num papel e depois sorteado igual amigo secreto. Na época, Caetano, mesmo muito novinho, já escutava muito rádio e adorava os boleros sofridos que faziam sucesso na voz de Nelson Gonçalves. Uma desses boleros era a canção chamada Maria Bethânia. O garoto adorava a música e escolheu aquele nome para sua irmã. Acabou que foi este o nome sorteado pelo pai. Maria Bethânia acabou se ligando a música e se tornou uma das cantoras mais respeitadas do país no futuro.

Transa (1972)

Caetano Veloso cresceu ouvindo Nelson Gonçalves, Luis Gonzaga e Orlando Silva. Aos dez anos já fazia aulas de piano e começou a alimentar a ideia de viver de música. Com 16 anos foi um dos tantos jovens impactados pelo revolucionário disco Chega de Saudade, de João Gilberto. Em 1965 conheceu Gilberto Gil e Gal Costa. Um ano depois passou a participar dos festivais de música com suas composições e se ligar a outros músicos como Tom Zé, Rogério Duprat e Os  Mutantes. Nascia assim o Tropicalismo, movimento bicho grilagem dos trópicos que já foi contado em detalhes aqui. Nessa mesma época, Caetano se encantava com o carnaval de rua de Salvador, com seus blocos que misturavam tradições africanas com instrumentos contemporâneos. Essa música diferente era tocada em carros de som, depois chamados trios elétricos. Dodô e Osmar desenvolveram a guitarra baiana, uma guitarra de tamanho reduzido, uma espécie de cavaquinho de corpo maciço e com captadores, que protagonizavam os grupos. Um dos trios mais famosos era o dos Novos Baianos. Encantado com essa festa toda, Caetano compõe a famosa Atrás do Trio Elétrico, um dos sucessos do seu terceiro disco, lançado em 1969. A toada empolgante e melódica de Atrás do Trio Elétrico iria contagiar jovens como  Luiz Caldas, que iriam tornar o carnaval da Bahia nacionalmente famoso e dar início ao movimento que ficaria conhecido como Axé Music na década seguinte.

O tropicalismo já deixava claro que Caetano tinha em seu dna o rock n’ roll, ainda que não fosse um gênero presente em sua formação musical, mas que foi incorporado com muita naturalidade ao conviver com músicos tão diferentes. Em 1969 Caetano e Gil foram presos e exilados. Acabaram indo para Londres, onde ficaram até 1972. Na capital inglesa Caetano gravou dois discos: Caetano Veloso, lançado em 1971 e Transa, lançado em 1972. Em ambos os discos, se misturam letras cantadas em inglês e português, além de muitas referências  do rock e pop, influências que permaneceriam e dariam as caras ao longo de toda a obra futura do compositor. O disco Transa inicia uma fase que é considerada por muitos a mais inspirada de Caetano, que se estende até 1977. Neste período estão, além de Transa, os discos Araçá Azul, Qualquer Coisa e Jóia.

Bicho (1977)

No fim dos anos 1970 e começo os 1980, Caetano se reinventa, monta uma banda de apoio nova e incorpora sonoridades modernas, do pop e discothèque. Por isso foi muito criticado, mas lançou ótimos trabalhos, sem deixar de lado a brasilidade que faz parte de sua personalidade. Tanto é que é nessa época que foram lançados alguns de seus maiores sucessos, a dançante Odara e a bossanovista Sampa. Nos anos 1990 mais uma virada. A gravadora passou a insistir que ele gravasse um disco com suas músicas vertidas ao espanhol, para alcançar o púbico latino, Caetano se recusa, preferindo gravar um disco dedicado a este público somente com músicas latinas de compositores latinos, canções que ele sempre gostou. É lançado então Fina Estampa em 1994, disco com músicas belamente arranjadas por Jacques Morelenbaum. Uma das canções gravadas nessa fase entrou na trilha sonora do ótimo filme Fale com Ela, do Almodóvar. Em 2009 Caetano dá outra guinada em sua carreira. Passou a tocar com jovens de vinte e poucos anos, amigos de Moreno Veloso, um de seus filhos. Em uma noite, um desses rapazes colocou pra tocar um disco dos Pixies enquanto todos batiam papo na sala. Caetano pirou no disco e quis fazer um disco mais rock n’ roll, lançando naquele ano o esquisito disco Zii & Zie.

