Giorgio by Moroder by Strip Me

Giorgio by Moroder by Strip Me

Essencialmente a arte pode ser compreendida como uma transformação. Seja qual for o propósito, seja qual for a inspiração, seja qual for o sentimento. Sendo assim, não existe nada permanente na arte, sequer ela própria. A transformação promovida pela arte se dá em qualquer aspecto possível. Por exemplo, a arte pode pegar a realidade e distorcê-la, enchê-la de ruídos e entregar uma pintura abstrata, uma poesia concreta ou uma música dodecafônica. Da mesma maneira, a arte pode se fazer valer de padrões estabelecidos, para corrompe-los e criar algo novo. Foi assim que surgiu, por exemplo, a ainda pouco compreendida música eletrônica.

Acredite, a música eletrônica não começou com o Kraftwerk. Sua origem é bem mais antiga. Em 1948 foi lançada a obra Étude aux chemins de fer. Uma gravação feita à partir de repetições, sobreposições de gravações e efeitos como reverb. O autor foi o compositor francês Pierre Schaeffer, um visionário que entendeu o potencial de um estúdio de gravação. Schaeffer foi o primeiro compositor a usar fitas magnéticas como técnica de gravação. Até então, as gravações eram feitas direto em acetatos (o pai do disco de vinil). Na sua cola vieram o compositor erudito alemão Stockhausen com ideias inovadoras  de ritmos, melodias e uso de instrumentos improváveis. Outro nome fundamental é o norte americano John Cage, que se fez valer de instrumentos que apareciam como grande novidade no fim dos anos 50,como o famoso Moog. Só então, juntando tudo isso, com a tecnologia que se desenvolvia em larga escala nos anos 70, é que o Kraftwerk deu o pontapé inicial na música eletrônica propriamente dita, com o clássico Autobahn, de 1974. Mas peraí! Falta um elemento fundamental nessa história toda. Um elemento vindo da Itália.

Claro que não dá pra falar de música eletrônica sem falar do legendário Giorgio Moroder. Produtor prolífico, Moroder se destacou ao lado de Donna Summer, produzindo vários discos da diva da disco. Entre eles o clássico álbum I Remember Yesterday, de 1977, onde está a emblemática I Feel Love, talvez a música mais conhecida da cantora. O que torna esta faixa tão especial é que ela tem seu arranjo todo executado por sintetizadores. O próprio Moroder já declarou em uma entrevista que o único instrumento utilizado além de sintetizadores é um bumbo. Não uma bateria completa. Só o bumbo. Nos discos seguintes de Donna Summer, Moroder continuou explorando os sintetizadores e criando arranjos inovadores e dançantes que fizeram história. Working The Midnight Shift, Journey to the Center of Your Heart, Lucky e Hot Stuff são ótimos exemplos. Entretanto, no início dos anos 80, Donna Summers trocou de gravadora e a parceria com Moroder chegou ao fim. Mas ela manteve o alto nível e passou a contar com a produção de ninguém menos que Quincy Jones.

Apesar de ser o que mais lhe deu notoriedade, a trajetória de Giorgio Moroder não se resume aos discos de Donna Summer. O cara já trabalhou com a nata do pop. Cher, Bowie, Freddie Mercury, Barbara Streisand, Blondie, Sigue Sigue Sputnik, Cheap Trick, Bonnie Tyler, Liza Minelli, Elton John, Roger Daltrey, Nina Hagen… a lista é longa! Além do trampo como produtor, Moroder também lançou vários discos já na onda dos sintetizadores, criando texturas sonoras impressionantes. As faixas From Here to Eternity e E=MC² demonstram uma inventividade e bom gosto impressionantes. Inclusive com seu trabalho como compositor, ele está em atividade até hoje, com 81 anos de idade e 50 de carreira na música. E não pense você que ele perdeu a mão ou ficou ultrapassado.

Sempre se cercando de talentos de seu tempo, seus últimos trabalhos solo contaram com parcerias de peso como Kyle Minogue, Britney Spears, Sia, Charli XCX, Foxes, entre outros. E são trampos realmente bons. Fora isso, Moroder ainda produziu algumas algumas trilhas sonoras de filmes bem marcantes, como  Flashdance, Scarface, Um Tira da Pesada, Top Gun… e recentemente ele escreveu a trilha sonora de um jogo do universo do filme Tron, o game TRON RUN/r. O homem não pára! É incansável!Com uma história e uma obra dessas, esse cara merece uma homenagem digna dos seus feitos. Ainda bem que isso já foi providenciado.

Lógico que estamos falando da dupla mais descolada que já apareceu por essas bandas nos últimos 20 anos. Daft Punk! No genial disco de 2013, Random Access Memories, Giorgio Moroder não só colaborou na produção do álbum, como se faz presente intitulando uma das músicas, onde sua história é brevemente contada entre melodias sintéticas e uma deliciosa batida. Ninguém duvida que Random Access Memories é a obra prima e definitiva da Daft Punk. E não é para menos! Além da óbvia criatividade e talento da dupla, comprovado em toda sua obra, neste disco eles ainda contam com participações especialíssimas e conseguem revisitar as origens da música eletrônica e suas próprias referências sem soar nostálgico ou datado. As músicas tem um frescor pop, são modernas e mostram nos detalhes os arranjos timbres e harmonias que soam vintage, porém sofisticadas.

A música eletrônica é a síntese a arte em transformação. É a música sem barreiras. É o jazz que se transforma em trance e trip hop, é o punk e hardcore que se transforma no jungle e drum ‘n bass, a disco que se transforma no house. Um estilo se alimentando do outro, inspirando, provocando, devorando. Cá estamos nós, mais uma vez sendo antropofágicos na vida e na arte. Essa é total a onda da Strip Me, o lugar certo para você encontrar camisetas com estampas que tem tudo a ver… com tudo! Sinergia, comportamento, barulho, diversão & arte! Vem conferir na nossa loja!

Vai fundo!

Para ouvir: Uma playlist com a fina flor do que o Giorgio Moroder já produziu. Top 10 tracks Giorgio Moroder

Para assistir: Tem um documentário super interessante e divertido sobre a música eletrônica, suas origens, vertentes, filosofias (ou ausência delas) e os principais nomes do gênero. O filme é da cineasta brasileira Iara Lee, foi lançado em 1998 e se chama Modulations. E a delícia é que tem ele na íntegra no Youtube! É só clicar aqui.

A grande questão do século XX: Beatles ou Stones?

A grande questão do século XX: Beatles ou Stones?

11 entre 10 pessoas que gostam de rock já foram questionados sobre quem é melhor: Beatles ou Rolling Stones, e pensaram bem antes de responder. Claro, porque não é uma pergunta fácil. Não é como perguntar quem é melhor Pelé ou Maradona, Madonna ou Lady Gaga, ou Pulp Fiction ou Cães de Aluguel, cujas respostas são todas óbvias. Beatles x Stones é uma questão tão complexa, que paira no ar há mais de meio século, e ninguém chegou a uma conclusão concreta e definitiva.

Claro que muita coisa já rolou, muita gente já disse muita coisa a respeito. Hoje sabemos que a rivalidade que diziam existir entre as bandas é balela. Eram todos amigos. E, é óbvio que, para manter os nomes de suas bandas em evidência na imprensa, não desmentiam e alimentavam essa lenda. Provavelmente tudo começou quando John Lennon declarou, em 1966, que tudo que os Beatles faziam, os Stones faziam igual 4 meses depois. Desde então, há referência dos Stones em capa de disco dos Beatles e vice versa, vira e mexe uma banda alfinetava a outra na imprensa. Mas no fim da noite, em Londres era comum ver Mick Jagger e Paul McCartney tomando uma cerveja juntos ou George Harrison e Brian Jones trocando figurinhas sobre instrumentos musicais.

Olha, a real é que se a gente parar pra pensar mesmo, tentar comparar as duas bandas e dizer qual é melhor, é uma parada muito descabida. Porque são bandas bem diferentes em vários aspectos, sem falar que uma delas encerrou atividades em 1970, e a outra continuou firme. Mas a gente naturalmente gosta de uma boa disputa. Além do mais, são duas bandas tão incríveis, que é uma delícia revisitar suas histórias, sucessos e lendas, ainda mais tendo como desculpa essa rivalidade. Então, vamos a alguns fatos.

Primeiro a gente tem que ter em mente que os Beatles vieram primeiro. E o sucesso dos Stones tem tudo a ver com o surgimento e ascensão dos cabeludinhos de Liverpool. Depois de uma temporada exaustiva tocando por 5 horas seguidas por noite nos inferninhos de Hamburgo, os Beatles acertaram a mão ao contratar Brian Epstein como seu empresário e, depois de serem rejeitados pela Decca, assinaram contrato com a EMI. Com o surgimento da beatlemania os diretores da Decca se arrependeram amargamente e, quando os Stones bateram na porta, eles não pensaram duas vezes e já assinaram um contrato. Depois do relativo sucesso do primeiro single da banda, Come On, um cover de Chuck Berry, os Stones precisavam de mais um novo sucesso. Na época, 1963, Beatles e Stones já se conheciam e Lennon e McCartney deram para os Stones a música I Wanna Be Your Man, que virou sucesso.

Dá pra afirmar sem medo que até 1964 os Beatles eram realmente superiores. Mas nessa época Keith Richards e Mick Jagger passam a compor com frequência, esbanjando talento. No disco 12 X 5 dá pra sacar isso em canções como Good Times Bad Times e Congratulations. Com os primeiros discos dos Stones pintando, já fica evidente uma grande diferença entre eles e os Beatles. Os Rolling Stones eram uma banda muito purista em relação ao blues. Enquanto os Beatles não tinham muitas amarras a nenhum gênero musical. Flertavam com boleros (chegando a fazer uma versão de Besame Mucho), standards do jazz norte americano, com a soul music, com o country… Neste aspecto, os Stones merecem mais aplausos, pois conseguiam ser criativos e apresentar canções de qualidade mesmo “presos” a um só gênero.

Depois de 1966 os Beatles decidiram abandonar os palcos para ser uma banda exclusivamente de estúdio. Isso deu a eles ainda mais liberdade. Passaram a usar arranjos cada vez mais complexos, sobrepor instrumentos, vozes… afinal, não iriam precisar reproduzir nada daquilo num palco, que nos anos 60 não contava com tecnologia nenhuma. Sequer retorno a turma tinha direito. Mais uma vez as obras das duas bandas se mostram distantes e difíceis de se comparar, não por qualidade, mas por temática. Os Beatles apresentam em Revolver uma psicodelia ensolarada com Good Day, Sunshine e Doctor Robert, enquanto os Stones apostam em canções mais cruas, mas não menos inspiradas, como Paint it Black e Under My Thumb, do belíssimo disco Aftermath. São dois discos excelentes. Depois, em 1967, veio Sgt. Pepper’s… e a régua subiu ainda mais. Muita gente diz que os Stones fizeram o Their Satanic Majesties Request como uma resposta ao Sgt. Pepper’s…. Conversa fiada. Era simplesmente a manifestação da época. Em 1967 o flower power, a cultura oriental e etc estavam em alta. Todo mundo lançou discos nessa onda. E, com exceção da belíssima She’s a Rainbow, Her Satanic Majesties… é um disco bem fraquinho. Mas é bom lembrar que eles lançaram no mesmo ano os ótimos discos Flowers e Between the Buttons.

Em 1970 as duas bandas tinham amadurecido muito musicalmente. E mais uma vez se distanciado em termos de estética musical. Os Beatles, já em 1968, não funcionavam mais tão bem como conjunto. O Álbum Branco mostra bem isso. Tem grandes canções, mas fica evidente que não houve colaboração entre os músicos para compor e fica impresso o estilo de cada em suas composições. Em compensação, Beggars Banquet é um disco que apresenta uma banda em plena forma, coesa, encorpada e com excelentes composições. Ambas as bandas acompanham a tendência do rock, que se torna cada vez mais pesado. Orquestrações dão espaço a mais guitarras com efeitos fuzz e wah wah. Há muita controvérsia sobre a origem do nome Let It Bleed, disco lançado em dezembro de 1969.  Apesar de os Beatles lançarem o álbum Let It Be só em maio de 1970, a canção de mesmo nome já circulava em meados de 1969. Além do mais, os integrantes das duas bandas eram realmente amigos e sabiam dos planos uns dos outros. Por isso especula-se que o título Let It Bleed tenha sio uma brincadeira com o disco dos Beatles que seria lançado na sequência. Ah, sim. Além de tudo, existe o fato de que as bandas nunca lançavam seus discos ao mesmo tempo, sempre davam pelo menos dois ou três meses de intervalo, para não haver competição nas vendas.

Bom, depois de 1970 não faz mais sentido querer comparar as duas bandas, já que os Beatles se separaram, e não faz nenhum sentido querer comparar os discos solos de John Lennon, Paul McCartney e George Harrison com o Sticky Fingers, por exemplo. Todavia, é relevante ressaltar que os Stones lançaram seus discos mais consistentes e brilhantes ao longo da década de 1970. O que demonstra mais uma vez o amadurecimento da banda.

Desde o início as duas bandas tiveram trajetórias bem diferentes. É, no mínimo, injusto querer comparar as duas e vaticinar que uma é melhor que a outra. O que podemos dizer é que são duas bandas inacreditáveis, excelentes e geniais. Ambas indispensáveis para a evolução do rock n’ roll e da cultura pop. Tão essenciais que estampam camisetas nas mais variadas formas. Mas é claro, em nenhum outro lugar você encontra essas duas bandas retratadas de maneira tão deliciosa, original e charmosa como na Strip Me. Onde barulho, diversão e arte são antropofagicamente traduzidos em camisetas sensacionais! Vem conferir na nossa loja!

ps: Com o objetivo de manter a máxima imparcialidade, este texto foi escrito ao som dos discos Who’s Next, do The Who, e Face to Face, dos Kinks.

Vai fundo!

Para ouvir: É lógico, uma playlist caprichada com o que há de melhor entre Beatles e Stones. As faixas serão selecionadas de acordo com sua data de lançamento, pra rolar uma comparação legal entre as duas bandas. Então se liga na play Top 10 Tracks Beatles x Stones.

Para Assistir: Dois documentários essenciais para conhecer essas duas bandas: Let It Be, filme do diretor Michael Lindsay-Hogg, lançado em 1969 e Shine a Light, filme brilhante de Martin Scorsese, lançado em 2008, que acompanha a Bigger Bang Tour.

Para ler: The Beatles: A Biografia, de Bob Spitz, lançado em 2007 pela editora Lafonte é a mais completa e honesta obra literária sobre os Beatles. Livro indispensável. Do lado dos Stones, eu até poderia recomendar o livro do Christopher Sandford, mas acho muito mais válido e enriquecedor recomendar a estupenda autobiografia do Keith Richards, Vida, um livro saborosíssimo de se ler, lançado pela Editora Globo em 2010.

Samba Rock Bamba Roll

Samba Rock Bamba Roll

Não dá pra negar. Apesar de todos os problemas, nós moramos num país tropical, abençoado por Deus e bonito por natureza. E esse climão gostoso de domingo de sol, pé na areia, caipirinha na mão e não ter nada mais importante pra fazer do que curtir essa vibe toda, fez com que surgissem uns caras que conseguiram transformar essa aura toda em música. Música esta que ficou conhecida, mundialmente inclusive, como samba rock.

Mas é claro que o samba rock não surgiu de caso pensado. Na verdade, gênero musical nenhum foi pensado, convenhamos. Chuck Berry não parou um dia e pensou “Vou pegar esse fraseado de guitarra do country, colocar no compasso do blues e inventar uma parada chamada rock n’ roll.”. Não. Ele simplesmente tocou essa parada, recebeu um telefonema do Marvin, o primo dele que estava fazendo um som com o Marty McFly, e compôs Johnny B. Goode. O resto é história. Mas, assim como no rock o Chuck Berry provavelmente não foi realmente o primeiro a tocar guitarra daquele jeito, o samba rock também não tem uma origem muito bem definida.

Se quiser ser pragmático, a gente teria que voltar nos idos tempos da Carmem Miranda, que disseram que voltou americanizada e tal. O fato é que pós Segunda Guerra, começou a rolar um intercâmbio forte entre a cultura dos Estados Unidos e as culturas da América Latina. Claro, a gente fala intercâmbio, mas a cultura norte americana do cinema e do jazz foi muito mais injetada por aqui do que o samba e outros ritmos latinos do lado de lá. Mas mesmo assim rolou, Carmem Miranda bombou em Hollywood, ritmos como o bolero e o tcha tcha tcha também fizeram muito sucesso. Nos anos 1950 muitos conjuntos brasileiros incorporavam uma linguagem de big bands de jazz e bebop ao tocar samba. Isso, de certa forma, foi o pontapé inicial para o que seria a bossa nova, que iria eliminar os arranjos de metais e refinar as melodias. Por outro lado, tinha uma turma que gostava mesmo era de dançar, e essas bandas mandavam ver no ritmo.