Tá vendo, é muita história que esse cara tem. Um baita compositor, sempre se reinventando e influenciando muita gente! Um dos artistas que mais foi influenciado pelo Caetano foi o músico e compositor Djavan, que acabou o homenageando de maneira inusitada, transformando o nome do baiano num verbo. Trata-se da música Sina, um dos maiores sucessos de Djavan, que contém os versos “Virá lapidar o sonho até gerar o som. Como querer caetanear o que há de bom”. Claro, vale dizer que Djavan rivaliza de igual para igual com Jorge Benjor quando se trata de escrever letras de música que não fazem o menor sentido. Mas enfim, não deixa de ser uma homenagem do Djavan ao Caetano. Da mesma maneira, não dá pra negar que Caetano deu algumas bolas fora ao longo de sua trajetória. Afinal, não dá pra aguentar a melosa e breguíssima Sozinho, bem como a interpretação sofrível que ele fez para Come As You Are, do Nirvana, no disco A Foreign Sound, de 2003.

Zii & Zie (2009)

Mas Caetano Veloso é um baita artista, que merece ser reverenciado por tudo que já fez na música brasileira. Com certeza conhecer cada um dos seus fragmentos, suas fases e sua obra por inteiro vai te surpreender mais do que você imagina!

Vai fundo!

Para ouvir: Uma playlist cremosa com o que há de melhor de cada fase do Caetano Veloso! Confere lá nossa playlist Caetano Veloso – Top 10 tracks.

Para assistir: A história do envolvimento do Caetano com o carnaval da Bahia e os trios elétricos é muito bem retratado no excelente documentário Axé: Canto do Povo de um Lugar, lançado em 2016 e dirigido por Chico Kertész. Além da relação de Caetano com o axé, o doc é interessantíssimo e oferece uma perspectiva profunda sobre o tema. Tem na Netflix e eu recomendo demais.

Para ler: Um dos principais cronistas da música popular brasileira entre as décadas de 1960 e 1980 é o jornalista Nelson Motta. Entre tantos livros que ele escreveu, o Noites Tropicais é o meu favorito. Uma coletânea de crônicas e memórias do autor sobre os mais inacreditáveis, engraçados e curiosos acontecimentos do mundo musical. O livro é da editora Ponto de Leitura e foi lançado em 2009. Leitura agradabilíssima e enriquecedora.

Este e outros Carnavais.

Este e outros Carnavais.

O carnaval é parte essencial da identidade do Brasil. Não há como negar. Você pode não gostar de samba, de folia, de multidões pelas ruas… mas ainda que você simplesmente aproveite esses dias de feriado para ir para uma cachoeira no meio do mato, ou ficar em casa lendo livros ou vendo filmes, o carnaval já te influenciou também. Sem falar que o carnaval está aqui desde os tempos do descobrimento e ajuda a contar a história do país! As marchinhas, sambas e sambas enredo são verdadeiras crônicas de sua época. E, em alguns casos, os compositores desses sambas acabaram se tornando grandes ícones, extremamente influentes, da música e cultura popular brasileira.

Carnaval Rio de Janeiro circa 1950 – Photo by Marcel Gautherot

De cara, já vamos falar do ilustre Angenor de Oliveira. Nascido em 1908, o nome escolhido pelo seu Sebastião e dona Aida de Oliveira, pais do bebê, era Agenor. Mas na hora do registro no cartório, acabou saindo Angenor. Mas isso ninguém ficou sabendo. Porque todo mundo chamava ele de Agenor mesmo na infância. Morando no bairro das Laranjeiras, o menino ganhou um cavaquinho aos 8 anos de idade e já saiu pela rua acompanhando os blocos que rolavam por lá. Quando ele já era adolescente e torcedor do Fluminense, a família, com problemas financeiros, se mudou para um favela que começava a se desenvolver no morro da Mangueira. Lá fez amizade com um jovem um pouco mais velho chamado Carlos Cachaça. Para levantar um dinheiro, Angenor começou a trabalhar como ajudante de pedreiro.  Para evitar chegar em casa todo dia com o cabelo sujo e cheio de cimento, ele trabalhava usando um velho chapéu de seu pai, o que lhe rendeu o eterno apelido de Cartola. Com Carlos Cachaça, Cartola não só compôs grandes canções como também fundou a Estação Primeira de Mangueira, escola de samba mais emblemática do país.

Cartola com as premiações da Mangueira em 1969 – Photo by Maureen Bissiliat

Na mesma época em que Cartola escrevia seus primeiros sambas na Mangueira, em outro bairro do Rio de Janeiro, outro jovem se destacava como grande compositor de sua comunidade. No bairro de Vila Isabel, em 1910 dona Marta Rosa teve um parto complicadíssimo, em que se fez necessário o uso do fórceps para salvar as vidas da mãe e do bebê. Como se não bastasse, o rebento ainda nasceu com hipoplasia, uma má formação da mandíbula. O que fez com que ele crescesse com uma fisionomia muito particular. Por nascer em dezembro, perto do Natal, o nome escolhido pela dona Marta e seu Manuel Rosa foi Noel. A família Rosa não era rica, mas tinha uma vida confortável. Noel estudou no famosos Colégio de São Bento, mas apesar de demonstrar ser muito inteligente, era avesso aos estudos, que trocou facilmente pela música e a vida boêmia. Seu primeiro sucesso veio em 1930, o clássico Com que Roupa Eu Vou? Seus sambas passaram a ser gravados pelos maiores nomes do rádio e embalavam os blocos de carnaval de todo o Rio de Janeiro e, posteriormente, do Brasil. Mas para Noel Rosa a festa durou pouco. Dado aos excessos, morreu de tuberculose aos 26 anos de idade.