Nas periferias do Rio de Janeiro e de São Paulo aconteciam bailes nos anos 1960 que eram muito populares, onde as pessoas iam para dançar.  Como eram organizados por comunidades pobres, não tinha som ao vivo, era um DJ (que na época não tinha o glamour de hoje em dia) que ficava colocando discos para as pessoas curtirem na pista. E rolava de tudo. Tocava uma música do Ray Charles, aí entrava um Jackson do Pandeiro, na sequência um Fats Domino, Moreira da Silva… e assim ia. O importante era não deixar a pista esfriar, seguindo sempre ritmos dançantes. Muita gente diz que o samba rock nasceu nesses bailes. E faz sentido, se a gente pensar que frequentavam essas festas nomes como Jorge Ben Jor, Erasmo Carlos, Gerson King Combo, Cassiano, Hyldon, Wilson Simonal, Tim Maia

Mas o grande expoente mesmo é o Jorge Ben Jor. Se João Gilberto influenciou toda uma geração com uma batida de violão única, Jorge Ben fez o mesmo. Seu disco de estreia, Samba Esquema Novo, já mostra isso. É um disco com uma linguagem bem bossanovista, mas que já traz um suingue a mais, que ele iria mostrar em músicas como Minha Menina, em parceria com os Mutantes. Mas foi com o clássico disco Jorge Ben, de 1969, que o bicho pegou.  Nesse disco ele teve como banda de apoio o Trio Mocotó, um trio que era banda fixa de uma casa noturna de São Paulo onde Jorge Ben gostava de ir nos fins de noite se divertir e fazer umas jams. Nesse disco temos verdadeiros clássicos do samba rock como Take it Easy, My Brother Charles, Que Pena (Ela Não Gosta Mais de Mim), Cadê Tereza, Charles Anjo 45 e País Tropical. A coisa deu tão certo que o Trio Mocotó se lançou como banda e gravou vários discos muito bons. Esse estilo de som misturando suingue com uma guitarrinha e uma linguagem mais pop, fez a fama de muita gente. O caso mais interessante é o de Erasmo Carlos.


Em 1971 a Jovem Guarda já tinha acabado e Roberto Carlos dava sequência a uma inacreditável carreira se sucesso como cantor romântico. Seu parceiro Erasmo Carlos ficou mio de lado e começou a perder popularidade. Incentivado por André Midani, presidente da gravadora Philips no Brasil, e por Jorge Ben, seus amigos de longa data, Erasmo se inspirou nessa nova onda do samba rock e concebeu um clássico absoluto da música pop brasileira, o excelente disco Carlos, Erasmo! Neste disco estão canções brilhantes como De Noite na Cama, Masculino e Feminino, É Preciso Dar Um Jeito, Meu Amigo, Agora Ninguém Chora Mais e Maria Joana.

Pra concluir este texto, vale contar a inacreditável história que resultaria no disco Gil & Jorge: Ogum Xangô, um disco que tem sua base no samba rock, mas se tornou uma obra de experimentalismo harmônico e rítmico que extrapola qualquer rótulo. Em 1975 Eric Clapton e Cat Stevens vieram ao Brasil passar uns dias de férias a convite da gravadora Philips, que vendia seus discos por aqui. Para a chegada dos artistas internacionais, o presidente da gravadora, André Midani, organizou em sua casa uma festinha privé com vários artistas, entre eles Caetano Veloso, Rita Lee, Gilberto Gil e Jorge Ben. Noite adentro aparecem violões por toda a parte e começa uma jam session daquelas. Cat Stevens em poucos minutos pede o boné e encosta o violão, não acompanhando o som frenético que rolava. Um tempo depois, Eric Clapton também não aguenta o tranco e se retira da roda, ficando somente a observar incrédulo o som que Gilberto Gil e Jorge Ben improvisavam. Gil e Jorge tocaram por um tempão para um seleto público boquiaberto. Eles nunca tinham tocado juntos antes. No fim da festa, André Midani chegou para os dois músicos e falou: “Ainda essa semana quero vocês no estúdio. Se virem pra reproduzir no estúdio o que fizeram aqui.”. Assim saiu o disco Gil & Jorge: Ogum Xangô, um disco com 9 faixas, algumas com mais de dez minutos de duração, de puro ritmo e improvisos deliciosos. É um disco incrível. E quem estava presente naquela lendária noite, diz que o disco não reproduz metade do que os caras fizeram lá ao vivo.

O samba rock é isso. Brasilidade contemporânea, antropofagia sonora, liberdade, barulho, diversão e arte. Te soa familiar? Mas é claro! A Strip Me é total samba rock e todo esse clima alto astral libertário! Vem aproveitar e conferir!

Vai fundo!

Para ouvir: Uma playlist repleta de som e malemolência pra você curtir. Top 10 tracks samba rock.

20 anos da tragédia do século.

20 anos da tragédia do século.

Provavelmente você vai ouvir muito por aí durante os próximos dias algumas variações da frase “Todo mundo se lembra onde estava e o que estava fazendo na manhã do dia 11 de setembro de 2001.”. E o pior é que é verdade. Neste sábado comemoramos os 20 anos do acontecimento mais impactante do século XXI até agora e o mais trágico ataque sofrido pelos Estados Unidos na história. Ah sim, comemorar os 20 anos do atentado  de 11 de setembro, não significa celebrar ou exaltar a data. Vamos nos lembrar que a palavra comemorar deriva da união das palavras rememorar em comunidade, ou seja, quando toda uma sociedade se junta para relembrar um grande acontecimento e prestar as devidas homenagens, às vítimas neste caso específico.

Realmente esta data deve ser relembrada e é necessário que hajam reflexões a respeito do que levaram aquelas pessoas a cometer atos tão terríveis e as consequências, que vivemos ainda hoje, vale dizer. Bom, brevemente contextualizando. Na manhã do dia 11 de setembro de 2001 4 aviões Boing 767 comerciais foram sequestrados por terroristas sauditas ligados ao grupo terrorista Al Qaeda. 2 deles saíram de Boston com destino a Los Angeles, mas foram desviados de sua rota e foram para New York, onde cada um colidiu com um das duas torres gêmeas do complexo de prédios World Trade Center. O terceiro avião saiu do aeroporto de Washington também rumo a Los Angeles e, antes que pudesse sair dos arredores da cidade, foi desviado pelos sequestradores e colidiu com o prédio do Pentágono, centro militar dos Estados Unidos. O quarto avião partiu do aeroporto de Newark, nos arredores de New York, com destino a San Francisco. O alvo dos sequestradores deste avião ainda hoje é desconhecido, pois os passageiros do avião se mobilizaram e conseguiram deter os sequestradores. O avião fez um pouso forçado próximo a pequena cidade de Shanksville, no estado da Pensilvania. O resultado disso tudo foram 2.996 mortes, mais de 6000 feridos e bilhões de dólares em danos materiais.

Uma tragédia que já entrou pra história. Uma parada muito louca de se pensar. Quando a gente fala de história, pensa em eventos antigos, que aconteceram muito antes de termos nascido. Mas não, a história é escrita diariamente e todo mundo faz parte dela indireta ou diretamente. Por isso o clichê “todo mundo lembra onde estava e o que estava fazendo naquela manhã de 11 de setembro de 2001” é tão presente. Se parar pra pensar, faz só 20 anos. É pouco tempo. E mesmo assim, foi um acontecimento que gerou muitas consequências. Claro que não vamos entrar aqui nos desdobramentos políticos, bélicos e econômicos. Mas podemos falar sobre o que mudou no comportamento das pessoas, na vida em sociedade e também tudo o que apareceu culturalmente baseado nos atentados de 2001.

Pra começar, a gente teve mais contato com um mundo até então tão distante para nós, o Oriente Médio. Antes de 2001 aquela região se resumia no confronto eterno entre palestinos e judeus e na produção de petróleo. Hoje a gente sabe o que é a jihad, sabemos que existem grupos paramilitares como a Al Qaeda e o Talibã, sabemos que o Afeganistão é um país chave para entender tantos conflitos naquela região e entendemos que ser muçulmano não significa ser terrorista, mas que a fé islâmica é usada para influenciar pessoas a cometer os mais terríveis atos.

Muitos protocolos de segurança foram implementados em aeroportos depois dos atentados, o mundo aprendeu a viver com um pouquinho a mais de medo, sabendo que, se uma coisa dessas aconteceu nos Estados Unidos, pode acontecer em qualquer lugar. Entretanto, as conversas nas mesas de bar ficaram muito mais interessantes com o incontável número de teorias da conspiração que pipocaram pela internet sobre os atentados.

Os atentados e suas consequências também inspiraram muitas obras, em especial no cinema. Tem As Torres Gêmeas, de 2006, dirigido por Oliver Stone, também lançado em 2006 tem o Voo United 93, de Paul Greengrass, que fala sobre o avião em que os passageiros dominaram os sequestradores. Outro filmaço é A Hora Mais Escura, dirigido pela Kathryn Bigelow e lançado em 2013. Ele conta a história da caça a Osama Bin Laden. Tem muitos outros filmes, e tem também os documentários. Os dois mais relevantes certamente são Fahrenheit 9/11 do polêmico cineasta Michael Moore, lançado em 2014, e o recente 11/9 – A Vida Sob Ataque, uma produção da BBC com direção de Nigel Levy lançado em 2020. Em seu documentário, Michael Moore esmiúça os contatos pessoais da família Bush e do governo norte americano com sauditas e organizações como o Talibã, além de mostrar as invasões desastrosas do exército norte americano no Afeganistão e no Iraque. Já a produção da BBC traz imagens inéditas e muito impressionantes captadas por pessoas que moram na cidade e presenciaram tudo de perto. O longa mostra o caos em que a cidade mergulhou naquela manhã de maneira muito contundente. Ah, teve também o ótimo quadro do Casseta & Planeta “No Cafofo do Osama”, que satirizava o sumiço do terrorista mais procurado do mundo.

Não dava pra gente deixar de falar desse assunto nesta semana. Barulho, diversão e arte são fundamentais, mas nosso papel como parte da sociedade é tão importante quanto. Nós somos agentes da história e comemorar, ou melhor, rememorar em comunidade, um acontecimento tão importante como este é nosso dever. Ainda bem que com a Strip Me podemos fazer isso de maneira bem mais leve e interessante.

Vai fundo!

Para ouvir: Em homenagem às vítimas dos atentados ao World Trade Center, fizemos um top 10 tracks canções sobre New York City!

De novo! – Filmes que a gente não cansa de assistir.

De novo! – Filmes que a gente não cansa de assistir.

Falando sério, cara. Não tem expressão artística mais completa e transcendente que o cinema. A arte literalmente multimídia, onde uma boa história é escrita, para ser interpretada por bons atores, que será combinada à fotografia em movimento e uma música capaz de emocionar. O cinema é tão marcante que faz parte das nossas vidas, está presente em todo o canto! Desde uma frase de efeito que você fala numa conversa, ou no pôster colado na parede do quarto, naquela memória de infância de ter os primos reunidos no fim do ano na casa da avó assistindo Esqueceram de Mim.

Hoje vamos falar desse cinema da memória afetiva, esse cinema empolgante, reconfortante, que te faz se sentir em casa. Não vamos falar daqueles grandes clássicos, ganhadores de Oscar (apesar de um ter um ou outro vencedor da estatueta na lista que vem a seguir). Porque o foco aqui é aquele filme que, quando você está zapeando os canais da TV e passa por uma cena que você reconhece de cara, você pára ali e assiste até o fim, porque é um filme que você já viu um monte de vezes, mas é tão bom que você larga o controle remoto e se acomoda no sofá. E vamos combinar que muitos dos filmes clássicos, não dá pra ver assim, qualquer hora. Filmes como Apocalipse Now ou 2001: Uma Odisséia no Espaço são filmes densos, que você precisa estar no clima pra assistir. Entretanto, independente do seu humor, se você liga a TV e dá de cara com o Indiana Jones correndo pra não ser esmagado por uma bola de pedra gigante, fica difícil resistir a continuar assistindo. 

Como aqui não tem miséria, listamos 10 filmes que todo mundo já viu mais de uma vez e não cansa de assistir! Vamos à lista!

10 – Feitiço do Tempo (1993)

Imagina que você liga a televisão e se depara com aquele close num rádio relógio marcando seis horas e começa a tocar I Got You, Babe, interpretada pela dupla Sonny & Cher. Você se mantém ali só pra ver se está no começo, no meio ou no fim do filme. E seja em que parte estiver, não dá pra parar de assistir, porque é muito divertido. É o dia da marmota, cara! É o Bill Murray no auge! É uma história irresistível!

9 – Gremlins (1984)

A gente já dedicou um post inteirinho pra este filme aqui neste blog, mas não tem como não falar. Ele é um desses filmes que você já viu um monte de vezes, mas não cansa de ver. Afinal, quem é que resiste àquela carinha fofa do mogwai saindo de dentro da caixa e olhando direto pra você? Aí, você espera pra ver o bichinho ser alimentado, molhado e se transformando… a cidade sendo atacada! Você sabe que é diversão garantida e se dá conta que está assistindo pela enésima vez até o final.

8 – Quanto Mais Idiota Melhor (1992)

O que dizer de um filme que é um amontoado de deliciosas referências ao mundo do rock n’ roll? A placa de “Proibido tocar Stairway to Heaven” na loja de instrumentos, Garth sedutor ao som de Foxy Lady fazendo orelhinhas na cabeça com as mãos… e a épica cena de Bohemian Rapsody no carro! Cara, esse filme é uma instituição da geração 90’s. Qualquer pessoa com mais de 35 anos de idade já viu esse filme uma dezena de vezes na TV aberta durante a tarde e se divertiu! E se pintar a oportunidade de rever, essa pessoa vai rever!

7 – O Exterminador do Futuro II (1991)

A franquia Exterminador do Futuro é muito legal. Mas é indiscutível que bom, mas bom mesmo, é este segundo filme. O primeiro é legal, apresenta os personagens e tal, mas é meio sombrio. Os 4 filmes que se seguiram à partir de 2003 mostram esse mundo distópico e tal, mas não conseguem realmente empolgar. Mas este segundo filme, olha, coloca todos os outros 5 filmes da franquia no bolso! São grandes cenas de ação, um vilão de metal líquido que toma tiro de escopeta e continua correndo, uma trilha sonora empolgante e a eternização da frase “Hasta la vista, baby!”. Não precisa falar mais nada, né?

6 – ET: O extraterrestre

Muita gente foi introduzida no mundo do cinema através deste filme. Talvez, de toda essa lista, ele seja o que melhor representa essa memória afetiva que temos com o cinema, é o confort food da sétima arte. Boa parte das cenas deste filme estão grudadas na memória de quem cresceu nos anos 80 e 90. Um filme encantador e poderoso para crianças, e que demonstra todo o talento de Steven Spielberg para conceber obras fantásticas e atemporais. Um filme irresistível de se rever, seja qual for a sua idade.

5 – Forrest Gump (1994)

Esta é uma das melhores cinebiografias da história. Ain, mas é ficção. Não interessa! A cinebiografia do Forrest Gump é irretocável! Se você tá lá zapeando os canais e dá de cara com um moleque de aparelho nas pernas ensinando o Elvis a dançar, ou Bubba descrevendo todas as maneiras de se preparar pratos com camarão, ou o Forrest e o Tenente Dan comemorando o Ano-Novo… não tem jeito. Só te resta sentar e continuar a curtir o filme todo. Afinal, lembre-se que aprendemos com o Forrest que idiota é quem faz idiotices, como não rever Forrest Gump, por exemplo.

4 – Clube da Luta (1999)

Clube da Luta é um fenômeno do cinema! Claro, ele é empolgante, tem atuações estarrecedoras, cheio de adrenalina, sarcasmo, ação, rebeldia… só por esses fatores já é um filme que vale ser visto e revisto várias vezes. Mas tem um ponto importante. Ele é desses filmes tipo O Sexto Sentido, que tem um plot twist monstro, uma baita surpresa no final, que faz você querer ver o filme de novo, pra poder ver sob essa novas perspectiva que foi apresentada no fim do filme. Acontece que, mesmo com esse plot twist não sendo mais novidade, o Clube da Luta ainda é um filme que dá pra assistir e se divertir sempre, não importa quantas vezes já tenha sido visto. Quanto mais a gente conhece Tyler Durden, mais a gente quer vê-lo em ação!

3 – Pulp Fiction (1994)

E se você tá lá zapeando os canais sem nem olhar pra tela da televisão direito, mas aí você muda o canal e só ouve aos berros: “Say “what” again! I dare you, I double dare you, motherfucker! Say “what” again one more godamm time!”. Só de ler a frase aqui, tenho certeza que você esboçou um sorriso e lembrou da cena. Me fala como é que você vê uma cena dessa e não pára o que tá fazendo pra assistir? Aí você pensa: vou ver só essa cena, porque é muito foda. Aí acaba a cena e entra a conversa do Marcellus Wallace (Does he look like a bitch?) com o Butch… e você: Tá, vou ver mais só esse pedaço. Aí entra numa espiral f#*a de dança ao som de Chuck Berry, overdose, relógio que esteve na bunda de um soldado, Marcellus Wallace looking like a bitch, espada samurai, chopper do Zed, Mr. Wolf limpando carro, carteira escrito Bad Motherfucker… e pronto. Acabou o filme e você tá felizão porque viu mais uma vez essa obra prima!

2 – Curtindo a Vida Adoidado (1986)

Será que existe alguém com mais de 35 anos de idade que nunca tenha visto Curtindo a Vida Adoidado? Muito pouco provável, né? E eu nem falo por ser um filme que realmente passou exaustivamente na TV aberta em mais de um canal por muito tempo. Mas também porque é um filme divertidíssimo, com o qual qualquer jovem se identifica e admira. Quem não quer matar aula num dia de sol pra curtir com a namorada e o melhor amigo andando pela cidade numa Ferrari e acabar num desfile em cima de um carro alegórico cantando Twist and Shout? Sem falar que enquanto isso o diretor de escola só se dá mal tentando provar que o garoto está aprontando e a escola toda se mobiliza numa campanha “Save Ferris” pela melhora de sua saúde. É um filme que emana frescor, diversão e nostalgia.