Noel Rosa em ensaio fotográfico de 1934 – Photo by Arquivo Nirez

Aliás, é importante dizer que esse lance de escola de samba é coisa nova, do começo do século XX. Porque o negócio antes era só bloquinho de rua mesmo. E era uma loucura. Você já sabe que o carnaval é uma festa que remonta a tempos antigos, muito antes do cristianismo. Em 520 a.C. já rolava a Saceia, na Babilônia, uma festa em que por 5 dias os principais criminosos condenados a morte eram considerados reis e tinham todos seus desejos atendidos, até que no quinto dia, eles era torturados e mortos. Depois vieram as festas gregas e romanas como a Saturnália, no Egito tinham as festas em homenagem a deusa Isis, deusa da fertilidade… eram todas festas de liberou geral, muito vinho, aglomeração e etc. Até que veio o cristianismo. Por volta do século VII o Papa Gregório Magno instaurou a festa de carnis nevale, do latim se traduz como negação da carne ou proibição. Ou seja, era um dia de preparação, em que se consumia muita carne, para que se ficasse os próximos quarenta dias sem comer nada de origem animal, a famosa quaresma que antecede a páscoa. A turma reclamou que um dia era pouco, o vaticano deu o braço a torcer e viraram três dias, e era uma festa daquelas! E lógico que isso chegou no Brasil junto com os portugueses, que eram um povo muito católico. As primeiras cidades brasileiras foram Salvador, Olinda e Rio de Janeiro, cidades que mantém até hoje a tradição inabalável do carnaval.. Com essa tradição católica, misturou a cultura indígena e africana, em Pernambuco o Maracatu começa a ser desenvolvido, como você já leu aqui… e cá estamos nós hoje.

Carnaval de rua no Rio de Janeiro da década de 1950 – Photo by José Medeiros

Cá estamos nós hoje sem carnaval, aliás, né! Mas tudo bem. Não é a primeira vez que o Brasil fica sem carnaval. Já passamos por isso em 1892 e 1912. Mas isso é outra história. Até porque se é pra falar de história, vamos falar do carnaval de 1919! Esse sim! O carnaval mais triunfante, arrebatador e alucinante de todos os tempos! Foi o carnaval que comemorou o fim da Gripe Espanhola. Depois de um ano e meio de confinamento, sofrimento, morte, falta de remédio, falta de vacina, falta de ação do governo… finalmente a epidemia da Gripe Espanhola estava controlada e todos podiam sair às ruas! A alegria era tanta que os foliões invadiam as casas por onde passavam arrastando os moradores para a rua para pular o carnaval!

Capa da Gazeta de Noticias sobre o carnaval de 1919

O carnaval deste ano, que não existiu, já passou. Falta pouco pra gente poder sair por aí, aglomerar gostoso e fazer folia, cada um do seu jeito. A gente não vê a hora de fazer o nosso carnaval! Seja no bloquinho de rua ou na cachoeira. Diversão e arte, e os melhores rolês, Strip Me vai estar sempre presente.

Vai fundo!

Para ouvir: A gente falou de Cartola e Noel Rosa, mas são muitos os nomes fundamentais no samba e carnaval. Lamartine Babo, Haroldo Lobo, Chiquinha Gonzaga, Martinho da Vila, Adoniran Barbosa… tudo isso você confere na nossa playlist carnavalesca. Top 10 tracks do bom e velho carnaval.

Para assistir: No texto sobre bossa nova, publicado aqui anteriormente, foi citada a peça Orfeu Negro, escrita por Vinícius de Moraes com música de Tom Jobim. Pois em 1999 foi lançado Orfeu, filme de Cacá Diegues que faz uma releitura da obra de Vinícius de Moraes. O filme é ótimo e, entre outras qualidades conta com uma ótima trilha sonora sob o comando de Caetano Veloso. Não é um filme tão fácil de achar, mas vale o esforço.

Para ler: Com certeza um dos melhores livros que li até hoje é a biografia de Adoniran Barbosa, o mestre do samba paulista. Adoniran – Uma Biografia, escrito por Celso de Campos Jr é um livro excelente! Lançado em 2004 pela editora Globo, este livro apresenta não só a história detalhada da vida de Adoniran Barbosa, como entrega um panorama da comunicação no Brasil, o rádio e o surgimento da televisão. Livro recomendadíssimo!

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