1 – De Volta Para o Futuro (1985 – 1989 – 1990)

Era pra ser 10 filmes nessa lista. Mas como faz pra falar de apenas um dos filmes da trilogia de De Volta para o Futuro? Considerando os três como um filme só de 3 partes, De Volta para o Futuro é dos filmes mais brilhantes da história do cinema. Um roteiro complexo, mas sem nenhuma ponta solta, que deixa o espectador o tempo todo vidrado na história, uma estética propositalmente datada para ilustrar as viagens no tempo, é uma trama instigante, bem humorada, emocionante. Uma delícia maratonar os 3 filmes num domingo de tarde, mas também dar a sorte de pegar uma das três partes na televisão por acaso e assistir também tem todo um sabor! É a obra maior de Robert Zemeckis, que é um diretor formidável. Um filme tão sensacional que merece um post só pra ele neste blog.

E assim fechamos essa lista saborosíssima  de filmes inesquecíveis, que, assim como a Strip Me, são incríveis, versáteis, agradam vários tipos de pessoas diferentes e, acima de tudo, podem ser resumidos em duas palavrinhas: Diversão & Arte.

Vai fundo!

Para ouvir: Claro! Uma playlist com uma música da trilha sonora de cada um dos filmes citados, pra você, curtir e relembrar. Top 10 tracks Filmes para Rever.

Passo a passo. A conquista do espaço.

Passo a passo.                           A conquista do espaço.

No dia 20 de julho de 1969 um ser humano pela primeira vez pisou na Lua. Por si só este já é considerado um feito histórico. Mas este fato também acabou sendo um marco, que deu por acabada a corrida espacial e começou a desacelerar a Guerra Fria. Mas tudo que aconteceu antes disso, ou seja, a corrida espacial propriamente dita, foi um período de acontecimentos inacreditáveis, grandes descobertas, espionagem e muitos animais indo pro espaço. Dia 26 de agosto estreia em São Paulo uma grande exposição sobre este momento da história, a Expo Space Adventure. São dezenas de artefatos originais da NASA, reunidos pelo Museu e Centro de Educação Espacial de Hutchinson, Kansas, referentes aos Projetos Mercury, Gemini e Apollo. A exposição estará aberta de 26 de agosto a 26 de outubro no estacionamento do Shopping Eldorado. Como a gente, aqui na Strip Me, está sempre de olha na Lua, nos ligamos em tecnologia e gostamos de boas histórias, não podíamos deixar isso passar em branco.

O espaço sempre despertou o interesse da humanidade. No final do século XIX Julio Verne já aparecia como principal expoente da ficção científica com o clássico Da Terra a Lua, ao lado de H. G. Wells e seu A Guerra dos Mundos, que inspirou Orson Welles, em 1938, a noticiar uma invasão alienígena pelo rádio. Alguns cientistas mundo afora, inspirados nesses livros começaram a estudar  e publicar os primeiros fundamentos de foguetes que poderiam levar o homem para fora da atmosfera terrestre. Mas vamos pular essa parte e vamos ao que interessa. Vamos falar de Wernher von Braun.

Antes de se tornar o maior e mais desprezível vilão da humanidade, Adolf Hitler parecia ser um homem tão crédulo, mas tão crédulo, que beirava a ingenuidade. Qualquer um que chegasse até ele e apresentasse uma ideia minimamente interessante, ele bancava financeiramente, desde que pudesse trazer algum benefício para a Alemanha. Com menos de 30 anos de idade, Von Braun já era um engenheiro e cientista sonhador, ele queria que a Alemanha fosse o primeiro país a explorar o espaço. Para custear suas ideias, ele conseguiu entrar de penetra numa festa onde estava Hitler, chegou até o füher e lhe falou sobre seus planos. Hitler achou tudo muito interessante, mas disse ao garoto que a Alemanha estava em guerra contra o mundo e o momento não era oportuno para projetos científicos. E o rapaz retrucou dizendo: “Pois com os meus projetos, posso lhe dar a arma que fará a Alemanha ganhar a guerra.”.

O partido nazista bancou uma fábrica gigantesca para Von Braun na montanha de Kohnstein, no norte da Alemanha. Ali instalaram a fábrica e um campo de concentração, chamado Mittelwerk, que garantia a mão de obra. A fábrica era coisa de cinema, a começar que ela foi toda feita dentro da montanha e era acessada somente por dois túneis bem guardados. Ali. Von Braun desenvolveu o foguete V2, a arma responsável por destruir boa parte da Inglaterra. Era um míssil guiado, muito preciso e com alto poder de destruição, que era produzido naquela montanha em larga escala. A tecnologia do V2 seria utilizada no futuro para elaborar os foguetes espaciais.

Com o fim da Segunda Guerra Mundial, Estados Unidos e Rússia começam a competir  pela soberania do mundo. A princípio a corrida espacial se deu mais pela vontade das duas potências de desenvolver armas do que realmente explorar o espaço. A Rússia rapidamente ocupou e pegou para a si toda a fábrica de Kohnstein, mas foram os norte americanos que prenderam Wernher Von Braun, e o levaram para os Estados Unidos através do famoso Projeto Paperclip. Precisando de um gênio da engenharia para substituir Von Braun, os russos se lembraram de um engenheiro muito inteligente que estava preso num gulag na Sibéria por atos anti soviéticos. Era Sergei Korolev. A ele foi dada a escolha de servir a mãe Rússia construindo foguetes ou apodrecer no deserto gelado da Sibéria. Ele optou pela primeira opção. E não só por fazer boas escolhas Korolev era notadamente um homem genial. Fazendo engenharia reversa, ele desmontou e montou vários V2 até entender como fazê-los, e melhorá-los.

Daí em diante a coisa esquentou mesmo! Os russos conseguiram colocar o primeiro satélite artificial em órbita, o Sputnik, em 1957. No ano seguinte, mandaram uma cápsula com a famosa cadela Laika, o primeiro ser vivo a dar uma volta completa na Terra, comprovando que, pasmem, ela é mesmo redonda. Os Estados Unidos, corriam atrás e também conseguiram enviar um satélite, também mandaram cães e macacos pro espaço…mas sempre a primeira experiência era dos russos.  Fato curioso: Entre russos e norte americanos, foram mandados para o espaço durante a corrida espacial 57 cães. Não é preciso dizer que poucos voltaram vivos, já que ambos os lados ainda experimentavam e desenvolviam suas tecnologias. O uso de animais acontecia porque não se sabia se um ser humano sobreviveria no espaço.

Também foram os russos que levaram um homem para o espaço pela primeira vez. Yuri Gagarin era um piloto de aviões russo que foi promovido a cosmonauta e deu uma volta na Terra e voltou pra nos dizer que a Terra é redon… quer dizer, que a Terra é azul! Isso foi em 1961. Em 1962 foi a vez dos norte americanos, que enviaram o astronauta John Glenn. Em 1964 ainda na frente na corrida, os russos mandam a primeira mulher para o espaço, Valentina Tereshkova. Nesse meio tempo, russos e norte americanos já enviavam satélites e sondas não tripuladas para a Lua com certa frequência. Em 1961 a Nasa se organiza e coloca em prática o projeto Apollo, que levaria o homem a pisar na lua 8 anos depois. Finalmente em 20 de julho de 1969 os Estados Unidos conseguiram ser os primeiros naquela corrida, justamente no ato mais importante. Neil Armstrong pisou na Lua dando um pequeno passo para homem, mas um grande passo para humanidade. Em solo lunar deu pulinhos, jogou futebol e fincou ali a bandeira norte americana.

Dali em diante, a corrida espacial cessou, dando espaço a política e economia, fazendo com que a guerra, que já era fria, esfriasse um pouco mais. Em 1988 vem a Perestroika e a Glasnost.  Em 1989 cai o muro de Berlim. Em 1990 Boris Yeltsin assume a presidência da União Soviética. Em 1991 a Ucrânia se torna independente, acontece em Moscou o festival Monster of Rock e a União das Repúblicas Socialistas Soviéticas é finalmente dissolvida. Acaba a Guerra Fria.

A corrida espacial foi um período muito intenso da história moderna, e rendeu muito mais do que lixo espacial. A tecnologia avançou horrores. Pra se ter ideia, as bases do GPS e dos telefones celulares surgiram naqueles laboratórios. Isso sem falar em dezenas de filmes como Apollo 13, Os Eleitos, Cowboys do Espaço, Gravidade e etc. Indo muito além da corrida espacial, a Strip Me traz até você todas as fases da lua, o sistema solar, e até os mistérios de contatos imediatos com vida inteligente fora daqui, que nos faz ter aquela vontadezinha de gritar “Me leva!” de vez em quando. Olha, a gente super entende que, às vezes, a vontade é essa mesmo. Mas antes de ir, dá uma conferida nas nossas novas estampas!

Vai fundo!

Para ouvir: Uma playlist no capricho com o que há de melhor no Space Rock. Top 10 Tracks Space Rock.

Para assistir: Como foi citado, tem muitos filmes legais sobre o tema. Muitos mesmo. Mas um dos melhores com certeza é Os Eleitos (The Right Stuff, título original), lançado em 1983 e dirigido pelo Philip Kaufman. Um filme que retrata muito bem o clima da corrida espacial com muita ação e grandes atuações.

Números! Estamos cercados de números por todos os lados!

Números! Estamos cercados de números por todos os lados!

Meu nome é Paulo, eu tenho 38 anos de idade, sou publicitário e eu detesto matemática. Para se ter uma ideia, eu me formei em publicidade em 2012, já com 30 anos nas costas. Mas antes, aos 18 anos, ingressei na faculdade de jornalismo, a qual não concluí. Às vésperas de prestar o vestibular, ainda indeciso, escolhi o jornalismo por um conjunto de fatores, entre eles, um dos que mais pesou foi que eu havia conferido a grade curricular do curso e não tinha nenhuma disciplina ligada a qualquer tipo de cálculo matemático. Entretanto a vida, essa vadia que amamos, nos ensina na marra que não adianta a gente querer controlar muito nossos passos. Sendo assim, cá estou hoje escrevendo um texto sobre números e equações. E apesar de um pouco confuso, admito que estou achando isso tudo muito interessante.

A real é que a gente não pára muito pra pensar o quão presente os números e a matemática estão na nossa vida e nas coisas que nós gostamos. Algumas expressões artísticas dependem incondicionalmente da matemática, como a música e principalmente a fotografia e, por consequência, o cinema. As escalas musicais e campos harmônicos tão diversos nada mais são que sequências padronizadas que podem ser logicamente entendidas através de alguns cálculos. Da mesma forma, a fotografia depende do cálculo entre a abertura do obturador e do diafragma para equilibrar a entrada de luz e a profundidade de campo que vai dar o foco desejado. Mas a coisa vai muito além disso. Há indícios de que uma fórmula matemática está presente na natureza, nas artes plásticas e até na formação de galáxias.

Muitos séculos atrás, um  matemático italiano chamado Leonardo Pisa, também conhecido como Leonardo Fibonacci, chegou a uma equação matemática infinita depois de muito analisar várias coincidências, Especialmente após observar o crescimento exponencial de uma população de coelhos, em 1202 ele registrou a famosa Sequência Fibonacci. Basicamente, é uma sequência numérica que começa pelo número 1, seguido pela soma de cada numeral com o número que o antecede. Ou seja, 1 + 1 = 2, 2 + 1 = 3, 3 + 2 = 5, e assim por diante. Até aí, para mim, tá tranquilo. Quando começam a entrar letras e a serem formadas equações, a coisa fica um pouco mais confusa pra mim, de qualquer forma, vou colocar aqui. É assim: Fn = Fn – 1 + Fn – 2, no qual “n” é o chamado índice e “fn” o termo geral, então, f2 = f1 + anterior = 1, f3 = f2+f1 = 1+1 = 2, f4 = f3+f2 = 2+1 = 3, f5 = f4+f3 = 3+2 = 5 e assim por diante. Pra quê colocar letras misturadas com números eu realmente não sei. Deve ser só pra confundir mesmo. Enfim, segue o baile.

Até aí, nada de mais, né… uma sequência de números. Mas a coisa se complica, mas fica mais interessante também. Ao longo do tempo a sequência Fibonacci foi sendo estudada e foi convertida em figuras geométricas. Ao transformar esses números em quadrados e organizá-los de maneira geométrica, pode ser construído um retângulo com características muito específicas, mas tão específicas que ele é chamado de Retângulo de Ouro. O lance é que se você dividir esse retângulo em um quadrado e um outro retângulo, este novo retângulo será igual ao original. Partindo da sequência 1, 1, 2, 3, 5, 8, organizam-se os números e os separam em quadrados. Dentro deste grande retângulo, você vai ter 6 quadrados de diferentes tamanhos. Se você partir do vértice entre os dois menores quadrados traçando uma espiral, você terá a também famosíssima Espiral de Fibonacci. E é aqui que tudo fica realmente impressionante.

Em inúmeros elementos da natureza você encontra espirais que são idênticas à Espiral de Fibonacci. Estamos falando de conchas marinhas, caramujos, plantas, flores e até furacões e formações de galáxias. Até pode ser uma baita coincidência, mas faz a gente pensar. Afinal, o velho Fibonacci, lá no século XIII, não estava pensando em nada disso quando estava lá contando coelhos. Mas ainda tem mais. Ainda em cima dessa sequência numérica, chegou-se à Proporção Áurea, um conceito visual famosão nas artes plásticas, arquitetura e design, por ser considerado harmônico para os olhos humanos. O valor da proporção áurea é de aproximadamente 1,618, o chamado número Phi, que é obtido quando se divide um número com o seu antecessor da sequência de Fibonacci. Cuidado pra não confundir com o valor de Pi. São duas letras gregas diferentes: phi (Φ) e Pi (π).

A loucura é que se você aplicar essa proporção áurea e até sobrepor a Espiral de Fibonacci nas principais obras de arte, ela vai encaixar certinho, naquele esquema do ponto focal onde você começa a ver a obra e como seu olhar vai sendo atraído através dela. Dá pra sacar isso na Monalisa e no Homem Vitruviano do DaVinci, n’A Criação de Adão do Michelangelo, na Moça com Brinco de Pérola do Vermeer e em vários lugares da Igreja Sagrada Família, obra arquitetônica mais audaciosa e genial do Gaudí.

Mas não acabou, cara! Essa danada dessa sequência numérica é amplamente usada em estudos seríssimos. Na física, é aplicado no estudo da ótica e raios de luz. Na ciência da computação e elaboração de games ela é um dos fundamentos para organizar algoritmos, processamento de textos, ordenação de estrutura de dados, engenharia de software e testes de programas. Até o mercado financeiro se faz valer do velho Fibonacci, pois dizem que dá pra aplicar a sequência naqueles gráficos das bolsas de valores e ter uma ao previsão do mercado, se ações vão subir ou cair e por aí vai. Nada comprovado, claro. Mas, olha, eu não duvido não.

Crescente, harmônica, impressionante, que se relaciona com a natureza, com o universo e com as artes. Assim também é a Strip Me, que está sempre trazendo estampas novas, em harmonia com a atualidade e as artes, numa produção em harmonia com a natureza. É só clicar e conferir!

Vai fundo!

Para ouvir: Já que estamos falando de matemática, cálculos e equações, temos aqui uma playlist de gênios! Aqui só entra quem tem altas graduações, phD e etc. Tem físisco, engenheiro, bioquímico… em todas as bandas que estão nessa playlist tem um integrante que é um doutor sabe-tudo! Top 10 tracks com PhD!

Para assistir: Tem uma série de 2012 muito boa chamada Touch. Ela durou pouco, só duas temporadas. Mas que vale a pena procurar pra assistir. É sobre um jornalista que  passa a criar seu filho autista sozinho, após sua esposa, e mão do guri, morrer durante o atentado de 11 de setembro de 2001. O garoto não fala, mas tem o hábito de escrever muitos números. Através da nossa querida sequência de Fibonacci, o pai consegue entender um padrão e se comunicar com o filho. Mas a série não fica só nisso, tem várias outras tretas no meio. Vale a pena ver, mas não é muito fácil de achar.

MTV 40

MTV 40

Se um artista ou banda quer se destacar e arrebanhar fãs, ou seguidores, é impensável que uma canção seja lançada nas plataformas digitais sem que haja uma veiculação simultânea de um videoclipe da mesma canção no Youtube e redes sociais. Um cenário que em absolutamente nada se assemelha ao que ocorria 40 anos antes. Até o mês de agosto de 1981 o artista ou banda estava totalmente nas mãos e uma grande gravadora, que produzia um disco caríssimo, investiria mais uma quantidade obscena de dinheiro em publicidade com anúncios em revistas especializadas, cartazes e totens para lojas de discos e “um cafezinho” pro DJ que tocasse as músicas no disco no rádio. Videoclipe? Nem pensar! Na real, nem existia direito esse conceito. Pouquíssimas bandas apostavam em produzir um vídeo conceitual para acompanhar o lançamento de uma canção. Mas os anos 80 tinham chegado pra ficar, e alguma coisa precisava mudar.

No dia 1 de agosto de 1981 entrou no ar um novo canal na televisão norte americana. Sua estreia aconteceu com cenas do lançamento da Apollo 11 e dos astronautas na lua. Quando a bandeira norte americana é fincada em solo lunar, as listras e estrelas somem encobertas por um fundo colorido e, sobre ele, as letras M, T e V se sobrepunham. O canal Music Television foi criado pelo produtor de TV Robert W. Pittman, que era funcionário anteriormente da Warner. Pittman viu que havia toda uma geração de adolescentes que consumiam música e não tinham nada na televisão que os agradasse, a programação se resumia a programas infantis para crianças pequenas e jornalismo e entretenimento para adultos, o adolescente ficava no limbo. A princípio o canal transmitia shows de bandas dos mais variados estilos do pop e rock e alguns poucos clipes que já existiam, tudo intermediado por VJs jovens e descolados, que falavam diretamente com a molecada. Tudo era muito colorido e meio anárquico. Foi um tiro certeiro. Em pouco tempo, a MTV já era uma febre entre os jovens.

O conceito estético do canal foi elaborado com muito cuidado, pensado em cada detalhe. O trampo ficou por conta de um escritório de design gráfico chamado Manhattan Design, um coletivo de designers de New York, que funcionou entre os anos de 1979 e 1991, o projeto é creditado a Pat Gorman, Frank Olinsky, Patti Rogoff e ao primeiro diretor criativo da MTV, Fred Seibert. O Manhattan Design já trabalhava com música projetando capas de discos e cartazes de shows da cena blues e jazz nova-iorquina. O que mais chamou a atenção na época foi que a identidade visual da marca não apresentava uma cor ou uma paleta de cores. Uma vez que se tratava de televisão, modernidade e ritmo, os criadores propuseram que a marca mudaria de cor a todo momento, um conceito nunca utilizado até então. Além disso, foram responsáveis por criar vinhetas e aberturas de programas, que ficaram marcados pela pluralidade, uma Pop Art em movimento, com cores e recortes. Mesmo depois do escritório encerrar suas atividades em 1991, o mesmo conceito seguiu firme no canal e foi aplicado em outros países.

Artistas antenados e notoriamente mais performáticos viram nos videoclipes uma oportunidade de enriquecer suas criações musicais e aumentar sua popularidade entre os jovens. Bowie, Michael Jackson e Madonna entraram de cabeça nesse mundo. Até a metade dos anos 80 o pop dominou o canal. As coisas realmente começaram a mudar em 1988 com o sucesso avassalador de Sweet Child O’Mine, dos Guns N’ Roses. Um clipe modesto, simplesmente mostrando a banda tocando num estúdio de ensaios, mas muito bem filmado e com todo o poder da canção em si. Dali em diante, o rock se faria cada vez mais presente, até culminar com mais uma bomba que cairia sobre a música pop três anos depois, com um trio esfarrapado vindo de Seattle. É, o grunge, de maneira geral, virou tudo de cabeça pra baixo, inclusive a MTV. Com todas essas mudanças e a MTV cada vez mais influente, as gravadoras investiam cada vez mais em videoclipes, que começavam a ter orçamentos cinematográficos. Aliás, a linguagem de videoclipe influenciou muito o cinema que seria produzido nos anos 90. E mais, à partir de 1992 a MTV passou a incluir nas informações do clipe apresentado, no início do vídeo, o nome do diretor responsável. Foi quando começamos a nos familiarizar com nomes como Spike Jonze, Michel Gondry e David Fincher, que depois se tornariam grandes diretores de cinema.

A MTV contribuiu muito para a modernização da televisão de maneira geral. Seja na linguagem mais coloquial e direta, na estética camaleônica e vibrante, ou no comportamento, apresentando um humor auto crítico e anárquico. A personificação dessa atitude toda veio através do desenho Beavis & Butt-Head. Dois moleques toscos que criticavam os clipes que o canal passava com um humor deliciosamente mordaz. A dupla ganhou o mundo e chegou a virar filme. Com certeza uma das mais brilhantes criações do canal.

Se você tem mais de 30 anos de idade com certeza deve estar se perguntando se a gente não vai falar do Disk MTV, Do Fúria Metal, do Teleguiado, do Gordo A Go Go, do Rock Gol… pois é. A MTV brasileira entrou no ar em 1991 e tem uma história tão incrível e deliciosa que merece um post só pra ela. Por isso, desta vez vamos nos ater à MTV norte americana, que acabou de completar 40 anos. 40 anos que mudaram o mercado musical incorrigivelmente.

Como uma profecia, após a bandeira com a logo multicolorida da MTV ser fincada na lua inaugurando o canal, o primeiro clipe a ser veiculado foi Video Killed the Radio Star, dos Buggles. Nascia uma nova era. Multimídia, mutante, provocadora, libertária. Com certeza a MTV é uma influência imensa, que faz a Strip Me ser a empresa que é hoje. Antropofagia rock n’ roll, liberdade em movimento, diversão & arte.

Vai fundo!

Para ouvir: Uma playlist com o que rolou de melhor na MTV norte americana entre 1981 e 1990, uma música de cada ano. 10 tracks MTV US.

Para assistir: A MTV não surgiu do nada. Desde o início dos anos 60 já rolavam filmes com músicas e tal. Mas o clipe como conhecemos hoje surgiu das mãos de Richard Lester, o jovem diretor britânico que dirigiu o primeiro filme dos Beatles, A Hard Day’s Nght. No filme é possível “recortar” as cenas musicais e vê-las como clipes. Em especial a música Can’t Buy Me Love tem uma estética de videoclipe inacreditável para a época. O filme é de 1964 e é divertidíssimo e deve ser visto por todo mundo que curte música.

All That Jazz!

All That Jazz!

Pra começar, é tudo.

Liberdade, sentimento, fluidez, ritmo, história, mistura, quase nenhum ou total excesso de estudo. Se parar pra pensar, é realmente o começo, a revolução popular em cima do erudito. Mas não é assim, de qualquer jeito, qualquer nota, fora do tempo, da pauta ou do espaço. Tem que ser a nota certa, a nota azul que dá a intenção, o frisson, a emoção, muito bem colocada. Se há padrão, é melhor quebrar ou expandir. Sem perder o ritmo, o chimbau que abre e fecha no compasso, um trem chiando ao longe sobre a linha do tempo. Parece confuso, eu sei, mas tudo se encaixa. Traduzindo na língua universal da música, fica mais fácil. It’s all that jazz!

Sem perder o ritmo, seguimos na linha do tempo. Tudo se mistura, lenda e realidade, trabalho e arte, história, geografia, vida e morte. O sul dos Estados Unidos no fim do século dezenove não era nada fácil. Ainda mais pra quem era preto, filho de escravo. Via na plantação de algodão um destino inevitável, não tinha vodu, bourbon ou honk tonk que remediasse. O jeito era cantar na lavoura e na igreja. Lamentos, spirituals, expressão de tristeza negra na essência, na falta de melhor palavra que trouxesse luz, nasceu o blues. Arkansas, Delaware, Georgia, Mississippi, o som se espalhava pelas planícies feito grama, até que achou residência fixa em New Orleans, Louisiana.

As vastidões das planícies, das plantações de algodão, depois, com as cidades crescentes, movimentadas e, claro, sempre segregadas, não tinha como o blues ser uma coisa só. Foi se multiplicando. Swing, be bop, isso bem no comecinho. Depois virou jazz pra valer, free jazz, soul music, funk, hip hop e R&B. Se espalhou mesmo. All that jazz, é tudo! Música, sofisticação, improviso, ato político. Nunca é só música, tem sempre um algo mais, um impulso. Mas não vamos perder o ritmo, ainda estamos no princípio. Nos honk tonks, que eram os bares e bordéis para negros com música ao vivo. Mas o jazz indomável não se prendia a um simples quartinho e ia pra rua, através de garotos tocando juntos na calçada, um deles, inclusive, vai ficar mundialmente conhecido, Louis Armstrong e seu trompete fantástico. E ainda nem chegamos em 1920. Então vamos acelerar o beat.

Pops, como era conhecido o Louis Armstrong, saiu das ruas pra ganhar o mundo, e revolucionar, popularizar, o jazz no meio do caminho. Foi o primeiro a montar uma banda com músicos pretos e brancos na mesma formação, ganhou as telas de cinema e encheu as ondas do rádio de grandes canções. Na sua cola vieram Billie Holiday, Ella Fitzgerald, Ray Charles, Dizzy Gillespie, Charlie Parker, Miles Davis, Coltrane, Duke Ellington… sem falar em Sinatra, Tony Bennett, Nat King Cole. Cara, realmente o mundo mudou depois de New Orleans e seus honk tonk boys and girls.

Dito tudo isso, se você ainda pensa que o jazz é só uma cornetinha solando num ritmo quebrado de três compassos ou cinco, se situa! O jazz é a música moderna na essência. É música negra folclórica, é música erudita europeia, ópera e o diabo, tudo junto e misturado. Desde os terrenos encharcados de New Orleans ao blues elétrico de Chicago. Do jazz veio o diabo cristão do rock, Black Sabbath e Rolling Stones, a santeria Black Magic Woman de Carlos Santana e a psicodelia de Jimi Hendrix. O jazz está em tudo. Até no ritmo alucinado da escrita de Kerouac.

O jazz é a mistura, o orgulho, a modernidade, a sofisticação. Mais que música, é um mood, um estado de espírito, um way of life, viver na brisa, no improviso, aquela intersecção que nos encanta a todos, inclusive muito inspira a Strip Me, o jazz é a esquina mais cool entre a diversão e a arte.

Vai fundo!

Para ouvir: Elencar as canções mais importantes do jazz é trabalho hercúleo, é muita coisa! Mas a gente se esforçou pra te trazer um top 10 tracks jazz standards.

Para assistir: Um dos caras que melhor representam a música negra e, em especial o jazz, é Quincy Jones. Além de músico fantástico, Quincy também se enveredou na produção musical e trabalhou com grandes gênios, de Ray Charles a Michael Jackson. O documentário Quincy, lançado em 2018, dirigido pela dupla Alan Hicks e Rashida Jones e produzido pela Netflix é maravilhoso e mostra boa parte da história do jazz e da música opo.

Para ler: Louis Armstrong é considerada unanimemente como a personificação do jazz. Não à toa. Sua trajetória se confunde com a do gênero musical e isso é contada deliciosamente no excelente livro Pops, A Vida de Louis Armstrong, escrito pelo Terry Teachout e lançado em 2010 pela editora Lafonte. Leitura mega recomendada!

10 Anos sem Amy

10 Anos sem Amy

Originalidade e criatividade nunca forma o forte da Inglaterra, já reparou? Pensa bem, desde a idade média a gente vê despontando grandes gênios da pintura, da música, da literatura a maioria deles italianos, alemães, espanhóis… mas ingleses quase não se vê. É um país tão sem originalidade que o prato mais tradicional da culinária deles é peixe frito com batata frita. Entretanto, há e ser dito: o que eles não tem de originalidade, tem de sobra o poder de rápida assimilação e desenvolvimento. Não foram eles que inventaram o tear, mas foram eles que o desenvolveram para produção em larga escala e iniciando a Revolução Industrial. Não foram eles que inventaram o rock n’ roll, mas foram eles que o elevaram ao patamar de arte com Beatles, The Who, Bowie, Led Zeppelin

Photo by: Phill Griffin

Claro, existem exceções. A música negra, de maneira geral, os ingleses absorveram rapidamente, mas não foram capazes de superar os criadores do soul, do jazz e  do reggae. Bob Marley, Isley Brothers, Jimmy Cliff, James Brown, Aretha Franklin, Coltrane, Nat King Cole, Ella Fitzgerald, Billie Holiday, são todos artistas respeitadíssimos na ilha da rainha, influenciaram muita gente, mas ninguém chegou perto deles em genialidade e qualidade artística. Pelo menos assim foi até 2003.

Photo by: Jake Cheesun

Em outubro de 2003 foi lançado o disco Frank, álbum de estréia de Amy Winehouse, até então uma cantora desconhecida que se apresentava em pubs de Londres e impressionava todo mundo com sua voz incrível, presença de palco gigantesca e ótimas melodias que ela mesma compunha. Além disso, Amy revitalizava o jazz e os standards norte americanos. Era um Cole Porter de saias, em pleno século XXI respeitando o passado, mas flertando com o moderno R&B e novas tendências musicais. Era uma artista brilhante a ponto de explodir. E ela explodiria em muitos sentidos.

Photo by: Phil Knott

Amy Jade Winehouse nasceu em Londres no dia 14 de setembro de 1983. Ela vinha de uma família simples muito ligada à música. Sua avó paterna fora cantora de jazz e o pai era músico amador e tinha em casa uma vasta coleção de discos. Como vemos em muitas histórias de artistas geniais, a música sempre foi uma âncora para Amy, que teve desde cedo uma vida complicada. Seus pais se separaram quando ela tinha 6 anos de idade, fato que a desestabilizou muito. Adolescente, por volta de 14 anos, precisou tomar remédios controlados para ansiedade e, em seguida, já aprendeu os prazeres e excessos da vida boêmia, álcool, drogas… se distanciou da escola e se aproximou ainda mais da música.

Photo by: Phil Griffin

Em 2001 Amy já tinha gravado uma demo que rodava entre os executivos de pequenos selos de Londres. Quem resolveu apostar na cantora foi a Island Records. Foi onde Amy conheceu o produtor Salaam Remi, que se tornaria seu parceiro de composições, amigo confidente e o responsável por lapidar o talento dela. Entre meados de 2002 e 2003 o disco Frank foi concebido e gravado. O disco não alcançou vendas muito altas, mas foi muito elogiado pela crítica e levou Amy Winehouse a um patamar acima das apresentações improvisadas em pubs. Ela entrou para um circuito alternativo de shows que trouxeram mais maturidade musicalmente, além de abrir muitas portas. Junto com o ritmo frenético de shows, após um ano do lançamento de Frank, Amy começou a ser cobrada por um novo disco. O que acabou a levando a um terrível bloqueio criativo. Seu primeiro disco era formado por canções muito pessoais baseadas nas desventuras conjugais de seus pais e de um relacionamento fracassado vivido por ela. Agora sua vida se limitava a tocar, fazer shows e cair na farra. Ela não tinha de onde tirar inspiração para compor. Até que em 2005, num pub no bairro de Camden, ela conhece Blake Fielder-Civil.

Foi paixão à primeira vista. Com Blake Amy começou uma relação tumultuada e muito intensa. Apesar de muitas brigas e desconfianças que ele tivesse outras mulheres, eram um casal muito ligado. Também foi com Blake que Amy conheceu realmente o lado negro da força e experimentou pela primeira vez heroína e crack. Aí você pensa: “Daí em diante foi só ladeira abaixo.”. Engano seu! Porque quando ela se afundou no vício, tentaram várias vezes interna-la em clínicas de reabilitação, as famosas rehabs. Ela já estava relutante, mas depois que seu pai disse a ela uma vez que ela não precisava se internar e podia tentar ficar limpa por conta própria, ela disse” Vocês querem que eu vá pra rehab, mas não não não.”. Sem falar que o tempestuoso relacionamento com Blake reacendeu a chama musical e Amy compôs várias canções. Morria assim o bloqueio criativo e nascia assim um clássico.

No fim de 2006 Back to Black é lançado e o single Rehab se torna um hit avassalador mundo afora. Daí em diante, parece que o mundo em volta de Amy acelerou rumo ao inevitável. Tudo explodiu. O consumo cada vez maior de álcool e drogas faziam com que ela aparecesse em shows sem a menor condição de cantar, a fama lhe tirou a privacidade e ela era constantemente vista pelas ruas de Londres em frangalhos… tudo foi ficando insuportável. Em agosto de 2007 ela teve uma overdose e foi hospitalizada, em seguida, Blake Fielder-Civil foi preso após uma batida em sua casa onde foram encontradas quantidades consideráveis de várias drogas. A prisão de Blake só piorou as coisas para Amy. O tempo passava voando e ela foi perdendo shows, sem a menor condição de compor novas canções… e sua saúde se deteriorando a passos largos. Desde adolescente, Amy era bulímica, uma prática muito perigosa. O desequilíbrio agressivo da bulimia combinado ao excesso de álcool e drogas desgastou muito o organismo da cantora. Num piscar de olhos, cinco anos se passaram entre o lançamento de Back To Black e o dia 23 de julho e 2011.

Photo by: Terry Richardson

Na manhã daquele dia 23 de julho de 2011, Amy Winehouse foi encontrada morta em sua casa, em Londres. Exames detectaram uma quantidade assustadora de álcool no sangue dela. Ela vinha tentado parar de usar drogas na época, mas continuava bebendo muito. Frágil por conta da bulimia, é possível que o excesso de álcool em seu organismo tenha feito seu coração parar de bater. Amy morreu dois meses antes de completar 28 anos de idade. Sendo assim, sua morte reacendeu aquela famosa conversa da maldição dos 27 anos, idade em que, coincidentemente, alguns dos mais importantes músicos do rock morreram, como Jimi Hendrix e Kurt Cobain.

Photo by: Terry Oneill

Assim a boa e velha Inglaterra chegou ao século XXI confirmando sua expertise em gerar artistas que conseguem assimilar e ir além do que é feito fora da ilha. Amy Winehouse sintetizou o jazz, o R&B e a soul music numa linguagem nova e atraente; no melhor estilo antropofágico em que a Strip Me tanto se inspira, Amy Winehouse é uma das artistas mais geniais dos últimos 20 anos. Não poderíamos de jeito nenhum deixar os 10 anos de sua morte passar em branco. Preferimos sempre Back to Black.

Vai fundo!

Para ouvir: Todo mundo sabe que músicas como Rehab e Back to Black são maravilhosas. Por isso a gente elaborou uma playlist pra você ouvir um pouco mais do trampo da Amy Winehouse, além das músicas mais conhecidas. Top 10 tracks 10 anos sem Amy.

Para assistir: O documentário super intimista e bem elaborado, lançado em 2015 e dirigido por Asif Kapadia, intitulado, Amy, é simplesmente indispensável para quem quer conhecer  e entender a carreira meteórica de Amy Winehouse. E pra facilitar a sua vida, esse doc está completinho e legendado no Youtube. É só clicar aqui.

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